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2 O MAESTRO DUDA

2.3 O ingresso no mercado de trabalho

O Maestro Duda participou de diversas orquestras durante sua carreira profissional, tendo atuado em rádios e Televisões (TVs), orquestras sinfônicas, de baile e de frevo, exercendo as funções de instrumentista, arranjador e compositor. Aos 15 anos de idade, iniciou suas atividades profissionais, mudando-se para Recife - PE, capital do Estado, em busca de oportunidades em um centro maior. Essa é uma prática bastante conhecida entre os diversos músicos brasileiros que começam seus estudos em bandas sediadas nas pequenas cidades e, posteriormente, as deixam em busca de espaços que lhes proporcionem estudo e trabalho. Em muitos casos, essa migração acontece devido ao fato de muitas bandas de música no país serem instituições filantrópicas, tendo apenas um professor de música (mestre) para lidar com os diferentes naipes da banda. O mestre, apesar de desenvolver um ótimo trabalho em relação à formação do aluno, pode não ser capaz de dar continuidade ao desenvolvimento dele, pois, muitas vezes, domina apenas os conhecimentos básicos para orientar na iniciação de um determinado instrumento. No caso do Maestro Duda não foi diferente, e a necessidade de aperfeiçoar-se o levou a deixar sua cidade natal. Nesse sentido, Farias (2002, p. 19) relata que:

[...] Assim aconteceu com o maestro Duda, que seguiu para a capital do estado, onde se aperfeiçoaria como instrumentista, arranjador e compositor. Tomou essa decisão após haver recebido um convite irrecusável para fazer parte da famosa Jazz Band Acadêmica, um grupo muito atuante no Recife [- PE], e nesse gênero, um dos mais antigos surgidos no Brasil. A Jazz Acadêmica foi fundada em 1931 pelo célebre compositor Lourenço da Fonseca Barbosa, mais conhecido por Capiba, e animava os grandes carnavais pernambucanos. Na década de trinta, chegou a excursionar com grande sucesso pelo Brasil, permanecendo em atividade ate o ano de 1965. [...] Duda chegou ao Recife [- PE] no ano de 1950, para integrar, como saxofonista, a já citada Jazz Band Acadêmica. Por ser muito jovem, sua família não permitiu que ele permanecesse por muito tempo naquela capital e exigiu sua volta. Ele, porém, já tinha certeza que o seu lugar era naquele meio musical, muito mais avançado e movimentado. Depois de um curto tempo em Goiana [- PE], convenceu a família e voltou para o Recife [- PE], a fim de dar continuidade aos seus estudos.

Ao retornar para Recife - PE, iniciou suas atividades de arranjador e compositor, atividades semelhantes às que eram realizadas em Goiana - PE com a Jazz Infantil. Outro fato importante nesta fase inicial da sua vida profissional em Recife - PE foi o contato com partituras de big bands editadas nos EUA. Através desse material, o Maestro Duda realizou estudos detalhados para entender como funcionava a escrita composicional daquele tipo de música, com o qual só tinha o contato através do rádio. Essa experiência veio a influenciar mais tarde os seus diversos trabalhos.

Durante a segunda guerra, Natal [- RN]12 servia como ponto estratégico para o exército americano e muitas partituras trazidas pelos militares para seus eventos sociais, segundo o maestro Duda, foram posteriormente levadas para o Recife [- PE]. Em contato com essas partituras, Duda, que até então só conhecia esse tipo de musica através do rádio, teve a oportunidade de estudá- las detalhadamente, observando o processo composicional empregado pelos grandes mestres desse estilo como Glenn Miller e Tommy Dorsey (FARIAS, 2002, p. 20).

Em 1952, aos 17 anos, teve sua primeira composição gravada pela Jazz Band Acadêmica e, aos 18 anos, ele assumiu a regência do Grupo. Posteriormente, esse Grupo também passou a integrar o elenco da Rádio Jornal do Commercio [sic], juntamente com a Jazz Paraguari, orquestra oficial da rádio (FARIAS, 2002). Maestro Duda destacou que:

Nessa época, a Jazz Band Acadêmica passou a fazer parte do elenco da Radio Jornal do Commércio [sic] (...). A Paraguari tocava na programação da noite, e tinha a Jazz Acadêmica que fazia a programação de dia, porque naquele tempo no rádio, não tocava disco não. Não tinha disco não, era tocando ao vivo mesmo (SILVA, 2001 apud FARIAS, 2002, p. 21).

