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Não obstante a pouca divulgação e o pouco conhecimento, do ponto de vista antropocêntrico, as cavernas têm importância em diversas áreas, como em relação à cultura, à arqueologia, à paleontologia, à ecologia, à biologia, à história, à ciência, à economia, aos recursos hídricos, ao lazer, ao equilíbrio ambiental, entre outros. Nesse sentido, elas podem ser utilizadas para fins econômicos, históricos, culturais, ambientais, humanos, biológicos, científicos. Do ponto de vista biocêntrico, as

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Ambiental, p. 26-27.

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cavidades naturais compõem um rico ecossistema e, portanto, abrigo, habitat e desenvolvimento de diversas formas de vida.49

A história do uso das cavernas pelo ser humano ao longo de sua evolução revela a sua importância. As cavernas sempre exerceram um papel fundamental para a humanidade, pois lá nossos antepassados se protegiam das intempéries e registraram as primeiras manifestações escritas de que se tem notícia.50

De fato, muitos achados que contam a trajetória humana foram identificados no interior de cavernas. A relação existente entre o homem e estes lugares remonta à Pré-história, sendo evidenciada por inúmeras descobertas arqueológicas.51 Nossos antepassados utilizavam as cavernas para cerimoniais de sepultamento e rituais de cunho espiritual e religioso; suas manifestações aparecem grafadas em paredes e tetos como pinturas, picoteamento e fuligem, ou vestígios encontrados no solo.52

As cavernas constituem um rico patrimônio da humanidade. Esses ambientes são especiais por possuírem características distintas da superfície, possibilitando, por exemplo, a melhor conservação de vestígios da vida pretérita, objeto de estudo de paleontólogos e arqueólogos, ou o desenvolvimento de populações altamente especializadas com as quais biólogos e ecólogos têm uma melhor compreensão da evolução animal, ou ainda o acesso aos depósitos minerais e estruturas que permitem a geólogos e outros pesquisadores entender os processos e mudanças da terra.53

Na doutrina de Lino:

49 Para José Sarney Filho, responsável por colocar o TCU nesta questão: “O Brasil ainda não

despertou para a importância das nossas cavernas”. Apud FELDMANN, Fabio. Cavernas brasileiras. 1º julho 2014. Disponível em: <http://www.ecodesenvolvimento.org/colunas/fabio-feldmann- 1/cavernas-brasileiras>. Acesso em: 7 jul. 2015.

50 FABIO FELDMANN CONSULTORES. As cavernas brasileiras sob ameaça. 14 out. 2013.

Disponível em: <http://www.ffconsultores.com.br/as-cavernas-sob-ameaca/>. Acesso em: 22 out. 2014.

51 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 153. Grande parte das ossadas humanas mais antigas foram encontradas em grutas e abrigos sob rocha. Podem-se citar, entre outros, a descoberta do Homo neanderthalensis, em 1856, na gruta de Feldhofer na Alemanha; a descoberta do Pithecantropus erectus na Caverna Capela dos Santos, em 1891, em Sumatra, na ilha de Java; do Homo rodesiensis, em 1921, na Rodésia – hoje Zimbábwe; do Sinanthropus pekinensis, em 1928, em cavernas de Chou-Kou-Tien, próximas a Pequim, na China; ou ainda os mais antigos esqueletos do Homo sapiens na Europa (780 mil anos), na Caverna Gran Dolina, na Espanha, e o mais antigo hominídeo (1,9 milhão de anos) na Gruta Longgupo, na China. Cf. LINO, Clayton Ferreira. Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo, p. 17.

52 FABIO FELDMANN CONSULTORES. A responsabilidade do TCU na proteção das cavernas

brasileiras. 29 maio 2014. Disponível em: <http://www.ffconsultores.com.br/a-responsabilidade-do-tcu- na-protecao-das-cavernas-brasileiras/>. Acesso em: 22 out. 2014.

53 RASTEIRO, Marcelo. Apresentação. In: RUCHKYS, Úrsula de Azevedo et al. (Org.). Patrimônio

espeleológico em rochas ferruginosas: propostas para sua conservação no quadrilátero ferrífero, Minas Gerais. [livro eletrônico, 110MB; pdf]. 1. ed. Campinas, SP: Sociedade Brasileira de Espeleologia, 2015.

