THE LANDSCAPE ON LE CORBUSIER PLANS FOR CHANDIGARH
3 IDEIAS E EXPERIÊNCIAS DE CHARLES-EDOUARD JEANNERET
O plano de Le Corbusier conserva as principais características do plano M ayer. Ocupa o mesmo terreno entre os dois rios, aproveita e reforça a orientação para o cenário dos Himalaias, desdobra o centro entre o Business Center no meio da cidade e o capitólio contra a paisagem. Preserva as Greenways no vale de erosão e converte-as no Leisure Valley, mantem a unidade de vizinhança com parque pedonal central (passando os superblocks de M ayer a Secteur) e mantém a área de expansão da cidade para sudoeste. Deste ponto de vista a missão confiada a Le Corbusier foi alcançada, podendo considerar-se que o plano M ayer foi desenvolvido e detalhado como estabelecia o seu contrato.26
M as o plano de Le Corbusier distingue-se do plano M ayer pela regularidade geométrica da cidade face á irregularidade e variedade pitorescas, pela estrutura sobre um eixo central e o seu
26 ”Pourtant, aux yeux de la maîtrise d’ouvrage, et notamment pour le pandit Nehru, le plan reste le même que celui d’Albert
114
desfecho panorâmico sobre os Himalaias face ao duplo eixo de M ayer com remate na figura dos edifícios representativos no formato de retrato clássico,27 em que o cenário paisagístico participa apenas como suporte decorativo. Distingue-se ainda pela afirmação da orientação relativamente aos Himalaias em alternativa á diluição de tensões da geometria do terreno, e pela definição do pont o de partida da forma da cidade face ao controle da forma final na cidade de M ayer.
Em resumo, o plano de Le Corbusier carateriza-se pela regularidade geométrica, pela estrutura em torno de um eixo central, pela afirmação de uma orientação, pela construção de um panorama paisagístico no capitólio e pelo controle da forma inicial da cidade.
Estas ideias são controladas e percebidas através da linguagem do desenho e conferem o carácter final ao conjunto, residindo aqui a principal diferença entre os dois planos. A compactação e geometrização do plano apresenta-se como uma estratégia de reforço da unidade da composição, transformando-a num objeto (Correa 1987). Tafuri (1987) a propósito do Casbah, identifica a mesma ideia de cidade-objeto, como o ultimo grau da compactação. A redução da cidade a uma estrutura isolada, intocada e intocável. Deste modo Le Corbusier pode operar o detachment, interpondo uma distância intransponível entre o local e o panorama. É o espaço do grande vazio, do silêncio, da ausência e do suspense. É o lugar dos objetos de reação poética, da língua dos mitos. Este é o lugar do capitólio, onde se estabelece o universo de opostos, cuja resolução constitui uma das respostas mais celebradas de Le Corbusier. Essa resolução é operada pela justaposição, preservando a identidade e autonomia das partes - cidade e natureza, criando uma nova síntese - a paisagem (Serenyi 1987).
A definição dos opost os em Le Corbusier não é um problema de urbanismo, mas um traço fundamental da sua formação artística, designada por pensamento dualista (Silva 2016). Tal como demonstra Turner (1987),28 a juventude de Le Corbusier é um período em que toda a estrutura das ideias está em formação, e está na base do pensamento idealista que pautou a sua vida. Nesse período, a natureza corresponde a uma ideia chave e desempenha um papel central, permanente e constante na sua obra (Silva 2009) (Silva 2016).
27 Apesar da figura dos edifícios se apresentar ligeiramente balanceada sobre um dos lados, cumprindo assim o principio pitoresco da
recusa das simetrias.
28 Neste estudo, o autor faz a análise da influência das primeiras leituras no pensamento de Jeanneret durante a sua formação,
concluindo que estas estiveram na base do seu pensamento idealista. O autor considera ainda todo o período posterior como aquele em que Le Corbusier se dedicou á divulgação desses ideais. Tal como refere na introdução: Le Corbusier est avant tout un architect e
d’idées. (…) La formation de Jeanneret s’effectue au cours de cette période : après 1920 environ les grandes lignes de sa pensée sont déjà constituées, il se consacre à la création et s’efforce de se faire connaître.
