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Capítulo 3. Usando os “azares do tempo”: freiras-leigas

3.3. O sonho de Amabile: começar uma “obra”

O sonho de Amabile, ocorrido talvez em 1890, passou a fazer parte das memórias produzidas pela Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, com exceção das crônicas de Madre Matilde.43 Foi confirmado por três irmãs antigas e por uma senhora que testemunharam nos processos eclesiásticos durante o processo de canonização de madre Paulina. Está subjacente nos documentos que descrevem o carisma44 inicial da congregação – seus primeiros trabalhos e funções – e a espiritualidade de base mariana.45 A ideia básica é de que a Virgem Maria concedeu um carisma à Amabile, que lhe respondeu positivamente. O carisma recebido exigiria que Amabile e cada futura irmã se colocassem perpetuamente a serviço da “obra da Imaculada”, e que lhe prestassem devoção por meio do cultivo de uma espiritualidade mariana.

Com base na perspectiva teórica do conhecido pesquisador de história das religiões Mircea Eliade,46 podemos dizer que o sonho de Amabile tornou-se um relato mítico importante, pois conta uma história verdadeira e preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e

43 Todas as crônicas atribuídas a Madre Dorotéia contêm o relato do sonho de Amabile: manuscritas,

datilogradas resumidas e completas. Segundo notas de rodapé de uma das obras impressas, Dorotéia coletou depoimento de irmã Vicência para escrever sobre os sonhos. Ao todo, Amabile teve três sonhos: o primeiro que é considerado o mais importante; o segundo quando a Virgem de Lourdes indicou uma legião de jovens para Amabile cuidar; o terceiro quando padre Rocchi apresentou seu sucessor antes mesmo de anunciar sua saída de Nova Trento e disse para Amabile: „é este o Sacerdote escolhido e enviado para vos guiar. Obedecei-o em tudo!‟ Amabile reconheceu em Rossi o sacerdote indicado no sonho. Cf. CONGREGAÇÃO, Esboço histórico, p.51-53.

44 A palavra carisma foi introduzida por Paulo de Tarso em seus escritos epistolares, no contexto da organização

das primeiras comunidades cristãs (1 CORÍNTIOS, 12:7; ROMANOS, 12:4; EFÉSIOS, 4:7). O vocábulo significa gratuidade, benevolência e dom de Deus. Na vida religiosa, o carisma constitui sua estrutura estruturante e significa a função concreta que cada pessoa ou cada congregação religiosa desempenha dentro de sua comunidade de fé e a bem de todos. Daí a constante preocupação das congregações religiosas de definirem seu carisma inicial e o atualizarem constantemente. Cf. BOFF, Leonardo. Igreja, carisma e poder. Petrópolis: Vozes, 1982, p.237-328.

45

Cf. CONGREGAÇÃO DAS IRMÃZINHAS DA IMACULADA CONCEIÇÃO. Coletânea histórica. São Paulo: Bentivegna, 1990, p.17-26.

46 Eliade (1907-1986) considera o mito como uma forma diferente de exprimir o pensamento, a cultura e a

maneira de encarar o mundo. O mito seria então uma forma de linguagem coletiva, emotiva, poética, primordial e rica de significado. Para Eliade, o mito tem também uma função religiosa, pois se trata de uma história sagrada que relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial e cujos personagens são seres sobrenaturais. Cf. ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972, p.7-23.

significativo. Trata-se, portanto, de uma história sagrada ocorrida no tempo primordial da congregação, o tempo fabuloso do princípio, que narra como a “obra da Imaculada” passaria a existir graças à proposta da Virgem Maria. Em função disso, esta história fornece modelos para a conduta das irmãs, significação e valor à existência de sua congregação e, por esta razão, deve ser rememorada e reatualizada periodicamente a fim de que as origens congregacionais sejam conhecidas, festejadas e assim garantam continuidade à obra.

Ao analisar os textos-controle ou textos-heranças produzidos pelas congregações femininas que pesquisou, Leonardi diz:

Tanto a história contada nas Regras por Noialles [fundador das irmãs da Sagrada Família] quanto nos textos que outros padres produziram, o que se construía era a lenda como texto fundador, o micromito das comunidades religiosas. As legendas valem por seus efeitos e causas, afirma Boureau. O que importa nessas narrativas é a edificação dos homens e da Igreja: „Em uma palavra, a legenda aparece como o elemento essencial de um controle ideológico que consiste em se dar, ao mesmo tempo, um objeto simbólico, sua valorização, seu uso e seu controle‟.47

Após essa breve consideração a respeito da importância do relato mítico, interessa captar o simbolismo religioso presente no sonho de Amabile e relacioná-lo com os contextos culturais, momento histórico e significação particular.