Com a Orquestra Paraguari, participou de festivais de música carnavalesca, onde se destacou com a composição de um maracatu, como destaca Saldanha (2001, p. 19, grifos do autor): “No ano de 1953, já atuando como arranjador e regente da Orquestra Paraguari, teve seu maracatu ‘Homenagem a Princesa Isabel’ classificado em segundo lugar no Festival de Música Carnavalesca promovido pela Câmara Municipal do Recife [- PE]”.

No período em que esteve na Rádio Jornal do Commercio [sic], o elenco era formado por diversos músicos que, no decorrer dos anos, se tornariam importantes nomes da música brasileira.

12Rio Grande do Norte (RN).

A Rádio Jornal do Commércio [sic], concentrava um grande número de músicos em seu elenco. Durante anos, arranjadores, compositores, cantores e instrumentistas contratados pela empresa, amadureceram suas aptidões musicais através do trabalho desenvolvido nos grupos da rádio. Alguns desses artistas tiveram o seu talento reconhecido tanto no Brasil quanto no exterior, como Jackson do Pandeiro e sua companheira Almira Castilho, Dimas Sedícias, Claudionor Germano, o sanfoneiro paraibano Severino Dias de Oliveira, mais conhecido como Sivuca e Hermeto Pascoal. Segundo o maestro Duda, foi através de um convite seu que o instrumentista e compositor Hermeto Pascoal, passou a integrar o Sistema Jornal do Commércio [sic], onde atuou como sanfoneiro (FARIAS, 2002, p. 23).

Em 1960, após o período como arranjador e compositor na Rádio Jornal do Commercio [sic], assumiu o Departamento de Música da então TV Jornal do Commercio [sic]. Entre 1960 e 1975, o Maestro Duda estudou regência, foi membro da Orquestra Sinfônica do Recife - PE, formou sua primeira orquestra de baile, e atuou como compositor e arranjador em rádio e TVs de São Paulo (SP). Além dessas atividades, foi vencedor de festival de música e teve trabalhos gravados por importantes nomes da música brasileira (SALDANHA, 2001).

Em 1960, fez cursos de música sacra e regência na Escola de Artes da Universidade Federal de Pernambuco [(UFPE)]. Em 1961, musicou para o teatro, a peça ‘Um americano no Recife’, com direção de Graça Melo, além de outras peças dirigidas por Lúcio Mauro e Wilson Valença. A partir de 1962, o Maestro Duda passou a fazer parte também da Orquestra Sinfônica do Recife [- PE], atuando como oboísta e corne-inglês. [...]. Após três anos de intenso trabalho como arranjador, instrumentista e compositor no sudeste do Brasil, retornou ao Recife [- PE] em 1970, e compôs a serie de frevos que denominou de ‘Familiar’. A partir de 1971, retomou as atividades com a sua orquestra de baile. Neste mesmo ano foi vencedor com o frevo de rua ‘Quinho’, do Festival do Frevo, realizado pela Rede Tupi. Em 1975, gravou um álbum para a gravadora Rozenblit, contendo vários frevos, em homenagem ao Diário de Pernambuco. Teve alguns choros, gravados pela Orquestra Tabajara de Severino Araújo, pela orquestra de Osmar Milani, e sambas gravados por Jamelão (SALDANHA, 2001, p. 22, grifos do autor).

