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O mapeamento é um instrumento de grande importância para a proteção das cavernas. É o seu primeiro documento e um subsídio para a sua preservação. Uma vez localizada, mapeada e registrada, a caverna passa a “existir” formalmente. O mapa é a carteira de identidade da caverna e é essencial para todo e qualquer estudo científico, seja para compreender seu padrão e sua gênese, seja para estudar a fauna cavernícola, seja para marcar a posição e o contexto de um achado arqueológico ou paleontológico. O mapa serve também para o estudo da morfologia da caverna, seu provável desenvolvimento e, eventualmente, para localizar as áreas mais promissoras de continuidade, bem como indicar possíveis conexões com outras cavernas.85

84 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 107.

O mapeamento também se revela imprescindível ao licenciamento ambiental da atividade minerária em área de ocorrência de cavernas. É um importante instrumento de conhecimento do potencial espeleológico e fundamental para a avaliação dos possíveis impactos ambientais sobre elas.86

Há registro de que 90% das cavernas conhecidas em todo o mundo se desenvolvem em rochas carbonáticas. As terra do Brasil, no entanto, por fatores pouco conhecidos mas que envolvem variáveis geomorfológicas e climáticas, arenitos e quartzitos, são também muito susceptíveis à formação de cavernas. Recentemente, constatou-se que áreas de minério de ferro e canga são muito favoráveis à formação de cavernas. Esta descoberta adicionou mais um componente ao mosaico espeleológico brasileiro. Embora em menor escala, no país ocorrem também cavernas em granito, gnaisse, rochas metamórficas variadas como micaxistos e filitos.87

Até a data de 11/11/2014, constavam na base de dados geoespacializados das cavernas do Brasil do Cecav pouco mais de 14.000 cavernas, distribuídas por estado da federação, conforme demonstrado no Quadro 1, a seguir:

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Ambiental, p. 53.

87 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Quadro 1 – Distribuição de cavernas brasileiras – por estado

ESTADOS QUANTIDADE DE CAVERNAS

Acre Nenhuma Alagoas 9 Amapá 2 Amazonas 29 Bahia 1.211 Ceará 78 Distrito Federal 83 Espirito Santo 26 Goiás 863 Maranhão 66 Mato Grosso 444

Mato Grosso do Sul 248

Minas Gerais 5.479 Pará 2.155 Paraíba 10 Paraná 322 Pernambuco 47 Piauí 98 Rio de Janeiro 55

Rio Grande do Norte 932

Rio Grande do Sul 124

Rondônia 22 Roraima 2 Santa Catarina 74 São Paulo 761 Sergipe 64 Tocantins 852 Brasil 14.056 Fonte: Cecav88

88 CENTRO NACIONAL DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DE CAVERNAS. Base de dados

geoespacializados das cavernas do Brasil. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/cecav/downloads/mapas>. Acesso em: 11 nov. 2014.

Esses dados não refletem todo o universo de cavernas existentes no território brasileiro, apenas reúnem a pequena porção de cavidades já prospectadas por pessoas físicas, grupos ou instituições, cujos dados foram publicados em diversos meios de divulgação e sistematizados com a correspondente georreferenciação e análise do Cecav.

A propósito, com exceção do Estado do Acre, identificou-se a presença de cavidades naturais subterrâneas em todas as unidades da federação brasileira e no Distrito Federal.

Em relação à distribuição das cavernas localizadas em “Unidades de Conservação Federais”, o Tribunal de Contas da União (TCU) registrou os seguintes dados (Figura 3):

Figura 3 – Cavernas localizadas em unidades de conservação federais TIPOS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (UC) NÚMERO DE CAVIDADES NATURAIS SUBTERRÂNEAS INSERIDAS PERCENTUAL DE CAVERNAS LOCALIZADAS EM UCs CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PROTEÇÃO

APA 989 37,1% Uso sustentável

FLONA 1.155 43,4% Uso sustentável

RESEX 7 0,3% Uso sustentável

ESEC 8 0,3% Proteção integral

PARNA 505 19,0% Proteção integral

TOTAL 2.664 100,0%

Fonte: TCU89

Notas: APA – Área de Proteção Ambiental FLONA – Floresta Nacional

RESEX – Reserva Extrativista ESEC – Estação Ecológica PARNA – Parque Nacional

O Estado de Mato Grosso possui área de aproximadamente 906.000 km², distribuída em três ecossistemas: Cerrado, Pantanal e Floresta Amazônica, além de

