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2. MARCO TEÓRICO

2.3 Elementos Vinculados à Confiança nas Redes Interorganizacionais

2.3.1 Mecanismos Formais

De antemão, esclarece-se que os contratos (Blomqvist, 1997; Ring & Van de Ven, 1992) serão os mecanismos formais considerados no presente estudo, apesar de que as leis também possam influenciar relacionamentos interorganizacionais (Lane, 1998), a exemplo do identificado na pesquisa de Silva et al. (2012), nos circuitos turísticos de Minas Gerais, em que uma lei estimulou órgãos municipais de diferentes localidades a entrarem em regime de cooperação para que pudessem participar da Política Estadual de Turismo. Ou ainda, na pesquisa de Costa et al. (2012), realizada no município de Barreirinhas (MA), a cooperação

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interempresarial foi imposta por uma lei municipal que se voltava à organização da visitação local.

Assim sendo, os contratos abarcam os acordos por escrito, juridicamente válidos, cujo mote é o de coordenar e controlar as ações, visando a colaboração entre as partes em um arranjo colaborativo (Lanz & Tomei, 2015). Os mecanismos contratuais focam no controle, quando buscam a explicitação de como as empresas devem agir, a fim de mitigar o risco de oportunismo; e visam a coordenação de comportamentos, quando asseguram que cada parte envolvida compartilhe do mesmo entendimento acerca dos direitos e deveres na relação (Lumineau & Malhotra, 2011). Estas, inclusive, configuram algumas das vantagens atribuídas ao uso dos contratos, visto que eles especificam aos parceiros regras e expectativas que se tornam um ponto de referência dos acordos, afora a determinação de penalidades para os oportunistas (Czernek et al., 2017).

Em defesa da confiança, Foss e Koch (1996) ponderaram que nos relacionamentos governados por ela, desenvolve-se, gradualmente, uma proteção contra os riscos contratuais. Dyer e Singh (1998) ratificaram que garantias informais como a confiança são meios mais baratas e eficazes de garantir investimentos específicos e facilitar trocas complexas entre as empresas. Lanz e Tomei (2015) contribuíram, nessa perspectiva, alegando que a confiança compreende um laço social que, ao se estabelecer, torna os controles formais e burocráticos menos relevantes.

Os problemas principais que pesam contra o uso dos contratos é o de que eles são custosos e lentos na sua elaboração (Blomqvist, 1997), assim como, inevitavelmente, incompletos (Lumineau & Malhotra, 2011) e passíveis de erros em virtude da dificuldade em delinear todas as contingências possíveis que surgem no longo prazo (Williamson, 1985). Este cenário evidencia a preocupação com os altos custos de transação dos reforços contratuais, o que reitera a noção de que nas relações de cooperação, a presença da confiança seria uma condição mais adequada (Ring & Van de Ven, 1992). Lanz e Tomei (2015) adicionaram a percepção de que os relacionamentos regidos pela confiança demandariam contratos incompletos, suficientes para o funcionamento da relação de troca.

Em um posicionamento oposto, os mecanismos formais, de maneira geral, justificariam sua importância por proporcionarem a percepção de proteção aos transacionistas diante dos riscos peculiares de uma relação entre os agentes econômicos (Foss & Koch, 1996), em especial, quando eles não possuem, em comum, sentimentos de confiança, valores

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similares, entre outros (Axelrod, 1984). Assim, principalmente nos contextos em que a confiança não se faz presente ou não é suficiente para gerar as alianças estratégicas, alguma proteção contra posturas oportunistas deve existir (Neumann et al., 2011).

Como adendo, diz-se que quando as relações de troca ocorrem com base em ativos altamente específicos, a interdependência entre os atores é incrementada (Williamson, 1979), o que leva ao receio de permutar os parceiros e exige a utilização de contratos para reger essas trocas (Mayer et al., 1995; Williamson, 1985, 1991). Não ao acaso, os contratos são reconhecidos, há muito, como os substitutos tradicionais da confiança (Dyer & Singh, 1998; Gulati, 1995), conforme observado na abordagem do arraigo social de Granovetter (1985). Em geral, percebe-se confiança e contratos como substitutos quando o uso de um reduz a necessidade do outro (Czernek et al., 2017).