No início da década de 70, precisamente em 1970, o Maestro Duda retornou para PE (após uma temporada no estado de SP), e encontrou no Estado um novo movimento musical denominado Movimento Armorial, encabeçado pelo escritor Ariano Vilar Suassuna (1927 - 2014). O Movimento Armorial13 foi iniciado oficialmente no dia 18 de outubro de 1970,

13O Movimento Armorial une a cultura popular com a erudita, numa interligação com a música, pintura,

escultura, literatura, teatro, gravura, arquitetura, cerâmica, dança, poesia, cinema e tapeçaria, utilizando-se do ‘material’ popular para a recriação e a transformação em diferentes práticas artísticas. [...]. Ariano Suassuna divide o Movimento Armorial em três fases: uma fase preparatória, de 1946 a 1969, uma fase experimental, de 1970 a 1975 e uma fase ‘romançal’, a partir de 1976 (NÓBREGA, 2007).

unindo a cultura popular com a erudita a partir de diversas manifestações artísticas, utilizando-se do material popular com o intuito de recriar e transformar as práticas artísticas (NÓBREGA, 2007). Marinho (2010, p. 30) destaca que: “A integração da arte popular com a arte erudita, para Suassuna, não se dá na relação de superioridade ou inferioridade, mas de respeito às diferenças, uma vez que ele considera a arte popular com uma expressão do que o povo vê e sente.” Assim, mesmo o Maestro Duda tendo envolvimento com este Movimento, não participou das articulações que definiram as suas bases (FARIAS, 2002). A respeito da ligação do Maestro Duda com a música nordestina e principais semelhanças com a música do Movimento Armorial, Farias (2002, p. 30) destaca que:

[...] observando-se a sua obra, pode-se constatar a sua forte ligação com a música nordestina, principalmente com os gêneros pernambucanos, como o frevo, a ciranda e o maracatu, entre outros. Ele também foi buscar ‘nas raízes populares da cultura nordestina’, como fazem os compositores armoriais, o material para o desenvolvimento de sua obra, e este é um dos principais pontos que eles têm em comum.

É possível perceber nas diversas composições do Maestro Duda, especificamente, àquelas dedicadas ao trombone, a utilização de elementos da nossa cultura, principalmente a nordestina. Obras escritas com essas características são muito importantes para a diversidade do repertório utilizado pelos trombonistas brasileiros, sendo cada vez mais exploradas por eles, destacando que, a maioria das peças estudadas nas principais escolas de música do país está voltada para o repertório erudito europeu e americano. Ao comentar sobre os materiais didáticos e o repertório utilizado nas escolas de música no Brasil no ensino de instrumento, Feitosa (2013, p. 45) aponta que: “Tanto os materiais didáticos como o repertório são em sua maior parte voltados para a cultura musical europeia.” Nesse sentido, ressalta-se aqui, a importância do Maestro Duda para a formação do repertório de música brasileira para o trombone, destacando também uma de suas principais características, a utilização, em suas obras, de elementos musicais da cultura popular brasileira.

Podemos perceber que o Maestro Duda utiliza os vários ritmos e gêneros da música nordestina, mas foi através do frevo que ele obteve reconhecimento no cenário musical pernambucano e brasileiro. Destacou-se como maestro de orquestra de frevo e se tornou um dos principais divulgadores deste gênero, não só no Brasil como também no exterior. Farias (2002, p. 32) em relação à orquestra de frevo do Maestro Duda, destaca que:

Trabalhando intensamente durante os festejos carnavalescos, a orquestra tornou-se bastante conhecida, recebendo convites para apresentar-se também fora do país. Em 1984, o maestro Duda apresentou-se com sua orquestra, em Miami, inaugurando o I Voo Internacional do Frevo.

Em sua vasta obra, observa-se que o Maestro Duda escreveu peças para as mais diversificadas formações instrumentais, porém, foi através do Grupo Quinteto Brassil, Quinteto de metais e percussão14, que ele começou a explorar os instrumentos de metais também como solistas, dedicando numerosas composições para o Grupo e seus componentes. O Quinteto Brassil, desde a década de 1980, está sediado na UFPB, no Departamento de Música. Pelo Grupo passaram vários instrumentistas de destaque no cenário musical brasileiro, dentre eles: Radegundis Feitosa, Nailson Simões, Anor Luciano, Valmir Vieira, Cisneiro Andrade, Ayrton Benck, Glauco Andreza, Gláucio Xavier, entre outros. Atualmente, o Quinteto Brassil é conhecido como Sexteto Brassil e formado pelos seguintes componentes: Ayrton Benck, Gláucio Xavier, Cisneiro Andrade, Alexandre Magno, Valmir Vieira e Glauco Andreza. Este Grupo foi o principal difusor das obras do Maestro Duda, tanto no Brasil quanto em outros países. Farias (2002, p. 33-34) ressalta que:

