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Cham amos um com portamento de assertivo quando, na interação com outras pessoas, o indivíduo é capaz de expressar seus sentimentos, desejos e opiniões Consideramos inassertivo

CARACTERIZAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS-ALVO

12 Cham amos um com portamento de assertivo quando, na interação com outras pessoas, o indivíduo é capaz de expressar seus sentimentos, desejos e opiniões Consideramos inassertivo

quando a pessoa apresenta dificuldade em manifestar esse tipo de comportamento.

M udando a estratégia

A consideração sobre as variáveis relevantes no caso levou à decisão de se p ro p o r atividades a serem executadas fora do consultório. Tinha-se com o hipó­ tese que a saída do consultório proporcionaria um a diminuição na aversívidade da interação, pois a partir da interação direta com alguns eventos ambientais seria retirada a exigência de relato p o r parte da cliente, e tam bém do desconfor­ to social que a própria interação terapeuta-cliente estava produzindo.

A intervenção em am biente extraconsultório mostrava-se tam bém neces- • sária em função da baixa freqüência de interação da cliente, tanto verbal com o nãí>-verbal. Seria preciso criar condições para a emissão de novas e variadas res­ postas para aum entar a probabilidade de acesso a reforçadores. O am biente de consultório é restrito a um núm ero limitado de estímulos, enquanto fora dele há u m núm ero m uito m aior de eventos que, p o r sua vez, podem evocar inúm e­ ras possibilidades de interações (especialmente nesse caso, pois m eu consulto- rio situava-se próxim o à avenida Paulista, u m dos pontos mais m ovim entados da cidade de São Paulo).

Propus então que caminhássemos no bairro próxim o a m eu consultório, justificando que um a hora de caminhada sem anal poderia auxiliar na produção

de endorfina - proposta que ela acatou facilmente.

M odelando o repertório de relatar

Tendo em vista a facilitação da interação da cliente comigo, ao longo das caminhadas eu fazia comentários sobre eventos com os quais nos deparávamos, solicitando sua participação, opinião ou com entário, Esse procedim ento tam ­ bém tinha com o objetivo evocar novas e variadas respostas verbais - diferentes estímulos verbais e não-verbais poderiam evocar diferentes classes de resposta e, conseqüentem ente, poderiam aum entar a probabilidade de acesso a reforça­ dores. Parte desses reforçadores seriam providos pelo próprio terapeuta - refor­ çadores sociais naturalm ente envolvidos na interação verbal.

Pessoas que passavam pela rua tam b ém representavam oportunidades para interação: eu lhe pedia que observasse características dessas pessoas e im a­ ginasse suas atividades, o que estariam fazendo naquele m om ento (para onde estariam indo, o que será que sua expressão facial sugeria etc.). Selma afirmava

que essa era um a tarefa impossível, pois não era capaz de fantasiar. Acredito que o fantasiar era para ela um a situação desencadeante de ansiedade, pelo efeito que poderia produzir na interação com terceiros - ao fantasiar, a pessoa está expondo algo mais que um a mera descrição, está falando um pouco de si, do que pensa ou sente, havendo um a chance m aior de que ela seja avaliada - e possivelmente rejeitada nessa ocasião. Levando em consideração essa hipótese, u m procedim ento de m odelagem foi utilizado (e, ao m esm o tem po, de en- frentam ento gradual do evento temido), partindo da descrição pura e simples e chegando gradualm ente em respostas de autodescrição. Pedia inicialmente que m e descrevesse características fisicas das pessoas; depois, aos poucos, que m e falasse sobre a postura e a expressão facial e prováveis emoções assodadas; mais adiante pedia que fizesse inferências sobre prováveis atividades a partir da roupa ou com portam ento, até que pudéssemos “viajar” mais, fantasiando sobre cada um a das pessoas - tudo isso de forma lúdica e sem nenhum tipo de pressão pelo desempenho.

Sabendo que Selma apreciava cinema, o m esm o tipo de modelagem de u m repertório de autodescrição foi proposto com a utilização de filmes. Fiz um a seleção de títulos cujos temas poderiam estar relacionados à sua história de vida, tais com o relações familiares e de amizade entre mulheres, m orte e luto, enfrentam ento e superação de dificuldades,13 e propus que ela os assistisse para discutirmos ao longo das sessões. Solicitava então que ela apresentasse pri­ m eiram ente um a descrição geral dos filmes assistidos e, aos poucos, detalhasse mais alguns aspectos da história. Com o tem po pedia que descrevesse o que observou das personagens do filme, depois que falasse de quais personagens gostou mais ou menos, características das personagens que apreciou e com as quais se identificou, até que foi possível que ela falasse de seus sentimentos despertados pelo filme e fantasiasse sobre as personagens, sobre o que faria em determinadas ocasiões ou sobre diferentes rum os que a história poderia tomar, caso ela fosse a diretora do filme. A atividade continuou por mais algum tempo, mas agora Selma era quem escolhia o título dos filmes. Atividade semelhante

13 Alguns dos filmes propostos foram Tomates verdes fritos, A excêntrica família de Antonia, Erin

Brodeovich, Lado a lado, Minha vida, entre outros.

foi proposta utilizando a leitura de romances. Nota-se que em am bas as ativida­ des, um a resposta que deveria ser desenvolvida - o fantasiar ou a autodescrição - foi decomposta em unidades m enores, reforçadas até que a cliente emitisse a resposta final.

Enírentam ento de diferentes classes de estím ulos

O am biente extraconsultório proporcionou tam bém a exposição graduai a estímulos sociais na presença dos quais a d ién te relatava desconforto. C om esse objetivo, a cada caminhada eu propunha um a parada para u m cafezinho. C om o eu conhecia b em os estabelecim entos da região, foi possível planejar inicialm ente um local m enos m ovim entado, no qual o risco de um a alguma situação social desconfortável fosse reduzido e, passo a passo, fom os parando em locais mais movimentados. D urante as paradas para o café, tam bém foram propostos procedim entos de aproxim ação sucessiva com relação ao contato social, visando o desenvolvim ento de habilidades e a habituação'4 ao contato social. Assim, nas primeiras vezes, era eu q uem solicitava a ficha no caixa e o café ao garçom ou balconista, tarefa que foi gradualm ente transferida a ela.

Em função de um a história que propiciou a inibição de parte im portante de seu repertório, Selma apresentava pouca autonom ia em grande parte de suas atividades. T endo isso em vista, um a pequena brincadeira foi desenvolvida: em alguns pontos do caminho, eu parava em um cruzam ento e pedia a ela que deci­ disse para onde continuaríamos a caminhada. Essa proposta, a princípio, lhe cau­ sava um certo desconforto, levando a tentativas de esquiva. Eu lhe dizia então, em tom de brincadeira, que ficaríamos ali na esquina parados até que ela escolhesse para ondeir: "Ih, vamos ficar aqui brincando de estátuas então!”. D epoisdebreve resistência, ela propunha apressadamente algum caminho, o que, por sua vez, era recebido por m im com entusiasmo, valorizando o seu enírentam ento. Tal estratégia, além de proporcionar um caráter lúdico à sessão terapêutica, fun-

14 Cham amos habituação a um processo por m eio do qual o organismo passa a se habituar à

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