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Capítulo 2. Inventando a religião: o catolicismo em Vígolo

2.3. Instalação de jesuítas

Era dezembro de 1879 quando os jesuítas chegaram à Nova Trento. A ida deles para lá, além das questões já discutidas em termos mais amplos de estratégia eclesial, deu-se, provavelmente, por razões que dizem respeito às escolhas, oportunidades, conjunturas e estratégias que a própria Companhia de Jesus traçou nesta fase de inserção no interior de

21 GROSSELLI, Vencer ou morrer, p.452.

22 GANARINI, Pe. Arcangelo. Nuova Trento: impressioni di viaggio. Trento: Stab. Tip. G. B. Monauni, 1901. 23

Cf. MADRE DOROTÉIA. História da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição: 1865-1921. São Paulo: s.d., p.22-23. Manuscrito; CONGREGAÇÃO DAS IRMÃZINHAS DA IMACULADA CONCEIÇÃO. Coletânea Histórica. São Paulo: Bentivegna, 1990, p.474.

Santa Catarina. Nossa hipótese é que esses movimentos dos inacianos foram, por sua vez, favorecidos pelos processos históricos de contato dos missionários com os imigrantes trentinos.

Graças aos relatos de nossas cronistas Matilde e Dorotéia sabemos que o primeiro contato no Brasil entre os emigrantes de Vigolo Vattaro e um jesuíta ocorreu no porto de Itajaí, em 1875, na figura do padre Cybeo. Graças a elas e à pesquisa documental da biógrafa de madre Paulina sabemos os próximos passos do jesuíta em direção a Nova Trento: em 1876, foi pregar missões e pensou em fundar lá uma residência de jesuítas. Em 1878, voltou à Nova Trento para realizar mais uma missão e depois disso escreveu uma longa carta ao superior geral dos jesuítas, padre Pietro Beckx, relatando a situação dos “pobres imigrantes italianos”. A carta foi transcrita na biografia oficial da madre e revela alguns aspectos interessantes.24

Para começar, Cybeo lembrou seu superior da “numerosa emigração de camponeses italianos para a América, particularmente para o Brasil”, o que ilustra a preocupação da Igreja com seus fieis e a tendência de promover a sua tutela. Na Província de Santa Catarina, escreveu o padre, cada vez mais aumentava o número de tiroleses, lombardos e vênetos que lá formaram lugarejos em torno de Nova Trento, a qual despontou como sua “capital”,25 um lugar onde os colonos “não podiam lamentar” quanto aos recursos temporais – estava se referindo às condições climáticas, geográficas e topográficas de Nova Trento.

No entanto, continuou o padre, faltava Igreja, sacerdotes e instrução aos colonos, em especial para crianças e jovens. Assim, ficavam dispersos entre matos e montanhas, longe da Igreja e com raríssimos sacerdotes (e estes ocupados também com brasileiros e alemães – referia-se aos padres Gattone e Ganarini). Enfim, concluiu o padre, “os pobrezinhos se encontram desesperados, arrependidos de ter vindo e pedem ajuda”, ou seja: desejam que “se estabeleça uma casa de missionários no meio daquela Colônia”. E o lugar mais apropriado, na visão de Cybeo, “parece ser Nova Trento”, por ser o núcleo dos lugarejos.

24 Cf. CONGREGAÇAO PARA AS CAUSAS DOS SANTOS, Madre Paulina: positio sobre a vida e as

virtudes. Biografia documentada, v.1. São Paulo, 1987, p.70-71.

25 Segundo Grosselli, na época, Nova Trento contava com aproximadamente 29,5% dos habitantes da Colônia

Brusque, número expressivo considerando a extensão da colônia. Na realidade, Nova Trento desenvolveu-se às margens do rio Braço, afluente do rio Tijucas; rio pequeno, mas navegável com balsas e canoas, o que atraía os colonos. Sendo assim, em torno dela ergueram-se várias linhas coloniais (cf. fig.4). Cf. GROSSELLI, Vencer ou morrer, p.483-485.

