• Nenhum resultado encontrado

CAMPESINA NA AMÉRICA DO SUL

3.3 Escolas e Institutos de formação política profissional em agroecologia:

3.3.3 Instituto de Agroecologia Latino-americano – IALA Guaraní (Paraguai)

A partir das experiências da criação das escolas de agroecologia mencionadas acima, a Via Campesina reafirma a necessidade de construir mais escolas/institutos. Uma delas no Paraguai, denominado IALA Guarani.

O IALA Guaraní então começou a ser criado no final de 2008, com o objetivo de desenvolver o curso de Engenharia em Agroecologia para camponeses, indígenas e afrodescendentes vinculados aos movimentos sociais ligados a CLOC-Via Campesina. Assim

como na experiência realizada na Venezuela, tem como objetivos formar sujeitos com condições de analisar a realidade e fazer proposições de transformação da realidade social e produtiva, ter condições técnico-cientificas e metodológicas de discutir e programar a agroecologia nas áreas e comunidades do campo.

O curso, com duração de 5 anos foi organizado para ser realizado em 10 módulos presenciais diretos: 2 períodos de 4 meses anuais chamados de tempo escola e dois meses de tempo comunidade realizado nas comunidades campesinas e indígenas de Paraguai. O método pedagógico do IALA Guarani tem em vista o desenvolvimento da consciência crítica, combinando dimensões de formação humana, da formação política, escolarização e formação técnica.

A criação do curso teve a recomendação e o aval do Ministério de Agricultura e Gado do Paraguai, sendo que a definição de sua localização foi no Assentamento Santa Catalina em Curuguaty, Departamento de Canindeyú. Uma área de 11 hectares com possibilidade de aumento para 100 hectares, localizado a 50 km de onde houve o último massacre de campesinos no Paraguai. Uma região de muitos conflitos agrários e disputas territoriais na qual estão localizados muitos assentamentos da OLT e da MCP, assim como com várias comunidades indígenas ao redor.

A primeira turma do IALA Guarani começa no ano de 2010 e contou inicialmente com a participação de 83 militantes, dos quais 9 internacionalistas e 68 militantes de organizações campesinas de Paraguai. Hoje conta-se com a presença de 72 educandos dos quais 9 são internacionalistas: 1 Chile, 1 de Equador, 3 de Bolívia, 4 de Brasil. As organizações da Via Campesina presentes no Instituto são:

a. Paraguai: MCP, MCNOC, OLT, CONAMURI, MAP, CPA/SPN, ACM, OCRC, SERPAJ/OCN

b. Brasil: MST - BR, MAB.

c. Chile: RANQUIL,

d. Equador: FENOCIN,

e. Bolivia: MST-BO

O IALA Guarani ainda não está devidamente regulamentado. O procedimento é construir inicialmente o curso de Engenharia em Agroecologia e depois criar o Instituto. A princípio há um convênio com a Universidade Nacional de Pilar para realizar a criação do curso. O projeto está tramitando nas instâncias internas da Universidade.

O caráter internacionalista também está presente desde o início, mesmo que com poucos educandos de outros países no Instituto.

A grade curricular do curso está organizada da seguinte forma:

a. I Semestre: agricultura geral, história geral, agricultura campesina, matemática I, química geral, genética, biologia;

b. II semestre: agroecologia I, matemática II, química agrícola, física geral, botânica geral, produção de texto e leitura, ecologia geral;

c. III Semestre: agroecologia II, botânica aplicada, bioquímica, informática básica, física II, metodologia da investigação I, estatística;

d. IV Semestre: riego e drenagens, química agrícola II, economia política, microbiologia, edafologia, fisiologia vegetal, metodologia da investigação II;

e. V semestre: sociologia geral, zootecnia I, sistemas agroflorestais, climatologia, topografia, história de Paraguai, produção animal integrada;

f. VI semestre: antropologia social I, fitopatologia I, fitotecnia, entomologia, tecnologia do uso e conservação do solo, epistemologia, movimentos campesinos latino- americanos;

