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2. SOBRE TÉCNICA E TECNOLOGIA EM UMA PESQUISA DE EDUCAÇÃO

2.2 Implicações Sociais das Tecnologias de Armazenamento e Recuperação de

Quando nos referimos à sociedade, quase que necessariamente conectamos esta à comunicação. Obviamente, a comunicação, bem como suas formas, evolui juntamente com a sociedade, e isso se deve, em grande medida aos avanços proporcionados pela técnica. Na primitividade os seres humanos comunicavam-se exclusivamente por meio da oralidade; a perspectiva temporal de sociedades primitivas, pautadas na comunicação oral, é circular,

arraigada na idéia do “eterno retorno”; também são marcantes, nesse tipo de sociedade, a presença de narrativas míticas e ritos; outro detalhe pertinente é a grande dependência destas sociedades com a memória psíquica, visto que na ausência da escrita, necessariamente a memória repousa na pessoa e não em escritos.

A ausência da escrita impossibilita a comunicação entre ausentes, ou seja, para que ocorra a comunicação, necessariamente “os parceiros da comunicação encontram-se mergulhados nas mesmas circunstâncias e compartilham hipertextos próximos” (LÉVY, 2008a, p. 127). Evidentemente, a mente humana é debilitada, por isso:

A memória humana está longe de ter a performance de um equipamento ideal de armazenamento e recuperação das informações já que [...] ela é extremamente sensível aos processos elaborativos e à intensidade dos processamentos controlados que acompanham a codificação das representações. (LÉVY, 2008a, p. 81)

Contudo, com a intensificação do uso da escrita como forma de comunicação no sistema social, se dá uma alteração panorâmica no horizonte de possibilidades comunicacionais, ou seja, há um incremento variativo na comunicação; para demonstrar isso, basta observar a abertura das chances do estabelecimento de uma comunicação entre ausentes, como coloca Lévy:

A distância entre os hipertextos do autor e do leitor pode ser muito grande, disto resulta uma pressão em direção à universalidade e à objetividade por parte do emissor, assim como a necessidade de uma atividade interpretativa explícita por parte do receptor. (LÉVY, 2008a, p. 127)

Também, de certo modo, é com a escrita que surge a historicidade social, ou seja, a escrita permite a acumulação de informações e sua conseqüente organização causal.

Segundo Lévy (2008a, p. 127), a memória liberta-se em certa medida da mente humana, e por meio da escrita torna-se semi-objetivada, aspecto este que:

a) permite a “possibilidade de uma crítica ligada a uma separação parcial do individuo e do saber”;

b) torna a “exigência de verdade ligada à identificação parcial do indivíduo e do saber”. Com a escrita, abordamos aqueles que ainda são nossos modos de conhecimento e estilos de temporalidade majoritários. O eterno retorno da oralidade foi substituído pelas longas perspectivas da história. A teoria, a lógica, as sutilezas da interpretação dos textos foram acrescentadas às narrativas míticas no arsenal do saber humano. (LÉVY, 2008a, p. 87)

Contudo, a escrita por si apenas não seria capaz de abranger integralmente a sociedade; o meio de difusão essencial para que isso ocorresse deu-se através da imprensa, ou

seja, desde seu surgimento dentro da religião, a escrita esteve sempre sob o domínio de uma determinada classe social, em especial a sacerdotal.

Apenas no fim da Idade Média européia, por volta do século XV é inventada a imprensa. Segundo o autor francês,

[...] podemos sustentar que a invenção de Gutenberg permitiu que um novo estilo cognitivo se instaurasse. A inspeção silenciosa de mapas, de esquemas, de gráficos, de tabelas, de dicionários encontra-se a partir de então no centro da atividade científica. Passamos da discussão verbal, tão característica dos hábitos intelectuais da Idade Média, à demonstração visual, mais que nunca em uso nos dias atuais em artigos científicos e na prática cotidiana dos laboratórios, graças a estes novos instrumentos de visualização, os computadores. (LÉVY, 2008a, p. 99)