O domínio subterrâneo guarda alguns dos últimos espaços ainda intocados do nosso planeta. A cada ano são descobertas novas cavernas e, mesmo em cavernas já conhecidas, novas galerias são exploradas, abrindo ao esporte e à ciência um mundo ilimitado de pesquisas. Em seus espaços, suas cristalizações, seus sedimentos e sua fauna tão peculiares, essas cavidades guardam preciosos documentos que auxiliam a compreender toda a história da Terra. As múltiplas alterações do relevo, as mudanças climáticas, a evolução da fauna e a própria história humana deixaram ali importantes vestígios que, por vezes frágeis e únicos, foram preservados nas cavernas. Por essas razões, entre inúmeras outras, elas exigem uso adequado, respeito e proteção.54

Feldmann acredita que o patrimônio cultural existente nas cavernas pode ajudar o homem a decifrar a sua origem, e cita como exemplo as descobertas em uma caverna na Espanha, que revelou a nossa proximidade com os neandertais. Para o autor: “A biodiversidade subterrânea pode trazer muitas possibilidades em termos de novos medicamentos, e mesmo inspirar o setor empresarial a inovações decorrentes desse novo conceito de biomimética.”.55

No Brasil não é diferente. A caverna foi o ambiente que possibilitou a conservação de ossos e vestígios dos brasileiros mais antigos. Bons exemplos foram a descoberta do “Homem da Lagoa Santa”, pelo naturalista dinamarquês Peter W. Lund (1840), na Gruta do Sumidouro, em Minas Gerais, e o trabalho de pesquisadores, como Aníbal Matos, Padberg Drenkpol, H.V. Wlater, Josephá Penna e Arnaldo Cathoud, que no século XX, dando continuidade aos trabalhos de Lund, escavaram e estudaram mais de cem esqueletos humanos provenientes das cavernas daquela região. Nessas pesquisas também se destaca a descoberta do “Homem de Confins”, em 1935, na Gruta de Confins, e do “Homem de Pedro Leopoldo”, em 1940, na Gruta da Lagoa Funda. No Piauí, foram encontrados vestígios humanos com mais de quarenta mil anos, considerados por alguns pesquisadores os mais antigos das Américas. Existem ainda estudos sobre pinturas e gravuras rupestres que demonstram em diversos estados do país a riqueza artística em sítios espeleológicos.56

O papel dos ambientes cavernícolas na formação cultural é evidenciado por inúmeros painéis artísticos encontrados no seu interior, merecendo destaque:

54 LINO, Clayton Ferreira. Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo, p. 250.

55 FELDMANN, Fabio. Cavernas brasileiras. jul. 2014. Disponível em:

<http://www.ecodesenvolvimento.org/colunas/fabio-feldmann-1/cavernas-brasileiras>. Acesso em: 7 jul. 2015.

Januária, Montalvânia e região de Lagoa Santa, em Minas Gerais; Morro do Chapéu, na Bahia; Sete Cidades e São Raimundo Nonato, no Piauí; Seridó, no Rio Grande do Norte; Ingá, na Paraíba, e diversos outros sítios em Goiás, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Pará, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.57

