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4 ASPECTOS E SUGESTÕES INTERPRETATIVAS PARA TROMBONE

4.2 Duas Danças (Gizelle e Marquinhos no Frevo)

4.2.1 I Movimento Gizelle (Valsa) Aspectos e sugestões interpretativas

A valsa Gizelle apresenta as principais características da valsa brasileira, principalmente da valsa-choro, porém, ao invés de utilizar o formata A-B-A-C-A, forma rondó, o compositor utiliza o formato Introdução-A-B-C-A-B-C-Coda (Final).

Tabela 1 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Seções e compassos Seções Introdução A-A1 B-B1 C-C1 A-A1 B-B1 C-C1 Coda Compassos 1-2 3-18 19-34 35-66 3-18 19-34 35-66 75-77

Fonte: O autor (2017).

Ele inicia a Obra com uma introdução de 2 compassos e, no seu decorrer, apresenta 3 seções, finalizando-a com breve coda que dura 3 compassos. A Obra oferece diversos momentos onde se pode utilizar o rubato, dando ao intérprete a liberdade de expressão. Sabendo que não é necessário um rigor rítmico nas seções em que o rubato está indicado, deve-se ter muito cuidado ao lidar com esta nuança para não haver exagero e, consequentemente, descaracterizar a música.

Para o estudo mais detalhado das Duas Danças, iremos partir das informações contidas na versão editada pelos trombonistas Radegundis Feitosa e João Evangelista (NUNES;

36Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,

SANTOS NETO, 1996), pois a partitura original manuscrita não oferece informações suficientes para o entendimento de questões interpretativas dessa música (FIGURA 4). Assim, todas as nuanças de expressão e interpretação a seguir, têm como base norteadora a edição indicada. É possível encontrar nesta partitura importantes informações que contribuem com a preparação interpretativa da Obra, porém, em alguns pontos, sentimos falta de indicações que não foram inseridas e que são relevantes para realização de uma performance satisfatória.

Figura 4 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda – Partitura editada por Radegundis Feitosa e João Evangelista (compassos 1-4)

Fonte: Nunes; Santos Neto (1996, p. 19).

Para execução desta Obra, devido ao fato de não haver indicação de tempo na edição de Nunes e Santos Neto (1996), sugerimos o andamento de acordo com interpretações pessoais, como também, da análise de gravações, buscando entre estes 2 pontos um equilíbrio que permita uma interpretação coerente da mesma. Desta forma, o andamento escolhido foi de 90 bpm37.

Figura 5 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Indicação de andamento da Obra (compasso 1)

Fonte: Silva (2016, p. 1).

37Batidas por minuto (bpm).

No compasso 2 da versão editada por Nunes e Santos Neto (1996), não há indicação na partitura de acelerando, como também a indicação de tempo primo no início da seção A. É muito importante o intérprete estar atento a frase inicial inserida no compasso 2, que é intercalada com a primeira seção da Obra, pois a mesma, a título de sugestão, poderá ser acelerada e retomada ao tempo primo no compasso seguinte que inicia a seção A.

Figura 6 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Falta de indicação de acelerando no compasso 2 e indicação de tempo primo no início da seção A (compasso 2)

Fonte: Nunes; Santos Neto (1996, p. 19).

Portanto, na seção A, sempre que o tema principal for apresentado, a frase anterior (compassos 2 e 10) poderá ser acelerada e retomada ao tempo primo da Obra no compasso que inicia o tema bem como a volta ao Segno (compasso 74).

Figura 7 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Indicações de acelerando (compassos 2 e 10) e tempo primo na seção A (compassos 3 e 11)

Figura 8 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Indicações de acelerando no compasso 74 antes de retornar ao Segno no compasso 11

Fonte: Silva (2016, p. 2).

