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PARTE II REVISÃO DA LITERATURA

2. Destinos turísticos

3.5 O modelo das redes industriais

A relação criada entre duas partes é o resultado de um processo de interação onde as ligações são desenvolvidas, ocasionando uma orientação e compromisso mútuo. Este mesmo relacionamento encontra-se ainda numa relação de interdependência com o que se passa noutros relacionamentos. Quando se verifica o efeito em cadeia neste tipo de conetividade, verifica-se a existência de uma rede, sendo importante compreende-la e perceber os efeitos causados pelos seus relacionamentos.

Uma rede de relações tem influência na visão e interpretação de cada autor que atua num determinado destino turístico, sendo que esta rede acaba por se transformar num recurso da própria região onde se localiza. Logicamente o valor de um destino vai depender dos recursos que este possui e a forma como estão a ser combinados, sendo, por isso, possível analisar o destino como uma organização. Deste ponto de vista, cada uma das organizações existentes é considerada como uma combinação específica de recursos. Posto isto, o caráter das relações, tanto sociais como institucionais, desenvolvidas num determinado destino turístico são únicas, inimitáveis e ainda possuem a capacidade de afetar a atratividade da região onde se encontram.

O modelo ARA, aperfeiçoado por Hakansson e Johanson (1994), sustenta grande parte da operacionalização da abordagem dos mercados em rede e define, como base de qualquer rede, três elementos a saber, os atores, os recursos e as atividades, sendo ideal para retratar as relações e efeitos decorrentes desta abordagem em rede do mercado.

Neste modelo, os atores executam e controlam as atividades, desempenham diversos tipos de relacionamentos entre si e ainda controlam os recursos disponíveis. Estes atores podem ser indivíduos, ou grupo de indivíduos, empresas, grupos de empresas, ou parte de empresas, podendo, portanto, pertencer a diferentes níveis organizacionais, sendo que eles é que decidem as atividades que são realizadas, por quem e com que recursos.

Figura 14 - Modelo ARA

Fonte: Adaptado de Hakansson e Johanson (1994)

De forma a que seja possível compreender melhor este modelo, de seguida, apresenta-se uma breve explicação, de cada um dos elementos do modelo, isoladamente.

 Atores:

Os atores, quando analisados numa perspetiva de rede, deixam de ser vistos de uma forma isolada e interna, passando a analisar os recursos que são capazes de gerir e as atividades nas quais estão envolvidos. Neste contexto, os atores constituem a essência da rede uma vez que são os geradores de um processo dinâmico que interliga os recursos através das atividades desenvolvidas na rede. Estas atividades e recursos são coordenados em função dos interesses, influências e condicionamentos exercidos pelos autores. Esta variável pode ser constituída somente por um indivíduo, ou então por um grupo de indivíduos, parte de uma empresa, uma empresa ou té mesmo um grupo de empresas.

No processo de troca são desenvolvidas relações entre os diversos atores, o que lhes permite a utilização e o acesso aos recursos dos outros atores. A partir da análise deste modelo, Hakansson e Johanson (1994) defendem que os atores têm cinco caraterísticas:

 Os atores têm a capacidade de executar e controlar as atividades e, consequentemente, de forma individual ou conjunta, determinar quais as

atividades que vão ser desenvolvidas, como é que vão ser executadas e quais os recursos a serem utilizados;

Através dos processos de troca são desenvolvidos relacionamentos entre os atores mantidos na rede, permitindo que estes possam aceder aos recursos dos outros atores, obtendo um maior leque de recursos disponíveis;

 Os atores exercem um controle sobres recursos que poderá ser direto - sempre que o recurso fizer parte integrante do ator e este tiver acesso ao recurso sem condicionantes, ou indireto - quando o recurso é disponibilizado por terceiros e o ator terá de aceder ao recurso, dependendo de outros atores, através da sua rede de relacionamentos;

Os atores têm um objetivo comum: aumentar o poder da rede, bem como atingir as diversas metas estabelecidas. Este aumento de poder é limitado pelos recursos disponíveis, a forma como são geridos e pelas atividades que são desenvolvidas;  Os atores têm diferentes conhecimentos sobre as atividades, os recursos e até mesmo sobre os outros atores da rede. Os atores ocupam diferentes posições na rede, com diferentes ligações e conhecimentos, e com diferentes graus de conflitos. Ou seja, é possível existirem, simultaneamente, interesses comuns e conflituosos, os quais deverão ser estruturados pelos atores para se conseguir o objetivo global: aumentar o poder sobre a rede.

Os relacionamentos estabelecidos entre atores que pertençam, ou não, a diferentes organizações numa rede são, paraHakansson e Snehota (1995), denominados por laços. Esses laços vão-se construindo gradualmente ao longo do tempo, absorvendo as experiências passadas por cada indivíduo, assumindo um papel vital na coordenação das relações de negócio entre as organizações. Em qualquer rede há conflitos e interesses comuns. Os objetivos dos atores na rede podem ser simultaneamente compatíveis ou contraditórios, o que leva a comportamentos de cooperação ou de conflito. Na relação entre as duas partes existirão sempre incertezas e desconfianças que são interpretadas pelo sentido subjetivo dos autores.