Figura 6: Padre Cybeo (1837-1925)

(Fonte: M. DOROTÉIA, História da Congregação, v.1, p.5)

A preocupação de Cybeo era evitar que crianças e jovens seguissem o caminho de tantos imigrantes que se tornaram “cristãos indiferentes, ignorantes, dados aos vícios” como bailes, jogos e bebedeiras. O padre geral dos jesuítas parecia compartilhar da mesma preocupação, pois autorizou a abertura da comunidade religiosa um ano depois de ter recebido a carta do padre. Essa mentalidade acompanhará os jesuítas italianos de Nova Trento; por ocasião da construção de uma nova igreja, por exemplo, segundo as crônicas de Matilde e Dorotéia, viriam homens de fora para trabalhar nas obras. Até então, reinaria “a piedade, a

pureza e os bons costumes”, porém, com a chegada desse pessoal, haveria bailes, embriaguez e jogos que seriam extirpados pelos jesuítas somente após a saída deles, no final da obra.

Outro motivo que deve ter contribuído para que o superior dos jesuítas atendesse logo a reivindicação de Cybeo foi o fato de que, nesse tempo, havia jesuítas em Florianópolis, remanescentes do antigo Colégio do Desterro fechado em 1870.26 Sendo assim, alguns deles estavam disponíveis para serem enviados a Nova Trento. Foram, então, naquele ano de 1879: padre Augusto Servanzi (1840-1891), padre Pietro Iraci (1829-1892) e irmão Pietro Purgatório (1850-1925). No ano seguinte, Cybeo foi para lá e permaneceu até 1925. Ao longo de mais de seis décadas, de 1879 a 1942, vinte e sete jesuítas passaram por Nova Trento, alguns ficaram mais tempo e outros retornaram.27

A ação/presença dos jesuítas em Nova Trento estava inserida no quadro de reforma da Igreja Católica no Brasil. Portanto, eles deveriam implantar lá um catolicismo romanizado e ultramontano. Para estabelecer este tipo de catolicismo encontraram várias dificuldades a começar pela mata virgem e sem estradas, o que impedia o trânsito missionário, se bem que contaram com o trabalho dos colonos que transformaram as matas em estradas, o que facilitou as viagens missionárias, conforme relatam nossas cronistas Matilde e Dorotéia. Ainda com a ajuda dos colonos, localizaram um lugar central para construir sua residência e uma igreja mais conveniente que a pequena capela de São Virgílio, construída em 1876 pelos colonos. Todavia, os colonos só podiam oferecer mão de obra, pois eram pobres “e o Governo já lhes tinha retirado a pequena subvenção, restando-lhes somente a paga dos trabalhos de estrada”. Restava aos padres fazer missões junto aos povos vizinhos – Florianópolis, Itajaí, Joinville, Brusque – para angariar recursos financeiros e construir suas obras, que se iniciaram somente em 1883, explicam as mesmas cronistas.

Mas enfim, a nova igreja de Nova Trento foi inaugurada em 1885 e consagrada ao Sagrado Coração de Jesus, que substituiu o antigo padroeiro, São Virgílio – em 1940, o santo voltaria a ser padroeiro dessa igreja. A troca de nome da igreja não aconteceu por acaso uma vez que o culto ao Sagrado Coração de Jesus estava sintonizado com as novas práticas devocionais promovidas pela romanização do catolicismo. Afinal, o Sagrado Coração de Jesus haveria de conceder vitória à Igreja no meio dos assaltos do mundo liberal ímpio,

26

Cf. DALLABRIDA, Norberto. A fabricação escolar das elites: o Ginásio Catarinense na Primeira República. Florianópolis: Cidade Futura, 2001.

analisa o teólogo José Comblin.28 Com outras palavras, os católicos estariam fortalecidos, no plano simbólico, para os embates com liberais, maçons, protestantes e outros participantes dos erros modernos apregoados por Pio IX.