Podemos dizer que a imprensa foi um dos artefatos técnicos mais importantes inventados, pois por meio dela diversas transições estruturais, em especial no sistema científico da sociedade, fizeram-se possíveis. Isso, não significa dizer que esse artefato técnico tenha determinado a evolução da sociedade européia, como pondera Lévy:

A prensa de Gutenberg não determinou a crise da reforma, nem o desenvolvimento da moderna ciência européia, tão pouco o crescimento dos ideais iluministas e a força crescente da opinião pública no século XVIII – apenas condicionou-as. Contentou-se em fornecer uma parte indispensável do ambiente global no qual essas formas culturais surgiram. Se, para uma filosofia mecanicista intransigente, um efeito é determinado por suas causas e poderia ser deduzido a partir delas, o simples bom senso sugere que fenômenos culturais e sociais não obedecem a esse esquema. A multiplicidade dos fatores e dos agentes proíbe qualquer cálculo determinista”. (LÉVY, 2008b, p. 26)

Do século XV até a primeira metade do século XX o ocidente passou por um processo de modernização, o qual implicou numa série ainda mais drástica de transição em praticamente todos os âmbitos da sociedade.

Nesse cenário, a imprensa permanece atuante, e aquilo que Lévy (2008b) chama de “pólo da escrita” tem seu apogeu, em especial com a publicação de livros, numa sociedade que passa a tomar cada vez mais contato com a alfabetização, contudo, toda essa gama de possibilidades continua ainda restrita às classes dominantes como a nobreza e a burguesia.

Já no inicio do século XX, o ocidente experimentou outra espécie de transição, equiparável à ocorrida no século XV; nesse período, graças ao desenvolvimento da ciência, surge um número expressivo de inventos e inovadoras tecnologias tão condicionantes para a sociedade quanto a imprensa no passado. Dentre tantas novidades, são mais pertinentes as relacionadas à comunicação, visto que a grande transição marcante em nossos dias concerne à da informatização. Citemos inicialmente os meios de comunicação de massa, tais como o

rádio e a televisão, os quais permitiram durante boa parte do século XX a transmissão e difusão de informações de modo cada vez mais abrangente na sociedade dita moderna.

Contudo, nada foi tão impactante quanto a invenção do computador e posteriormente da internet; o computador tornou-se “hoje um destes dispositivos técnicos pelos quais percebemos o mundo”(LÉVY, 2008a, p. 15).

Para este autor, é justamente em tal momento que podemos passar a situar o pólo informático-mediático numa posição preponderante. Cabe, no entanto, esclarecer que “os pólos da oralidade primária, da escrita e da informação não são eras: não correspondem de forma simples a épocas determinadas, mas com intensidade variável”(LÉVY, 2008a, p. 126), ou seja, há uma coexistência entre os pólos, no entanto há um primado de cada um destes em determinados momentos da evolução da sociedade.

É na sociedade marcada pelo primado do pólo informático-mediático que ocorrem fenômenos de ordem mundial, tal como o fenômeno da globalização. O pensador da sociedade informatizada, McLuhan, segundo Lévy, já havia tido uma intuição semelhante por meio de seu conceito de “Aldeia Global”. (LÉVY, 2008a, p. 126).

Descrevendo ainda a realidade da sociedade informatizada, o autor afirma que:

A respeito da “dinâmica cronológica” do pólo informativo-mediático, deve ser lembrado que a explosão sugerida pela “pluralidade de devires” e a “velocidade pura sem horizonte” é compensada, até certo ponto, pela unificação mundial realizada na rede informático-mediática, assim como pela emergência de “problemas planetários” de ordem demográfica, econômica e sociológica. O estado de humanidade global, perseguido pelo homem da escrita e da história de diversas formas (impérios, religiões universais, movimento das luzes, revolução socialista), é de hoje vivenciado pelo homem informático-mediático. Isto não significa nem que todos os grupos sociais que vivem no planeta participem deste tipo de humanidade, nem que a cultura da televisão e do computador possa ser considerada como um final feliz para a aventura da espécie. (LÉVY, 2008a, p. 126)

Com relação à memória social (em permanente transformação na sociedade informatizada), “encontra-se quase totalmente objetivada em dispositivos técnicos” (LÉVY, 2008a, p. 127). Por outro lado conectados à rede informático-mediática, os atores da comunicação dividem cada vez mais um mesmo hipertexto. A pressão em direção à objetividade e à universalidade diminui, as mensagens são cada vez menos produzidas de forma a durarem, isso tudo no âmbito da pragmática da comunicação. (LÉVY, 2008a, p. 127).