Os atores possuem conhecimentos diferentes sobre atividades, recursos e até mesmo sobre os outros atores da rede. Este conhecimento pode ser explícito, ou seja, a possível de ser sistematizado, ou tácito, isto é, adquirido na experiência passada e desenvolvido no relacionamento entre os atores. Assim, os relacionamentos em forma de

vez que as empresas ficam, em parte, dependentes dos seus relacionamentos (Hakansson & Snehota, 1995).

Atividades:

A atividade ocorre quando um, ou vários atores, combinam, desenvolvem, trocam ou criam recursos, através da utilização de outros recursos. Há uma quantidade enorme de atividades que são realizadas e coordenadas dentro de uma organização, e que estão vinculadas a outras atividades de outras organizações (Hakansson & Johanson, 1994) (Hakansson & Snehota, 1995). Portanto, surge a necessidade de as organizações coordenarem e adaptarem as suas estruturas internas com os seus parceiros da rede, e vice-versa, devido à influência que estas têm na eficácia e na estrutura de custos. Na abordagem em forma de rede, é possível, segundo Hakansson & Johanson (1994), dividir as atividades em dois tipos: atividades de transformação, que implicam a alteração dos recursos, sendo sempre diretamente controladas por um ator e atividades de transferência onde apenas é transferido o controlo direto sobre o recurso de um ator para outro.

Hakansson e Snehota (1995) sugere, como exemplo, a forma como a atividade de um subfornecedor pode afetar um fornecedor. O que posteriormente irá afetar o comprador e, consequentemente, o cliente. Logicamente, a mudança numa das estruturas de atividade terá maior impacto quanto maior for o grau de interdependência.

 Recursos:

Os recursos são utilizados pelos autores na realização das suas atividades. Cada organização possui recursos que podem ser tangíveis ou intangíveis, e, por não serem suficientes para o desenvolvimento da atividade da empresa, advém a necessidade de aceder aos recursos de outras empresas. É usual dividir estes recursos em três grupos: recursos físicos, recursos financeiros e humanos.

Os recursos são muito heterogéneos, com diversos atributos sendo que o valor criado por estes vai depender da forma como os recursos forem combinados. Os recursos, quer sejam transferidos ou transformados, são mutuamente dependentes, uma vez que o uso e o valor de um recurso específico acabam por ser dependentes da forma como esse recurso é combinado com outros. Qualquer recurso poderá aumentar ou diminuir o seu valor através de dois fatores: através da atribuição de novas características ou funções; e

pela identificação de outras atividades onde os recursos possam vir a ser necessários, uma vez que o valor de um recurso advém do uso do seu potencial.

Anteriormente, nesta mesma secção, foram definidos, de forma isolada, cada um dos elementos do modelo ARA para que agora seja possível compreender a interligação múltipla desses elementos. Estes três elementos formam estruturas que podem ser descritas como redes. Os atores desenvolvem e mantêm relações entre eles, as atividades estão relacionadas entre si em padrões que podem ser vistos como redes e os recursos estão relacionadas entre eles em redes. Ou seja, os três elementos estão interlaçados numa completa rede.

A relação das três estruturas do modelo está dependente de quatro forças: a interdependência funcional entre as variáveis, as relações de poder entre os vários atores, o nível de conhecimento e a experiência dos atores sobre a estrutura da rede e a dependência intemporal recorrente do passado da própria rede (Hakansson & Johanson, 1994). Estas forças destacam os diversos resultados que é possível obter, através de conexão entre os elementos.

O esquema concetual desenvolvido por Hakansson e Snehota (1995) permite-nos entender melhor quais as consequências das alterações ocorridas em qualquer dimensão operante. É importante relembrar que a análise dos relacionamentos deve ser realizada na ótica em que afeta, e pode ser afetada, por outros relacionamentos, sendo que o relacionamento deve ainda ser contextualizado de acordo com os seus propósitos.

Tabela 1 - Efeitos do desenvolvimento dos relacionamentos

Ator Relacionamento Rede

Atividades Estrutura de atividades Ligações de atividades Padrões de atividades

Atores organizacional Estrutura Laços entre atores Rede de atores

Recursos Coleção de recursos Conexão de recursos Constelação de recursos

Fonte: Adaptado de Hakansson e Snehota (1995)

Através deste esquema é possível analisar uma interligação de realidades e entidades parcelares, verificando os efeitos causados pelas mudanças organizacionais ocorridas, tanto a nível da organização, como das relações e até mesmo da própria rede.

Na coluna central da tabela 1 encontra-se esquematizado o relacionamento. Estes relacionamentos surgem quando duas partes formam ligações de atividades, laços entre autores e conexão de recursos. O seu desenvolvimento é influenciado pelas interações desenvolvidas por ambas as partes da díade. Para além disso, na primeira coluna, cada um dos atores envolvidos pode ainda deter uma estrutura de atividade mais abrangente, uma estrutura organizacional e uma coleção de recursos própria. Por outro lado, os atores envolvidos na díade não se encontram isolados da rede, sendo que outros relacionamentos também poderão influenciar a mesma ou serem influenciados, através de diferentes estímulos, reações e interesses derivados (terceira coluna).