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PARTE IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO

7. Atuação em forma de rede

7.2 Relação entre os atores turísticos

Se a cidade for capaz de pegar nos seus recursos endógenos como o artesanato, as termas, a agricultura e transformá-los em produtos turísticos, consegue obter um conjunto de mais valias: a descoberta do prazer, o relax através das termas, a aprendizagem através de workshops, a fuga dos grandes centros devido à calmaria que se faz sentir nesta pequena cidade, o fascínio pelo rural refletido na maioria das aldeias do concelho, a calma e a tranquilidade sentidas ao passear na zona das caldas ou no parque de Vidago, a arte presente no museu de arte contemporânea Nadir Afonso, a civilização romana refletida na ponte do Trajano, a civilização castreja mantida nos castros de Curalha, os sabores tão bem representados pela gastronomia, entre tantos outros.

É preciso ter presente que o turismo se transformou: de uma economia de produtos, passou para uma economia de serviços, e, nos dias de hoje, representa uma economia de experiências, tal como referiram Pine II e Gilmore (2013), ou seja, as pessoas hoje em dia dificilmente se deslocam a um local para apenas visitar qualquer coisa. As pessoas

querem sentir, querem envolver-se com a comunidade local e vivenciar diversas experiências.

O turista dos tempos modernos cada vez mais quer ser ator na terra que visita e participar nas atividades, seja na escrita criativa, seja num workshop gastronómico. A cidade deve, portanto, ser capaz de, em termos de turismo, se centrar naquilo que são os seus recursos e fazer com que estes possam ser potenciados para que o visitante considere bem empregue o tempo que passou na cidade. Para além da água com características únicas, a aposta deve ser feita no turismo cultural e no turismo criativo, apostando assim na modernidade e antecipar os desejos que o visitante dos tempos modernos anseia.

Uma vez que o turismo criativo, ou seja, este turismo de experiências tem vindo a atingir um alcance cada vez maior, faz sentido que a cidade aposte nele para cativar mais os seus turistas.

“Eu acho que é por aí que temos que trabalhar. Criar experiências, seguir uma tendência atual e mundial do turismo criativo e proporcionar aquilo que sobretudo os millennials, as novas tendências, e aqueles jovens sobretudo que agora viajam e que têm outra perspetiva do turismo, que estão à procura e anseiam, e nós neste momento em Chaves ainda não temos esse tipo de oferta!” – Filipa Leite

“Acho que fazendo uma visita a Chaves na parte cultural dentro de tudo o que é monumentos, acaba por ver a cidade e ver a história da cidade, como é que começou a ser feita, todas as origens, a parte romana, as termas romanas… Temos tanta coisa para ver que eu acho que isso não tem a ver com idades se bem que normalmente são as pessoas de mais idade preferem ver esse tipo de coisas, mas cada vez se nota mais as pessoas jovens a visitar.” – João Guedes

“Definir o público e perceber o que cada um tem para oferecer nesse sentido e unir esforços. (…) É perceber as vantagens de cada um, onde cada um consegue chegar e trabalhar nesse sentido.” - Marta Costa

Para que todo este trabalho seja feito, para que se consiga melhorar a atratividade da cidade e aumentar o turismo é crucial que haja um empenho e um esforço coletivo por parte de todos os atores turísticos da cidade. E a melhor fora de conseguir o objetivo é a cooperação entre todas as partes. Esta cooperação entre os envolvidos permite reforçar a capacidade de cada um para desenvolver novos produtos, partilhar recursos, bem como

reduzir custos associados ao desenvolvimento de novas tecnologias, ou até entrar em novos mercados.

Os atores turísticos são todos os indivíduos que estão ligados diretamente ao setor do turismo, quer pelo impacto que recebem da atividade turística ou pela influência que causam no decorrer dessa mesma atividade, por outras palavras, atuam em atividades que estão relacionadas com o turismo, como, por exemplo, a produção de bens e serviços, o transporte, o alojamento, a alimentação, a receção. Porém, as entrevistas realizadas somente permitiram colher a visão de parte dos atores institucionais.