Levando a cabo esta sociedade completamente nova, Lévy introduz uma série de novos conceitos para explicar nossa realidade, tais como os de cibercultura, ciberespaço, e inteligência coletiva, por exemplo. Aliado às tecnologias contemporâneas, Lévy (2008a, 2008b, 2010) demonstra de modo revolucionário seus impactos.

Também, segundo Manuel Castells:

No fim do segundo milênio da Era Cristã, vários acontecimentos de importância histórica transformaram o cenário social da vida humana. Uma revolução tecnológica encontrada nas tecnologias da informação começou a remodelar a base material da sociedade em ritmo acelerado. Economias por todo o mundo passaram a manter interdependência global, apresentando uma nova forma de relação entre a economia, o Estado e a sociedade em um sistema de geometria variável. (CASTELLS, 2009, p. 39)

Explorando as conseqüências sociais decorrentes das novas tecnologias e seus eventuais potenciais, Lévy desenvolve sua obra “Cibercultura”. Neste escrito volta a reportar- se à relação entre técnica, cultura e sociedade, assinalando novamente a técnica não como fator determinante da realidade social, mas sim condicionante, conforme escreve sobre o surgimento do “Ciberespaço”:

A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma evolução geral da civilização. Uma técnica é produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra-se condicionada por suas técnicas. E digo condicionada, não determinada. Esta diferença é fundamental. (LÉVY, 2008b, p. 25)

E segue fundamentando sua observação sobre a relação entre as novas tecnologias condicionais para o surgimento de uma “cibercultura”: “Dizer que a técnica condiciona significa dizer que abre algumas possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não poderiam ser pensadas a sério sem sua presença”. (LÉVY, 2008b, p. 25).

Isso que chamamos de Cibercultura, a qual emergiu juntamente e graças à expansão do ciberespaço, procedeu de tecnologias que abriram tais possibilidades.

Nas palavras do escritor:

Nenhum dos principais atores institucionais - Estado ou empresas – planejou deliberadamente, nenhum grande órgão de mídia previu, tão pouco anunciou, o desenvolvimento da informática pessoal, o das interfaces gráficas interativas para todos, o dos BBS 8 ou dos programas que sustentam as comunidades virtuais, dos

hipertextos ou da World Wide Web, ou ainda dos programas de criptografia pessoal inviolável. Essas tecnologias, todas impregnadas de seus primeiros usos e dos projetos de seus criadores, nascidas no espírito de visionários, transmitidas pela efervescência de movimentos sociais e práticas de base, vieram de lugares inesperados para qualquer tomador de decisões. (LÉVY, 2008b, p. 26-27).

8 BBS – Bulletin Board System. Não tem tradução em português, mas ao pé da letra, seria “sistema

de quadro de mensagens”. São sistemas onde um computador central, equipado com diversos modems, serve como base para troca de informações entre os usuários que acessarem o BBS a partir de seus computadores pessoais, usando modems e linhas telefônicas. Mal comparando, um BBS seria um híbrido dos atuais sistemas de correio eletrônico e newsletters, com algumas funcionalidades adicionais. LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2008, p. 251.

As inovações provocadas pelas alterações e avanços tecnológicos abrangem toda a sociedade contemporânea, alterando completamente o nosso foco de percepção e vivência.

O ciberespaço é constituído especialmente de materiais, informações, seres humanos e programas. A universalização desta cibercultura “propaga a co-presença e a interação de quaisquer pontos do espaço físico, social ou informacional” (LÉVY, 2008b, p. 47). Com a emergência de um ciberespaço, também a disposição dos hipertextos alteram-se, e isso, na sociedade informatizada é de suma importância. O hipertexto é nada menos, que “um texto em formato digital, reconfigurável e fluido. Ele é composto por blocos elementares ligados por links que podem ser explorados em tempo real na tela” (LÉVY, 2008b, p. 27). Com as novas tecnologias, tal como a advinda com a Word Wide Web (a qual corresponde a uma função da internet), torna-se possível juntar num “único e imenso hipertexto ou hiperdocumento (compreendendo imagens e sons), todos os documentos e hipertextos que a alimentam”,9 aspecto este que revoluciona âmbitos da sociedade, tais como a política e a educação.

