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As discussões iniciais produzidas na pesquisa intitulada Violências de gênero, amor romântico e famílias: entre ide- alizações e invisibilidades, os maus-tratos emocionais e a

morte1 mostram a importância e a urgência em produzirmos

1 Pesquisa vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU) da Universidade Federal de Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil, em parceria com a Universidad de Extremadura (UEX), Espanha. Parte desse texto foi apresentado no Congresso da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH), em 2014, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

mais pesquisas sobre esse tema. Um de nossos principais obje- tivos é aprofundar esses conceitos – amor romântico, e maus- -tratos emocionais – e discutir estratégias de como trabalhá-los na formação docente inicial e continuada, a partir da perspecti- va teórica das relações de gênero (LOURO, 1997; FELIPE, 2009). Para isso, elaboramos um questionário sobre maus-tratos emo- cionais, que foi inicialmente aplicado para algumas alunas do último semestre do curso de Pedagogia da Universidade Fe- deral do Rio Grande do Sul (UFRGS), em uma disciplina que visava discutir concepções e instrumentos de pesquisa, bem como em um seminário do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU 2013/1) sobre maus-tratos emocionais. Tais discussões, promovidas nas duas disciplinas, tinham a in- tenção de servir de base para avaliarmos alguns instrumentos de pesquisa, neste caso, a construção do próprio questionário. Nossa intenção é que ele seja aplicado em outras universidades do Rio Grande do Sul (Universidade Federal de Pelotas – UFPel, Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Universidade Fe- deral do Rio Grande – FURG, Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, Centro Universitário Franciscano – UNIFRA), para alu- nas dos cursos de Pedagogia e Psicologia, no último semestre dos cursos, bem como em algumas universidades da Espanha, localizadas nas cidades de Cáceres, Badajoz, Sevilla, Málaga.

A primeira parte do questionário consiste nos dados de identificação (idade, grau de instrução, profissão, por exem- plo) e a segunda parte elenca questões sobre o tipo de maus- -tratos sofridos, sua frequência, em que tipo de relaciona- mento (casamento, namoro, por exemplo), se os maus-tratos aconteceram em relacionamentos anteriores ou no atual, o perfil do agressor (idade, profissão, escolaridade, por exem- plo). Algumas questões que o questionário apresenta:

Marque abaixo uma situação (ou situações) de maus- -tratos emocionais que você tenha sofrido em relaciona- mentos anteriores:

(OBS.: Você pode marcar mais de uma alternativa.) ( ) xingamentos em relação à sua moral (chamar de

puta, vagabunda, por exemplo);

( ) xingamentos em relação ao seu corpo ou à sua idade (chamar de feia, gorda, velha, etc.);

( ) perseguições e ameaças através de bilhetes, e-mails, torpedos, telefonemas;

( ) perseguições, limitando o seu direito de ir (ser proi- bida de sair, por exemplo);

( ) perseguições, exercendo vigilância na porta de sua casa, do seu trabalho ou da escola onde você estuda; ( ) humilhações explícitas e constantes (ele diz que você não serve para nada, que não sabe cuidar da casa, dos filhos, ou ainda que você é velha, que seu corpo não é bonito, etc.);

( ) humilhações públicas (ele desqualifica/desqualifi- cou você na frente de outras pessoas, fazendo você passar por algum tipo de constrangimento ou ainda faz/fez algum tipo de escândalo);

( ) desvalorização constante de suas capacidades e ati- vidades (profissionais, seus estudos, sua posição so- cial, sua cultura);

( ) faz questão de dizer que você depende dele financei- ramente;

( ) desvalorização da sua aparência;

( ) de algum modo, impede ou dificulta que você tenha amigos;

( ) de algum modo, impede ou dificulta que você tenha contato com parentes;

( ) impede ou desanima que você trabalhe fora;

( ) impede ou desanima que você saia sozinha ou com amigos;

( ) ciúme excessivo;

( ) deprecia, encontra falhas ou critica algo que você gosta e que lhe a faz sentir bem;

( ) nunca sofri maus-tratos emocionais em relaciona- mentos anteriores.

Outras questões se referem ao tempo de duração dos maus-tratos, quem maltratou (namorado? marido? ex-namo- rado?) e qual a atitude tomada diante das agressões sofridas. Cabe aqui esclarecer que tais perguntas contemplam tanto o relacionamento atual (se for o caso) e os anteriores.

Outro ponto importante na elaboração do questionário foi identificar se as respondentes também foram vítimas de maus-tratos emocionais na infância, em especial por parte da família (mãe, madrasta, pai, padrasto, irmão/ã, avô/avó, tio/ tia, padrinho/madrinha, etc.), pois pesquisa publicada na re- vista Pediatrics, por investigadores da Academia Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente, apontam que os maus-tratos emocionais – depreciar, denegrir, ridicularizar, aterrorizar e explorar – é a forma mais comum de violência/ abuso na infância. Tanto quanto as punições físicas, os maus- -tratos emocionais podem causar diversos problemas com- portamentais ao longo da vida. Os dados brasileiros referem que no Brasil as agressões físicas são mais comuns do que os maus-tratos psicológicos. Em maio de 2012, o Ministério da Saúde divulgou levantamento indicando que, entre crianças de até nove anos de idade, os tipos de violência mais comuns são negligência e abandono (36%), seguidos de abuso sexual (35%). Entre jovens de dez a 14 anos, os principais abusos são os físicos (13,3%) e os sexuais (10,5%); e entre adolescentes de 15 a 19 anos, os principais tipos de violência são as físicas (28,3%) e as psicológicas (7,6%), segundo Waiselfisz (2012).

O questionário finaliza com questões que intencionam saber como a pessoa reagiu diante dos maus tratos sofridos (se conversou com o agressor, se pediu ajuda aos parentes e/ ou amigos, se denunciou na Delegacia da Mulher, etc.) e os motivos que a fizeram não denunciar, a saber:

( ) por causa da dependência econômica; ( ) porque o amo, apesar de tudo;

( ) porque ele me ameaçou, caso eu o denunciasse; ( ) porque tenho vergonha de me expor;

( ) porque tenho medo de ficar sozinha; ( ) porque preservo a família acima de tudo;

( ) porque me sinto culpada por denunciar o pai de meus filhos;

( ) por causa da minha religião;

( ) porque minha família e parentes não aprovariam mi- nha atitude;

( ) porque não tenho para aonde ir em caso de separa- ção;

( ) porque acredito que não adiantaria nada denunciar; ( ) nunca me ocorreu denunciar maus tratos emocio-

nais;

( ) porque acho que não é motivo suficiente para de- nunciar.

É possível observar que os maus-tratos emocionais são a porta de entrada para outros tipos de violência, inclusive a violência física. Por conta disso, achamos importante pergun- tar às respondentes se elas também foram vítimas desse tipo de violência, especificada nos seguintes termos:

( ) empurrões, beliscões, puxões de cabelo; ( ) socos;

( ) chutes, pontapés; ( ) apontar arma de fogo; ( ) apontar faca ou outro objeto; ( ) já foi vítima de tiros;

( ) já foi vítima de facadas;

( ) já foi vítima de arremesso de objetos; ( ) Outro. Qual? ________________

As últimas questões referem-se ainda às sensações, por vezes, físicas, que as mulheres sofrem ao se depararem com situações constantes de violência (mal-estar, depressão, tris- teza, vergonha, ansiedade, insônia, etc.).

Cabe ainda considerar que os maus-tratos emocionais não dizem respeito apenas aos casais heterossexuais. Desse modo, pretendemos discutir e ampliar a compreensão a res- peito do tematambém nas relações homoafetivas.