Desde o trabalho pioneiro de Peter Wilhelm Lund, na primeira metade do século XIX, as cavernas têm fornecido importantes registros fossilíferos, formando a base das pesquisas sobre a paleontologia de vertebrados do Pleistoceno brasileiro. Esses documentos são fundamentais para o conhecimento taxonômico, anatômico e paleoecológico dos mamíferos quaternários do Brasil. Cavernas com depósitos fossilíferos são frequentes em diversas regiões brasileiras, entre as quais Lagoa Santa, em Minas Gerais, São Raimundo Nonato, no Piauí, sertão e região central da Bahia e região do Ribeira, em São Paulo. Nesses sítios existem ossadas de animais como preguiça-gigante, mastodonte, gliptodonte, tigre dente-de-sabre. As idades dos restos mortais obtidas tanto pelo C-14 como pelo método U/Th demonstram uma grande variabilidade temporal dos fósseis encontrados nas cavernas, que se estende do Pleistoceno Médio ao limiar do Holoceno. Ossadas de animais extintos em períodos mais recentes na região de Lagoa Santa (preguiça e tigre dente-de- sabre) acusaram idades em torno de nove mil anos. Contrário ao que se pensava até recentemente, a deposição dos fósseis nas cavernas não se deu em apenas um momento específico, mas sim, foram vários os episódios de deposição de fósseis nas cavernas brasileiras. A relação entre a arqueologia e as cavernas também é evidente, tendo em vista que este ambiente é favorável à preservação de vestígios arqueológicos (menor umidade, menor iluminação e temperaturas mais estáveis). São inúmeros os paredões e entradas de cavernas que registram usos diferenciados como abrigo, moradia, palco de rituais, cemitério e suporte para a arte do homem pré-histórico, destacando-se, novamente, as regiões de Lagoa Santa, em Minas Gerais, São Raimundo Nonato, no Piauí, Médio São Francisco (Januária até Montalvânia), Monte Alegre e Serra dos Carajás, no Pará.58 As regiões de Lagoa Santa, em Minas Gerais, e de São Raimundo Nonato, no Piauí, guardam os mais antigos registros dessas culturas, datando de mais de 11 mil anos B.P.59 A contemporaneidade do homem pré-histórico com os megamamíferos extintos, é

57 LINO, Clayton Ferreira. Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo, p. 17-18.

58 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 13-16.

importante anotar, foi aventada nas cavernas de Lagoa Santa, inicialmente por Peter Lund, em 1844. Fragmentos ósseos de uma preguiça-gigante (Scelidodon cuvieri) e de um tigre dente-de-sabre (Smilodon populator), encontrados nas cavernas de Lagoa Santa, foram datados respectivamente em 9.990 e 9.130 anos B.P., o que reforça a tese da coexistência do homem pré-histórico com animais pertencentes à megafauna extinta.60

No ambiente das cavernas também se concentraram as ossadas dos mais antigos brasileiros. O esqueleto de “Luzia”, exumado no abrigo rochoso de Lapa Vermelha IV, em Lagoa Santa, encontra-se posicionado em camadas sedimentares superiores a 11.000 anos B.P., sendo considerado o esqueleto mais antigo das Américas. Esse grupo pré-histórico, que usou intensamente as entradas das cavernas da região, é caracterizado por crânios estreitos e longos, faces estreitas e baixas, assim como órbitas e cavidades nasais também baixas, apresentando grande semelhança com a morfologia craniana dos nativos australianos e dos africanos atuais.61

Os sítios geomorfológicos que guardam registros paleoambientais passíveis de datações absolutas estão posicionados nas calhas fluviais, nos horizontes orgânicos enterrados, terraços e várzeas, nos paleossolos preservados nas vertentes e, particularmente, nos depósitos químicos das cavernas. Datações nesses depósitos, denominados de espeleotemas, pelo método U/Th, que cobre um período de poucos milhares de anos até quinhentos mil anos, têm colocado os depósitos de cavernas brasileiras como verdadeiros arquivos paleoclimáticos. Registros de razões isotópicas de oxigênio e carbono em espeleotemas, igualmente datados pelo método U/Th, consolidaram-se nos últimos anos como um dos melhores indicadores paleoclimáticos de regiões (sub)tropicais. As cavernas brasileiras já demonstram grande potencial para tais estudos isotópicos. Um desses estudos, efetuados nas cavernas do Nordeste e liderado por Francisco William da Cruz Júnior, do IG-USP, revelou que o início do clima semiárido nesta região pode ter ocorrido há cerca de quatro mil anos.62

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Ambiental, p. 13-16.

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Ambiental, p. 13-16.

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As cavernas, dessa forma, têm-se destacado como excelentes locais para a existência e a preservação de material arqueológico e paleontológico. O homem primitivo, como mencionado, utilizava as cavernas como abrigo, morada, ou mesmo como local para seus rituais. Ao contrário da cultura Maia, o homem primitivo brasileiro em geral não adentrava as cavernas, permanecendo apenas na zona de entrada. Alguns dos mais importantes sítios arqueológicos do Brasil estão associados a cavernas, como as cavernas e os abrigos do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, do Vale do Peruaçu e da região de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Pinturas rupestres e importantes vestígios de ocupação, como material lítico (instrumentos de pedra), cerâmico (como potes), restos alimentares e inclusive ossadas humanas e de animais são comumente encontrados.63

Em relação à paleontologia, a salvo dos processos de intemperismo e de erosão, como a ação da água da chuva e do sol, os vestígios fósseis ficam preservados por dezenas de milhares de anos, representando um rico acervo que pode ser estudado pelos paleontólogos.64 Os fósseis encontrados nas cavernas

podem ser utilizados com distintas finalidades, por exemplo: identificar os paleoambientes e as transformações ocorridas na história da Terra, determinar os câmbios climáticos65, estabelecer a identidade de restos de animais e de vegetais

muito antigos que se preservaram como fósseis e ajudar a datar as rochas que compõem a Terra.