Contudo, é necessário definir o que se entende por ciberespaço. “A palavra ciberespaço foi inventada em 1984 por William Gibson em seu romance de ficção científica Neuromante” (LÉVY, 2008b, p. 92). Lévy (2008b) define o ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. E segue detalhando:

Essa definição inclui o conjunto de sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização. Insisto na codificação digital, pois ela condiciona o caráter plástico, flúido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e resumindo, virtual da informação que é parece-me, a marca distintiva do ciberespaço. Esse novo meio tem vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século. (LÉVY, 2008b, p. 92 - 93)

Ademais, o ciberespaço, a medida que se amplia, torna-se universal, mas não totalizável. “O universal da cibercultura não possui nem centro nem linha diretriz. É vazio, sem conteúdo particular”. (LÉVY, 2008b, p. 111).

Conforme já foi ressaltado, este acontecimento transforma, efetivamente, as condições de vida em sociedade. O ciberespaço é um universo indeterminado, que mantém sua indeterminação, “pois cada novo nó da rede de redes em expansão constante pode tornar-se

produtor ou emissor de novas informações, imprevisíveis, e reorganizar uma parte de conectividade global por sua própria conta” (LÉVY, 2008b, p. 111).

O ciberespaço é também o “Sistema do Caos”, pois é construído em sistema de sistemas. Essa universalidade desprovida de significado central, do ciberespaço, esse sistema da desordem, é chamada por Lévy de “universal sem totalidade”, ou seja, isso constitui uma “essência paradoxal da cibercultura” (LÉVY, 2008b, p. 111).

Assim, observando tais aspectos, assevera o autor que a emergência do ciberespaço, de fato, provavelmente terá - ou seja, tem hoje - um efeito tão radical sobre a pragmática das comunicações quanto teve, em seu tempo, a invenção da escrita.

Contudo, o ciberespaço tem seu crescimento orientado basicamente por três princípios:

a) a interconexão;

b) a criação de comunidades virtuais; c) a inteligência coletiva.

Dentre os três princípios, analisaremos posteriormente a “inteligência coletiva”, pois esta vem a ser tratada por Lévy em obra especifica e possui maiores pertinências com relação aos objetivos logrados por este trabalho, antes, contudo, é necessário destacar que a cibercultura, ao refletir-se na sociedade afeta, diversos âmbitos da sociedade, tais como a arte, a política, a economia, dentre outros, mas em especial, a educação, pois as tecnologias intelectuais que acompanham a cibercultura favorecem novas formas de acesso à informação: “navegação por hiperdocumentos, caça a informações através de mecanismos de pesquisa, knowbots ou agentes de software, exploração contextual através de mapas dinâmicos de dados” (LÉVY, 2008b, p. 157), bem como de novos estilos de raciocínio e de conhecimento: “tais como a simulação, verdadeira industrialização de experiência do pensamento que não advém nem da dedução lógica nem da indução a partir da experiência”. (LÉVY, 2008b, p. 157).

Com isso, está evidente que na educação estabeleceram-se mudanças irreversíveis e também revolucionárias, as quais alterarão, (e já, de certo modo, alteraram) o modo como os alunos aprendem e os professores ensinam; na verdade, isso abre um leque de possibilidades para qualquer um que saiba desfrutar do ciberespaço por meio das novas tecnologias, tanto no sentido da decadência da presencialidade como fator essencial ao aprendizado (no sentido da relação mestre/ aluno), quanto no que concerne à quantidade de informações emergentes do

ciberespaço. Acrescenta-se ainda que, mesmo em sala de aula as mudanças proporcionadas pelas novas tecnologias de fato provocaram uma verdadeira revolução, possibilitando novas formas de ensino e aprendizado, e mais especificamente no que diz respeito à Educação Matemática, pode-se dizer que esta dispõe de novas possibilidades fomentadas pelo advento da informática.

