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Indicação de sequência

No documento A AFIRMAÇÃO DO DIREITO DE ÁGUAS (páginas 122-128)

CAPÍTULO I – Introdução 1 Razões justificativas do âmbito da investigação

1.3. Indicação de sequência

Esta Tese foi elaborada com base em vários métodos de pesquisa. O primeiro, e mais importante, foi o da pesquisa e análise bibliográfica específica. O segundo método mais importante foi a análise e estudo de instituições e organismos que lidam directamente com a questão da água, mormente do sector de águas da SADC, cuja instituição tivemos a oportunidade de visitar e nelas interagir com os órgãos institucionais responsáveis pelo sector de águas.

De igual modo, uma recolha, análise e estudo aturado das legislações internas dos vários Estados da SADC foi feita com vista a determinar o grau de conformidade entre as normas vigentes a nível da região e a legislação interna dos Estados, facto que permitiu-nos tirar conclusões objectivas e seguras do grau de implementação do Protocolo de águas da SADC. Procurámos, igualmente, trazer à discussão a principal jurisprudência internacional sobre o assunto.

O trabalho final, de que resultaram as várias teses que no fim apresentamos, encontra-se estruturado em 11 capítulos. Do capítulo I ao capítulo IV discutimos a dogmática do Direito de Águas, sobre o qual teorizamos quanto ao seu surgimento, os seus sujeitos e respectivo objecto, bem como ao quadro normativo aplicável. Do capítulo V ao capítulo XI estudamos a aplicação do Direito de Águas na região da SADC, que nos permite justificar o porquê de defendermos a Tese que apresentamos.

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I - Síntese Conclusiva do Capítulo I I.I. Considerações Gerais

I.1. A água, como bem precioso, pode ser problemática a ponto de gerar conflitos entre os Estados.

I.2. A água é um bem passível de invocação como direito fundamental. Este facto cria um dever de os Estados garantirem a existência de água para todos.

I.3. O incumprimento deste dever por parte dos Estados legitima acções com vista à satisfação do direito fundamental à água.

I.4. A água é um bem económico, que se compra e se vende. Por isso, a exigência e satisfação do direito à água não são feitas de forma linear.

I.5. A satisfação do direito à água das populações por parte dos Estados pode não depender somente da vontade deste, porquanto a garantia da existência de água pode estar condicionada a um factor natural: o facto de a existência de água em quantidades satisfatórias, internamente estar dependente (dependência em relação a cursos de água internacionais, por exemplo).

I.II. Sobre a problemática da água

I.6. A má distribuição da água a nível mundial é dos principais desafios em relação ao uso e gestão da mesma, pois induz à competição pela água entre os diversos utentes, entre sectores da economia, entre países e entre regiões, podendo despoletar conflitos.

I.7. O surgimento de conflitos pela água é exacerbada pela falta de instrumentos legais necessários para a regulação do acesso e uso dos cursos de água internacionais.

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I.8. Havendo cooperação, esses conflitos são reduzidos ao mínimo, sendo por isso que água é vista como um verdadeiro factor de cooperação e aproximação entre os Estados e não de conflito.

I.9. Os factores mencionados justificam a cada vez maior atenção a nível mundial em relação ao uso, acesso e regulação de recursos hídricos, dada a constatação da problemática generalizada das limitações quantitativas e qualitativas da água, para os quais contribuem o aumento populacional, a urbanização crescente e a degradação ambiental, que são uma realidade na SADC.

I.III. Sobre os Usos da água

I.10. A escassez de água, que pode ser estrutural, induzida pela procura ou ainda induzida pela oferta, pode ser reduzida por via do desenvolvimento e melhoria de sistemas de distribuição e gestão da água.

I.11. O desafio para ultrapassar os problemas relativos ao uso da água é um problema de toda a Humanidade pois enquanto não houver consenso sobre como mitigar a crise de água, haverá sempre o receio de os conflitos e disputas latentes transformarem-se em conflitos internacionais.

I.12. Há uma relação directa entre a escassez de água e a falta de acesso à mesma e o Direito vigente, na medida em que a existência ou não de um quadro jurídico favorável ao acesso das águas pelas populações pode determinar o maior ou menor grau de carência do recurso por essas mesmas populações.

I.13. Existe um ónus legal por parte dos Estados em providenciar o acesso mínimo de água para as suas populações, pelo que os mesmos devem fazer os esforços mínimos necessários para garantir que tal direito seja de facto efectivado. Tal esforço começa com o dever de o Estado legislar sobre o uso e acesso à água, de acordo com o Direito vigente.

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I.14. A limitação do direito de usar a água constitui limitação de um direito fundamental de cariz económico. Porque a água é um bem económico, que encerra o direito de usar a água para os mais diversos fins que não sejam a satisfação de direitos humanos básicos, não há um dever de satisfação imediata das populações por parte dos Estados, mas sim programática, tendo em conta as possibilidades económicas e outros factores de que depende tal satisfação, pelo que a justiciabilidade ficará dependente da violação sistemática dos programas do próprio Estado, ou eventualmente da inexistência dos mesmos.