Na primeira noite, Amabile viu uma bela senhora acompanhada de uma jovem e a identificou com a Virgem de Lourdes, não por acaso, mas no contexto da devoção romanizada imposta pelo jesuíta Marcello Rocchi na antiga Capela de São Jorge – em fevereiro de 1889 fora inaugurada a gruta de Lourdes, anexa à capela.

Conforme a imagem retida do sonho, a virgem estava num canteiro de flores brancas, vestida de branco e com uma faixa celeste. Tentou se comunicar com Amabile, mas esta não entendeu nada. A jovem disse para Amabile prestar atenção porque a Virgem queria lhe dizer grande coisa para a glória de Deus. Mas Amabile despertou.

Na segunda noite, o diálogo aconteceu.

“_ É meu ardente desejo que comeces uma obra; trabalharás pela salvação de minhas filhas.

_ Mas como fazer, minha Mãe? Sem meios, miserável e ignorante E neste pensamento accordou-se.”

Na terceira noite, finalmente, o diálogo foi finalizado.

_ Filha, que determinastes?

_ Servir-Vos, minha querida Mãe, mas sou uma pobre creatura... Todavia, para satisfazer o vosso desejo, prometto esforçar-me quanto puder; mas não tenho quem me ajude na grande empreza.

_ Dou-te, prosseguiu a Divina Mãe, uma pessoa que te auxiliará...48

Nesse momento Amabile viu o padre Marcello Rocchi, seu diretor espiritual, se aproximar da senhora virgem e falar com ela. Ao terminar a conversa, a virgem mostrou-lhe o padre e lhe disse:

“_ Eis aquelle que te ajudará; mais tarde mostrar-te-ei as filhas que te quero confiar”, finaliza a cronista Dorotéia.

A análise desse sonho remete a uma série de considerações a respeito do imaginário religioso de Amabile, sintonizado com o pensamento católico da época. O sonho durou três noites, número significado na simbologia cristã até hoje, pois se refere a experiências religiosas relevantes e exemplares, narradas desde a Bíblia.49 O cenário principal do sonho também era bem sugestivo: coberto de canteiros com flores brancas harmonizadas com o vestuário da personagem principal da cena nas cores branca e azul celeste. As cores50 não estavam ali por acaso, mas certamente representavam a cultura religiosa da época: a cor branca era associada aos valores de pureza e virgindade da mulher; a cor azul associada à Virgem Maria, pura e imaculada por excelência, portanto, ícone de boa mãe e santa mulher, dois atributos indispensáveis às mulheres. Em suma, todos esses elementos simbólicos do sonho estavam de acordo com a visão de mulher do século XIX quando a pureza da virgem tornou-se referência na educação feminina, favorecida pelos eventos:51 em 1854, proclamação do dogma da Imaculada Conceição; em 1858, aparição da Virgem à jovem Bernadette Soubirous, que se torna mensageira pública da Imaculada Conceição. A comunidade de Vígolo não fica alheia a esses contextos, mas acaba desenvolvendo o culto à Virgem de Lourdes, instituído pelo padre Rocchi.

Portanto, não podemos desconectar o sonho de Amabile da visão oitocentista e do catolicismo romanizado apregoado pelos jesuítas de Nova Trento. A novidade fica por conta da ordem da Virgem: começar uma “obra”. Mais: num segundo sonho a Virgem diria: „Eis as filhas que te confio!‟, ou seja, apresenta à Amabile as “filhas da Imaculada”. Quem seriam essas filhas? Mais tarde, segundo cronistas e biógrafas, Amabile entendeu tratar-se de suas futuras companheiras de congregação, ou seja, suas filhas espirituais. Afinal, Amabile não

48 M. DOROTÉIA, História da Congregação, p.73. O relato do sonho se encontra nas páginas 72 a 74. 49

Três tentações enfrentadas por Jesus no deserto: MATEUS, 4:1-11; LUCAS, 4:1-13. Três anúncios da paixão de Jesus: MATEUS, 16:21-23; 17:22-23; 20:17-19; LUCAS, 9:22; 9:44-45 e 18:31-33. Três negações de Pedro a Jesus: MATEUS, 26:30-35; LUCAS, 22:54-62; JOÃO, 18:12-27. Ressurreição de Jesus no terceiro dia após sua morte: MATEUS, 28:1; LUCAS, 24:1; JOÃO, 20:1; MARCOS, 16:1-2.

50

Cf. FINCHER, Suzanne F. As cores nas mandalas. In: O autoconhecimento através das mandalas. São Paulo: Pensamento, 1998, p.57 e 68.

podia escapar de uma das atribuições femininas da época, a saber, a maternidade. Assim, se reproduziria simbolicamente na iniciação de suas filhas à vida congregacional, igual a uma boa mãe do século XIX que inicia seus filhos à vida devocional.