Nesse contexto, faz-se necessário retornar à temática da cibercultura para apenas assim introduzirmos nesta análise aquilo que Lévy denomina de “Inteligência coletiva”. A cibercultura traz consigo uma série de novos modos de conhecimento, dentre estes, ocupa lugar central a simulação, ela “é um modo especial de conhecimento, próprio da cibercultura nascente” (LÉVY, 2008b, p. 166).

Por meio da simulação torna-se possível amplificar a imaginação individual e aumentar a “Inteligência coletiva”. A simulação depende da exteriorização de processos cognitivos, uma vez que esses processos “tenham sido exteriorizados e reificados, tornam-se compartilháveis e assim reforçam os processos de inteligência coletiva”. (LÉVY, 2008b, p. 165). As técnicas de simulação, porém, não vieram para substituir os raciocínios humanos, mas sim para auxiliá-los e potencializá-los transformando a capacidade de imaginação e pensamento. Em suma, “a simulação é uma ajuda à memória a curto prazo que diz respeito (...) a dinâmicas complexas” (LÉVY, 2008b, p. 166).

As interconexões surgidas no ciberespaço favorecem aos processos de desenvolvimento da inteligência coletiva. Segundo Lévy não mais a inteligência artificial, mas sim a inteligência coletiva toma lugar central em nossos dias.

O ciberespaço, interconexão dos computadores do planeta, tende a tornar-se a principal infra-estrutura de produção, transação e gerenciamento econômico. Será em breve o principal equipamento coletivo internacional da memória, pensamento e comunicação. Em resumo, em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irresistível proliferação de textos e de signos, será o mediador essencial da “inteligência coletiva” humana. Com esse novo suporte de informação e de comunicação emergem gêneros de conhecimento inusitados, critérios de avaliação inéditos para orientar o saber, novos atores na produção e tratamento dos conhecimentos. (LÉVY, 2008b, p. 167)

Dentro da pertinência do que estava sendo discutido sobre a sociedade contemporânea, Lévy traça um mapa, no qual cartografa a evolução da sociedade e do ser humano com base numa linha do tempo que parte do paleolítico (sociedade organizada de modo tribal marcada por mitologias, cosmologias e rituais – espacialmente organizada de modo nômade), passa pelo neolítico (período à partir do qual o ser humano alcança o logos e surgem as primeiras civilizações e a noção territorialidade), chega à revolução industrial (resultante do processo de

modernização ocidental, ligado ao desenvolvimento econômico e cientifico) e culmina no que Lévy chama de “noolítico”, que vem a ser a “idade da pedra do espírito”. “A pedra não é mais aqui o sílex, mas sim o silício dos microprocessadores e da fibra ótica.” (LÉVY, 2010, p. 122).

Tal divisão considera quatro períodos aos quais o pensador em tela liga quatro tipos de especialidade: no paleolítico da terra; no neolítico do território; na revolução industrial das mercadorias; e, por fim no noolítico o do saber, ou seja, nosso tempo marcado pelo “espaço do saber” possibilitado pelo ciberespaço oferece condições para o desenvolvimento de uma “inteligência coletiva”.

Nas palavras de Lévy, a inteligência coletiva,

É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências. [...] a base e o objeto da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuos das pessoas, e não o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas. (LÉVY, 2010, p. 28 - 29)

Estamos, portanto, diante de uma nova sociedade, de um inédito sistema econômico globalizado, de um sistema educativo expandido e destituído de fronteiras, de uma nova política democrática que amplia as “esferas públicas” para os âmbitos virtuais; não há sequer um campo da sociedade que não tenha sido afetado por esta transição de dimensões globais.

Em conclusão, a evolução levou-nos a um ponto no qual a intensificação dos avanços tecnológicos, deixou-nos diante de uma nova realidade cibercultural, plural, heterogênea, e por fim, concluindo ao melhor estilo de Manuel Castells (2009) (em consonância com Lévy) numa sociedade em rede, interconectada e estabelecida graças às novas tecnologias, as quais jamais possibilitarão que nosso mundo seja visto da mesma forma.

3. EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE