• Nenhum resultado encontrado

2. MARCO TEÓRICO

2.3 Elementos Vinculados à Confiança nas Redes Interorganizacionais

2.3.2 Instituições de Suporte

As instituições de suporte (IDS) abrangem as organizações orientadas para agir em um dado território que fornecem às firmas locais uma coleção de serviços de apoio, afora a sua atuação enquanto repositórios de conhecimento e oportunidades que envolvem capacidades competitivas (Molina-Morales & Martínez-Fernández, 2010). Nos aglomerados territoriais, as IDS se traduzem em universidades, centros de pesquisa e/ou organizações governamentais (Hoffmann et al., 2007) e se estendem a associações empresariais e fontes financiadoras públicas ou privadas (Hoffmann et al., 2008). No Brasil, observa-se a atuação de instituições públicas e privadas com o mote de prover informações e assistência técnica para as PME, como o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e as universidades (Costa, 2009).

As IDS podem ser consideradas elementos essenciais para gerar competitividade na rede, devido a uma série de benefícios que elas geram às empresas participantes, como a intermediação dos relacionamentos, a manutenção da própria rede (Hoffmann et al., 2007), e a internalização dos conhecimentos exteriores a ela (Castro et al., 2011). Outrossim, reconhece- se o potencial das instituições de suporte para encetar a cooperação entre empresas, em especial, na realidade das micro, pequenas e médias empresas (Baggio & Cooper, 2010).

65

Selin e Beason (1991) sublinharam que contar com um mediador para iniciar diálogos e sustentar a cooperação eficaz se faz necessário para compatibilizar interesses heterogêneos presentes em uma região geográfica. Assim, o processo de cooperação pode ter na atuação das IDS o seu ponto de partida, dado que elas trazem consigo o ensejo de facilitar a comunicação interempresarial e o acesso à informação privilegiada (Hoffmann et al., 2007). Em pesquisa nos destinos turísticos do litoral norte de Santa Catarina, Hoffmann e Campos (2013) identificaram que as IDS locais têm um papel-chave na própria sobrevivência das empresas ao fornecerem, a título de exemplificação, assessorias técnicas. Na prática, as IDS assumem posturas de intermediadoras dos relacionamentos entre os agentes econômicos da rede e buscam a sua aproximação, a fim de que debatam a atuação conjunta e negociem parcerias. Em consequência, os empresários passam a enxergar a relevância dessas instituições, em virtude das suas contribuições ao desenvolvimento da cooperação local.

Brusco (1993) destacou o papel das organizações públicas no apoio à produção e à difusão de informação, em vez de suporte financeiro, para que as empresas aglomeradas introduzam inovações continuamente, potencializem a mobilidade social e contribuam com o crescimento da economia local. Grandori e Soda (1995) corroboraram esta assertiva, ao frisarem que as redes de empresas podem necessitar do intermédio do poder público para sua concretização, isto porque, consoante Beritelli (2011), os indivíduos desenvolvem e instalam acordos de cooperação, mas as instituições públicas é que criam normas e leis para direcionar as relações.

Em termos empíricos, Asheim e Isaksen (2002) constataram que o sucesso da cooperação horizontal interfirmas, na região de Jæren na Noruega, foi atribuído à atuação de uma organização de suporte tecnológico comum entre elas, chamada TESA, a qual facilitava os processos de aprendizagem coletiva, mesmo sem o envolvimento de institutos de P&D. No Brasil, por outro lado, a ausência de apoio governamental, que poderia ser associada à intermediação por uma IDS, foi o principal obstáculo às parcerias empresariais na rede hoteleira brasiliense (Miranda Júnior et al., 2016). Inserida nesta lógica, Carrão (2004) defendeu que o suporte de instituições governamentais é indispensável à sobrevivência das redes de cooperação.

Este raciocínio é demonstrado também por Baggio e Cooper (2010), ao ilustrarem que para a difusão de conhecimento no turismo é fundamental um grau de coesão entre os atores locais de um destino, os quais devem dispor da intervenção do setor público para estabelecer redes de cooperação. O estudo de Weiermair, Peters e Frehse (2008), realizado em pequenas

66

destinações dos Alpes Europeus, confirmou que as contribuições conjuntas entre os governos locais e o setor privado permitiram a aprendizagem coletiva que gera produtos e serviços inovadores, e responde pelo bom desempenho dessas regiões. Como adendo, Baggio e Cooper (2010) realçaram a importância da intervenção do setor público no estabelecimento de redes, considerando o predomínio de PME e seus desafios para se tornarem competitivas.

