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Imortalidade da alma na Comunidade Cristã Paz e Vida

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CAPÍTULO I: O PENSAMENTO DUALISTA NA VIDA CRISTÃ

1.2 Aspectos da antropologia teológica da Comunidade Cristã Paz e Vida

1.2.3 Imortalidade da alma na Comunidade Cristã Paz e Vida

Neste item, o nosso estudo tratará sobre a imortalidade da “alma”. De acordo com a Comunidade Cristã Paz e Vida, toda pessoa tem uma “alma” e ela não morre; suportará

41 a morte do corpo físico, porque é indestrutível e não pode deixar de existir porque é eterna e continuará viva. Terá um destino após a morte, ou seja, para o divino paraíso. Tudo vai depender de como o ser humano viveu sua vida na terra, mas, se a pessoa viveu uma vida errada ela se perderá e será transportada para o hades. E os corpos das pessoas boas – que ressuscitaram – encontrarão com as almas boas. Para a Comunidade Cristã Paz e Vida, o corpo é perecível, mas, a “alma”, o “espírito” é imortal. O que a pessoa faz na terra vai determinar o destino da alma. Os maus – os ímpios que rejeitam a salvação – serão lançados fora do divino e estarão no tormento eterno. Segundo Pagliarin, tudo dependerá do sacrifício feito pelas pessoas. Os seres humanos que negaram seus desejos e sentimentos estarão com o divino. Porém, as pessoas que viveram de acordo com os seus desejos perderam a imagem e semelhança de Deus e serão lançadas fora do divino. 10 Para a Comunidade Cristã Paz e Vida a manifestação explícita do pecado é a “separação de Deus, sem exceção, e em qualquer nível: o querubim pecador foi expulso do Céu, o ser humano pecador foi expulso do Paraíso, o povo pecador afastado da Presença do Senhor. E isto provoca dor, vazio e sofrimento na alma.”11Nesse sentido não se trata de pecado, mas, uma transformação para um novo sentido de vida: ao deixar sua maneira antiga de viver transforma-se em uma nova vida e relaciona-se de maneira concreta com o mundo criado.

A vida tem quer ser vivida de acordo com o espírito e não como os desejos carnais. A imortalidade da alma, presente no discurso religioso da Comunidade Cristã Paz e Vida, tem origens e traços Platônicos. Para o gnosticismo, o mundo e a matéria seriam destituídos do mundo das ideias, enquanto as almas das pessoas boas seriam recolhidas e direcionadas para o divino. Como mencionado anteriormente, dois são os destinos das almas. A teologia da Comunidade Cristã Paz e Vida afirma que os maus têm um destino certo: herdarão um lugar de tormento, enquanto os bons estarão nos braços divinos. Com isso, entende-se que a antropologia da Comunidade Cristã Paz e vida é dualista e não corresponde a unidade do corpo. É possível perceber uma teologia grega com um discurso metafísico defendido por Platão. A alma e o espírito não são um aspecto do ser humano, mas, um aspecto da vida do corpo. O ser se torna integral e não uma mera divisão como queria a filosofia helênica. Pagliarin comenta:

O Hades é o lugar de tormento para onde vão os ímpios e todos os que se esquecem de Deus: “Os ímpios irão para o Seol, sim, todas as gentes que se esquecem de Deus” (Salmo

10 Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=hKVO63BlQIQ >. Acesso em:17 maio 2016.

11 Disponível em: < http://www.pazevida.org.br/estudos/2262-na-sua-opiniao-o-que-e-pecado.html >.Acesso em: 13 nov. 2016.

