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1.2 MINERAÇÃO

1.2.2 Interferências e impactos da exploração minerária nas cavidades

A mineração é, portanto, um dos mais importantes suportes da economia brasileira, confundindo-se com sua própria história. O Brasil tem inclusive um Estado com nome bastante sugestivo: Minas Gerais.

Embora o país possua uma variedade de minérios e em grande quantidade, a exploração dessa riqueza é amiúde predatória167, conflituosa168 e excludente, sendo

166 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 126.

167 Em perspectiva internacional, nos Estados Unidos da América, no Estado de Montana, existem

realizada, muitas vezes, de modo informal e sem as cautelas e os cuidados ambientais necessários, causando significativos ou irreversíveis impactos ao meio ambiente.

Aproximadamente metade do material sólido movimentado no planeta é de origem antropogênica e, desta parcela, a mineração e a construção civil compartilham, quase igualmente, a responsabilidade pelo impacto que estas atividades causam no planeta. A movimentação total de material sólido foi quantificada em aproximadamente 72 bilhões de m³/ano, assim distribuído:

(i) Geogênico (37 bilhões de m³/ano); (a) erosão do solo pela água ~ 20; (b) geração de crosta oceânica ~ 10 e (c) formação de montanhas ~ 7;

(ii) Antropogênico (35 bilhões de m³/ano): (a) mineração ~ 17,8, incluindo os produtos minerais e os rejeitos de lavra e processamento e (b) massa movimentada em obras de engenharia estrutural e civil ~ 17,2.169

O recurso ambiental que serve à cadeia produtiva e econômica, ressalta-se, é o mesmo que serve à função ecológica (viabilizadora da existência e da continuidade dos ecossistemas naturais e do equilíbrio ecológico), surgindo, em consequência, choque entre interesses econômicos e ecológicos, os quais devem ser compatibilizados para que ambos os aspectos possam desenvolver-se.

Jared. Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Tradução de Alexandre Raposo. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2014. p. 55.

A mineração também participa nas mudanças climáticas adversas. Conforme informação da Revista

The Economist, ao que tudo indica, o preço a pagar pela mudança climática e pela exploração de recursos, como a mineração, será o de danos inimagináveis a ecossistemas inteiros, com custos inconcebíveis em termos de comida, água e serviços ecossistêmicos no futuro. Segundo a revista, “ninguém quer ser o único responsável, mas todos ficam felizes em lucrar com isso, sendo um caso clássico da tragédia de espoliação de recursos que é a mudança climática”. EMMOT, Stephen. 10

bilhões. Tradução Kvieta Brezinova de Morais. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013, p. 116.

No que tange à exploração minerária nacional em área de cavernas: “Além dos minérios por vezes contidos nos solos (salitre), nos depósitos secundários (calcita), ou em veios da rocha (cobre, chumbo), as cavernas, por serem em sua grande maioria abertas em rochas calcárias, são permanentemente ameaçadas pela exploração desse minério. O calcário é utilizado na fabricação do cimento e da cal, além de servir como corretivo de solos ácidos, tendo largo uso na agricultura. Por essa razão, é enorme a pressão econômica sobre esses recursos. O Brasil, no entanto, possui enormes extensões de calcário e só a ganância, a insensibilidade empresarial e a falta de legislação adequada podem explicar a exploração de maciços calcários onde se situam grutas e sítios arqueológicos.” LINO, Clayton Ferreira. Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo, p. 251.

168 “Ao relatar experiências de conflitos socioambientais da mineração, Martínez-Alier comenta que

‘desde muito tempo existe um consenso de que a mineração implica uma Raubwirtschaft, literalmente uma economia de rapina, que abrange dois aspectos: a contaminação não compensada e a

exploração do recurso sem investimento alternativo suficiente’. Exemplos na literatura mundial não faltam. Na África, América Latina e América do Norte, a mineração é tema sempre presente nas narrativas históricas sobre conflitos e degradação ambiental [Grifo nosso].” CHAGAS, Marco Antonio.

Amapá: a mineração e o discurso da sustentabilidade – de Augusto Antunes a Eike Batista. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2013. p. 48.

