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PARTE II REVISÃO DA LITERATURA

2. Destinos turísticos

3.2 Rede: um conceito multidimensional

O conceito de rede não é novo, tem conseguido um enorme destaque ao longo das últimas décadas, apresenta diversos significados e aplicações nos mais variados contextos, e tem sido alvo de estudo em várias áreas. Aliás, o termo “rede” é reconhecido como sendo complexo (Morrison, Lynch, & Johns, 2004).

A nível organizacional, a noção de rede é aplicada a diversas formas de relacionamento empresarial, tais como alianças estratégicas, consórcios, redes sociais, subcontratação, joint ventures, etc. A palavra rede vem do latim retis, que significa o entrelaçamento de fios com aberturas regulares que formam uma espécie de tecido. De uma forma genérica, uma rede é um conjunto de pontos (ou nós) que se ligam a outros pontos através de linhas, tal como está exemplificado na figura seguinte.Por isso, cada

Figura 10 - Rede: pontos interligados por linhas

Fonte: Adaptado de Martinho (2003)

As linhas são mais importantes do que os pontos num desenho de rede pois são as conexões que formam as redes. Um ponto que não esteja ligado a nenhum dos outros pontos não pertence à rede. Contudo, Martinho (2003) defende que não podemos aceitar tudo como uma rede, somente porque existe uma ligação. É necessário perceber como estão posicionados esses pontos na rede, para que servem as ligações existentes, como funcionam os pontos de forma interligada e de que maneira esse conjunto de pontos e linhas opera em conjunto.

Uma rede é um conjunto de pessoas, organizações, equipas, que estão interligados através de um laço. Estes laços podem ser diretos ou indiretos, presentes ou ausentes e podem ser avaliados através da sua capacidade de ligação. Para cada tipo de ligação, formam-se redes diferentes com diferentes modos de atuação (Borgatti & Foster, 2003). Para se formar uma rede empresarial, basta que pelo menos duas empresas se juntem e comecem a trabalhar juntas, com um propósito, durante um período de tempo. A atuação, em forma de rede empresarial de cooperação, é a melhor forma para as pequenas e médias empresas obterem um alto nível de competitividade. O aumento da faturação e do poder de compra junto dos fornecedores, o aumento do número de clientes, o aumento da oferta de produtos são alguns dos fatores que trazem firmeza à rede. Todas as redes são diferentes. A melhor forma de as compreender é examiná-las.

As redes, com o seu alto poder competitivo, são capazes de fortalecer a marca e os produtos, são capazes de criar barreiras à entrada no setor de atuação, facilitam a negociação, aumentam a partilha de conhecimento e promovem o desenvolvimento da região e aumentam a empregabilidade.

A capacidade de partilhar informação entre as organizações e gerar conhecimento pode promover um desempenho superior (Eiriz, Gonçalves, & Areias, 2017). Em alguns casos, duas ou mais organizações partilham ou transferem conhecimento específico, ou seja, divulgam conhecimentos codificados e estruturados. Em outras circunstâncias a aprendizagem ocorre através da partilha de conhecimento tácito, como resultado da experiência e da acumulação lenta ao longo do tempo.

Uma caraterística peculiar de uma estrutura em forma de rede é o efeito em cadeia, resultante da conexão dos diversos elementos. Qualquer acontecimento num negócio da rede vai afetar outro e assim sucessivamente, propagando-se ao longo da rede. O que acontece numa determinada relação de negócios, não depende somente das partes envolvidas, mas do que está a acontecer em todos os outros relacionamentos (Hakansson & Snehota, 1995).

Uma rede empresarial é formada por um conjunto de empresas de um determinado setor, não estando necessariamente localizadas proximamente, e que se relacionam nos interesses dos negócios em comum, uma vez que se dedicam a um determinado tipo de negócio ou de produto. Os parceiros de uma empresa partilham o conhecimento e a experiência adquiridos nas interações com outros parceiros a que empresa não está diretamente ligada, e vice-versa.

As organizações empresariais são importantes para a partilha de recursos. Cada negócio, com características bem distintas, une-se em rede para aumentar a competitividade. A sobrevivência de cada empresa é influenciada pela sua capacidade de competir. As oportunidades devem ser criadas. Os novos produtos são importantes para a diversificação, aumentando as vendas e os lucros e a vantagem competitiva (Cooper & Hall, 2008). A capacidade de competição de cada empesa, fazendo mais pelos clientes, com menos recursos e com uma maior velocidade relativamente aos seus concorrentes, faz com que a empresa sobreviva no mercado. Mas, cada vez mais, é procurada a eficiência e a competitividade coletiva, como suporte do sucesso das empresas individuais.

Em momento algum nos podemos esquecer que existem diferenças na gestão das organizações tradicionais em forma indivual ou em forma de rede de cooperação. As organizações, quando atuam individualmente, só pensam na obtenção do seu próprio

particulares, sendo praticamente impossível um tratamento consolidado e consensual para a definição das suas propriedades e caraterísticas.

As redes, especialmente as que têm uma forte ligação com o ambiente externo, são particularmente valiosas para o setor das pequenas empresas (Donckels & Lambrecht, 1995). As empresas estão constantemente a ser confrontadas com uma grande incerteza ambiental, e é aqui que a flexibilidade se torna crucial. Sendo flexível, há uma maior capacidade de adaptação. A atuação em forma de rede é uma ótima maneira de adquirir conhecimento e informação de uma forma muito fácil. Esta facilitação de acesso a informação permite com que empresas cresçam mais rápido, especialmente as de pequena dimensão.