Nesse relato não poderia faltar a presença do elemento masculino e eclesial, característica peculiar das congregações femininas surgidas no século. Na história das Irmãs da Sagrada Família, estudada por Leonardi, um sonho antecede a fundação da congregação, mas o sonhador é um homem: padre Noialles sonhara com a Virgem que lhe anunciara a fundação de uma obra para meninas expostas. Já na “obra da Imaculada” tratava-se de um casal de fundadores: Amabile Lucia Visintainer e padre Marcello Rocchi.52 Seja um padre ou um casal de fundadores, no entanto,

As congregações femininas nascentes no século XIX tinham sempre um homem à sua frente. Fosse ele posteriormente considerado fundador ou retirado dessa função e considerado somente diretor espiritual, elas não eram de todo independentes. Após a morte de Noialles, na Sagrada Família, a tutela de uma congregação masculina, os Oblatos de Maria Imaculada, entrou em vigor. No caso de Nossa Senhora do Calvário, é possível notar, através das circulares e de extratos de cartas citados em Maurel, o desejo dessas primeiras superioras de não se submeteram a uma congregação masculina.53

Talvez na mesma linha das irmãs calvarianas, esteja a ilustração abaixo. Extraída das crônicas de Dorotéia e de autoria desconhecida, esta ilustração não mostra a figura masculina no sonho de Amabile, mas um cenário composto apenas por mulheres. A representação parece coerente com as narrativas a respeito das origens da “obra da Imaculada”, pois estas protagonizam o papel das mulheres, sejam elas humanas, sejam elas divinas.

52 As irmãs não o consideraram seu fundador, pois ele foi transferido de Nova Trento e não pode acompanhar o

processo de institucionalização da congregação. Cf. CONGREGAÇAO PARA AS CAUSAS DOS SANTOS, Madre Paulina: positio sobre a vida e as virtudes. Biografia documentada, v.1. São Paulo, 1987, p. 93.

Figura 9: Sonho de Amabile

(Fonte: M. DOROTÉIA, História da Congregação, v.1, p.20)

Houve também um diálogo travado entre Amabile e Virginia muito significativo para explicar a criação da congregação religiosa na perspectiva das jovens.

Conta Matilde que elas procuravam levar adiante o seu propósito, mas pareciam fazer castelos sobre a vida futura, sem ver nenhum sinal luminoso, mas apenas confusão e trevas por toda parte. Provavelmente está se referindo à tentativa frustrada dos colonos de trazer uma congregação religiosa para Nova Trento e às dificuldades de ingresso em outra congregação uma vez que não dispunham de recurso financeiro para realizar tal projeto.

Um dia, conversando sobre o assunto de “retirar-se definitivamente do mundo”, Amabile disse à Virginia:

_ Por que não podemos nós fazer uma casinha unida à nossa pequena capella, e deixando a nossa família recolher-nos nella para tratar só de rezar, trabalhar e cultivar o espírito de outras meninas?

- Muito bem, respondeu a Virginia. Mas como faremos este casebre? E supondo mesmo que isto façamos os nossos paes permittirão que a habitemos abandonando-os?

- Pois bem, concluiu Amabile, chega agora de projectos – Vamos indo adiante rezando, e Deus fará o resto...

Isto deve ter tido lugar em 1889, quando a mais idosa de nós [Virginia] tinha apenas 25 anos.54

A iniciativa e a formulação da proposta, como se lê, foi de Amabile, assim como o sonho no qual recebeu a ordem de iniciar uma obra. Por esta e outras atitudes que seriam tomadas ao longo do processo de abertura da primeira casa e organização da vida religiosa, Amabile seria identificada pelas irmãs como sua fundadora e Virginia seu braço direito, conforme a expressão popular. Nas narrativas, Virgínia está colocada mais à sombra de Amabile e alguns fragmentos que poderiam realçá-la se perdem nos contextos maiores da vida e ação da fundadora. Um deles mostra como Virginia se via no processo de fundação de sua congregação: “Quem teria pensado que um dia as duas [ela e Teresa Maule, outra jovem que entrará em cena após a criação da “obra da Imaculada”] teriam acompanhado a veneranda Fundadora fazendo com ela os votos religiosos, e sendo deste modo as duas co-fundadoras de nossa Congregação.”

Transcorridos mais de cem anos, irmã Terezinha Negri desvelaria a coautoria de Matilde na criação da congregação, escrevendo sua biografia.55 Mas, a imagem de “violeta escondida, mas perfumadíssima, no jardim dos anjos”, construída pela cronista Dorotéia,56 parece mais forte. Tanto é que Virginia, ou melhor, madre Matilde, seu nome na religião, não foi beatificada como sua companheira, mas jaz à sombra de Santa Paulina. A questão que se levanta é: por que Matilde foi colocada na perspectiva de uma “violeta escondida”? Mereceu este título?