A questão da mineração se agrava quando é realizada em área de cavidades naturais subterrâneas170. Isso porque as paisagens cársticas e de canga171, bem

como as cavernas, constituem um domínio frágil e singular. Esses terrenos apresentam alguns elementos que os colocam dentro de um contexto diferenciado de análise ambiental. Pequenas alterações ambientais podem representar ameaças sérias à integridade do meio subterrâneo. Por conseguinte, sendo as cavernas ecossistemas frágeis e delicados, qualquer interferência sobre o meio físico decorrente de fenômenos naturais ou da ação antrópica acarreta para estes ambientes reflexos diretos e amiúde irreversíveis. Essa alta vulnerabilidade a alterações ambientais resulta (i) do elevado grau de endemismo de seus componentes (como por exemplo, os troglóbios), em regra, pouco tolerantes a fatores de estresse (alteração de habitat, poluição química, flutuações ambientais não naturais, eutrofização), (ii) da dependência de nutrientes importados do meio epígeo e (iii) do fato de as populações serem frequentemente pequenas e terem baixa capacidade de recuperação como consequência de suas estratégias naturais de ciclo de vida.172

As cavernas brasileiras têm sido depredadas ao longo da história da ocupação do território nacional. Na época do Brasil Colônia e no Império, a busca pelo salitre para a fabricação de pólvora foi a primeira atividade econômica a explorar e destruir as cavernas brasileiras, ou seja, os impactos ambientais nas

170 “Atualmente, o uso da rocha calcária para produção de cimento e as explorações de minério de

ferro, entre outras atividades mineradoras, colocaram as cavidades naturais numa situação delicada; muitas áreas de interesse econômico apresentam cavernas com alto grau de importância, seja do ponto de vista científico, histórico e cultural, seja cênico. Exemplos claros como a Lapa Vermelha, uma das mais importantes cavernas estudadas por Lund, e que foi destruída pela exploração mineral de calcário, ou de centenas de outras que foram e ainda são silenciosamente suprimidas sem estudos prévios, revelam, a despeito dos esforços feitos para conservação e proteção de cavernas, a fragilidade do patrimônio histórico e natural espeleológico.” GAMBARINI, Adriano. Cavernas no Brasil: beleza e humanidade, p. 76.

“A mineração tem sido no Brasil o maior inimigo das cavernas, desde os tempos coloniais. Já naquela época, várias cavidades foram destruídas para extração do salitre utilizado na fabricação de pólvora. Assim, perderam-se diversos sítios arqueológicos e paleontológicos, e a ecologia de várias grutas foi totalmente desequilibrada. A própria coleção de Lund teria sido irremediavelmente arrasada se o sábio dinamarquês não tivesse dedicado grande parte de sua vida a pesquisar as ‘grutas de salitre’ da região do Rio das Velhas em Minas Gerais.” LINO, Clayton Ferreira. Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo, p. 250.

171 “Regiões com minério de ferro podem guardar surpresas em se tratando de cavidades

subterrâneas. Obviamente a própria estrutura geológica das formações ferríferas, que apresentam rochas como itabirito, dolomito ferruginoso ou as chamadas concreções lateríticas, comumente conhecidas por canga, impossibilita que grandes cavernas sejam encontradas. Mas não lhe diminui o grau de importância no panorama de preservação do patrimônio espeleológico.” GAMBARINI, Adriano. Cavernas no Brasil: beleza e humanidade, p. 139.

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cavernas têm ocorrido desde os primórdios da colonização portuguesa, principalmente devido à utilização religiosa de cavernas a partir do século XVII e à extração mais intensa de salitre no interior de grutas para a produção de pólvora no século XIX, especialmente na Bahia e em Minas Gerais.173 Após, houve a ação predadora por parte da construção de grandes obras em distritos espeleológicos, a utilização de grutas e abismos como depósitos de dejetos e poluentes domésticos, agrícolas e industriais, o desmatamento, o turismo de massa e as atividades espeleológicas realizadas de forma inadequada.174

Ao longo dos anos, verifica-se uma crescente perda do patrimônio espeleológico brasileiro, ocasionada também pelo avanço das áreas urbanas, pela geração de demandas no setor de construção civil e pela expansão da fronteira agrícola, culminando em um quadro de descaracterização não só do carste, mas também da região de entorno de cavernas e até mesmo a supressão completa de muitas delas.175

