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3.2 Cuidados de Saúde Diferenciados

3.2.4 Hospitais PPP

Mesmo antes da transformação dos Hospitais SA em EPE, um outro modelo de gestão apareceu no sector da saúde em Portugal, as Parcerias Público-Privadas (PPP). Trata-se de um modelo, testado e reconhecido internacionalmente, que teve a sua origem no Reino Unido e que foi em 2002 adaptado para Portugal. Consiste, genericamente, no estabelecimento de um relacionamento de carácter que se deseja duradouro com privados, para os quais são transferidos grande parte dos riscos do negócio, nomeadamente o risco tecnológico e risco operacional. Enquanto que no modelo do Reino Unido8 o parceiro privado

8 Este modelo é, neste sector, o modelo de referência e é “baseado na prestação por parte do

operador privado, de um package de serviços que compreende os serviços infraestruturais e os serviços de hard e soft facility management. O operador privado não é responsável pela prestação de cuidados de saúde nem pela gestão hospitalar e clínica. O contrato de concessão centra-se assim na concepção, construção, financiamento up front dos novos activos infraestruturais ou renovados, incluindo a manutenção destes activos e os serviços de apoio e logísticos durante o período do contrato. A duração típica deste tipo de contratos situa-se em 25 ou 30 anos, sendo os referidos activos reversíveis para o SNS no respectivo termo. O mecanismo de pagamento baseia-se na disponibilidade dos serviços contratados, de acordo com os princípios no hospital, no fee e pagamento

é apenas responsável pela gestão do edifício hospitalar, o modelo português foi mais longe e pretende que o operador privado seja responsável, por meio de duas entidades distintas, da gestão do edifício e do estabelecimento hospitalar.

Segundo Simões (2004b) no que respeita ao sector da saúde “as experiências de PPP eram relativamente limitadas [nomeadamente faz referência ao Modelo do estado de Vitória na Austrália e da Autonomia Regional de Valência]. Este panorama está hoje em profunda mutação em várias áreas do globo, prevendo-se que a abordagem PPP se alargue sucessivamente aos sistemas nacionais de saúde de vários países em todos os continentes”.

O nosso modelo, o modelo português para os novos hospitais do SNS baseia-se num contrato de gestão que vai desde a concepção, construção, financiamento, conservação e exploração dos activos infraestruturais até à gestão geral do hospital, incluindo a prestação de serviços clínicos.

As PPP na saúde, em Portugal, foram regulamentadas pelo Decreto-Lei 185/2002, publicado em 20 de Agosto. Este é um diploma enquadrador para o estabelecimento das parcerias em saúde, em regime de gestão e financiamento privados. Convém lembrar que podem ser objecto de PPP todos os tipos de prestações de saúde (Cuidados Primários, Cuidados Diferenciados e Cuidados Continuados) – cabendo a cada um dos modelos em concreto estabelecer as formas adequadas de contratação para cada situação – no entanto neste ponto apenas se entra em linha de conta com as PPP para o sector hospitalar (Cuidados de Saúde Diferenciados).

Pode ler-se no preâmbulo deste diploma que se trata de um “aprofundamento das experiências inovadoras de gestão de natureza empresarial e de mobilização do investimento não público no sistema de saúde, fazendo participar crescentemente os sectores privado e social nos diferentes modelos e formas contratuais, com vista a obter uma

100% variável (com eventuais deduções devidas por falhas de performance)”. (Jorge A. Simões, 2004)

progressiva racionalização das funções financiamento e contratação e da função prestação de cuidados de saúde, segundo princípios de eficiência, responsabilização, contratualização e de demonstração de benefícios para o serviço público de saúde”. (Decreto-Lei 185/2002 de 20 de Agosto).

Ainda no mesmo diploma acrescenta-se que “as parcerias em saúde, em regime de gestão e financiamento privados, visam, fundamentalmente, obter melhores serviços com partilha de riscos e benefícios mútuos entre as entidades públicas que têm a responsabilidade pelos serviços públicos e outras entidades que se lhe associam com carácter duradouro”. (Decreto-Lei 185/2002 de 20 de Agosto).

Para Simões (2004b) o modelo português de PPP assenta originariamente num contrato de gestão de carácter duradouro com um parceiro de natureza privada, seleccionado no âmbito de um processo concursal público e competitivo, e desenvolve-se através de duas entidades gestoras especificas, abrangendo respectivamente a prestação de serviços infraestruturais (Entidade Gestora do Edifício) e a prestação de cuidados especializados de saúde (Entidade Gestora do Estabelecimento). Sendo que as duas entidades gestoras operam num quadro de articulação mútua e complementaridade, com diferentes responsabilidades, em termos de objecto contratual e vocação operacional, e com horizontes contratuais diferenciados e mecanismos de pagamento específicos e distintos de modo a permitir uma adequada transferência de riscos para o parceiro privado, bem como a sua afectação apropriada entre as duas entidades.

Ainda segundo o mesmo autor, “a Entidade Gestora do Estabelecimento hospitalar assume a gestão geral do estabelecimento hospitalar e a prestação dos serviços clínicos (soft facilities management) durante um prazo de 10 anos, prorrogável de acordo com a observação de um conjunto de condições objectivas (até um prazo máximo de 30 anos). A Entidade Gestora do Edifício hospitalar assume a prestação dos serviços infraestruturais durante um período contratual previsível de 30 anos, sendo responsável pela concepção, construção e manutenção do edifício e infra-estruturas hospitalares, bem como pelas actividades de hard facilities management”.

Apesar das vantagens aparentes que este modelo possa ter, quer para a entidade pública contratante quer para os parceiros privados, a verdade é que o único hospital público gerido por uma entidade privada continua a ser o Hospital Fernando da Fonseca (Amadora Sintra). Os sucessivos adiamentos no lançamento dos concursos públicos internacionais (estavam previstos pelo Ministério da Saúde 10 concursos públicos internacionais9 para a construção e

gestão para outros tantos hospitais públicos com gestão privada, até ao final de 2006, sendo que até ao momento nenhum se encontra concluído e poucos foram os concursos efectivamente lançados) fazem-nos crer que a adopção deste modelo no nosso país será, no mínimo adiada por um período de tempo indeterminado.