Na seção B da Obra (compassos 19-34), o tema é apresentado através de quiálteras, com indicações de acelerando pouco a pouco. É muito importante manter a dinâmica indicada (p), pelo fato de não haver silêncio entre os 16 compassos da seção B, sendo necessária uma respiração bastante ampla e um bom controle da coluna de ar, para que a frase possa fluir até o seu final sem interrupção. Desta forma, o trombonista deverá explorar as expressões de acelerando e ralentando para facilitar o momento de respiração, como também, sempre que aparecer o tema nesta Seção, o compasso anterior será ralentado e a nota de anacruse poderá ser suspensa brevemente, passando para o ouvinte uma sensação de repouso. Podemos observar esta nuança nos compassos 18-19 e 26-27.

Figura 9 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Indicações de suspensão e locais para respiração na seção B (compassos 19-34)

Na seção C da Obra (compassos 35-66), o tema é construído através de frases com figuras de colcheias e que devem ser executadas em rubato (FIGURA 10), simplesmente como recurso interpretativo. Nesta Seção, o compositor utilizou intervalos descendentes de 13ª no desenvolvimento do tema, algo que eleva o nível de dificuldade para o trombonista. Estes intervalos estão presentes nos compassos 44, 46 e 48. Nos compassos 46 e 48, além da dificuldade para executar os saltos intervalares, a região grave escrita pelo compositor é desconfortável para execução no trombone tenor (FIGURA 10):

Figura 10 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Seção C: indicação de rubato; existência de intervalos de 13ª; região grave desconfortável para o trombone tenor, compassos 44, 46 e 48

Fonte: Silva (2016, p. 1).

Seguem duas sugestões interpretativas com o intuito de facilitar a execução do trecho onde estão inseridos os intervalos citados (compassos 43-49). Devido ao fato de toda a seção C estar com a expressão rubato, iremos modificar os valores de algumas figuras do trecho indicado. Estas modificações serão feitas da seguinte forma: as colcheias do terceiro tempo dos compassos 43, 45 e 47 foram transformadas em semicolcheias, e a figura do compasso seguinte antecipada, dessa forma, este pequeno corte que não interfere de forma negativa em relação ao fraseado musical, permite ao trombonista tomar uma rápida respiração e atacar a nota grave com mais segurança.

Figura 11 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Antecipação de figuras alterando a estrutura rítmica (compassos 43-49)

Fonte: Silva (2016, p. 1).

Como segunda sugestão, apresentaremos as seguintes modificações: nos compassos 44, 46 e 48, a segunda colcheia do primeiro tempo e a primeira colcheia do segundo tempo serão movidas meio tempo para frente, e as 3 cocheias seguintes, transformadas em quiálteras, sendo o objetivo desta mudança o mesmo observado na Figura 11.

Figura 12 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Retardo das figuras alterando a estrutura rítmica (compassos 43-49)

Fonte: Silva (2016, p. 1).

Desta forma, é possível que o trombonista respire entre as frases sem prejudicar o andamento ou a interpretação do fraseado musical. As duas formas de interpretação desse trecho são apenas algumas das possibilidades sugeridas que buscam facilitar a execução por parte do trombonista, como também, através das respirações indicadas neste trecho, a execução das notas graves poderá ser facilitada.

Ainda na seção C, é possível conservar o sinal de acelerando, algo que se tornou comum nas interpretações desta Obra e que, aqui, corroboramos com esta ideia. No final desta Seção, o compositor escreve uma frase de 8 compassos (59-66) que não permite respiração. Assim como nos demais trechos dessa música, é possível acelerar e retardar o tempo, facilitando a execução desta frase sem descaracterizar a Obra (FIGURA 13). Desta forma, o acelerando será sugerido a partir do compasso 59 e o retardando, que está no compasso 65 (original), será antecipado para o 63.

Figura 13 – Duas Danças, I Movimento Gizelle, Maestro Duda - Indicação de acelerando e antecipação do retardo (compassos 59-66)

Fonte: Silva (2016, p. 2).