A mineração, portanto, é uma das atividades que mais causam degradação ambiental176; foi e continua sendo a maior causadora do uso desequilibrado do subterrâneo177 e a que produz maior impacto entre as atividades lesivas ao

patrimônio espeleológico.178

Além da mineração, as atividades que mais impactam o ambiente das cavernas são: agropecuária, turismo, represamentos (especialmente para geração de energia elétrica), obras de engenharia (construção de estradas, ferrovias, linhas de transmissão, gasodutos e oleodutos) e urbanização.179

173 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 17.

174 Informações contidas na justificativa do PL 5.071/1990. BRASIL. Câmara dos Deputados. Diário

do Congresso Nacional. Brasília, DF, Ano xlv, n. 56, 29 maio 1990. Disponível em: <http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD29MAI1990.pdf#page=25>. Acesso em: 15 nov. 2015.

175 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 154.

176 Bem por esse motivo, a Constituição Federal expressamente determina que aquele que explorar

recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado (art. 225, § 2º).

177 Justificativa do PL 5.071/1990. BRASIL. Câmara dos Deputados. Diário do Congresso Nacional.

Brasília, DF, Ano xlv, n. 56, 29 maio 1990. Disponível em:

<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD29MAI1990.pdf#page=25>. Acesso em: 15 nov. 2015.

178 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 154.

179 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Auler, dissertando sobre o tema, afirma que os impactos ambientais mais frequentes em ambientes de cavernas em solo brasileiro são os seguintes: impactos nas águas como contaminação, extração de água e assoreamento de cavernas; impactos de obras de engenharia, como barragens, urbanização e adaptação para o turismo; impactos de visitação e impactos da mineração.180

Conforme explanado no IV Curso de Espeleologia e Licenciamento Ambiental, promovido pelo governo federal e pelo ICMBio, mencionado antes, entre os impactos potenciais no carste e nas cavernas estão a degradação visual, as interferências nas rotas de drenagem subterrânea, a poluição de aquíferos, as vibrações nas cavernas decorrentes das detonações para desmontes, a sobrepressão acústica e a supressão total ou parcial de cavernas.181

Em parecer, o TCU182 também evidencia que os impactos ambientais em cavernas podem ser de variadas magnitudes e consequências, abrangendo desde impactos localizados de baixa intensidade até a destruição (supressão) total da caverna. Aponta que o conflito maior está relacionado à atividade minerária no contexto em que se insere a caverna. A desestruturação de sistemas cavernícolas causada por diferentes impactos pode, em médio e em longo prazos, produzir modificações no sistema externo, acentuando o estado de desequilíbrio de todo o ecossistema. Como exemplos, têm-se as enchentes ou a diminuição da água em drenagens hipógeas devido a atividades antrópicas. Estes eventos podem modificar intensamente o regime hídrico da porção a jusante ou a montante da drenagem, causando diferentes impactos sobre a fauna e a flora aquáticas e até mesmo sobre comunidades ripárias. Pode ocorrer a remoção de populações de morcegos frugívoros de cavernas. Mesmo não existindo estudos detalhados a este respeito, é real a possibilidade de redução nas taxas de polinização e mesmo de dispersão de sementes nos sistemas externos caso este evento venha a ocorrer, o que pode, em longo prazo, levar a eventuais “bottle necks” para muitas populações de plantas que dependam destes polinizadores.183

180 AULER, Augusto. Espeleologia: noções básicas, p. 84-88.

181 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 17.

182 BRASIL. Tribunal de Contas da União. TC 016.535/2013-8. Plenário. Relator Min. Marcos

Bemquerer Costa. Brasília, DF. Sessão Ordinária 11.06.2014. Acórdão n. 1.571/2014. Disponível em: <www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/>. Acesso em: 22 out. 2015.