Muitas cavernas brasileiras são ricas em material fóssil pertencente à fauna já extinta, vale dizer, de interesse paleontológico. Ao longo dos milênios, rios subterrâneos e enxurradas foram carregando ossos de animais para o interior das cavernas. Na caverna, a salvo das chuvas, do vento, do sol e da ação de outros animais, os ossos foram preservados por meio de processos de fossilização que inclui, entre outros, o recobrimento por espeleotemas ou a substituição do material do osso por substâncias minerais. Mas nem sempre foi necessário haver transporte desses materiais por rios. Alguns animais entravam nas cavernas por vontade

63 AULER, Augusto. Espeleologia: noções básicas, p. 33-34. 64 AULER, Augusto. Espeleologia: noções básicas, p. 9.

65 ABAIDE, Jalusa Prestes. Fósseis: riqueza do subsolo ou bem ambiental? 2. ed. Curitiba: Juruá,

própria, talvez em busca de água; lá morriam e só viriam a ser localizados por espeleólogos após vários milênios.66

Muito do que se conhece no Brasil sobre a paleontologia de mamíferos do Período Pleistoceno (o período geológico que vai de cerca de 1,6 milhão de anos até dez mil anos atrás) provém de estudos em cavernas. Mas ainda há muito a descobrir. A fauna extinta encontrada em depósitos em cavernas é variada, abrangendo muitas espécies de grande porte, como o mastodonte (tipo de elefante de grande porte), as preguiças terrícolas, os macacos e os tatus gigantes. O homem conviveu com alguns destes animais durante um período relativamente curto. Acredita-se que, por volta de dez mil anos atrás, tenha-se acelerado a extinção desta fauna tão particular, hoje conhecida principalmente por meio de estudos realizados em cavernas.67

A propósito, conforme a Declaração Internacional de Digne (França, 1991), o passado da Terra não é menos importante que o passado da humanidade.

Nesse sentido, acredita-se que a ocupação humana no Brasil ocorreu há 12 mil anos, embora existam locais que apresentem evidências mais antigas. O homem primitivo, no entanto, continuou a utilizar as cavernas até a chegada dos primeiros colonizadores europeus. Algumas cavernas apresentam vestígios mais recentes, estudados pela arqueologia histórica, como ocupação e desenhos feitos por escravos, tropeiros, entre outros. Ou seja, as cavernas podem ter, sim, relevância histórica.68

Quanto aos espeleotemas, eles podem ser utilizados para alguns trabalhos científicos importantes. É possível obter a idade precisa de espeleotemas de calcita e aragonita, por meio do método que mede o decaimento radioativo do urânio para o tório. Esses estudos dão informações sobre a idade das cavernas e da paisagem ao redor. As estalagmites, em particular, podem revelar importantes arquivos paleoambienatais, contendo indicações peculiares sobre as mudanças climáticas que ocorreram na região da caverna no passado.69 A par dessa importância científica, os espeleotemas possuem valor estético, além de conferir beleza ímpar às cavernas, compreendendo centenas de formas, desde as mais comuns, como

66 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 39.

67 AULER, Augusto. Espeleologia: noções básicas, p. 35.

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Ambiental, p. 39.

coraloides, estalactites e estalagmites, até formas muito raras encontradas em alguns destes ambientes.70

Ademais, no país existem importantes e raras cavernas de canga e minério de ferro na área dos Carajás/PA (art. 9º da Resolução Conama n. 5/1987) e importantes e raras cavernas areníticas existentes em Altamira/PA (art. 10 da Resolução Conama n. 5/1987).

