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Parte importante d este trabalho, em especial nas etapas iniciais, foi supervisionado pela pro fessora Márcia M M M ota, à qual atribuo a criatividade no desenvolvim ento de boa parte das

CARACTERIZAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS-ALVO

11 Parte importante d este trabalho, em especial nas etapas iniciais, foi supervisionado pela pro fessora Márcia M M M ota, à qual atribuo a criatividade no desenvolvim ento de boa parte das

Histórico

í Selma relatou que foi um a jovem bastante com um . Embora fosse um pouco tím ida, gostava de dançar e de sair com as amigas. Aos 20 anos de idade, entretanto, um episódio m udou sua vida drasticamente. Quando voltava de * um a festa, ao chegar em casa presenciou o irmão em um a crise psicótica aguda,

-na qual ele chorava, gritava e dizia frases sem sentido, enquanto se debatia e se i contorcia em um canto da cozinha. Após esse prim eiro surto, ele desenvolveu i tim quadro de esquizofrenia crônica, com um a história de internações que só

pioraram seu quadro. Selma conta que a cena de seu irm ão em crise lhe marcou í profundam ente e que a "perda" desse irmão, com o qual tinha grande afinidade,

lhe trouxe enorm e sofrimento.

A partir desse episódio, Selma m ergulhou lentam ente em um a condição : de isolam ento social e depressão. Foi abandonando aos poucos as amigas, os í bailes, as festas e term inou o noivado, preservando apenas alguns poucos con- ; tatos sociais externos à família.

Dois anos depois, com a m orte de sua mãe, ela deixou o trabalho e passou : a ficar em casa para cuidar do irmão, das tarefas domésticas e cozinhar para to ­ adas as três famílias. Poucos anos depois, um a de suas irmãs faleceu com câncer e, mais recentem ente, o mesm o ocorreu com seu pai. Esses fatos a afastaram ainda m ais da convivência com as pessoas, além de agravarem suas preocupa­ ções e m edos relacionados à m orte e a doenças.

Aos poucos, Selma se submeteu a uma condição de completa subordina­ ção às decisões da família, deixando de escolher qualquer coisa que lhe dissesse respeito, tais com o suas próprias roupas, atividades, passeios. A crise mais aguda que lhe trouxe à terapia ocorreu aos 48 anos, 28 anos depois do início de seu problem a, quando recebeu de seu médico os diagnósticos de osteoporose e artrose, que para ela eram sinais de que a m orte estaria próxima.

As prim eiras m edidas terapêuticas

Seria necessário estabelecer algumas m edidas para aum entar a proba­ bilidade de que Selma viesse a agir, durante e fora da terapia. Algumas con­ dições sugeriam a necessidade de intervenção medicamentosa; seu alto grau de ansiedade, sono alterado, com portam ento lentificado, relatos de queixa e

desesperança, choro constante. Sendo assim, ela foi encam inhada para um psi­ quiatra de confiança. Ele, partindo das hipóteses diagnosticas de fobia social e depressão, receitou u m a m edicação antidepressiva. A medicação foi im portan­ te para a m elhora do sono, dim inuição da ansiedade e leve m elhora no hum or, possibilitando a aplicação de outras estratégias terapêuticas.

O utra estratégia adotada visava propiciar a sua vinda ao consultório sem a ajuda de terceiros, de form a a a u m en tar a probabilidade de continuidade do trabalho. N um p rocedim ento simples de esvanecim ento (fading), com binei com Selma e sua irm ã a retirada gradual da ajuda para chegar ao consultório. Sua irm ã então passou prim eiram ente a deixá-la a alguns m etros da entrada de m eu consultório; depois, passou a deixá-la n a saída do m etrô - a trezentos m etros de lá, depois, na estação inicial onde elas tom avam o m etrô, e assim sucessivamente até que Selma conseguisse chegar sozinha ao consultório.

A interação terapêutica inicial

As primeiras sessões com Selma foram bastante difíceis. Em bora ela dei­ xasse claro seu interesse no atendim ento e fosse bastante pontual, tinha um a enorm e dificuldade para iniciar qualquer assunto. Mesmo quando eu introdu­ zia o assunto sobre o qual conversaríam os, ela respondia às questões que eu colocava ou descrevia brevem ente o que eu solicitava e calava-se novam ente. D urante os instantes em que se m antinha calada, mirava algum p onto da sala de atendim ento e lá perm anecia olhando fixamente, esperando até que eu lhe apresentasse a próxim a questão. Parte im portante de seu relato era constituída de queixas sobre suas dores e sua condição de desconforto, o que dificultava a obtenção de inform ações sobre com portam entos alternativos à queixa que pudessem ser fortalecidos.

Tal padrão de interação verbal dificultava a investigação de variáveis rele­ vantes durante a sessão, e tam bém o desenvolvim ento de qualquer intervenção clínica de natureza verbal, pois seu relato era bastante pobre. Além disso, a forma com que nossa interação estava se dando - na qual eu iniciava assunto e ela apenas respondia ou informava - não parecia promissora para o desenvolvi­ m ento de algum tipo de autonom ia, pois m inha postura, sem elhante à de um entrevistador, apenas reforçaria seu padrão de dependência.

Em pouco tem po foi possível perceber que a interação terapêutica, caso se m antivesse dessa forma - perm eada de longas pausas, nas quais o terapeuta aguardava que a cliente trouxesse algum tem a para discussão - tomar-se-ia inviável, pois essa condição era aversiva para a cliente. Selma já havia relata­ do um a história que sinalizava isso; pouco tem po antes, sua família a havia levado a um a outra terapeuta que, aparentem ente partindo de um modelo de atendim ento verbal tradicional, chegou a perm anecer um a sessão inteira em silêncio aguardando que Selma se pronunciasse e, em razão disso, ela aban­ donou o processo terapêutico. Certam ente, eu não estava disposto a repetir essa história.

U m a das dicas que sugeriam seu envolvim ento e com prom isso com o trab alh o terapêutico era a prontidão com a qual seguia qualquer suges­ tão apresentada. Essa sua característica, entretanto, poderia ser apenas um a am ostra de seu com portam ento submisso e inassertivo12 e, ao m esm o tem ­ po, trazia u m problem a bastante concreto: eu precisava ter m uito cuidado com o que lhe solicitava, pois ela não era capaz, naquele m om ento, de negar u m pedido. Q uando eu lhe propunha alguma atividade ou tarefa que ela não se sentia preparada para executar, isso resultava em um a semana inteira de ansiedade, insônia e desconforto, até que ela chegasse na sessão seguinte e relatasse seu fracasso.

T udo indicava que a probabilidade de sucesso por meio da terapia ver­ bal tradicional seria m uito baixa; e que em bora Selma tivesse um repertório de "seguir regras1’ m uito fortalecido, a mudança por meio dc regras (análises, interpretações e conselhos) seria também pouco útil, uma vez que eu estaria fortalecendo um padrão clinicamente relevante que fazia parte do problema que a trouxe à terapia (ela seguia regras quase exclusivamente sob controle das contingências sociais pelo seu seguimento, com baixa probabilidade de contato com os reforçadores naturais envolvidos na atividade solicitada).

12 Cham amos um com portamento de assertivo quando, na interação com outras pessoas, o

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