A partir de 1980, dava-se início uma grande parceria entre o Quinteto Brassil e o maestro Duda. Esse grupo, ligado a Universidade Federal da Paraíba [(UFPB)], desenvolve um importante trabalho de divulgação da música brasileira para metais. Segundo [...] Vieira [(2001 apud FARIAS, 2002)] tubista do grupo, o arranjo de Aquarela do Brasil do maestro Duda marca o início desta relação, que gerou muitos arranjos, composições e transcrições. [...] O trabalho do Quinteto gerou três discos. O segundo, lançado no ano de 1985, ‘Brassil Plays Brazil’ é uma homenagem ao aniversário de sessenta anos do maestro Duda. Esta parceria foi muito importante por ter proporcionado, entre outras coisas, a valorização do repertório brasileiro de música para metais.

Diversos foram os trabalhos do Maestro Duda escritos e estreados pelo já citado Grupo, que se tornou conhecido também, através das singulares interpretações de suas peças. Várias de suas obras são consideradas referenciais no âmbito do repertório brasileiro para metais, projetando o referido autor como um dos principais compositores e arranjadores para essa família de instrumentos.

Como já observado, o Maestro Duda se destacou tanto no cenário musical pernambucano quanto no cenário nacional, através dos seus arranjos e composições escritas

14O quinteto de metais é uma formação bastante tradicional e consta de: 2 trompetes, uma trompa, 1 trombone,

uma tuba. No caso do Brassil, o Grupo acrescentou um baterista / percussionista, devido ao fato de explorarem de forma bastante significativa, a música brasileira, que possui em seus mais variados gêneros e ritmos, essencial ligação com a percussão.

para big bands, bandas sinfônicas, bandas de música, orquestras sinfônicas, grupos de câmara, instrumentos solistas, entre outras formações. A respeito das conquistas e reconhecimentos alcançados pelo compositor, Farias (2002, p. 35, grifo do autor) comenta que:

[...] no ano de 1993, o maestro Duda foi escolhido para participar do projeto Memória Brasileira, da Secretaria de Cultura de São Paulo [(SP)], como um dos arranjadores que mais se destacaram no cenário da música popular brasileira no século XX, ao lado de nomes como maestro Cipó, Cyro Pereira, Nelson Ayres, José Roberto Branco e Moacir Santos, entre outros. O projeto lançou o CD15 Arranjadores, no qual o maestro Duda participa com um arranjo das Bachianas Brasileiras n° 5 de Heitor Vila Lobos, interpretado pela banda Savana.

Ainda a respeito das conquistas do Maestro Duda, Saldanha (2001, p. 23) acrescenta:

Suas músicas foram gravadas no Brasil e no exterior e estão presentes em mais de 100 discos. Vencedor de vários festivais de frevo em Pernambuco [(PE)]. Obteve também diversos prêmios na música popular brasileira, como o de melhor arranjador do MPB16-SHELL 80, promovido pela Rede Globo de Televisão, pela Shell e pela Associação Brasileira de Produtores de Discos.

A partir das conquistas obtidas pelo Maestro Duda e da sua vasta produção, percebe-se a sua importância e contribuição para a música brasileira. Foi um músico bastante ativo, se destacando em diversos trabalhos realizados no decorrer da sua carreira. Atuou como professor e arranjador no Conservatório Pernambucano de Música; tocou oboé e corne-inglês nas Orquestras Sinfônicas do Recife e Orquestra Sinfônica da Paraíba; foi regente, instrumentista e arranjador da Banda Sinfônica da Cidade do Recife - PE. Dessa forma, se mostra um músico bastante versátil, pois além de atuar como compositor, também participou de diferentes formações musicais, exercendo as mais diversificadas funções, alcançando bastante destaque e reconhecimento através das suas atividades e produções musicais.