I.15. As limitações do acesso à água são verdadeiros motores de inovação da humanidade, motivando, encorajando e incentivando as populações a descobrir novas formas de solucionar os problemas de escassez de água, pois a procura contínua de soluções para os problemas da água mais não é que um diapasão da própria evolução humana, com a diferença de se estar em outros tempos, com outro tipo de meios, e recurso a outras técnicas que podem ser mais ou menos onerosas.

I.IV. Sobre o direito de usar a água

I.16. No caso específico da SADC, o direito sobre os recursos naturais é dominado pelo princípio da soberania. Esta é uma continuação do legado colonial, que defendia a apropriação, pelos Estados coloniais, de todos os recursos naturais. Com as independências nacionais, os Estados recém- independentes chamaram a si a titularidade dos recursos naturais, os quais defenderam com base no princípio da soberania nacional.

I.17. Há uma diferença entre direito à água e o direito de usar a água. O direito à água corresponde ao direito humano à água, que especifica a quantidade e qualidade de água mínima necessária para garantir a vida e a que certa pessoa tem direito, para a satisfação das suas necessidades

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básicas. O direito de usar a água refere-se às circunstâncias, aos limites, à forma, à quantidade que determinada pessoa pode fazer uso da água, que lhe é concedida, regra geral, por via administrativa. Isto é, enquanto o direito à água preocupa-se com o acesso à água para a sobrevivência humana, o direito de usar a água preocupa-se com os requisitos legais para usar uma quantidade específica de água, para um fim e condições específicos ou ainda às formas tradicionais de legitimação do uso da água.

I.18. Em maior parte dos ordenamentos jurídicos da SADC, o direito de usar a água, que decorre de normas positivas, está intrinsecamente ligado ao direito de uso da terra. Mais concretamente, o direito de propriedade ou de uso e aproveitamento da terra garante automaticamente o direito de acesso e de uso à água que se encontre nessas mesmas terras.

I.19. Há uma tendência em alterar as formas de acesso à água na região da SADC, e criar condições de atribuição de direitos de uso da água sem que haja necessariamente uma propriedade ou direito de uso da terra, de acordo com o moderno Direito de Águas. Esta tendência é impulsionada principalmente pela cada vez maior pressão sobre os recursos hídricos, e implica não só o reconhecimento e atribuição do direito de uso da água a quem não tenha direitos sobre a terra, como também implica a atribuição, por via administrativa, de licenças que atribuem tais direitos.

I.20. Durante muito tempo, e a nível global, houve e houve relutância em aceitar a existência de um direito humano à água. A relutância dos Estados em assumir constitucionalmente o direito humano à água deve-se ao receio que os mesmos têm de não poder prover às pessoas com água em quantidade e qualidade suficiente, o que pode ser bastante embaraçoso para os Estados.

I.21. A limitação do direito de usar a água não constitui uma limitação do direito humano à água. Porque o direito de uso, regra geral atribuído por via administrativa, é exercido não com o fim de satisfação de necessidades

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básicas humanas, mas para a satisfação de outros fins, como eventualmente a agricultura ou a indústria. Entretanto, a violação do direito humano à água cria uma situação de justiciabilidade imediata, por se estar a violar um direito humano de primeira geração, porquanto sem água para a satisfação das necessidades humanas básicas não há vida nem dignidade.

I.V. Sobre as prioridades no uso da água

I.22. Há prioridades no uso da água, que respeita a qualificação das necessidades de água de acordo com os vários usos existentes, havendo uns que devem ser atendidos com primazia em relação a outros, sempre que haja um conflito de interesses entre usos ou outros interesses sobre a água.

I.23. A água que se destine a satisfazer necessidades humanas vitais, a sustentabilidade e a protecção dos ecossistemas é vista como situação merecedora de prioridade.

I.VI. Sobre as águas subterrâneas

I.24. A maior quantidade de água doce existente na terra encontra-se no subsolo, sendo o recurso natural mais explorado do mundo, pois é responsável por mais de metade da água necessária para satisfazer as necessidades humanas. As águas subterrâneas não respeitam limites de fronteira existentes entre os países, sendo um facto que muitos países partilham águas subterrâneas.

I.25. O conceito de curso de água adoptado pela Convenção de Nova Iorque relativa a cursos de água internacionais não é pacífico, porque exclui alguns dos tipos de aquíferos subterrâneos, razão pela qual a ILC tem se empenhado na produção de um conjunto de normas que sejam mais inclusivas, claras e objectivas em relação às águas subterrâneas, tendo

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inclusive aprovado, em 2008, uma proposta de Convenção que já foi submetida à Assembleia Geral das Nações Unidas.

I.VII. Sobre a relação do Direito de Águas com outras disciplinas

I.26. Há uma relação entre o Direito de Águas e o Direito do Ambiente.

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