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PARTE IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO

6. Chaves como destino turístico

6.3 Importância do turismo e organização de eventos

Apesar de ser uma cidade muito bonita e possuir as condições básicas para a subsistência, a cidade não deixa de ser uma cidade do interior, sendo visível um aumento da sua desertificação, ao longo das últimas décadas, pois as pessoas continuam a fugir para o litoral e para o estrangeiro à procura de melhores condições de vida. A cidade praticamente não possui indústria nem empresas que sejam capazes de oferecer muitos postos de trabalho. Como tal, sem grandes ordenados, o poder de compra dos habitantes torna-se cada vez mais reduzindo, não podendo contribuir para o crescimento do comércio local. Uma boa maneira de contrariar este ciclo é aumentar o turismo o que possibilita combater a desertificação, promover a revitalização e mediatizar o território. “Nós não temos muitos recursos e o turismo pode ser um recurso extremamente importante, então todos nós temos que trabalhar para o turismo (…) são os pequenos pormenores que fazem com que a gente goste de um lugar, das pessoas daquele lugar, ou não goste (…) é preciso saber receber!” – Ana Coelho

“O futuro de Chaves, aliás, de todo o interior de Portugal, o futuro vai ser o turismo. Em termos de indústria é para esquecer, não conseguimos atrair indústrias e as que se possam criar, na minha opinião, vão ser sempre indústrias

ligadas a produtos regionais e ao próprio desenvolvimento desses produtos.” – Jorge Fernandes

Posto isto, é crucial trabalhar para atrair cada vez mais turistas à cidade, sempre de uma forma sustentável, para ser possível aumentar o poder económico dos comerciantes locais e aumentar a própria economia local.

“Se a pessoa do restaurante trabalhar bem eu vou trabalhar bem! Se não é naquele dia, naquela semana trabalho. Porque a pessoa trabalhou, ganhou dinheiro e vem cá comprar um par de calças. E se não o comprar a mim, compra ao meu colega, e depois a funcionária dele vem me comprar a mim. É assim que rola o dinheiro aqui em Chaves, mas cada vez estamos a ficar mais pequeninos. Em vez de ser a bola de neve que desce pela montanha que desce pela montanha e começa a aumentar, é a bola de neve que desce pela montanha e se começa a perder. E estamos a ficar cada vez mais pequeninos. Esse é o nosso problema. Precisamos que alguma coisa seja feita por nós.” – Jorge Fernandes

Chaves é a cidade da região do Alto Tâmega que possui um maior número de camas disponíveis, e atualmente estão a ser construídos dois novos hotéis que irão aumentar ainda mais esta disponibilidade. Este tópico é um ponto muito positivo quando se realizam grandes eventos na região, como a sexta 13 em Montalegre. Dada a falta de capacidade para acolher todos os participantes, estes sentem-se na necessidade de se deslocarem até Chaves e, consequentemente, visitarem a cidade. As pessoas, provavelmente, quando optaram por a determinado evento, nos arredores, nem sequer pensaram na hipótese de visitar Chaves, mas, afinal, acabam por ter que ir lá dormir. Ao ser o concelho com mais camas, e os concelhos vizinhos não conseguirem albergar tanta gente, acabam por trazer turismo a Chaves, sem querer.

Tabela 6 - Estabelecimentos hoteleiros existentes nos municípios do Alto Tâmega no ano de 2016

Município Boticas Chaves Montalegre Ribeira de Pena

Valpaços Vila Pouca de Aguiar Número de estabelecimentos hoteleiros 3 28 19 4 5 5 Número de quartos disponíveis 20 752 208 29 74 109 Capacidade de alojamento (cama) 30 1514 433 78 152 178

Fonte: Adaptado de PORDATA (2017a), PORDATA (2017b) e de PORDATA (2017c)

De igual modo, o facto de ser uma cidade transfronteiriça também acaba por ser uma consequência para a atração de diversos visitantes. Por um lado, recebe os espanhóis, essencialmente da região da Galiza que querem conhecer ou gostam de visitar Portugal, e, por outro lado, atrai portugueses que vão visitar Espanha e que usam a cidade de Chaves como fronteira.

Outra razão que atrai muitos visitantes à cidade de Chaves é realização dos grandes eventos que já foram previamente enumerados na secção 4.3. O que é facto é que estes eventos são capazes de provocar um enorme pico no número de visitantes na cidade de Chaves e como tal é importante que eles mantenham a sua qualidade, ou, se possível, que melhorem. Como tal, é importante conhecer a opinião das pessoas e tentar visualizar os aspetos mais negativos.