Hakansson e Snehota (1995) assumem que os relacionamentos empresariais em forma de rede possuem quatro caraterísticas:

 Continuidade – devido ao facto de os relacionamentos possuirem um caráter prolonado no tempo. Por um lado, podemos ter equipas de projeto e organizações virtuais com vista a atingir resultados de curto prazo e, por outro lado, podem- se criar, por exemplo, alianças estratégicas, joint ventures e associações empresariais, prevendo uma cooperação de longo prazo;

Complexidade – diz respeito ao número, frequentemente elevado, de agentes nos relacionamentos, tornando-se a rede mais complexa quanto maior for esse número;

 Simetria – corresponde à posição diferenciada entre compradores e vendedores. Podem ser verticais quando incorporam atores ao longo da cadeia de fornecimento, horizontais sempre que integram atores de áreas ou setores de atividade semelhantes, diagonais quando incluem atores de áreas ou setores de atividade complementares e, por fim, multissetoriais quando são compostas por atores de áreas ou setores de atividade distintos;

 Informalidade – diz respeito ao envolvente global onde os relacionamentos se constroem. As redes construídas podem ser altamente informais, onde não existem relações formalizadas entre os atores, podem ser redes flexíveis, onde as relações entre os atores são se baseiam na confiança, e, podem ainda ser redes formais, onde as relações estabelecidades são formalizadas e não são flexíveis.

Após a construção da rede, é possível analisá-la e classifica-la, através da sua composição, ou seja, através da sua densidade e da sua centralidade (Pavlovich, 2002). A densidade explora a estrutura geral da rede e examina o número de laços que vinculam os atores da rede em conjunto. Em termos de densidade, quantas mais ligações tiver uma rede, mais densa ela é. A densidade da rede não está diretamente relacionada com o número de pontos que possuí, mas sim com a quantidade de conexões que esses pontos estabelecem entre si (Martinho, 2003). Na figura seguinte podemos verificar um conjunto de 14 pontos, com diferentes números de ligações (14,37 e 91).

Figura 11 - Densidade da rede

Fonte: Adaptado de Martinho (2003

A centralidade é analisada através da posição ocupada por um determinado elemento dentro da rede, e destaca a forma como os recursos são geridos dentro da rede. Diz respeito ao poder de um ator dentro da respetiva rede, através do seu posicionamento. O próprio conceito considera que, quanto mais central for a posição de uma determinada organização, mais importante é essa organização para as funções de coordenação da rede. O ator que possui uma posição mais central tem um acesso mais rápido à informação, bem como uma ação e implementação mais rápidas, aumentando a sua influência em relação aos outros elementos da rede. Já as organizações menos centrais devem realizar movimentos conscientes para conseguir estabelecer laços com as mais centrais, para adquirir mais benefícios (Pavlovich, 2002).

As redes não são sólidas e vão-se modificando ao longo do tempo. Implicitamente, uma mudança na posição de uma organização vai afetar a posição de outras organizações. Se, para alguns, esta mudança pode significar a aquisição de um lugar mais central, com

maior controlo e acesso a recursos, por outro lado, uma empresa que possua ligações com uma empresa central pode perder todos os relacionamentos ricos em informação.

Segundo Saxena e Ilbery (2008), as redes podem ainda ser analisadas pela sua “dureza”. As redes duras são criadas com a intenção de atingir objetivos de negócio comuns entre os elementos da rede, tais como: procurar novos mercados, desenvolver novos produtos, ou até mesmo a produção ou comercialização conjunta. Por outro lado, as redes suaves têm uma visão mais ampla da ação, possuindo um conjunto de membros mais diversificado. Estes membros podem ser empresas, organizações, órgãos locais não governamentais, grupos comunitários e indivíduos. Estas redes são cooperativas por natureza, dando destaque às normas sociais e à reciprocidade, acolhendo objetivos mais amplos.

Os mesmos autores consideram que as redes também se podem considerar abertas ou fechadas. As primeiras são aquelas que possuem conexões espacialmente mais diversas e uma maior dinâmica de interação entre os diversos atores. Em contrapartida, as redes fechadas englobam relações sociais mais seguras e laços pessoais (muitas vezes entre amigos) e um sentimento de pertença a uma localidade.

A estrutura organizacional em redes é cada vez mais utilizada como uma forma de sobrevivência para micro, pequenas e médias empresas. As redes empresariais são utilizadas para que empresas e individuais consigam atingir um objetivo comum. (Donckels & Lambrecht, 1995). A relação de cooperação funciona, num primeiro momento, como um meio de sobrevivência no mercado, e, posteriormente, como meio de crescimento e desenvolvimento no mercado, criando assim uma vantagem competitiva. Para tal, é importante que as empresas envolventes tenham as mesmas intenções e sejam capazes de satisfazer as necessidades existentes. A partir do momento em que as empresas estabelecem uma rede e esta assume um processo evolutivo, as entidades deixam de competir entre si, pouco a pouco procuram competir de uma maneira conjunta e integrada no mercado. A cooperação empresarial é eleita como uma das estratégias que pode levar as empresas ao sucesso uma vez que permite às empresas entrar em novos mercados, ter acesso a novos recursos, a novos produtos e até mesmo a novos processos tecnológicos, com o objetivo de acrescentar valor aos seus produtos e/ou serviços.

Para Donckels e Lambrecht (1995), as redes são criadas com o intuito de obter informação de forma mais rápida e facilitada, para obter um feedback do seu ambiente externo, facilitar a obtenção de informação sobre clientes e fornecedores, aumentar o conhecimento do empresário e para aumentar a vida social do empresário. As redes podem ficar juntas durante um período específico de tempo por ano, ou só por um período e depois separam-se (Tinsley & Lynch, 2008).