115
Deste período, o relógio de bolso de 1906 (Brooks 1997, 64-66) destaca-se como um trabalho que apresenta surpreendentes semelhanças com o tema que agora tratamos. Este carateriza-se também pela justaposição de dois tipos de motivos. Um motivo abstrato composto por elementos geométricos ortogonais e o outro motivo naturalista, representando figurativamente elementos vegetais e um inseto. A composição revela também duas ordens distintas: A ordem natural, em que os elementos apresentam uma disposição aleatória e a ordem geométrica que se dispõe simetricamente ao longo de um eixo vertical, avançando lateralmente para enquadrar o elemento natural, culminando num momento de grande dinamismo provocado pela t orção do inseto e pela transição entre o interior e o exterior.
Estes motivos de desenho, não decorrem somente dos ensinamentos do mestre L’Eplat tenier, mas também da leitura extracurricular de L’art de demain de Henri Provençal (Brooks 1997, 69). É neste aspeto particular que a linguagem visual de Le Corbusier encontra uma das marcas mais caraterísticas, evitando a tendência para geometrizar os elementos naturais, e adotar a recomendação de Provençal encontrar uma síntese que fez soar os seus ecos aos pés dos Himalaias.
Through its crystallizations the mineral world offers us ... examples from which the architect can derive inspiration ... M oreover, these geological formations can prompt the artist to make adaptations, to make architectonic models capable of being realized in space. (Provençal 1904)
4 - CONCLUSÕES
Do ponto de vista paisagístico o maior problema do plano é a orientação, que oscila entre os Himalaias e os pontos cardeais. Le Corbusier resolve a questão da orientação da cidade através da geometrização e compactação do plano, que reduz a um quadrado associado ao rio Patiala, face aos Himalaias.
O Leisure Valley é o elemento paisagístico mais significativo do interior da cidade no plano de Le Corbusier, mas foi originalmente concebido por M ayer como Greenway.
O movimento em “ zig-zag” do eixo principal, caraterística recorrente das composições de Le Corbusier, é a solução adotada para ocupar o espaço livre do terreno e está representado no desenho da mãe indiana com a criança, que se tornou a metáfora fundadora da cidade.
A sensação de vazio do Capitólio é formada pela escala do panorama dos Himalaias, que converte a paisagem no principal argumento da proposta.
116
Fig. 16: Quadro comparativo dos diversos planos. Coluna da esquerda com os planos da equipa de M ayer - plano do local, plano M eyer e plano Nowicky. Coluna da direit a com os planos da equipa de Le Corbusier -
117 5 - BIBLIOGRAFIA
Álvarez, Darío. 2009. “ El capit olio de Chandigarh, un paisaje cultural moderno.” Em Ler Le Corbusier, edit ado por Alexandra Trevisan, Josefina González Cubero e Pedro Vieira de Almeida, 29-43. Port o: Cent ro de Estudos Arnaldo Araújo - CESAP/ ESAP
2007. El jardín en la arquit ectura del siglo xx. Barcelona: Revert é
Ait chison, M at hew. 2010. Visual Planning and the Picturesque. Nikolaus Pevsner. Los Angels: The Get t y Research Inst itute
Boesiger, Willy, ed. 1977. Le Corbusier et Pierre Jeanneret , Ouvre Complet e. Vols. 1-8. Zurich: Les Éditions d’architect ure, Art emis
Brooks, H. Allen. 1997. Le Corbusier's format ive years. Charles-Edouard Jeanneret at Le Chaux-de-Fonds. Chicago / London: Universit y of Chicago Press
Carlos, Rute Alexandra Sant os da Silva. 2013. A Ville Vert e de Le Corbusier como sist ema: uma perspectiva cent rada
no parque. (PhD), Escola de Arquit ect ura da Universidade do M inho
Cohen, Jean-Louis. 2013. “ In the cause of landscape.” Em Le Corbusier. An Atlas of Modern Landscapes, edit ado por Jean-Louis Cohen e Barry Bergdoll, 23-47. New York: The Museum of t he M odern Art
Const ant , Caroline. 1991. “ From the Virgilian Dream t o Chandigarh: Le Corbusier and t he Modern Landscape.” Em
Denatured Visions, edit ado por Stuart Wrede e William Howard Adams, 79-93. New York and London: M useum of M odern Art y Thames and Hudson