Jogando com elogios e críticas, a cronista Dorotéia dá a entender que ela era uma pessoa inteligente, piedosa e caridosa, mas “severa no cumprimento do regulamento”. Tinha um temperamento enérgico; “todas temiam seu governo rígido, mas amavam-na e veneravam- na como verdadeira santa!” Em uma das narrativas, Dorotéia expressa o que entendia ser o governo rígido de madre Matilde. O episódio ocorreria em 1905, quando ela substituiria temporariamente a superiora do Noviciado de Nova Trento, irmã Vicência, que estaria viajando. Diz Dorotéia que:

54 M. MATILDE, História da Congregação, p.38-39.

55 Cf. NEGRI, Terezinha Santa, IIC. Madre Matilde: co-fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada

Conceição. São Paulo: Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, 1993.

56 MADRE DOROTÉIA. História da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição:1904-1908, v.3.

muito escrupulosa, vivia como esmagada sob o peso da responsabilidade. Nos mezes que substituiu a Madre Vicência na formação das Noviças, ainda mais cresceram os escrúpulos pela preocupação de que o futuro da Congregação pesava sobre suas costas. „Já não era pouco, dizia, o que ia descontando pelos seus pecados; não se queria carregar das tonturas e dissipações das Noviças!!!...‟

E as trazia todas de canto chorado e numa roda viva. Não era mais o fio de seda que as levava, macio mas resistente, tão recomendado pelo nosso Padre Fundador e tão bem pela Madre Vicência praticado. Era trabalho sobre trabalho, rezas que não tinham fim, repreensões à ordem do dia, penitência, etc.

A virtude ainda verde das Noviças, abalou-se caiu como caem das árvores as frutas não sazonadas quando sacudidas pelos vendavais.

O Noviciado perdeu a feição de alegria, a expansão das almas satisfeitas. „E com a alegria tudo o mais se foi: algumas já falavam abertamente em voltarem para suas casas.‟57

O enxerto permite pensar que Dorotéia, ao atribuir o título de “violeta” para madre Matilde, quis esconder o aspecto espinheiro de sua personalidade que a fez “levar sempre uma vida de contrariedades, seja em família, seja nas comunidades religiosas onde viveu”.58 Após sua morte, em 1917, Matilde seria chamada de “anjo tutelar e verdadeira raiz de sua congregação” pelo jesuíta Rossi, diretor espiritual e tido como padre fundador do instituto na época. No entanto, a imagem de mulher enérgica ficaria mais saliente na memória institucional e certamente acabaria afetando a construção de um conceito de intercessora celestial e distribuidora de graças e favores, quem sabe futura beata e santa da Igreja. De fato, até o momento não há registro ou conhecimento de alguma graça alcançada pela intercessão dela59 e sem esse comprovante não é possível abrir um processo de beatificação junto à Santa Sé.

Leonardi, fundamentada em Langlois, aponta elementos que podem explicar as razões destes processos de produção literária e construção de imagens desde as origens de uma congregação.

Tanto a data de fundação como a escolha de um fundador ou fundadora passam por várias negociações e até mesmo modificações ao longo dos anos, em função de uma releitura constante das congregações a respeito de suas origens e do uso da memória como manutenção e reconstrução da própria instituição. Ao comparar as notícias do século XIX com as atuais, Langlois encontrou ao menos vinte casos em que os fundadores não são mais os mesmos. Esse autor explica que as congregações femininas, ao alcançarem certa maturidade, lançavam-se a uma reapropriação de suas origens, operando uma desclericalização e colocando as fundadoras em primeiro plano. Ele observa também que o sucesso das congregações estava, em parte, ligado à possibilidade de seus membros se identificarem com uma figura única. A existência de uma fundadora sozinha era, sobretudo, um elemento favorável na constituição da comunidade (grifo nosso).60

É o que vemos no caso da congregação da Imaculada Conceição: a única santa e legítima fundadora é Amabile (madre Paulina). Todavia, os processos históricos de criação da

57 M. DOROTÉIA, op. cit., p. 221.

58 CONGREGAÇÃO, Esboço histórico, p.68. 59

Apuramos essa informação numa entrevista com irmã Sofia, realizada em 05/08/2010, na Casa Geral das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.

“obra da Imaculada” evidenciam um trabalho coletivo, feito por muitas mãos, embora as protagonistas sejam duas mulheres. Tais elementos ficam mais patentes quando se analisa a fundação do casebre/hospital de Vígolo, o “Hospitalzinho de São Virgílio”.