42 9:17). Seol é a palavra hebraica equivalente à grega Hades. O Paraíso é um lugar de delícias e descanso, para onde vão os justificados, no mesmo dia em que morrem. Ao ladrão arrependido que morria ao seu lado, Jesus prometeu: “Ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc23:43). Portanto, nenhum espírito de defunto ficará dormindo até o Juízo ou perambulando aqui na Terra. Tanto o Paraíso como o Hades são lugares provisórios, onde os espíritos aguardam o Dia do Juízo Final.12

A visão da Comunidade Cristã Paz e Vida é metafísica e binária. Pagliarin explica que a união da alma e do corpo não é eterna, mas, chega uma época em que ela se rompe. Ele usa a Bíblia e responde o que acontecerá tanto com o corpo e o espírito humano após a morte. Tanto os bons e maus serão julgados e cada um vai para o destino que escolheu. A tentativa dualista da Comunidade Cristã Paz e Vida é uma maneira de recorrer aos ensinamentos da cultura grega, em que há uma imortalidade da alma. Juanribe explica:“Antes das Bodas do Cordeiro, nas nuvens do Céu e em oculto, se dará o Tribunal de Cristo, onde os salvos receberão ou não suas recompensas pelo trabalho prestado aqui na Terra, ou açoites, conforme o conhecimento que o “servo” tinha da vontade do Senhor e não a fez” (Lc12:47).13 Percebe-se uma separação entre corpo e terra, o que contraria a visão unitária em que não há uma repartição. Para Pagliarian, existe um dualismo no qual terra e corpo não se correspondem. É pela busca gnóstica que o ser humano encontrará um destino: as almas dos bons serão salvas e a dos maus serão perdidas. Myer Pearlman lembra: “os justos são destinados à vida eterna na presença de Deus. Desta maneira Deus criou o ser humano para conhecê-lo neste mundo, como também gozar eternamente de sua presença no mundo vindouro” (PEARLMAN, 2006, p. 377). Pagliarin escreve sobre as duas portas: uma que leva a salvação, ou seja, uma que nos conduz à imortalidade da “alma” e “espírito” e outra que nos leva para a perdição. Juanribe explica:

Os caminhos criados pela imaginação humana são frequentados pela maioria e levam diretamente a uma porta larga e convidativa, com néons coloridos que acendem e apagam, cartazes chamativos e muitas pessoas que parecem felizes. A porta é muito atraente. Quem fica diante dela imagina que, lá dentro, há muita vida. Mas, todos os que entram pela porta larga, encontram a morte. 14

12 Disponível em: < http://www.pazevida.org.br/estudos/2263-podem-os-mortos-se-comunicar-com-os-vivos- .html >. Acesso em: 05 ago.2016.

13 Disponível em: < http://www.pazevida.org.br/estudos/4431-a-parabola-das-dez-virgens.html >. Acesso em: 05 ago.2016.

14 Disponível em: < http://www.pazevida.org.br/estudos/2291-as-duas-portas-e-os-dois-caminhos.html >. Acesso em: 06 ago.2016.

43 A Comunidade Cristã Paz e Vida, liderada por Juanribe Pagliarin, mostra em sua antropologia uma dicotomia que valoriza muito mais a imortalidade da “alma” do que um ser humano integral. Para Pagliarin, o inferno deposita muito dinheiro para que não creia no único nome capaz de dar vida eterna à humanidade: e que em seu Nome se anunciasse o arrependimento para a remissão dos pecados, a todos os povos. Não houve, entre todas as nações, outro nome que produz perdão dos pecados e salvação, simplesmente porque ninguém mais viveu neste mundo sem pecado, morreu pelos pecadores e ressuscitou. “Ele é o único que venceu a morte e está vivo pelos séculos dos séculos. Por isso, pode garantir a vida eterna a todos os que Nele creem”!15 Para o escritor pentecostal Severino Pedro da Silva:

