• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV – A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NA UNIÃO EUROPEIA

4.1 O MOVIMENTO CONSUMERISTA NA EUROPA

4.1.1 Início do movimento consumerista europeu

Allemar conceitua “consumerismo”, o qual não se confunde com consumismo, que significa consumo em excesso, “como sendo um movimento organizado de cidadãos e governos cujo objetivo é fortalecer os direitos e poderes dos compradores, tanto em relação à saúde e segurança, quanto ao meio ambiente e às relações contratuais de consumo, frente aos produtores e fornecedores de bens e serviços” 180.

O movimento consumerista na Europa iniciou em torno de 1910, estendendo-se até hoje nos países europeus, posto que antes da Grande Depressão de 1929, surgiram algumas associações de defesa dos consumidores na Inglaterra, na Itália e na França, com o fim de assegurar a qualidade dos produtos oferecidos aos consumidores. E, a partir do período Pós Guerra, entre 1945 e 1947, essas organizações se estenderam pelo Canadá e demais países da Europa, tendentes a reconstruir o continente europeu, devastado pela Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, foram criadas as seguintes organizações: a Organização Européia de Cooperação Econômica (OECE) – criada em 1948 para administrar o auxílio financeiro americano criado com o Plano Marshall, no período da intervenção dos Estados Unidos, que

180 ALLEMAR, Aguinaldo. Breves anotações sobre tutela estatal à relação jurídica de consumo no direito

estrangeiro. Disponível em:

<http://www.buscalegis.ccj.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/21811/21375>. Acesso em: 5 nov. 2010.

em 1960 aderiu como País-Membro da organização, juntamente com o Canadá, expandindo- se o campo de atuação para ajudar os países em desenvolvimento. No ano seguinte, a OECE foi extinta e substituída pela instituição da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), quando se criou também a International Organization

of Consumers Union (IOCU), organização atuante em todos os continentes, que representa e apóia mais de 200 associações distribuídas por mais de 80 países, inclusive sob o manto da ONU; a Consumer’s Association da Inglaterra, em 1957, enfatizando-se que foi a partir da década de 50 que o movimento consumerista na Europa começou a tomar corpo, tendo os Estados Unidos como principal colaborador dessas organizações; a Ombudsman181 e o Juizado de Consumo, criados na Suécia, em 1971, que mais tarde foram levados a cabo pela Noruega (1972), Dinamarca (1974) e Finlândia (1978). Estes países foram pioneiros ao possuírem um sistema jurídico protecionista aos consumidores, onde existia a figura do

ombudsman dos consumidores, isto é, do representante que exerce um controle da atividade da administração. Quanto à atuação do ombudsman, Ecio Perin182 explica que ele se constituía, ao mesmo tempo, em um órgão informal apto a apreciar os pedidos de tutela dos interesses difusos e que podia propor (possuindo legitimidade concorrente às associações) o encaminhamento de ações judiciais contra os abusos comerciais e publicitários merecedores da proteção do Estado; a Carta dos Consumidores criada pela Comissão de Consumidores da OCDE, tornando-se o primeiro documento oficial na Europa a versar sobre Direito do Consumidor. Conforme rememora Guglinski, “referido documento motivou a edição da Resolução do Conselho da Europa nº 87/C092/01 de 1975 que estabeleceu um programa preliminar da CEE para uma política de proteção e informação do consumidor”183.

Os países nórdicos foram os primeiros a demonstrar a importância da tutela dos interesses dos consumidores, particularmente a Suécia com a criação, em 1971, da figura do Ombudsman e do Juizado de Consumo, conforme mencionado. Todavia, rememora Allemar184 que muito antes da década de 70, alguns países europeus já possuíam normas

181 Palavra de origem sueca que significa representante. Com efeito, a partir de 1809, surgiram na Suécia normas

legais que criaram o cargo de agente parlamentar de justiça para limitar os poderes do rei. Atualmente, o termo é usado, tanto no âmbito privado, quanto no público, para designar um elo imparcial entre uma instituição e sua comunidade de usuários.

182 PERIN JÚNIOR, ibid., p. 12. 183

Guglinski, Vítor. Síntese histórica do direito do consumidor nos EUA, Europa e Brasil. Disponível em: http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/4093/SINTESE_HISTORICA_DO_DIREITO_DO_CONSUMIDO R_NOS_EUA_EUROPA_E_BRASIL. Acesso em: 20 mar. 2011.

esparsas que direta ou indiretamente, protegiam os interesses dos consumidores, como por exemplo, as leis sobre concorrência desleal.

No plano internacional, Newton de Lucca185 identifica quatro momentos em que a preocupação com o consumidor foi considerada: o primeiro foi a iniciativa de se criar, no âmbito da OCDE, uma comissão para a política dos consumidores. Esta iniciativa foi adotada em 1969 pela Alemanha, Bélgica, Estados Unidos, França e Holanda; o segundo, no âmbito da ONU, quando a Comissão das Nações Unidas sobre Direitos do Homem considerou que todo consumidor tem direito à segurança, a ser adequadamente informado sobre os produtos e serviços, bem como sobre as condições de venda, o direito de escolher entre bens alternativos de qualidade satisfatória a preços razoáveis e o direito de ser ouvido no processo de decisão governamental; o terceiro momento também no âmbito da ONU, com a expedição da Resolução nº 39/248, de 16 de abril de 1985, "apontada como a verdadeira origem dos direitos básicos do consumidor” 186, e, no âmbito europeu, o quarto momento, com a Diretiva 85/374, de 24 de julho de 1985, da Comunidade Econômica Europeia.

Em que pese estes quatro momentos históricos definidos por Lucca, os quais expressam a preocupação com o consumidor no cenário mundial, expõe-se a seguir uma breve abordagem sobre o movimento consumerista que se iniciou na Europa, sobretudo destacando- se os principais Documentos Legais que normatizaram a proteção do consumidor em alguns países integrantes da União Europeia, dentre os quais, da Inglaterra, da Alemanha, da Espanha, da Itália, da França e de Portugal.

4.1.2 Os principais documentos legais sobre a proteção do consumidor em alguns