As cavernas vêm servindo de palco de diversas manifestações religiosas, sendo, muitas vezes, transformadas em verdadeiros santuários, principalmente na região central do Brasil. Entre as mais visitadas estão as cavernas Gruta Mangabeira, Lapa do Bom Jesus e Gruta dos Brejões, na Bahia, Lapa de Antônio Pereira e Lapa Nova, em Minas Gerais, e Terra Ronca, em Goiás.71

As regiões cársticas, nas quais as cavernas se inserem, têm importância para a atividade econômica, especialmente a agropecuária, a explotação de recursos minerais (água, calcário, minério de ferro, argila, mineralizações), o aproveitamento hidrelétrico, a utilização de recursos florestais e o turismo.72

Além de seu valor histórico, cultural, científico e cênico, as cavernas também possuem importância em relação aos recursos hídricos, à manutenção de organismos vivos e à estabilidade estrutural de formações e elementos geológicos.73

No que concerne aos recursos hídricos, considerando que as cavernas podem ocorrer em todos os tipos de zonas hidrológicas74, muitas se desenvolvem

totalmente na zona freática75 ou são percorridas por rios.76 A água é agente presente

e ativo na formação das cavidades naturais subterrâneas e, em muitas delas, faz parte de seu desenvolvimento e vida. Em regiões áridas ou semiáridas, como no

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71 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

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Ambiental, p. 13-16.

73 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 153.

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75 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 30.

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nordeste brasileiro, as cavernas, na ausência de poços ou cisternas, representam o único local onde se pode acessar a água.77

Também no Brasil, várias cavernas são utilizadas como aquíferos para fazendas, povoados e mesmo cidades. É o caso das “cacimbas” do Nordeste, de fontes em grutas nos municípios baianos de Lapão, Feira da Mata e Iraquara, e da “Gruta da Captação de Água”, que abastece a cidade de Altinópolis, em São Paulo.78 Assim, em plena crise hídrica planetária, vislumbra-se mais um fator de grande importância da manutenção das cavernas.

As principais zonas hidrológicas do carste podem ser visualizadas na figura que segue:

Figura 2 – Zonas hidrológicas do carste

Fonte: INTITUTO TERRA BRASILIS79

Notas: 1 - zona superficial e epicárstica, onde a água escoa superficialmente ou percola pelo solo, alterita ou fissuras alargadas no calcário;

2 - zona vadosa, onde a água circula livremente pelos condutos, sob a ação da gravidade; 3 - zona de oscilação do nível freático, onde os condutos se apresentam alternadamente seco e inundado;

4 - zona freática, onde os condutos estão totalmente ocupados por água.

Em se tratando de equilíbrio ecológico, as cavernas são importantes para os ecossistemas em suas áreas de ocorrência,80, como por exemplo, os morcegos que

77 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 39.

78 LINO, Clayton Ferreira. Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo, p. 22.

79 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 41.

80 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

comem insetos e ajudam a manter sob controle as pragas que destroem plantações de milho.81

É pertinente lembrar que ainda existem humanos habitantes de cavernas em vários pontos do planeta, contudo, hodiernamente:

As relações do homem com as cavidades naturais estão mais associadas à visitação, envolvendo o turismo de lazer ou religioso, as atividades técnico-científicas (diversos estudos e pesquisas espeleológicas), atividades de aventura (exploração espeleológica), a busca de fontes para a obtenção de água, ou às atividades econômicas (produção de cogumelos, queijos, vinhos etc.), e as atividades terapêuticas (tratamento de doenças respiratórias, entre outras).82

Dados do Cecav83 dão conta de que nas cavernas é possível o

desenvolvimento de estudos científicos, com investigações em diversos campos do conhecimento. Os ecossistemas das cavernas, ademais, podem cooperar com o desenvolvimento social e econômico por meio, a toda evidência, de seu uso adequado, pois têm múltiplas funções:

a) oferecem opções de lazer (práticas recreativas, esportivas e de contemplação), desde que sejam respeitadas regras mínimas de proteção e conservação do ambiente;

b) exercem importante papel no armazenamento estratégico de água, com carga e recarga de aquíferos;

c) podem ser utilizadas para atividades econômicas, como turismo, esporte e seus benefícios associados;

d) registram informações relativas aos processos geológicos, possibilitando pesquisar a origem, a formação e as sucessivas transformações da litologia local e