g. VII Semestre: engenharia rural, manejo e desenho de agroecosistemas I, agroecologia III, filosofia, produção animal ecológico, administração e planejamento, estagio; h. VIII semestre: entomologia II, cooperação e cooperativismo, agroindústria e gestão

agroindustrial, construções rurais, agrometeorologia, antropologia social II, estágio II; i. IX semestre: nutrição animal alternativa e plantas forrageiras, zootécnica, direito

agrário, sociologia rural, pensamento político latino-americano e caribenho, estágio III, bancas de qualificação de monografia;

j. X Semestre: manejo e desenho de agrossistemas II, fitopatologia II, energias renováveis, geografia e território, pensamento político latino-americano e caribenho, defesa de trabalho de conclusão do curso.

O curso tem também uma estrutura organizativa muito similar às das escolas já mencionadas, através dos núcleos de base, que tem o papel possibilitar o estudo, a reflexão e a análise e participação política na construção do Instituto. Também com a constituição de coordenação de núcleos e equipes de trabalho.

O trabalho produtivo, organizado de acordo com as necessidades do curso, tem a função de garantir a produção de alimentos visando a autonomia do Instituto. O momento de estudo está dimensionado a partir de aulas, estudo dirigido, e formação político.

Em 30 de agosto de 2012 a Via Campesina Paraguai divulga uma nota de aclaração diante de uma campanha da ABC Color, jornal de Paraguai, contra o IALA Guarani através do jornalista Jorge Torres Romero75, por ocasião do Massacre de Curuguaty em junho de 2012. Neste massacre foram mortos 17 camponeses do acampamento Marina Cué, na resistência de uma reintegração de posse de terra de caráter violento. Uma área de 2000 hectares de propriedade do empresário ex-senador do Partido Colorado Blas N. Riquelme. As denúncias destes camponeses eram de apoderamento ilegal destas terras durante o período da ditadura, uma grilagem comprovada pela Comissão da verdade sobre a ditadura Strossner. Riquelme faleceu dois meses depois do massacre por uma complicação cerebrovascular e enterrado baixo homenagens realizadas pelo próprio congresso que destituiu o presidente Lugo.

A reportagem da ABC Color, intitulada “Instituto que ligó dinero de Itaipú es campo

de entrenamiento ideológico” acusa o Instituto de desenvolver supostamente a Curso de Engenharia Agroecologica com estudantes de identidades falsas (inclusive de falecidos).

Segue abaixo alguns trechos de sua reportagem:

Según su nómina de estudiantes figuran venezolanos, ecuatorianos, bolivianos, brasileños y paraguayos. A juzgar por la lista hay alumnos de apenas 12 años y hasta nombres de personas con cédulas falsas e incluso dos fallecidos. […] Conforme a los antecedentes de este instituto, el mismo se creó inicialmente en Venezuela, donde lleva por denominación “Paulo Freire”, en homenaje al teórico brasileño fundador de la Pedagogía del Oprimido. Desde su creación, el instituto ha capacitado a cientos de líderes sociales de toda Latinoamérica. […] El otro dato particular de este instituto es que para acceder a la carrera de ingeniería, según sus estatutos, el alumno necesariamente debe “tener vínculos organizativos y compromiso con los movimientos sociales que forman parte de la Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC, organización solidaria con la Revolución Bolivariana de Venezuela), cuya sede está en el país caribeño. (ROMERO, 2012, não paginado).

Em declaração76 publicada em 30 de agosto de 2012, a Via Campesina Paraguai aponta como ensaio absurdo de vinculação do IALA ao acontecimento do Massacre de Curuguaty sob um aspecto negativo. Reafirmando que o Instituto tem o compromisso e m formar profissionais comprometidos com a “defesa dos bens naturais, a soberania alimentar, e a agricultura livre de agrotóxicos”. Afirma que:

75 ROMERO, Jorge Torres. Instituto que ligo dinero de Itaipú es campo de enternamiento ideológico. In: ABC

Color. 28 de agosto de 2012. Disponível em: <http://www.abc.com.py/edicion-impresa/politica/instituto- que-ligo-dinero-de-itaipu-es-campo-de-entrenamiento-ideologico-443690.html>. Acesso em: março de 2013. 76 VIA CAMPESINA. Paraguay: Sobre ABC Color y su campaña sucia contra el IALA Guaraní. In: Aporrea.