Diante de obstáculos à confiança (Sydow, 1998), os mecanismos formais – como os contratos – tornam-se ferramentas de proteção aos comportamentos oportunistas, reduzem as percepções de risco e incentivam a cooperação. Mesmo que se discorra a respeito da confiança como um elemento fundamental para reger relacionamentos interorganizacionais, tem-se que o crescimento quantitativo e a diversidade de participantes envolvidos em uma aliança podem reduzir a presença de confiança e, por conseguinte, acordos formais emerjam para suplantar os entendimentos informais (Powell, 1990). Esta percepção de que mecanismos formais possam se correlacionar positivamente à formação de arranjos colaborativos, conduz à hipótese H2a (Figura 2).

H2a: Mecanismos formais se correlacionam positivamente à cooperação entre as empresas.

Figura 2 – Modelo Teórico – Hipótese 2a

Fonte: Elaboração própria baseada nos autores indicados.

Além dos impactos dos mecanismos formais sobre a cooperação, pensa-se na perspectiva de que eles possam, do mesmo modo, correlacionar-se positivamente à confiança (Mellewigt et al., 2007; Poppo & Zenger, 2002). Em outras palavras, reconhece-se nos contratos uma base para a construção da confiança (Lanz & Tomei, 2015). Esta assunção é destacada nos estudos de Czernek et al. (2017), Mellewigt et al. (2007), e Woolthuis,

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Hillebrand e Nooteboom (2005) para os quais os contratos podem desempenhar papel não apenas de substitutos, como também de complementos à confiança para fomentar a cooperação. Em sua investigação no setor turístico polonês, Czernek et al. (2017) identificaram que acordos por escritos não são resultados exclusivos da falta de confiança, podendo se originar, igualmente, das exigências de instituições públicas, bem como de requisitos operacionais e financeiros – prestação de contas, por exemplo – das organizações parceiras, mormente quando se trata de empreendimentos de maior porte.

Ao estabelecer orientações para coordenar comportamentos na aliança estratégica, os mecanismos contratuais têm potencial para gerar confiança entre os indivíduos, haja vista que os contratos permitem que os parceiros assumam riscos pequenos e calculados como o primeiro passo para a construção da confiança (Mellewigt et al., 2007). Esta complementação é especialmente importante em circunstâncias nas quais a confiança está sujeita a fragilidades como a necessidade de tempo substancial para se desenvolver (Dyer & Singh, 1998), além de abrir possibilidades de abusos por meio do oportunismo (Sydow, 1998), fato que torna os contratos úteis, como também necessários para contrabalancear uma possível quebra de confiança (Lanz & Tomei, 2015).

Algumas investigações empíricas se coadunam ao exposto. Em um primeiro momento, Mayer e Argyres (2004) investigaram a influência de contratos na confiança interorganizacional na indústria de computadores pessoais e identificaram correlações positivas entre eles. Na indústria automobilística, Gulati e Nickerson (2008) concluíram que os contratos serviram de facilitadores para a confiança ao encorajarem a cooperação entre as empresas. Lumineau (2014) afirmou haver evidências de que os contratos podem facilitar a confiança ao encorajarem um princípio de cooperação.

Agrega-se a estas discussões, a compreensão de Lanz e Tomei (2015), segunda a qual tanto os contratos como a confiança apresentam limitações que os tornam arriscados ou ineficientes para serem utilizados com exclusividade. Por esse motivo, admitem a combinação de ambos e entendem que os contratos, com o passar do tempo, podem embasar a construção da confiança. A partir desses argumentos, estrutura-se a hipótese H2b (Figura 3).

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H2b: Mecanismos formais se correlacionam positivamente à confiança entre as empresas.

Figura 3 – Modelo Teórico – Hipótese 2b

Fonte: Elaboração própria baseada nos autores indicados.

Em suma, as possíveis relações de substituição e/ou de complementaridade entre a confiança interorganizacional e os mecanismos formais geram duas hipóteses de pesquisa a serem testadas: H2a: Mecanismos formais se correlacionam positivamente à cooperação entre as empresas; H2b: Mecanismos formais se correlacionam positivamente à confiança entre as empresas. A partir dessas, parte-se para o debate que envolve as organizações de suporte empresarial e a estruturação das hipóteses que envolvem a sua ligação com a confiança e com a cooperação.