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PARTE II REVISÃO DA LITERATURA

2. Destinos turísticos

2.3 Turismo: um percurso no tempo e no espaço

Para que o turismo ocorra, as pessoas devem ter motivação para realizar a viagem, ter capacidade para se mover e dinheiro. Mas, acima de tudo, a pessoa precisa de ter tempo

de tempo independentes: 43% desse tempo é dedicado às necessidades fisiológicas, como comer, dormir e cuidados com o corpo; 34% do tempo é dedicado às atividades remuneradas como o trabalho e 23% representa o tempo de lazer usado por indivíduos em descanso, ou em jogos e atividades recreativas (Costa, 1996). Dentro das atividades de lazer, é possível destacar o recreio que representa a variedade de atividades que podem ser desenvolvidas durante o tempo de lazer. Quando estas atividades de recreio são realizadas fora do ambiente habitual, são identificadas como turismo.

Figura 4 – Recreio, lazer e turismo

Fonte: Adaptado de Costa (1996)

Existe uma ligação entre turismo, viagens, recreio e lazer, porém esta ligação é difusa. O turismo envolve viagens, recreio e lazer, no entanto, estas atividades podem ocorrer sem que suceda turismo obrigatoriamente (Mill & Morrison, 1992).

Turismo é o termo dado às atividades que ocorrem enquanto o turista viaja. Este termo engloba tudo, desde o planeamento da viagem, a deslocação até ao local, as compras feitas, as interações ocorridas entre host e guest, a estadia, o regresso e todas as atividades reminiscentes (Mill & Morrison, 1992). Contrariamente a outras atividades, o turismo não produz, vende e envia o produto. Neste caso, para consumir os produtos, é o consumidor que se desloca ao local onde estes se encontram e são produzidos. Sendo assim, é possível dividir o turismo em três “regiões” segundo Leiper (1979). Numa região de origem, onde a viagem termina e começa, numa região de destino que é o local de acolhimento dos turistas, durante um determinado período de tempo e numa região de trânsito, que liga as duas anteriores, e através da qual os turistas viajam. O mesmo autor

Lazer Recreio

defende que o turismo é composto por cinco elementos: turistas, três elementos geográficos (regiões geradoras, de trânsito e recetoras de turismo) e a indústria turística.

Figura 5 - Os elementos geográficos do turismo

Fonte: Adaptado de Leiper (1979)

A maioria das consequências económicas do turismo num país ocorrem durante as deslocações dos visitantes. Inicialmente, no local de origem, os visitantes podem comprar equipamentos para a viagem, ou até mesmo realizar um seguro de viagem. Contundo, quando regressam, podem, por exemplo, revelar as suas fotografias (OMT, 1999).

Por outro lado, Mill e Morrison (1992) consideram que, devido à multiplicidade das suas relações, o turismo pode ser visto como um sistema composto pelo mercado que representa os turistas, pelo destino que diz respeito às atrações, facilidades e serviços, pelo marketing que está relacionado com todo o tipo de informação e pela viagem, ou seja, tudo aquilo que implica transporte. Este sistema tem como principal objetivo alertar as partes integrantes de um sistema para o facto de uma alteração produzida numa das suas componentes, por mais pequena que seja, é sentida em todo o sistema, salientando a forte interdependência existente entre os múltiplos agentes que atuam no setor turístico. Há muitas empresas e organizações que, apesar de não atuarem diretamente no setor turístico, são afetadas por ele.

Regiões geradoras de turismo Regiões recetoras de turismo Regiões de trânsito

Figura 6 - Modelo do sistema turístico

Fonte: Adaptado de Mill e Morrison (1992)

O movimento das pessoas entre os locais é medido através de duas variáveis, tempo e espaço. A figura seguinte torna visível a relação entre as variáveis. Em muitos países, o turismo nacional é dominante relativamente ao turismo internacional, não só em termos de quantidade, mas também no que toca à contribuição económica (Etzo & Massidda, 2012). O fator que influencia o local para onde a pessoa se vai deslocar e o tempo que vai permanecer nesse local é o motivo da viagem, ou seja, pode ser por questões de trabalho, lazer, saúde, estudos, entre outros.

