• Nenhum resultado encontrado

CAMPESINA NA AMÉRICA DO SUL

3.3 Escolas e Institutos de formação política profissional em agroecologia:

3.3.4 Instituto de Agroecologia Latino-americano – IALA Amazônico

A definição política de construir o IALA Amazônico ocorreu entre 2008 e 2009, mas sua implementação ocorreu somente no ano de 2010 com o começo da primeira turma de um curso de especialização em agroecologia amazônica.

O IALA Amazônico está localizado no assentamento Palmares II, no município de Paraupebas, região sudeste do Pará. O lançamento da pedra fundamental da construção do IALA Amazônico, segundo o blog da via campesina em 12 de janeiro de 2009, ocorreria durante o Fórum Social de Carajás que ocorreu entre 24 a 27 de janeiro de 2009, com a participação de cerca de 120 pessoas de vários “cantos do mundo”, como por exemplo, a participação de Aleida Guevara (Cuba), Monica Baltodano (Nicarágua), José Bové (França)80. A peculiaridade deste é a especificidade do bioma amazônico, que perpassa diferentes países como Brasil, Peru, Venezuela, Colômbia - na construção de um território amazônico. O primeiro curso do IALA tem o caráter de ser pós- graduação, lato sensu (especialização) em agroecologia. Uma parceria inicial com a Universidade Federal do Pará, campus de Marabá, mas com possibilidade de envolver outras instituições como, por exemplo, os Institutos Federais.

A primeira turma encerrou em 2012. Ela havia sido pensada para 50 participantes de todos os países com bioma amazônico. Entretanto, a turma foi composta com 28 participantes, a maioria de organizações sociais brasileiras (do Pará, Maranhão, Rondônia, Mato Grosso e Tocantins), com um representante de Colômbia (participando somente de uma etapa) e uma representante do Equador (da região costeira).

Na formatura da primeira turma foi realizado um amplo seminário envolvendo a Via Campesina do Brasil, Equador, Colômbia e Venezuela. Teve a participação do vice-diretor da Universidade de Rondônia, Fraçois Houtart, Horácio Martins, coordenações pedagógicas do ELAA, IALA Guarani. O Seminário “Relação Universidade e Movimentos Sociais na construção do pensamento crítico a partir da Pan- Amazônia” ocorreu nos dias 28 de novembro a 01 de dezembro nas estruturas do IALA. Ocorreu um amplo debate entre a visão dos movimentos sociais e a visão das instituições universitárias presentes a respeito do projeto IALA.

Deste seminário, apontou-se a necessidade de realizar uma maior articulação entre as escolas de agroecologia com o objetivo de fortalecer este projeto, através de instrumentos de

80 VIA CAMPESINA. Instituto Latino-americano de agroecologia: a pedra fundamental. In: La Via

Campesina – Pará. 28 de janeiro de 2009. Disponível em: <http://laviacampesina- pa.blogspot.com.br/2009/01/instituto-latino-americano-de.html> Acesso em março de 2013.

comunicação como boletins, cartilhas, blogs, etc. Também foi reafirmada a necessidade de aprofundar a realização de trabalhos de interação sócio-comunitaria nos espaços onde são realizados os cursos através de atividades produtivas e de formação política.

Apontou-se também que o projeto IALA vai além de um processo de escolarização. Ele deve ser um espaço de experimentação e investigação cientifica, mas também de debate teórico sobre temas amplos e diversos e diferentes concepções a respeito da sociedade em que vivemos (desde as diferentes concepções de agroecologia, como a influencia do pensamento pós-moderno nas organizações sociais) e como isto se articula com o posicionamento da Via Campesina. Deve ser também um espaço de ampliação que potencialize a articulação de uma rede de educadores que compartam com o campo teórico da agroecologia.

Segundo reportagem da página do MST, de dezembro de 201281, sobre a formatura da primeira turma do curso de “Especialização em Residência Agrária – Educação do Campo, Agroecologia e Questão Agrária na Amazônia”, o mesmo realizou-se no Instituto de Agroecologia Latino-americano (IALA) Amazônico.

Na reportagem, sob uma entrevista com um professor da UFPA, Fernando Michelloti, a proposta pedagógica do curso se tornou referencia para outros projetos. Segue um trecho de seu depoimento:

[...] O curso deu uma materialidade para o IALA Amazônico, hoje a gente tem um espaço e uma proposta pedagógica de referência. O grande desafio é ajustar o rumo e continuar com outros cursos e ações, para a ampliação de espaços de convergências de experiências agroecológicas e lutas políticas, que vão unificando os processos, reafirmando particularidades nas diferenças e construindo um projeto camponês para a Amazônia, comenta Michelloti. (MST, 2012, não paginado). Para Ayala Ferreira da coordenação político–pedagógica do IALA “o desafio da Via Campesina, no processo de formação é construir um projeto estratégico em comum de superação do sistema capitalista de produção, conectando as experiências das organizações, universidade e dos sujeitos inseridos na resistência”.