Correa, Charles. 1987. “ Chandigarh: t he view from Benars.” Em Le Corbusier, de H. Allen Brooks, 197-202. Princet on: Princet on Universit y Press
Cubero, Josefina Gonzalez. 2004. “ Sesión cont inua: Nómadas en el jardín. Ville Contemporaine y Ville Radieuse.” Em
M assilia 2004bis, Le Corbusier y el paisaje, edit ado por M ont eys, Xavier, 70-125. Barcelona: Fundación Caja de Arquit ect os
Dummett , Emma. 2007. Green space and cosmic order: Le Corbusier’s understanding of nature. Edinburgh: (PhD), Universit y of Edinburgh
Evenson, Norma. 1969. Le Corbusier: The machine and the grand design. New York: George Brazillier Fariello, Francesco. 2004. La arquit ect ura de los jardines. De la ant igüedad al siglo xx. Barcelona: Revert é Imbert , Dorot he. 1993. The modernist garden in France. New Haven and London: Yale Universit y Press Kalia, Ravi. 1987. Chandigarh. The making of an Indian cit y. Delhi: Oxford Universit y Press
Le Corbusier & Fondation Le Corbusier & Echelle-1. 2005. “ Plans.” Paris: CodexImages International : Fondat ion Le Corbusier
Le Corbusier. 1925. L’art décorat if d’aujourd’hui. Paris: Les Éditions G. Crès et Cie
118
M alécot , Claude. 1988. “ Les jardins.” Em Le Corbusier, le passé à réact ion poétique, 110-118. Paris: Caisse Nat ionale des M onuments hist oriques et des Sit es
M cleod, M ary. 2013. “ A modern space concept ion‘ for post war reconst ruction.” Em Le Corbusier. An atlas of modern
landscapes, de Jean-Louis Cohen, 193-200. New York: The M useum of the Modern Art M ilani, Raffaele. 2015. El art e de paisaje. M adrid: Bibliot eca Nueva
M ont eys, Xavier. 2004. “ Alpes, Andes, Himalaya.” Em Massilia 2004bis, Le Corbusier y el paisaje, edit ado por Xavier M ont eys, 136-143. Barcelona: Fundación Caja de Arquit ect os
M ont eys, Xavier. 2004. “ El hombre que veía vast os horizont es: Le Corbusier, el paisage y la tierra.” Em M assilia
2004bis, Le Corbusier y el paisaje, edit ado por Xavier M ont eys, 6-21. Barcelona: Fundación Caja de Arquit ect os 1996. La gran máquina. La ciudad en Le Corbusier. Barcelona: Ediciones del Serbal
Papillault , Remy. 2011. Chandigarh et Le Corbusier. Créat ion d’une ville en Inde, 1950-1965. Toulouse: Édit ions Poiésis Pérez, Pere Fuertes. 2006. Le Corbusier desde el palacio del Gobernador un análisis de la arquitectura del Capitolio de
Chandigarh. Barcelona: (PhD), Universit at Polit ècnica de Cat alunya. Depart ament de Project es Arquit ect ònics Petit , Jean. 1996. Le Corbusier parle. Fidia Edizioni d’Art e Lugano
Pevsner, Nikolaus. 1969. Studies in Art , Archit ect ure and Design - volume one: from M aneirism t o Romant ism. London: Thames and Hudson
Prakash, Vikram. 2002. Chandigarh’s Le Corbusier. The st ruggle for modernit y in post colonial India. Seat le & London: Universit y of Washingt on Press
Provensal, Henry. L'Art de demain: vers l'harmonie intégrale. Paris: Perrin, 1904. 1904. L'Art de demain: vers
l'harmonie int égrale. Paris: Perrin
Randhawa, M ohinder Singh. 1961. “ Landscape and gardening.” Marg vol. XV nº 1 49-52
Serenyi, Peter. 1987. “ Timeless but of his t ime: Le Corbusier’s architecture in India.” Em Le Corbusier, de H. Allen Brooks, 163-196. Princet on: Princeton Universit y Press
Silva, Filipe Sousa. 2009. “ Comme a Robinson, comme un peu sur les peint ures de Carpaccio.” Em Ler Le Corbusier, de Alexandra Trevisan, Josefina González Cubero e Pedro Vieira de Almeida, edit ado por Alexandra Trevisan, Josefina González Cubero e Pedro Vieira de Almeida, 211-236. Port o: Cent ro de Est udos Arnaldo Araújo- CESAP/ ESAP
2016. Le Corbusier. Vers un paysage. A villa M eyer como paradigma. Valladolid: (PhD) Escuela Técnica Superior de arquitectura da Universidad de Valladolid
Tafuri, M anfredo. 1987. “ M achine et memoire‘: The cit y in t he work of Le Corbusier.” Em Le Corbusier, de H. Allen Brooks, 203-218. Princet on: Princeton Universit y Press
Turner, Paul Venable. 1987. Le Corbusier. Idéalisme & Mouvement moderne. Paris: M acula Von M oos, St anislaus. 1979. Le Corbusier. Element s of a synthesis. Cambridge: The MIT Press
119