Destino

Marketing

Viagem Mercado

Figura 7 - Mobilidade temporária no espaço e no tempo

Local Regional Nacional

Te

m

po

Anos Mobilidade residencial

Intra- urbano Rural- urbano Urbano- rural Inter-regional Inter-urbano Internacional 12 meses Meses Trabalho sazonal

Viagem recreativa prolongada

4 meses Semanas Férias Estudos

Viagens de longa distância 7 dias Dias Viagens de negócios Cuidados de saúde Excursões Visitas 24 horas Horas Viajar diariamente Compras

Comunidade Local Região Nacional Internacional

Espaço

Fonte: Adaptado de Bell e Ward (2000)

Sendo assim, é possível classificar o turismo de acordo com a origem dos visitantes em:

Turismo local: viagens dentro da própria região e entre municípios vizinhos; Turismo regional: viagens para locais a cerca de 200 ou 300 km de distância da

residência;

 Turismo nacional: viagens por motivos de lazer ou trabalho dentro do país de residência;

Turismo internacional: viagens realizadas sempre fora do país de residência do viajante, quer seja intercontinental ou extracontinental.

Geralmente associa-se o termo “turista” ao indivíduo que viaja por lazer, recreio ou férias. Contudo, é preciso ter em conta que, para ser turista, basta passar, pelo menos, uma noite num local diferente da sua residência habitual por qualquer motivo, logo que não seja com o intuito de exercer uma atividade remunerada. Atualmente, constata-se que o turista reparte as suas férias ao longo do ano, e que as permanências são mais curtas, ao contrário do que acontecia antigamente. O próprio conceito de turismo foi evoluindo, e hoje, consoante a época, a geografia, e os motivos que levam as pessoas a viajar, é possível identificarmos diferentes tipos de turismo, analisados na secção seguinte. Alguns deles podem acontecer simultaneamente. Seguidamente, enumeram-se alguns, segundo Cunha (2003):

Turismo de recreio: é o tipo de turismo que envolve um maior conjunto de motivos para viajar. Pode ser somente por motivos de curiosidade, para desfrutar das paisagens, usufruir das distrações oferecidas, escapar das condições climatéricas ou simplesmente “tomar banhos de sol”;

 Turismo de repouso: engloba as pessoas que viajam com o objetivo de obter relaxamento físico e mental, obter benefícios para a saúde e recuperar os desgastes causados pelo stress;

Turismo cultural: aqui, mais do que o desejo de ver coisas novas, surge a necessidade de aumentar o conhecimento, aprender os hábitos e particularidades de outras populações, descobrir civilizações e culturas diferentes, ou ainda a satisfação de necessidades espirituais (religião);

 Turismo étnico: as viagens que constituem este tipo de turismo são as que implicam voltar ao país de origem pelos naturais de um país, os seus descendentes ou afins, residentes no estrageiro, e que, em muitos casos, constituem um mercado de grandes dimensões;

Turismo de natureza: as pessoas que praticam este tipo de turismo pretendem “regressar à natureza”, mediante a contemplação do meio natural por oposição ao meio urbano. Atravessar montanhas e florestas e observar as relações entre as pessoas e a terra são algumas das atividades que se podem realizar;

congressos, missões, exposições, feiras, para estabelecer contactos, realizar negócios e ainda visitar grandes complexos industriais, centros de investigação científica ou tecnológica e explorações agrícolas ou pecuárias;

 Turismo desportivo: neste grupo estão incluídos os adeptos que vão assistir a manifestações desportivas, bem como os atletas que vão praticar as mais variadas atividades lúdicas. Este segundo caso pode dar origem a destinos turísticos estruturados com base no desporto, como no golfe ou esqui.

Para além destes tipos de turismo identificados por Cunha (2003), há outros que merecem destaque uma vez que se encontram na cidade que foi alvo de estudo para a realização desta dissertação:

Turismo de saúde e bem-estar: os indivíduos que optam por este tipo de turismo, procuram recuperar ou manter o seu bem-estar e saúde, tanto a nível físico como mental. As atividades realizadas podem ser tratamentos médicos com o objetivo de curar determinada patologia ou atividades mais relacionadas com o relaxamento;

 Turismo gastronómico: neste tipo de turismo estão incluídos os amantes do comer bem. A gastronomia de um determinado destino turístico faz parte da sua própria cultura, sendo por isso praticamente impossível não contactar com este tipo de turismo na realização de uma determinada viagem;

É importante referir que os tipos de turismo identificados acima podem coexistir no mesmo destino. Se for possível identificar o público-alvo de um determinado destino, os destinos vão querer posicionar-se num segmento específico para conquistar ao máximo os visitantes. A fidelidade a um determinado destino é defendida por alguns como sendo atraente pois reduz os custos de marketing a longo prazo. Por outro lado, o destino instável aparenta ser mais rentável uma vez que quanto maior for o número de pessoas a visitar um determinado local, maior será o leque de pessoas abrangidas por informações desse local, através do famoso marketing boca-a-boca, defende Oppermann (2000), ou seja, se uma pessoa gostar de um destino, mesmo que não volte, certamente o irá recomendar.