89 BRASIL. Tribunal de Contas da União. TC 016.535/2013-8. Plenário. Relator Min. Marcos

Bemquerer Costa. Brasília, DF. Sessão Ordinária 11.06.2014. Acórdão n. 1.571/2014. Disponível em: <www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/>. Acesso em: 22 out. 2015. p. 18.

extensas áreas propícias à ocorrência de ambientes cársticos. O Estado de Minas Gerais tem o maior número de cavernas já identificadas do Brasil, principalmente nos municípios de Arcos, Paíns e na APA de Lagoa Santa. No Estado do Rio Grande do Norte, o Parque Nacional da Furna Feia foi a primeira unidade de conservação federal voltada à preservação de cavernas no estado.90

Dados do Projeto de Monitoramento e Avaliação de Impactos sobre o Patrimônio Espeleológico registraram, em dezembro de 2011, que 3.533 (34,85%) cavidades se encontravam em 143 áreas protegidas, sendo 66 de uso sustentável, 68 de proteção integral e nove localizadas em terras indígenas. Restringindo-se à esfera federal, 1.921 (18,95%) cavernas estão localizadas em unidades de conservação, sendo 90% em unidades de uso sustentável (APA, FLONA e RESEX) e 10% em unidades de proteção integral (ESEC e PARNA).91

Segundo dados do TCU, na esfera federal 21,55% das cavernas cadastradas no Cecav se situam em unidades de conservação. Dessas unidades, aproximadamente 81% são de uso sustentável (APA, FLONA e RESEX) e 19%, de proteção integral (ESEC e PARNA).92

O Cecav93, utilizando dados de dezembro de 2009, elaborou um relatório

detalhando a distribuição das cavidades naturais subterrâneas nas unidades de conservação federais, estaduais e municipais, e nas respectivas zonas de amortecimento. Na aludida base de dados, que congrega dados do Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil (CNC), da Sociedade Brasileira de Espeleologia, do Cadastro Nacional de Cavernas Redespeleo Brasil (Codex) e do próprio Cecav, estão registradas 7.792 cavidades naturais subterrâneas. Esses dados foram relacionados com as 1.633 unidades de conservação (federais, estaduais e

90 CENTRO NACIONAL DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DE CAVERNAS. Inventário anual do

patrimônio espeleológico brasileiro. 2011. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/cecav/projetos-e- atividades/inventario-anual-do-patrimonio-espeleologico-brasileiro.html>. Acesso em: 8 jul. 2014.

91 CENTRO NACIONAL DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DE CAVERNAS. Projeto monitoramento

e avaliação de impactos sobre o patrimônio espeleológico. 2012. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/cecav/images/download/Monitoramento%20do%20Patrim%C3%B4nio%20 Espeleol%C3%B3gico.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2014.

92 BRASIL. Tribunal de Contas da União. TC 016.535/2013-8. Plenário. Relator Min. Marcos

Bemquerer Costa. Brasília, DF. Sessão Ordinária 11.06.2014. Acórdão n. 1.571/2014. Disponível em: <www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/>. Acesso em: 22 out. 2015. p. 3.

93 CENTRO NACIONAL DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DE CAVERNAS. Levantamento das

cavidades. 2009. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/cecav/component/content/article/16- nucleo-de-informacoes-espeleologicas/25-levantamento-das-cavidades.html>. Acesso em: 3 ago. 2014.

municipais), criadas no território nacional, das quais 165 (aproximadamente 10%) têm cavidades no seu interior e/ou na respectiva zona de amortecimento.

A análise demonstrou que 3.302 das cavidades idenficadas estão dentro de unidades de conservação (federais, estaduais e municipais) e 1.290 se localizam na zona de amortecimento de unidades, ou seja, aproximadamente 60% das cavidades estão em áreas de proteção ou em suas zonas de amortecimento.

A distribuição por bioma demonstra que aproximadamente 40% das cavidades estão no bioma Amazônia, a maioria localizada no interior ou na zona de amortecimento da Flona de Carajás, no Estado do Pará, com informações obtidas pelo levantamento espeleológico realizado pela empresa de mineração que atua na região. No bioma Cerrado, que abrange cerca de 30% das cavidades catalogadas, existem unidades de conservação criadas com o objetivo de proteger as cavernas.