Dessa maneira, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus se expandiu em várias outras práticas – consagrações, ladainhas, novenas, igrejas e santuários dedicados aos seus mistérios – e em organismos como o Apostolado de Oração, fundado na França em 1844 e existente até hoje, inclusive, na mesma Nova Trento. Assumiu primazia e foi incentivada pelas congregações religiosas que se estabeleceram no Brasil a partir do Segundo Reinado, especialmente, os jesuítas. Estes se tornaram seus principais propagadores, sobretudo, a partir de 1896, quando os estatutos do Apostolado da Oração foram aprovados pela Santa Sé e o superior geral da Companhia de Jesus foi instituído diretor geral da associação.29 Doravante, os “filhos de Santo Inácio” seriam os primeiros a expandir a devoção e organizar os apostolados em todos os lugares por onde passariam.

Além da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, os jesuítas de Nova Trento criaram outras devoções e associações, é claro, alinhadas com a política de reforma da Igreja Católica, com destaque para as práticas devocionais vinculadas com a figura de Maria. Assim, eles fundaram a Pia União das Filhas de Maria e propagaram a devoção mariana em suas várias vertentes: Nossa Senhora do Carmo, do Bom Conselho, da Imaculada Conceição, de Lourdes, das Dores – evidentemente, o principal público e agente das devoções e associações marianas eram as mulheres, “instruídas” para identificar-se com o modelo dócil e submisso de Maria, de acordo com a perspectiva de feminização do catolicismo, a qual marcará também o catolicismo romanizado da época.

De olho nas mulheres, mas também nos homens, conforme lemos nas crônicas de nossa Dorotéia, os jesuítas criaram estratégias para agregar a ala masculina da comunidade: organizaram um coral e posteriormente uma banda musical. O maestro era o padre Angelo Sabbatini (1834-1907) que entendia de música e atuou em Nova Trento de 1880-1882 e de 1887-1896. Segundo Dorotéia, ele

28 Comblin chama a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e outras da restauração católica do século XIX de

devoção italiana, “porque se originou na Itália e foi divulgada sistematicamente pela Santa Sé. Esta espiritualidade está concentrada em torno a duas devoções fundamentais: a devoção ao Sagrado Coração e a devoção aos novos dogmas marianos. O que se espera sobretuo da Virgem ou do Sagrado Coração é a vitória da Igreja no meio dos assaltos do mundo liberal ímpio. As aparições constituem o objeto e o centro fundamental da devoção popular. Maria é aquela que apareceu em Lourdes ou Fátima. O Sagrado Coração é aquele que apareceu a S. Margarida Maria e fez as famosas promessas.” (COMBLIN, José. Situação histórica do catolicismo no Brasil. Revista Eclesiástica Brasileira, Rio de Janeiro, v.37, n.142, set. 1976, p.597).

29 Cf. AZZI, Riolando. A participação da mulher na vida da igreja do Brasil (1870-1920). In: MARCÍLIO, Maria

Reuniu um grupo de homens e ensinou-lhes a cantar a missa e muitos cantos sacros; também às Filhas de Maria ensinava melodiosos cânticos ao Santíssimo Sacramento, ao Coração de Jesus, à Santíssima Virgem, a S. José, etc. Quando o povo tinha mais recursos arranjou uma commissão, afimde organizar uma banda de música, que devia servir somente para os actos religiosos; a proposta foi immediatamente aceita; todos prometteram trabalhar e, em pouco tempo, tinham a importância para effetuar a compra do necessário. O bom Padre pensou logo em mandar vir os instrumentos, que em breve chegaram.