A imortalidade natural sem ser aquela inerente a Deus é uma propriedade em virtude da qual um ser não pode morrer. Tal é a imortalidade da alma humana. Chama-se natural, para distinguir da imortalidade possuída por Deus em grau supremo e no sentido próprio: “Aquele que tem, Ele só, a imortalidade” (1Tm 6.16ª).Na imortalidade simples existem três condições, a saber: A. Que a alma existe ou continua a existir após a dissolução do composto humano. B. Que nesta sobrevivência, a alma conserve sua individualidade e permaneça, por conseguinte, consciente de si mesma e de sua identidade e superego. C. Que a sobrevivência seja ilimitada. Já no conceito de Plotino filósofo – (205-270), especialmente na filosofia panteísta emanatista, o divino tem três termos: O ser em si, a inteligência, e enfim, a alma, que segundo Plotino, deriva da inteligência como inteligência deriva do ser. As almas individuais são parcelas da alma universal, dizia Plotino (SILVA, 2004, p. 109-110).

A visão dualista de Pagliarin mistura-se com a visão dicotômica grega, com ênfase a manifestações sobrenaturais e binárias sobre o ser humano em uma concepção metafísica. Para Pagliarin, temos uma “alma” e essa não pertence a nós e, sim, ao divino. Não podemos viver no mundo da maneira que queremos, mas, da maneira que leva a salvação da “alma”. Tudo vai depender de que forma vivemos na terra, senão corremos o risco de perder a “alma”. Numa leitura literal de Provérbios 15.32, feita pela Bíblia pentecostal da Comunidade Cristã Paz e Vida, Juanribe Pagliarin comenta que não temos o direito de desprezar a lâmpada, que é a nossa parte interior. Temos que trilhar o caminho da salvação. Para Juanribe, há seres humanos pecadores e outros santos, criando uma acepção entre salvação e perdição. A “alma”

15 Disponível em: < http://www.pazevida.org.br/estudos/2264-5-provas-da-ressurreicao-de-jesus.html >. Acesso em: 06 ago.20016.

44 que pecar morrerá e prestará contas. Ele comenta que quanto mais uma pessoa peca, mais a “alma” fica doente e fraca. Desta maneira temos que alimentá-la para irmos direto ao divino, porque a ele pertence todas as “almas” do mundo. Pagliarin explica que é necessário analisar como está a nossa “alma”, para refletirmos e buscarmos a cura divina. O líder da Comunidade Cristã Paz e Vida afirma que a “alma” está sofrendo e devemos buscar a cura para não sofrermos a perdição eterna. A única maneira de sermos abençoados é ouvir a repreensão de Deus e nos humilharmos para não desprezar a “alma” que temos. Para Pagliarin, temos que entregar a Deus aquilo que lhe pertence porque Ele nos emprestou a alma e um dia teremos que devolvê-la. Não podemos fazer o que bem queremos, mas, buscar sempre a orientação do divino, para levar a nossa “alma” ao paraíso eterno. Pagliarin diz que nós cuidamos do corpo, damos tanta atenção a este tabernáculo, porém, este corpo vai nos deixar, a alma, não. Ela existe e, na morte, é a única que se salvará.16 Encontramos aqui um dualismo Platônico, no qual o corpo é um cárcere para a “alma” e esta necessita de libertação. Observamos, nos discursos da Comunidade Cristã Paz e Vida, um dualismo típico da dicotomia de ser humano com uma visão metafísica Platônica. As novas tendências dualísticas têm espiritualizado as dimensões do “eu”, com a criação de um dualismo presente que separa a matéria e o espiritual. Assim, surge uma tensão entre elas: o platonismo presente nessas novas tendências espiritualistas tende a valorizar muito mais a alma e o espírito do que a matéria, esta como mal e temporária. O corpo humano sendo desvalorizado como coisa e não como pertencente a toda a matéria. O fato é que o cristão não pode ser materialista e, ao mesmo tempo, espiritualista. Se é que com estes dois termos se afirma que espírito e matéria não designam regiões particulares e justapostas da realidade total, mas, momentos diversos, na sua essência e referidos um ao outro, constitutivos da realidade, seja onde e como for que esta se encontre. Assim, a unidade do ser humano não anula a espiritualidade e a materialidade, mas, juntas, constitui uma unidade. A dimensão corpórea e a dimensão espiritual designam o ser humano na sua totalidade, embora não de maneira monística, pois apontam para aspectos diversos da realidade unitária que é o ser humano concreto. Trata-se de dimensões essenciais do ser humano integralmente considerado que se inter-relacionam, não mediante uma relação de oposição e exclusão. A concretude do cosmo e a sua relação com o ser humano na sua humanidade não tem sido aceita pelo dualismo platônico. Este, de maneira espiritualista, retira a manifestação concreta das atitudes humanas em relação ao mundo para uma metafísica além do materialismo.