183 A supressão vegetal decorrente da mineração pode causar a diminuição de áreas de alimentação

Os impactos também podem produzir alterações bruscas em parte ou em todo o ambiente cavernícola. Em que pesem as cavernas calcárias, devido à sua gênese, terem passado por momentos de permanente escuridão e maior estabilidade ambiental que os sistemas externos, a situação ambiental de cada uma delas depende do tipo e do momento em que se encontra a sua evolução geológica, valendo lembrar que diferentes sistemas se encontram em diferentes condições ambientais (influenciadas pelo regime climático externo regional). Por conseguinte, qualquer evento que modifique a situação presumivelmente “original” de uma caverna calcária (permanente escuridão e elevada estabilidade ambiental), independentemente do tempo desde a sua ocorrência, pode resultar em impacto negativo. Situações que modifiquem um sistema cavernícola com velocidade relativamente alta podem causar distúrbios e muitos organismos não conseguirão adaptar-se, resultando em extinção local de muitos taxa.184,185

INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento Ambiental, p. 130.

184 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 107.

185 São várias as formas e causas dos impactos a cavernas em áreas de mineração, como os

causados pelas operações de engenharia na extração e beneficiamento, que geram impactos em cascata, relacionados à geomorfologia, poeira, barulho, fauna cavernícola, qualidade de água e ao aquífero de modo geral. Tais problemas variam também de acordo com o tipo de mineração e técnicas empregadas ou a falta delas. As minas no Brasil são, em geral, a céu aberto, especialmente as que extraem minérios onde costumam ocorrer cavernas. Este tipo de mineração tende a causar mais problemas ao meio espeleológico do que as minas subterrâneas, que dificilmente ocorrem em áreas cársticas ou são planejadas de forma a causar conflitos. Outro fator que em geral pode determinar o grau de impacto às cavernas no país é o tamanho do empreendimento minerário. Contudo, independentemente do tamanho do empreendimento minerário ou do seu tipo, os principais impactos aos ambientes cársticos e às cavernas são muito parecidos. O mais incisivo deles é, sem dúvida, a supressão, parcial ou total, da caverna. Tal medida ocorre normalmente em virtude do planejamento de lavra não considerar a localização das cavidades. Tem sido bastante comum a supressão de cavernas com o objetivo simples de se eliminar entraves burocráticos nos processos de licenciamento ambiental, fato que deve ser de grande preocupação dos órgãos ambientais responsáveis. Também pode ocorrer este tipo de impacto em empreendimentos já licenciados, que durante a fase de operação acabam por suprimir total ou parcialmente cavernas oclusas no maciço, não identificadas durante os estudos ambientais. Outro impacto similar à supressão e bem comum é o soterramento ou entulhamento de cavernas, especialmente de suas entradas. Ocorrem situações de cavernas na base dos maciços serem soterradas com o avanço da lavra a partir do topo, o que pode levar até a sua supressão total. Também é recorrente que cavernas presentes no interior de dolinas sejam soterradas por rejeitos ou estéril indevidamente ali colocado, ensejando com isso não apenas impactos diretos pela supressão da caverna como também impactos indiretos relacionados à recarga dos aquíferos. Outros danos a cavernas bem comuns nestes tipos de empreendimentos são rachaduras, desplacamentos de camadas da rocha e até mesmo abatimentos de galerias. Também se observam quebras de espeleotemas, originados geralmente por vibrações. Abalos ocorrem em geral pela realização de detonações nas proximidades das cavernas ou pela utilização de técnicas inadequadas de desmonte. Bancadas muito altas geram fortes abalos pela própria queda da grande massa de rocha retirada. Além de contra indicado pelos aspectos ambientais, tal prática pode ser extremamente perigosa, causando ultralançamento de partículas em um raio bem maior. Deve-se atentar também para danos desta natureza gerados pelo trânsito de máquinas pesadas em locais próximos ou sobre as cavernas, especialmente nas vias de acesso às minas. O uso simultâneo de

O conflito mais direto provém da atividade minerária em área de caverna, quando inserida no bem mineral a ser extraído, o que a colocaria como obstáculo à instalação ou expansão de áreas de lavra. Em muitos casos, atinge-se uma situação em que perdas – para um dos lados – tornam-se inevitáveis.186 Isso porque boa

parte das rochas carstificáveis apresenta aplicações produtivas, algumas mais ou menos valorizadas, de acordo com uma série de fatores econômicos, como abundância ou escassez local e demanda internacional. No que concerne especificamente às formações ferríferas, são elas muito demandadas pelo mercado internacional e as cavernas que ocorrem nestes tipos de rocha estão em regra associadas justamente aos maiores teores de ferro.187 Cavernas em rochas siliciclásticas, como os quartzitos, têm sido alvos de impactos por atividades minerárias, comumente relacionadas à construção civil, para ornamentação.188