Quanto aos dados que se referem exclusivamente às unidades de conservação federais (601), constatou-se que 59 delas (aproximadamente 10%) têm cavidades no seu interior e/ou na sua zona de amortecimento. Das 7.962 cavidades naturais subterrâneas registradas, 1.985 estão dentro de unidades de conservação federais e 289 dentro de suas zonas de amortecimento de unidades.

Os dados, assim apresentados, demonstram que 2.274 cavidades naturais subterrâneas, aproximadamente 29% estão sob a responsabilidade direta do ICMBio. Desse total, 15% se localizam em unidades conservação de proteção integral e 85% em unidades conservação de uso sustentável.

Na base de dados do Cecav, segundo o TCU94, as cavidades estavam assim distribuídas: 12.364 geoespacializadas (cadastradas e espacialmente posicionadas), das quais 1.080 foram validadas (geoespacializadas, com localização coletada segundo diretrizes sugeridas pelo Cecav e parâmetros de coleta que acompanham as informações da cavidade); 585 com validação preliminar (geoespacializadas, cujos dados coletados atendam parcialmente às diretrizes sugeridas pelo Cecav); e 10.699 permaneciam sem validação. Ou seja, apenas 8,7% das cavernas cadastradas foram validadas; a maior parte, 86,5%, encontrava-se sem validação, conforme demonstrado no Gráfico 1, a seguir.

94 BRASIL. Tribunal de Contas da União. TC 016.535/2013-8. Plenário. Relator Min. Marcos

Bemquerer Costa. Brasília, DF. Sessão Ordinária 11.06.2014. Acórdão n. 1.571/2014. p. 24. Disponível em: <www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/>. Acesso em: 22 out. 2015.

Gráfico 1 – Situação das cavernas cadastradas no Cecav (em %)

Fonte: TCU95

A importância da validação das cavernas registradas na base de dados do Cecav foi destacada pelo TCU, no sentido de ser este o cadastro consultado pelos empreendedores que pretendem licenciar seus empreendimentos ou atividades em determinada região, para verificar a ocorrência de cavernas na área a ser impactada.96

No Brasil, ainda existem muitos dados imprecisos e conflitantes em todos os cadastros, mas a realização contínua de novos estudos espeleológicos é um dos principais instrumentos para consolidação e revisão desses bancos de dados.

Os cadastros hoje em funcionamento no país são97: Base de dados do Cecav;

Cadastro Nacional de Cavernas (CNC) da Sociedade Brasileira de Espeleologia98 e

Cadastro Nacional de Cavernas da Redespeleo Brasil.99

95 BRASIL. Tribunal de Contas da União. TC 016.535/2013-8. Plenário. Relator Min. Marcos

Bemquerer Costa. Brasília, DF. Sessão Ordinária 11.06.2014. Acórdão n. 1.571/2014. p. 24. Disponível em: <www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/>. Acesso em: 22 out. 2015.

96 BRASIL. Tribunal de Contas da União. TC 016.535/2013-8. Plenário. Relator Min. Marcos

Bemquerer Costa. Brasília, DF. Sessão Ordinária 11.06.2014. Acórdão n. 1.571/2014. p. 24. Disponível em: <www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/>. Acesso em: 22 out. 2015.

97 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 45-46.

98 SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESPELEOLOGIA. Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil.

Disponível em: <http://www.sbe.com.br/cnc>. Acesso em: 22 out. 2015.

99

“Por cerca de 10 anos coexistiu como entidade nacional, a Redespeleo Brasil, que, sendo formada por uma dissidência da Sociedade Brasileira de Espeleologia, congregou alguns grupos bastante ativos, e mantiveram, durante sua existência, um cadastro de cavernas, tendo tomado por base o cadastro da Sociedade Brasileira de Espeleologia e acrescentado dados próprios. A entidade em si se extinguiu por volta de 2013, e não se sabe o destino dado ao cadastro da entidade.” Cf. RUCHKYS, Úrsula de Azevedo et al. (Org.). Patrimônio espeleológico em rochas ferruginosas: propostas para sua conservação no quadrilátero ferrífero, Minas Gerais, p. 47.