Os resultados das investigações acima reforçam que, de algum modo, as IDS apresentam papel-chave não apenas na facilitação da comunicação e do acesso à informação privilegiada (Hoffmann et al., 2007), mas, acima de tudo, no encorajamento da cooperação interfirmas em uma aglomeração territorial, a fim de que elas obtenham maior força competitiva (Baggio & Cooper, 2010). Note-se que as ações cooperativas, em geral, podem surgir de intervenções exógenas, a exemplo das contribuições de IDS, mormente tendo o poder público como indutor do processo (Pereira & Lopes, 2010), embora algumas advenham de processos endógenos (Teixeira, 2005), ou seja, de iniciativas isoladas das próprias empresas.

Posto isto, a atuação de uma organização vinculada ao interesse coletivo, na coordenação do cumprimento de normas, cria possibilidades reais de cooperação, mesmo em ambientes desprovidos de confiança (Axelrod, 1984). Neste caso, o apoio técnico/financeiro das IDS, junto às empresas, gera ensejos de cooperação empresarial e propicia condições adequadas para que elas decidam e consigam agir conjuntamente, mesmo com alguém que não confiem. Esta noção de que as instituições de suporte agem junto às empresas para que elas cooperem entre si, gera a hipótese H3a (Figura 4).

H3a: Instituições de suporte se correlacionam positivamente à cooperação entre as empresas.

Figura 4 – Modelo Teórico – Hipótese 3a

Fonte: Elaboração própria baseada nos autores indicados.

Como extensão do raciocínio acima, em seu estudo no Sul da Itália e no Nordeste do Brasil, Locke (2001) identificou que a cooperação técnico-financeira de instituições governamentais junto aos agentes econômicos locais possibilitou a construção de confiança, justamente porque as IDS encorajaram a ampla participação das empresas e sua aproximação para que diálogos e acordos fossem gerados em prol da competitividade local. Logo,

67

experiências de sucesso que emergiram da intermediação das IDS favoreceram que as empresas confiassem umas nas outras.

Sob outro enfoque interpretativo, faz-se analogia à exposição de Putnam (2005), para o qual há laços de confiança que podem ser indiretos, ou seja, a confiança que um indivíduo A tem em um indivíduo B propicia que A confie em C, caso B confie em C. Este é o caso em que o autor argumenta sobre uma confiança emprestada, porquanto a cadeia de relações sociais de um ator possibilita a transmissão e a disseminação da confiança.

A transposição deste raciocínio para a discussão sobre as IDS e a confiança interorganizacional é compreendida na medida em que a credibilidade ou confiança atribuída, pelo empresariado, a essas instituições possa ser repassada à relação entre as empresas, conduzindo a uma crença geral no sucesso da parceria. Neste caso, os empresários confiariam não diretamente no futuro parceiro, mas na IDS que intermedeia o relacionamento. Assim, a atuação dessas instituições se vinculando à confiança no fomento à cooperação, a fim de mitigar o oportunismo interno, representa um papel de intermediação e de lastro, ao inserir algum nível de confiança entre as partes. Com fundamento nesta perspectiva, elabora-se a hipótese H3b que segue (Figura 5).

H3b: Instituições de suporte se correlacionam positivamente à confiança entre as empresas.

Figura 5 – Modelo Teórico – Hipótese 3b

Fonte: Elaboração própria baseada nos autores indicados.

Resumidamente, a ideia de que as IDS podem agir como substitutas à confiança ou fomentar a construção de confiança, ao interferir junto aos empresários para estimular a formação de parcerias gerou as hipóteses: H3a: Instituições de suporte se correlacionam positivamente à cooperação entre as empresas; H3b: Instituições de suporte se correlacionam positivamente à confiança entre as empresas. Desse modo, parte-se para tratar do terceiro elemento vinculado à confiança, a reciprocidade.

68