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3.2 Cuidados de Saúde Diferenciados

3.2.1 Hospitais SA

Foi precisamente em 2002 com a Lei n.º 27/2002, de 8 de Novembro que se veio a alterar a Lei de Bases da Saúde (Lei n.º 48/90 de 24 de Agosto), nomeadamente as bases XXXI, XXXIII, XXXVI e XL e o número 1 do artigo 2º do Anexo – Regime jurídico da gestão hospitalar, que podem ser consultadas no Anexo III – Lei de Gestão Hospitalar – desta dissertação.

Este diploma veio, no fundo, permitir a transformação no final de 2002 de 34 Hospitais do Sector Público Administrativo (SPA) em 31 sociedades anónimas de capitais exclusivamente públicos, tal como estava previsto na alínea c) do número 1 do seu artigo 2º. Os 31 Hospitais SA constituídos distribuíam-se pelas cinco regiões de saúde da seguinte forma:

¾ Região Norte (11), incluindo os hospitais de Amarante, Barcelos, Bragança, Guimarães, Vale do Sousa, Santo António, e Vila Nova de Famalicão, os centros hospitalares do Alto Minho (Viana do Castelo e Ponte de Lima) e de Vila Real (Vila Real e Peso da Régua), a Unidade de Saúde de Matosinhos, e o IPO do Porto;

¾ Região Centro (7), incluindo os hospitais de Aveiro, Figueira da Foz, Leiria, Santa Maria da Feira, Viseu, o centro hospitalar da Cova da Beira (Covilhã e Fundão) e o IPO de Coimbra;

¾ Região de Lisboa e Vale do Tejo (11), incluindo os hospitais do Barreiro, Egas Moniz, Garcia de Orta, Pulido Valente, Santa Cruz, Santa Marta, Santarém, São Francisco Xavier, Setúbal, o centro hospitalar do Médio Tejo (Abrantes, Tomar e Torres Novas), e o IPO de Lisboa;

¾ Região do Alentejo (1), o hospital de Beja;

¾ Região do Algarve (1), o hospital do Barlavento Algarvio.

Estes hospitais, para além da sua legislação própria, eram geridos segundo o regime jurídico do sector empresarial do Estado e pelo direito comercial. As características mais particulares que esta nova legislação previa para os Hospitais SA foram sintetizadas, e bem, por Simões (2004a) e são as seguintes:

¾ Limites ao endividamento – não poderia ultrapassar os 30 por cento do capital social e acima dos 10 por cento carecia de autorização da assembleia-geral;

¾ Contrato individual de trabalho como regime regra para novo pessoal a contratar; ¾ Utilização de uma politica de incentivos ao pessoal;

¾ Nos órgãos sociais é introduzida a assembleia-geral e o fiscal único;

¾ Tradução do plano de actividades em contratos-programa celebrados com o Ministério da Saúde.

Com o processo de empresarialização do sector hospitalar português, e mais precisamente com a constituição de hospitais empresa, surgiu a necessidade de reforço dos mecanismos de avaliação e regulação destes “novos” hospitais. Havia, e penso que ainda existe, algum receio no sentido de que o SNS deixe de garantir a equidade no acesso, a universalidade e a gratuitidade tendencial dos cuidados de saúde. Nesse sentido e com o objectivo de se perceber até que ponto este processo de empresarialização do sector hospitalar português estará a obter resultados positivos, nomeadamente ao nível da eficiência e da eficácia na prestação de cuidados. Em pouco tempo surgiram vários estudos que tentaram dar resposta a todas estas questões.

Assim sendo, um estudo realizado por Costa, C. e S. Lopes (2004) pretendia precisamente perceber o perfil e a política de admissões dos hospitais que tinham sido os escolhidos para SA quando comparados com os restantes que se mantiveram como SPA.

Os autores chegaram à conclusão de que não parece que existam diferenças substanciais entre os dois grupos de hospitais, pelo que concluíram não ter existido nenhuma escolha de hospitais para fazerem parte integrante do grupo dos Hospitais SA.

Costa, C. e S. Lopes (2005), no seguimento do estudo anteriormente realizado, desenvolveram um outro onde se relaciona aspectos de produção e perfil das admissões – tal como o anterior – mas também de desempenho hospitalar. No fundo o que os autores, agora, procuravam perceber era se efectivamente se podia dizer que os Hospitais SA apresentavam melhores indicadores de produção e de desempenho hospitalar quando comparados com os Hospitais SPA.

As conclusões foram claramente satisfatórias, uma vez que foi possível concluir que ao nível da produção os SA apresentaram acréscimos de produção superiores aos SPA, ao mesmo tempo que a complexidade dos casos tratados também aumentou mais nos SA, embora a gravidade dos casos tratados tenha diminuído nos SA. Concluíram, mais uma vez, que não existe evidência que os Hospitais SA recorram a práticas de selecção adversa para melhorarem os seus resultados. Já ao nível do desempenho hospitalar, no que respeita à efectividade e eficiência os SA apresentam em geral melhores resultados.

Perante este estudo tudo indica que o processo de empresarialização em Portugal provocou um acréscimo de produção sem qualquer diminuição dos níveis de qualidade e eficiência dos cuidados prestados, visto que globalmente os Hospitais SA apresentam resultados mais positivos.

Mais tarde, elaborado pela Direcção Geral da Saúde (2005d), apresenta-se uma primeira avaliação dos Hospitais SA e comparava-os aos Hospitais SPA numa perspectiva de gestão e da qualidade da prestação utilizando, pela primeira vez, um Indicador Agregado de Avaliação da Eficiência e da Qualidade. Ao comparar os Hospitais SA e SPA, com as mesmas características, classificados no âmbito do mesmo grupo e convenientemente homogeneizados, a Direcção Geral da Saúde conclui que, apenas com algumas excepções, não são os Hospitais SA que são os mais eficientes.

Já em Dezembro 2005 um estudo realizado pela Comissão para Avaliação dos Hospitais Sociedade Anónima (2005) vem avaliar, de forma agregada, o impacto que a transformação de alguns Hospitais SPA em Hospitais SA possa ter provocado. Mais uma vez o objectivo aqui era avaliar o modelo SA na sua globalidade e não cada hospital de um ponto de vista individual.

Este estudo veio confirmar que a transformação dos Hospitais SPA em SA traduziu-se, nomeadamente num aumento da eficiência, traduzida numa redução dos custos totais, estimadas pelos autores do estudo, em cerca de 8 por cento para uma mesma produção em quantidade, complexidade e qualidade.

Posto isto, pensamos poder concluir que o processo de empresarialização do sector hospitalar português, e mais precisamente com a constituição de hospitais empresa, está a obter resultados positivos, embora se possa questionar se mais não podia ter sido já feito.

Segundo Varanda (2004) a empresarialização é um processo sem retorno no contexto dos tempos actuais, no entanto para este autor, o êxito dos Hospitais SA estará sempre directamente relacionado com o êxito da gestão condicionada pelas condições internas e externa, as quais, em última análise, dependem da capacidade da sociedade portuguesa de reunir as condições de futuro, permitindo ao novo modelo dar resposta às exigências e objectivos para que foi criado.