Os assuntos mais polémicos relativamente aos eventos de maior dimensão que se realizam na cidade têm a ver com existência de tantos feirantes provenientes de outras regiões na realização da Feira dos Santos e a falta de envolvimento da população na mesma. É uma feira antiquíssima, apesar de não se saber, ao certo, a data do seu começo, há registos que a datam do século XIX. Foi ganhando dimensão com o passar dos anos e foi-se enraizando na cultura dos flavienses, contudo, pouco se tem feito ao longo dos anos para evoluir.

“Em relação aos Santos sou um bocado crítico por vários motivos. Eu não consigo entender qual a visão que se tem de fazer uma feira na nossa cidade, como noutra cidade qualquer, e ser uma feira especialmente feita para fora (os comerciantes são maioritariamente de fora)! Não é uma feira a pensar cá para dentro!” – Jorge Fernandes

“A feira dos Santos já não é considerada de Chaves, porque há muitas poucas pessoas de Chaves como feirantes e as pessoas que estão em Chaves não estão envolvidas nem na feira, nem na divulgação, nem nas atividades da feira.” – Marta Costa

Quando se realiza um evento numa determinada região, para além da importância de atrair gente e da elevada dimensão que o evento consiga atingir, é deveras importante que esse evento traga benefícios para o local onde se realiza para que a comunidade em geral e os comerciantes envolvidos tenham vontade de dar continuidade e se empenham para que o evento se realize e tenha sucesso. É lógico que, quando se realiza uma feira tão grande como a dos Santos, com cerca de três quilómetros e à volta de 400 expositores e onde a maioria dos feirantes não são da zona e onde a maioria do vestuário é contrafeito, os comerciantes locais ficam insatisfeitos pois não têm meios para combater a concorrência, não conseguem vender tanto como se estivessem “sozinhos” e ficam desmotivados, sem vontade e sem o intuito de dar continuidade a esta feira que atrai milhares de visitantes à cidade durante a sua realização.

O outro evento que é alvo de críticas é a recente Festa dos Povos (romanos), que apesar de ainda só ter contado com três edições, atrai muita gente à cidade nesse fim de semana. Aqui a principal crítica é a sua localização pois encontra-se afastada da zona histórica da cidade onde se podem encontrar mais vestígios da antiguidade e, por outro lado, há uma enorme falta de envolvimento dos comerciantes e da população em geral. A feira devia ser sentida pela cidade toda e não apenas naquela zona da cidade.

“A feira dos povos devia de ser pelo centro histórico e não nas caldas. Deviam aproveitar o centro histórico. O castelo, as ruas históricas e aproveitar o facto de ser romano. Está ali nas caldas, ali não há nada de romano, só há as poldras!” – Tânia Ramos

interior da cidade, acho que fazia falta qualquer coisa! Incentivar as pessoas a decorar as janelas, olha ir a Lugo e ver como se faz!” – Jorge Leite

“Eu sou sempre a favor de todos os eventos que sejam para atrair povo, para atrair pessoas e para atrair turismo. Agora faz-se muita coisa sem pés nem cabeça. E uma das coisas que eu não concordo é que a festa dos Povos seja em agosto. É exatamente a altura em que nós não precisamos que venha alguém. Já estamos cheios naturalmente.” – João Guedes

Contundo, independentemente do modo como os eventos são organizados e geridos, um grande problema que se deteta é a falta de feedback que se recebe dos visitantes

“Deveria haver um esforço do departamento cultural na festa dos povos, bem como do departamento do turismo ou da comunicação e depois do comercial. Envolver os comerciantes dali para que possam gerar mais receita e isso não acontece. Se tens um departamento cultural que está naquele mês a trabalhar a 300% não podes ter outro a trabalhar a 50%. É preciso comunicar com os turistas que vêm. Eles vêm, mas não há nenhuma estatística oficial se eles gostaram, se não gostaram, onde dormiram, o que comeram, o que valorizaram eles vêm e pronto!” – Marta Costa

Por outro lado, outro aspeto negativo visível é a falta de promoção dos eventos que são realizados. Sim, há a distribuição de cartazes pelo concelho bem como a publicidade no site do município. Mas isso não chega! É preciso fazer chegar essa informação a quem não é de cá e essencialmente a quem ainda não conhece esses eventos.

“Acho que deviam apostar mais na divulgação a nível nacional e mesmo aproveitar a parte de Espanha que se calhar é pouco divulgada. A feira dos Santos se calhar é a feira que trás mais pessoas. A feira dos Sabores também tem vindo a crescer e a dos povos também, mas eu acho que deviam aproveitar isso ainda para crescer mais se houvesse uma maior divulgação.” – Tânia Ramos

“Temos que saber publicitar para fora aquilo que temos! Porque nós temos a mania que Chaves já é conhecida. Alguns conhecerão, outros não, nem sabem aquilo que temos!” – Jorge Fernandes