Causava encanto ver o enthusiasmo do servo de Deus e dos aprendizes; de todos os lados ouvia-se tocar para os ensaios; o bom Padre, semanalmente, reunia-os para as lições. Applicaram-se tanto que, contra a expectativa do bom Maestro, podiam tocar em público. Os cantos, a música e as solennidades que os RR.PP. faziam nas festas principaes, excediam as festividades de outros logares e, nessas circunstâncias, Nova Trento era concorrida por muita gente que vinha de Brusque, Itajahy, Tijucas e até de Florianópolis.30

Um olhar mais agudo fotografa a “Banda Padre Sabbatini” como um organismo masculino protagonista dos eventos mais importantes e, por esta razão, reconhecido, aplaudido e eternizado na história da comunidade. As mulheres da comunidade certamente os apoiavam e os aplaudiam, como faz a cronista com suas palavras de elogio e admiração registradas acima. Quanto às Filhas de Maria, estas aprendiam cantos para honrar seus santos e devoções, em espaços mais reservados e menos notórios. Ora, era exatamente esse espaço recatado, condizente com uma vida modesta e piedosa, que a Igreja Católica do período reservava para as mulheres. Cabia aos jesuítas e aos pais de família zelar para que isso se cumprisse.

Os jesuítas de Nova Trento criaram também a Associação da Boa Morte e a Ordem Terceira de São Francisco – o pai de Amabile, Napoleone Visintainer, seria um membro da ordem franciscana.31 Ademais, conta nossa cronista Matilde, e Dorotéia confirma, os jesuítas distribuíam água benta, água de Santo Inácio, pílulas de papel do Sagrado Coração de Jesus aos doentes, na falta de médico, farmácia e remédios, e outros objetos de devoção: terços, medalhas e imagens. Com certeza, a ênfase maior era da prática sacramental, em especial, a missa. Nos dias de semana, era celebrada às quatro e meia da manhã antes de os colonos irem para a lavoura. Mas para chegar à Nova Trento, os Visintainer e outros vigolanos andavam quilômetros a pé guiados por um relógio natural, conta nossa cronista Dorotéia.

Como não possuiam relógio, regulavam-se pelo canto do gallo, que lhes servia de despertador; as pessoas que moravam mais longe se levantavam antes e iam, de casa em casa, chamar as outras. Às vezes acontecia que, enganados pelos gallos, se punham a caminho à meia noite e chegavam à Igreja às 3 horas da madrugada; achavam a porta fechada; quando os Padres percebiam o agrupamento, abriam a porta. Isto succedia não só no verão, mas também no rigoroso inverno.32

30

M. DOROTÉIA, História da Congregação, p.42-43.

31 Cf. CONGREGAÇÃO, Madre Paulina, p.67 e 77. 32 M. DOROTÉIA, op. cit., p.38-40.

Fizeram mais: implantaram a espiritualidade de sua companhia por meio de os chamados exercícios espirituais33 (retiros). Nessa direção, adaptaram os exercícios para a realidade dos colonos, o que significa que eles podiam escutar duas pregações: uma de manhã e outra no final da tarde; durante o dia faziam a meditação em sua própria casa ou trabalho. No tempo do padre Servanzi (1879-1888), quando alguém não participava do retiro por algum motivo, podia emprestar livros da “biblioteca circulante”, assim chamada pelo próprio Servanzi, e fazer sua meditação em casa. Vejamos como nossa cronista Matilde relata aquilo que, com certeza, ela mesma observara quando era jovem e vivia com sua família em Vígolo:

Desde esses primeiros tempos começou o santo retiro anno [anual] na quaresma pregado na Egreja do Coração de Jesus em Nova Trento, como depois de tantos annos se pratica, e ao qual tomam parte os colonos de toda parte: oh se todos comprehendessem o valor da leitura de livros bons!

Além disto, o R.P. Servanzi dava ao povo excellentes livros de santas leituras, e desta maneira quando alguém não podia servir-se das praticas por qualquer motivo, por meio de boas leituras tivesse incitamento forte para viver bem (grifo nosso).34

Atuando sob esta perspectiva romanizada e ultramontana, os jesuítas de Nova Trento quiseram também instalar uma congregação feminina para educar as crianças e os jovens. Nossas cronistas Matilde e Dorotéia relatam que, não podendo “trazer religiosas” – italianas – por conta da pobreza dos colonos, alguns jesuítas acabaram apoiando a criação de uma incipiente congregação, objeto de nossa pesquisa. Por este motivo, Grosselli35 tem razão quando afirma que os jesuítas transformaram os territórios de Nova Trento num único convento, fazendo surgir uma ordem religiosa que, no futuro, atrairia muitas filhas de colonos, conforme veremos.