Os impactos podem começar desde a pesquisa mineral, atividades que, dependendo de suas características, são consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou degradadoras de cavidades naturais subterrâneas, como por exemplo, realização de sondagens, escavações (trincheiras) e beneficiamentos que envolvam o uso de quantidades significativas da substância mineral pesquisada (rocha onde ocorrem cavidades naturais subterrâneas).189

Quanto à questão hidrológica, no carste, particularmente naqueles que já atingiram um maior grau de desenvolvimento, a drenagem é predominantemente subterrânea, realizada através de condutos (cavernas). Ou seja, os cursos d’água

quantidades exageradas de explosivos nos diversos furos (sem retardos, por exemplo) também é outro fator causador de abalos, uma vez que a energia liberada não pode ser absorvida a contento pelo pacote rochoso. Tais problemas se devem muitas vezes à realização de planos de lavra inadequados, que desconsiderem os riscos e até mesmo a geração de prejuízos financeiros ao próprio empreendedor, como o desperdício de explosivos ou a necessidade de detonações secundárias. Quando o impacto é incisivo, os sinais de intervenção antrópica são flagrantes, geralmente com um acúmulo exagerado de blocos, rachaduras, espeleotemas com indícios de fraturamentos recentes. Ocorrem também impactos ambientais a cavernas por conta da poluição sonora e da sobrepressão acústica resultantes da operação de máquinas e detonações. Tais problemas causam impactos principalmente à fauna cavernícola. INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento Ambiental, p. 125, 127, 128.

Segundo Augusto Auler, também a mineração de rochas carstificáveis, principalmente o calcário para a fabricação de cal e cimento, pode levar à destruição de cavernas e até mesmo descaracterizar porções significativas de regiões cársticas. (Espeleologia: noções básicas, p. 87).

186 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 17.

187 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 123-129.

188 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

Ambiental, p. 124-125.

189 INSTITUTO TERRA BRASILIS. Ecoteca digital. IV Curso de Espeleologia e Licenciamento

superficiais foram capturados para sistemas (aquíferos) integrados de condutos, que atuam como drenos subterrâneos para o transporte rápido, livre e altamente localizado da água. Nesse contexto, são constituídas as denominadas rotas de drenagem subterrâneas, muito susceptíveis a alterações ambientais. O fluxo veloz dessas drenagens potencializa a propagação muito mais rápida de possíveis poluentes que tenham atingido o aquífero cárstico. Outro aspecto importante é que no carste as bacias de drenagem não se limitam aos divisores de águas superficiais, podendo estender-se muito além desses limites. Um impacto pontual no sistema hidrológico pode atingir áreas mais expressivas.190

Por conta do assoreamento causado por minerações em condutos subterrâneos pode ocorrer alagamento de porções a montante ou, por vezes, seca de trechos a jusante anteriormente alagados. Em casos extremos, há possibilidade de desestruturação de galerias por esses motivos, com o abatimento dos espaços anteriormente alagados.191

Os processos de abatimento também são bem frequentes nos terrenos cársticos. As denominadas dolinas de colapso são os principais registros desses processos, tendo sua origem associada a abatimentos de tetos e paredes rochosas de condutos subterrâneos (cavernas) ou de solos posicionados sobre a rocha solúvel. Esses abatimentos são caracterizados principalmente por movimentos rápidos, verticais e muitas vezes catastróficos quando incidentes em áreas urbanizadas, a exemplo do ocorrido nas cidades de Sete Lagoas, em Minas Gerais e, Cajamar, no Estado de São Paulo. Em Cajamar, estudos indicaram que a superexplotação de águas subterrâneas ocasionou processos de abatimentos. Ocorreram também casos de minerações que aparentemente foram causa da redução de lagos internos em cavernas.192

Em muitas minerações, há também o rebaixamento do aquífero, ou seja, o