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3 INTERPRETAÇÃO MUSICAL

3.4 Interpretação musical das obras do Maestro Duda através de seus

O Maestro Duda, ao compor suas obras, utiliza diversos gêneros musicais e diferentes elementos musicais da cultura nordestina, porém, escreve poucas informações nas suas partituras, que podem dificultar as escolhas interpretativas do executante. Como já destacado, poucos são os materiais bibliográficos que podem auxiliar o músico na compreensão deste tipo de música e isto pode se tornar algo problemático, principalmente para aqueles músicos que não têm contato ou conhecimento dos diferentes gêneros e elementos encontrados na música do Maestro Duda. Assim, a respeito das partituras manuscritas pelo compositor, Cardoso (2002, p. 23) destaca que:

Nas partituras de DUDA, todas manuscritas pelo próprio autor, são muitos discretos os sinais musicais que sugiram uma interpretação. [...] não traz referências que auxiliem na sua compreensão interpretativa. Informações sobre o estilo, momento histórico que envolveu a obra, o local onde ela é ou foi executada, e outras mais de caráter social, com o apoio de sinais musicais, facilitam a elaboração de uma visão interpretativa sobre a obra.

Desta forma, como observa Cardoso (2002), poucas são as informações interpretativas escritas nas partituras, fato também observado nas obras aqui estudadas, dificultando, desta

maneira, a escolha de parâmetros interpretativos em relação aos diversos elementos musicais utilizados pelo compositor.

As obras estudadas neste Trabalho foram dedicadas ao trombonista Radegundis Feitosa e ao trompetista Nailson Simões, especificamente, no caso da obra Fantasia para Trompete e Trombone e Suíte Monette. Radegundis Feitosa e Nailson Simões foram integrantes da Orquestra de frevo do Maestro Duda por bastante tempo, e intérpretes de suas obras escritas para o Quinteto Brassil, Quinteto de metais e percussão que gravou diversos álbuns (CDs) com as obras do mesmo. Cardoso (2002) ao questionar o Maestro Duda a respeito da interpretação das suas obras pelo Grupo Brassil, obteve a seguinte resposta: ‘Espetacular. Eles já sabem o meu gosto. Quando eles ensaiavam uma música minha, eu parava dizendo como deveria ser. Se acostumaram!’ (SILVA, 2002 apud CARDOSO, 2002, p. 157, grifo do autor).

Através dessa fala, é possível perceber que, os principais subsídios interpretativos para a execução das obras do Maestro Duda para trombone e/ou quinteto de metais, no caso do Grupo Brassil, foram transmitidas para os intérpretes através da oralidade, como também, pelo conhecimento prévio dos executantes em relação aos gêneros e ritmos utilizados. Este fato aconteceu, principalmente, devido à aproximação dos intérpretes com o compositor, que informava como os mesmos deveriam lidar com determinada obra, podendo justificar a falta de informações em diversas partituras do Maestro Duda. Em relação as suas partituras, especificamente as de percussão, o Maestro Duda comenta que:

[...] fora do Brasil, o pessoal da percussão, bateria..., não conhece o maracatu, o frevo, forró, não sabe como é que toca. Mas os daqui, todo mundo sabe... e na partitura a gente coloca assim, forró, o cara já sabe que é forró, maracatu, ele já sabe que é maracatu... já sabe como fazer, não tem que escrever como é que se toca o maracatu. ... não se preocupa em detalhar isso, somente os ataques, onde para onde começa, é o que a gente escrevia...

Segue Baião... (informação verbal)23.

Em relação à percussão, onde o Maestro Duda não especifica nas suas partituras como deveriam de fato serem executados os diversos gêneros e ritmos, coube ao componente do Quinteto Brassil, o baterista e percussionista Glauco Andreza, grafar e estruturar como o músico deveria lidar com todo o repertório executado pelo referido Grupo. Portanto, o percussionista Glauco Andreza e os demais componentes do Quinteto Brassil, foram responsáveis pela construção performática do repertório escrito para eles pelo Maestro Duda.

23Informação verbal concedida pelo Maestro Duda através de entrevista realizada pelo autor desta Dissertação,

Dessa forma, o Maestro Duda não se preocupava em inserir muitas informações nas partituras das suas obras, pois, como eram dedicadas para pessoas próximas e/ou para grupos os quais ele já conhecia o trabalho, não sentia a necessidade de inserir determinadas informações. Caso o músico não conheça os principais aspectos interpretativos dos gêneros e elementos utilizados pelo compositor nas suas obras, poderá ter muitas dúvidas e/ou dificuldades de entendimento a respeito deste tipo de música. Assim, é possível encontrar partituras com poucas informações tanto para os instrumentos de sopro, no caso do Quinteto Brassil e demais partituras para instrumentos solistas, quanto nas partituras de bateria e percussão.

Dentre os diversos gêneros populares da música brasileira, o frevo é um dos gêneros mais utilizado pelo Maestro Duda, um tipo de música muito executada no estado de PE. Nas obras deste compositor, o estilo mais explorado é o do frevo-de-rua, e a respeito da interpretação deste tipo de música, Benck Filho (2008, p. 1) destaca que:

Dentre os vários problemas da prática interpretativa existem aqueles relacionados com as diferenças entre o que está notado graficamente e o que é realizado no campo sônico, ou seja, diferença entre a música escrita e o que é tocado. Existe uma necessidade em realizar a prática musical menos intuitiva, tornando-a mais reflexiva e subsidiada por outras áreas da musicologia, como, por exemplo, a teoria, a análise musical e a musicologia histórica. Há também a busca pela sistematização dos processos de ensino- aprendizagem para que essa transmissão não seja passiva somente à oralidade, mas fundamente-se em um conhecimento oriundo de um procedimento de pesquisa sólido.

Desta forma, estas necessidades não se aplicam apenas ao frevo-de-rua, mas também aos demais gêneros musicais brasileiros oriundos das culturas populares. Com isso, se torna muito importante a criação de materiais que possam contribuir com a elaboração de uma visão interpretativa dos diferentes elementos musicais utilizados em obras que fazem parte desse diversificado universo.

4 ASPECTOS E SUGESTÕES INTERPRETATIVAS PARA TROMBONE SOLISTA