16 Pregação: A alma desprezada Pr. Juanribe Pagliarin. Disponível em: <

45 A filosofia helênica, com tendências espiritualistas, tem feito de ambientes pentecostais e neopentecostais uma realidade que foge da concretude da vida presente para uma vida futura, negando a unidade do ser humano para uma justificação da alma e do espírito. Esta realidade presente hoje na vida dos crentes influencia muitas pessoas a pensar em dualismo e reducionismo, negando sua própria concretude na história. O ser humano é sempre um espírito e corpo; um espírito sozinho, sem o corpo , não pode ser um ser humano. O ser humano é corpóreo e espiritual, mas, experimenta esta dualidade. Assim, o ser humano é imagem e semelhança de Deus não só na alma, mas, também, no corpo. Nos discursos neopentecostais percebe-se a valorização da alma. Evidentemente, como Imagem de Deus, a exterioridade do corpo é desprezada e desvalorizada em determinados grupos evangélicos, levando, assim, ao reducionismo antropológico do ser humano como Imagem e Semelhança de Deus. “Certamente o corpo é valorizado, diretamente contra o desprezo gnóstico pelo mesmo, embora já se fale da alma imperecedoura. Em todos estes apologistas prevalece indubitavelmente a visão unitária de ser humano apesar de que o instrumental é já helênico” (GARCIA RUBIO, 1989, p. 270).

Considerações finais

Neste primeiro capítulo, o nosso objetivo foi apresentar o dualismo antropológico presente nas comunidades cristãs e como este pensamento dicotômico influenciou essas comunidades no decorrer da história, inclusive na Patrística Ocidental e a concepção de valorização da “alma” e desprezo pelo corpo. Destacamos dois pontos. No primeiro ,indicamos como a Idade Média foi impactada por esse pensamento filosófico ganhando força e simpatia. A percepção cristã da filosofia grega foi interpretada pelos Pais da igreja: Santo Agostinho e Clemente de Alexandria. Desta maneira, o problema antropológico se instalava nos círculos cristãos. Mostramos que não foi um problema somente das primeiras comunidades e nem da Patrística e Idade Média, mas, que perdurou na modernidade com um modelo dualista Cartesiano. Os reformadores Martinho Lutero e João Calvino foram influenciados por escritos da Europa Medieval de Santo Agostinho.

O nosso estudo também demonstrou que o dualismo antropológico entre o pentecostalismo tem traços dicotômicos em sua maneira de pensar. As influências da Europa Medieval repercutiram sobre os movimentos pentecostais e neopentecostais.

46 Cristã Paz e Vida e seu discurso. De certa maneira, há uma afirmação do corpo, contradizendo o reducionismo antropológico e tendo em suas práticas litúrgicas manifestações corporais, como curas, danças, levantar e abaixar as mãos, entre outras. O próximo passo de nossa análise mostrará que a percepção bíblica sobre o ser humano é unitária. Abordaremos sobre o humano integrado na visão de Alfonso Garcia Rubio e a sua contribuição antropológica. Trabalharemos, também, com o corpo como unidade da pessoa humana; questões antropológicas e, por fim, a superação do dualismo corpo e alma.

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