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5. APORTES METODOLÓGICOS

5.2 Pesquisa Qualitativa

Borba (2001; 2004) defende que pergunta, metodologia e linha de pesquisa se constituem mutuamente em um processo, que, na maioria das vezes, não é totalmente racional, mas tem tons de emoção e condicionantes sócio-políticos. Ao falar das subjetividades que permeiam uma investigação qualitativa, o autor não o faz em tom pejorativo, ao contrário, esclarece suas particularidades e suas pertinências.

Para o autor existe uma interação mútua entre as perguntas que norteiam uma pesquisa e a metodologia escolhida. Em sua argumentação, estabelece que a metodologia engloba os procedimentos e a visão do que é conhecimento. Para apoiar essa idéia, Borba cita Lincoln e Guba (1985), atribuindo a estes autores a percepção sobre a necessidade de haver uma coerência entre a visão de conhecimento e os procedimentos adotados. Prossegue exemplificando que uma visão behaviorista de conhecimento é consistente com procedimentos de pesquisa que enfatizam o uso de teste e análise estatística, assim como visões epistemológicas que enfatizam a compreensão estarão em harmonia com procedimentos qualitativos que destacam as formas como os estudantes pensam, e não os resultados obtidos.

Mais especificamente, ao falar em pesquisa qualitativa, Borba se refere a uma forma de conhecer o mundo que, em sua visão:

Se materializa fundamentalmente através dos procedimentos conhecidos como qualitativos, que entende que o conhecimento não é isento de valores, de intenção e

da história de vida do pesquisador, e muito menos das condições sócio-políticas do momento. Como já dizia Paulo Freire: a escolha da pergunta de pesquisa já é em si um ato embebido de subjetividade. (BORBA, 2004, p. 3, grifo do autor)

Como sugerido na citação anterior, o conhecimento não é isento de valores, e está sujeito a história de vida do pesquisador. Interessante é observar que, subjetividades existem não apenas por parte do investigador, mas também por parte dos investigados. Estes, como relatam Laville e Dionne (1999), são seres humanos, livres, e possuem inclinações, percepções, preferências, visões de mundo. Com efeito:

O fato de o pesquisador em ciências humanas ser um ator que influencia seu objeto de pesquisa, e do objeto de pesquisa, por sua vez ser capaz de um comportamento voluntário e consciente, conduz a uma construção de saber cuja medida do verdadeiro difere da obtida em ciências naturais. (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 35)

O discurso sobre as “influências pessoais” em uma pesquisa qualitativa empreendido até o momento tem o objetivo de justificar a maneira pela qual a presente pesquisa se desenvolve. Dessa forma, pode-se dizer que a abordagem tecnológica adotada nos capítulos anteriores, bem como os aspectos relacionados à Educação Matemática crítica, tem sua razão de ser em função das análises subseqüentes, assim como se relacionam com a visão de mundo e concepções que influenciam o pensamento do autor deste trabalho.

Segundo Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa tem em sua essência, cinco características: (1) a fonte direta dos dados é o ambiente natural, sendo o investigador o principal instrumento de coleta desses mesmos dados; (2) os dados que o investigador recolhe são essencialmente de caráter descritivo; (3) os investigadores que utilizam metodologias qualitativas interessam-se mais pelo processo em si do que propriamente pelos resultados ou produtos; (4) a análise dos dados tende a ser indutiva; e (5) o significado que os participantes atribuem às suas experiências e a maneira com que estes encaram a situação em estudo são de fundamental interesse para o investigador.

Mais adiante será descrito o ambiente em que ocorreu esta pesquisa, porém, é possível adiantar que o ambiente natural constitui-se na fonte de dados deste trabalho, já que os dados foram obtidos por meio de questionários e observações realizadas pelo pesquisador em um curso específico de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, mais especificamente na disciplina Matemática Discreta, de freqüência regular por parte dos sujeitos.

Pode-se dizer, também, que a pesquisa é descritiva, pois contempla e descreve os dados obtidos com os questionários, bem como as observações realizadas pelo professor

pesquisador. As elucidações sobre as concepções do aluno em relação à matematização da informática e, conseqüentemente, sobre a importância da Matemática para sua formação profissional, ocorreram não em um momento pontual, mas foram fruto do estudo de um processo em que os sujeitos estiveram envolvidos com questões que permitiram tais elucidações, conforme podem corroborar as análises, mais adiante. Desta forma, foi possível prover um inter-relacionamento destes elementos e suas respectivas categorizações, ou seja, as análises ocorreram de forma indutiva.

Com estas observações, e pela importância atribuída à maneira com que os sujeitos encararam a situação de pesquisa, autoriza-se, segundo a visão de Bogdan e Biklen (1994), a chamar a esta pesquisa de qualitativa.

Salienta-se, ainda, que a opção pela pesquisa qualitativa foi a que se mostrou mais adequada desde os estágios iniciais. Utilizando as palavras de Oliveira (2007), as questões que surgiam e que causavam o impulso em direção da busca de sentidos e elucidações tinham caráter particular, não podiam ser generalizadas em torno de quantidades sempre aplicáveis e de percentuais infalíveis, pedindo antes, descrições que apontassem na busca das respostas direcionadas pelo problema e pelas hipóteses substantivas. Contudo, o autor acrescenta que os números podem ser usados em caráter complementar e, de acordo com seu ponto de vista, as abordagens quantitativas e qualitativas tendem à complementaridade. Esta asserção corrobora a ótica de Laville e Dionne (1999, p. 225), segundo a qual “as perspectivas quantitativas e qualitativas não se opõem então e podem até parecer complementares, cada uma ajudando à sua maneira o pesquisador a cumprir sua tarefa, que é de extrair as significações essenciais da mensagem”.