Quando questionados sobre as organizações existentes na cidade que se dedicam à atração e manutenção dos visitantes e turistas à cidade, as opiniões dos entrevistados são bastante diversas. Por um lado, Jorge Fernandes, João Guedes, Marta Costa e Tânia Ramos, quando questionados sobre a existência de alguma entidade que se dedique verdadeiramente à atração de turistas à cidade afirmaram não conhecer. Em contrapartida, os outros entrevistados enumeraram algumas:

“A nível do fomento da região, o turismo Porto e Norte dá uma ajuda, mas tem que ser essencialmente a câmara. Porque, infelizmente, o turismo está todo concentrado na câmara” – Jorge Leite

“O município tem um papel dominante na medida que é gestor das termas (…) mas há muita gente a conseguir fazer trabalho que contribui para que venha gente à cidade (…) o facto de termos cá o casino é importante (…) e quem diz a Solverde diz a Unicer com o Vidago Palace e com o empreendimento das Pedras Salgadas” – Ana Coelho

“Nós temos a Academia de Artes de Chaves que oferece espetáculos e que é um potencial atrativo no ponto de vista cultural e turístico quando promove os eventos. Sendo parte do município, os museus, tudo o que são estruturas de oferta cultural eu julgo que são pontos atrativo para os visitantes. Depois temos a ACISAT que dinamiza ações com os comerciantes e lá está, pode tornar o centro histórico e parte empresarial mais atrativa” - Filipa Leite

De facto, é verdade que qualquer organização que realize uma atividade aberta ao público pode atrair visitantes e, como tal, ter um impacto a nível turístico, dependendo da dimensão da atividade. Obviamente que o município é a entidade com maior influência,

a nível turístico, uma vez que é detentor de todos os museus existentes, bem como das termas de Chaves e do balneário termal de Vidago. Contudo, não podemos esquecer, por exemplo, as associações desportivas que realizam eventos que atraem imensos atletas à cidade, ou até mesmo o Grupo Desportivo de Chaves que, com a sua subida à primeira divisão, fez com que imensos adeptos de outros clubes se desloquem à cidade para ver o jogo, aumentando imenso o consumo na restauração e há sempre quem acabe por pernoitar igualmente.

O terceiro objetivo desta dissertação centra-se na análise da estrutura relacional dos atores turísticos, ou seja, perceber se existe algum tipo de cooperação entre as diversas organizações que atuam no setor turístico na cidade de Chaves. A cooperação existente na cidade, que está mais desenvolvida e é mais conhecida é a eurocidade Chaves-Verin. Uma vez que é tão frequente a presença de espanhóis na cidade, não só a passear, mas também nas superfícies comerciais e nos restaurantes, embora com o surgimento do euro a presença de espanhóis nos estabelecimentos comercias da cidade tenha diminuído, especialmente nos famosos atoalhados, o que é certo é que os habitantes espanhóis que vivem mais perto da fronteira continuam a vir frequentemente fazer compras a Chaves, devido à maior variedade dos produtos.

“Há muito espanhol a visitar a cidade de Chaves, mas poucos são os que ficam ca a dormir. Passam o dia, consomem, o que é sempre bom. Consomem restaurante, consomem loja, mas depois acabam por ir embora ao final do dia. Há uma percentagem muito pequenina que fica cá.” – João Guedes, Diretor do Petrus Hotel Como consequência da forte ligação à vizinha cidade galega de Verin, foi criado em 2007, uma eurocidade com o intuito de promover a cooperação territorial europeia e fortalecer social e economicamente a região.