Em suma, mais do que os padres diocesanos, os jesuítas atenderam ao quesito romano, estruturando um catolicismo romanizado e ultramontano em Nova Trento, uma vez que eles próprios colocaram-se num lugar – de poder e de querer – de onde podiam elaborar e executar suas estratégias junto aos colonos. Para aprofundar essa ação na perspectiva de

33 Criação de Inácio de Loyola, os exercícios espirituais inacianos partem do seguinte princípio: “qualquer modo

de examinar a consciência, de meditar, de contemplar, de orar vocal e mentalmente, e outras operações espirituais (...). Pois, assim como passear, caminhar e correr são exercícios corporais, da mesma forma se dá o nome de exercícios espirituais a todo e qualquer modo de preparar e dispor a alma, para tirar de si todas as afeições desordenadas e, afastando-as, procurar e encontrar a vontade divina (...) para a salvação da alma” (EXERCÍCIOS espirituais. Santo Inácio de Loiola. Porto Alegre, 1966).

34 MADRE MATILDE. História da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição: 1875-1895.

Tradução de padre Luigi Maria Rossi. São Paulo, 1919, p. 32. Manuscrito. A expressão “biblioteca circulante” está registrada numa carta de Servanzi ao outro padre, Venturini, cujo fragmento encontramos na biografia oficial de Paulina. Escreve ele: „Temos também uma pequena biblioteca circulante, a qual faz muito bem nas famílias‟ (CONGREGAÇÃO, Madre Paulina, p.67).

nossa abordagem, podemos dizer que os jesuítas instauraram um corte entre o seu lugar – apropriado – e do outro – colonos –, acompanhado de efeitos consideráveis:

1. O „próprio‟ é uma vitória do lugar sobre o tempo. Permite capitalizar vantagens conquistadas, preparar expansões futuras e obter assim para si uma independência em relação à variabilidade das circunstâncias. E um domínio do tempo pela fundação de um lugar autônomo.

2. É também um domínio dos lugares pela vista. A divisão do espaço permite uma prática panóptica a partir de um lugar de onde a vista transforma as forças estranhas em objetos que se podem observar e medir, controlar, portanto, e „incluir‟ na sua visão. Ver (longe) será igualmente prever, antecipar-se ao tempo pela leitura de um espaço.

3. Seria legítimo definir o poder do saber por essa capacidade de transformar as incertezas da história em espaços legíveis. Mas é mais exato reconhecer nessas „estratégias‟ um tipo específico de saber, aquele que sustenta e determina o poder de conquistar para si um lugar próprio.36

Destas considerações certeausianas, podemos concluir: os jesuítas conquistaram seu lugar próprio em Nova Trento ao instituir um catolicismo romanizado e ultramontano com todas as características analisadas acima. Entretanto, é preciso verificar a forma pela qual o povo tutelado inventou o seu catolicismo, isto é, como se apropriou das novas devoções, padroeiros, associações, pregações, retiros, objetos espirituais, banda musical e “biblioteca circulante” dos jesuítas. Enfim, como se apropriou dos bens culturais impostos pelos jesuítas, ou seja, como procedeu taticamente, sabendo que:

A tática não tem por lugar senão o do outro. E por isso deve jogar com o terreno que lhe é imposto tal como o organiza a lei de uma força estranha. Não tem meios para se manter em si mesma, à distância, numa posição recuada, de previsão e de convocação própria: a tática é movimento „dentro do campo de visão do inimigo‟, (...) e no espaço por ele controlado. Ela não tem, portanto, a possibilidade de dar a si mesma um projeto global nem de totalizar o adversário num espaço distinto, visível e objetivável. Ela opera golpe por golpe, lance por lance.37

Esses golpe por golpe, lance por lance nos são dados pelo relato de nossas cronistas que nos fornecem muitos sinais e vestígios sobre a invenção do catolicismo em Vígolo.