Numa reportagem de Solange Engelmman de novembro de 2012, publicada na página do MST82, a posição de Fronçois Houtart é de que o sistema capitalista caminha para uma grave crise climática, econômica, política e alimentaria, pelo fato de que este modelo de

81 MST. Via Campesina forma primeira turma de Residência Agrária no Pará. In: ____. . 4 de dezembro de 2012. Disponível em: <http://www.mst.org.br/node/14162>. Acesso em janeiro de 2013.

82 ENGELMANN, Solange. MST. Iala realiza debate sobre crise climática e disputas territoriais na Amazônia. In: MST. 30 de novembro de 2012. Disponível em: <http://www.mst.org.br/Iala-realiza-debate-sobre-crise- climatica-e-disputas-territoriais-na-Amazonia>. Acesso em janeiro de 2013.

desenvolvimento se fundamenta na “exploração desordenada da natureza”. Nas palavras de Houtart:

Tendo noção de que a ganância do capital atrapalha até mesmo a ampliação dos seus lucros, as grandes empresas capitalistas que mais contaminam a natureza buscam formas de dominar as reuniões internacionais das Nações Unidas para garantir que as resoluções estejam sempre a serviço do mercado e da continuidade da exploração do meio ambiente como mercadoria. (HOUTART apud ENGELMANN, 2012, não paginado)

A reportagem continua considerando a necessidade de construir uma alternativa ao modelo capitalista, pois a “existência de comunidades camponesas, indígenas e dos trabalhadores de forma geral” exige uma alternativa a este sistema.

Para François, a partir desse tipo de crise a única possibilidade é construir uma alternativa para romper com o capitalismo, tendo como saída a luta de convergência dos movimentos sociais contra os problemas climáticos. “A luta campesina e indígena se apresenta como fundamental nesse cenário. Mas, precisamos construir um paradigma anticapitalista, a partir de uma luta de classes plural e convergente com vários setores, com os movimentos sociais camponeses e operários”, explica. [...] No entanto, a existência das comunidades camponesas, indígenas e dos trabalhadores, de forma geral, depende da construção de uma alternativa ao sistema capitalista, pois dentro da lógica atual, há uma forte tendência para a extinção desses grupos sociais. (ENGELMANN, 2012, não paginado).

O seminário fez parte de uma proposta de fortalecer as alianças entre movimentos sociais e intelectuais. Segundo Ayala Lindabeth, coordenadora politica-pedagógica do IALA Amazônico a atividade teve a intenção de “fortalecer as alianças entre os movimentos sociais e intelectuais que a fazem as disputas territoriais, as formas de resistência e as experiências agroecológicas da Amazônia e construir um projeto hegemônico e emancipatório dos camponeses”.

A posição da UFPA a respeito de uma experiência de permacultura83 no Curso de Educação do Campo, Agroecologia e questão agrária na Amazônia em parceria com o IALA Amazônico:

[...] prevê o planejamento e a implantação e manutenção dos agrossistemas produtivos com base em princípios gerais, tais como: o cuidado cm o planeta Terra, o cuidado com as pessoas, a distribuição, a circulação de excedentes e a imposição de limites ao consumismo exarcebados. Tais princípios permaculturais estão

83 UFPA/Marabá. Educação do Campo, Permacultura e Agroecologia. In: Fórum Regional de Educação do

Campo do Sul e Sudeste do Pará – FREC. 15 de maio de 2012. Disponivel em:

<http://www.frecsupa.net.br/2012/05/educacao-do-campo-permacultura-e.html>. Acesso em 10 de março de 2013.

intimamente relacionados aos prinícpios da Agroecologia e da Educação do Campo, pois para podermos realizar o exercício e a pratica de planear, implantar e manter agroecossitemas produtivos não há como dissocia-los do conhecimento do local e dos sujeitos que ali habita. Para isso, faz-se necessário a realização da pesquisa. Assim reafirmamos a pesquisa como princípio educativo, na medida em que enfrentamos a realidade a partir da sua investigação considerando o envolvimento dos sujeitos e valorizando os recursos locais (UFPA, 2012, não paginado)

A segunda turma está prevista para dar inicio em 2013 a princípio no segundo semestre.

3.3.5 Universidade Campesina “SURI” – UNICAM-SURI (Sistemas Universitários