“Chaves é alguma coisa sem Verin, mas Verin não é nada sem Chaves de maneira que a promoção que Verin faz é sempre no encalço de Chaves e é bom para nós porque eles realmente promovem muito as nossas águas, promovem muito o nosso espaço, o nosso território, a nossa cultura e a nossa gastronomia.” – Jorge Leite “Na minha opinião a cooperação é sempre importante! Portanto se nos pudermos posicionar junto a um parceiro que até é um dos nossos maiores clientes acho que não temos nada a perder com isso. Podemos ter a ganhar! Portanto, temos que saber explorar as oportunidades.” – Ana Coelho

Porém, apesar de soar bem, a eurocidade tem as suas falhas e é criticada de uma forma geral pela comunidade local. Apesar da promoção feita pela eurocidade que favorece a atração turística, há quem se queixe da inexistência de benefícios para os habitantes locais. Apesar de ser uma eurocidade na teoria, a nível prático, as duas cidades continuam a viver de costas voltadas uma para a outra, sendo que a única coisa que partilham atualmente é a agenda cultural.

“Eu acho que isso é um projeto, ponto. É um projeto talvez a sua ideia tenha sido boa (…) nós não podemos ter uma eurocidade, ou querer ter uma eurocidade, quando não temos partilha de projetos.” – Jorge Fernandes

“Faz-se muito projeto, a própria eurocidade derivado da sua caraterística pode recorrer a muitos fundos e acho que se devia fazer muito mais do que se está a fazer. Está-se a fazer alguma coisa, que é importante, mas eu acho que se devia fazer muitíssimo mais!” – João Guedes

“Mesmo a criação da eurocidade não funciona, é uma coisa política, foi uma criação política, mas que na prática não funciona. Porque se perguntarmos a alguém o que é a eurocidade, não sabem, o que já explica muito. Eu acho que a cultura que nós temos com os galegos, que é muito parecida, deveria ser o primeiro fator de ligação.” – Marta Costa

Durante a realização destas entrevistas foi possível ter conhecimento que, ao longo do ano de 2017, a ACISAT em parceria com a ADRAT, criou o projeto “+ Turismo + Sabor – Alto Tâmega com Sabor” com o objetivo de desenvolver uma rede colaborativa que abrange empresas e instituições dos setores do Turismo e Agroalimentar, pretendendo, assim aumentar a competitividade e reforçar a imagem e a oferta do território do Alto Tâmega bem como incentivar à inovação e à internacionalização

“No projeto + Turismo + Sabor (…) procuramos ir discutindo o que faltava em termos de cooperação entre as partes, ou seja, o que é que está a falhar para que o destino não se identifique como tal, como destino turístico, para que as pessoas não se auto promovam umas às outras.” – Ana Coelho

Para já este projeto ainda está numa fase muito embrionária, porém, o primeiro evento já se concretizou. Resumiu-se a um fim de semana gastronómico sendo que os restaurantes que se quiseram associar tinham como objetivo vender produtos regionais.

O principal objetivo era criar sinergias entre o setor do turismo e agroalimentar. Como complemento, estas duas associações criaram um site “visitaltotamega.com” onde é possível encontrar sugestões do que fazer, onde comer e onde se conseguir alojar no Alto Tâmega.

Outro tipo de cooperação que é conhecida é o protocolo existente entre as termas de Chaves e os estabelecimentos hoteleiros do concelho uma vez que as termas não têm hotel próprio para alojar os seus clientes. Contudo, esta cooperação existente é muito pouca tendo em atenção todo o tipo de benefício que pode ser adquirido. De entre os entrevistados todos eles já trabalharam ou trabalham em cooperação com outras entidades essencialmente com o intuito de obter benefícios económico. A maioria deste tipo de cooperação são situações esporádicas, e, como tal, são completamente informais.

“Já há empresários que cooperam entre si. Já há gente que tem cooperações. (…) O próprio município já tem algumas parcerias também com hoteleiros como no caso da venda dos pacotes das termas e sei que tem procurado ao longo do tempo fomentar esse tipo de parcerias também.” – Ana Coelho