03.08.2012. Disponível em: <http://www.aporrea.org/internacionales/a149359.html>. Acesso em março de 2013.

Por el respeto que merecen los educandos y las educandas, debemos aclarar enfáticamente que no corresponde a la verdad la arbitraria afirmación de que en la nómica de estudiantes existan menores de edad o personas cuyo números de documentos correspondan a fallecidos. Son especulaciones vagas de una persona que no se ha tomado la mínima molestia de practicar un ejercicio mental de inferencia y cuyos conocimientos sobre su objeto de investigación son, por demás, extremadamente limitados, al punto de especular, conjeturar y hacer deducciones groseras que atentan contra el buen nombre de las personas. Entendemos que este medio de prensa, vocero del ala más conservadora de nuestra sociedad y representante de la oligarquía reaccionaria, promueve la persecución política contra las personas y grupos que optan por un pensamiento diferente. No es la primera vez que ataca el proyecto del IALA Guaraní ni lo etiqueta bajo la acusación de fomentar “adiestramiento de guerrilla”, injuria que en su momento nos hemos encargado de desmentir sin la necesidad de recurrir a estrados judiciales. (VIA CAMPESINA In APORREA, 2012, não paginado).

Ademais destes elementos a declaração esclarece outros elementos acerca da criação do IALA, seu origem, apontando que o Guarani faz parte de uma rede de IALAS com o objetivo de formar técnicos de nível superior que tenham condições de organizar bancos de sementes, desenvolver novas tecnologias produtivas que respeitem o meio ambiente. Abaixo segue um trecho desta declaração:

Algunos objetivos de la Red IALA son: formar técnicos de nivel superior que tengan la capacidad de organizar bancos de semillas en sus comunidades; desarrollar y aplicar nuevas tecnologías agrícolas que respeten el medio ambiente sin uso de agrotóxicos ni abonos químicos solubles; organizar y orientar a los campesinos y campesinas para ser multiplicadores de semillas en sus regiones; desarrollar la organización de la producción, de la cooperación y acciones de preservación y conservación ambiental en las diversas organizaciones campesinas de América Latina, en el marco de la agroecología, entre otros. (VIA CAMPESINA In APORREA, 2012, não paginado).

Em outra reportagem do mesmo periodista intitulada “Agitador bolivariano creó

nexos com organizaciones campesinas del norte”77, Jorge Torres acusa o embaixador da Venezuela de estar varias vezes no país para “sondear” legisladores com o objetivo de lograr o ingresso de seu país no Mercosul e também de colaborar com a consolidação de organização campesina liderada por jovens paraguaios que estudam no país caribenho, estudantes do IALA Paulo Freire.

Em notas através de meios de comunicação alternativas, representantes do governo bolivariano, e os próprios educandos divulgaram as confusões e desinformações realizadas pelo periodista. Sempre reafirmando que o projeto IALA é uma luta dos/das campesinos, indígenas e afrodescendentes articulados na Via Campesina Internacional que em parceria

77 ROMERO, Jorge Torres. Agitador bolivariano creó nexos com organziaciones campesinas del norte. In:

ABC Color. 07.07.2012, Disponível em: <http://www.abc.com.py/edicion-impresa/politica/agitador- bolivariano-creo-nexos-con-organizaciones-campesinas-del-norte-423366.html>. Acesso em 02.03.2013

com instituições e governos progressistas, possibilitam o estudo, a capacitação, a escolarização para um publico sempre renegado a estes direitos básicos da vida humana.

Segundo a reportagem num site de debate alternativo78 no Paraguai a pobreza rural é quase a metade do país e somente 2,5% da população têm 80% das terras concentradas para exploração de grandes corporações multinacionais. A resistência destas organizações sociais campesinas e indígenas se dá pelo confronto ao modelo do agronegócio e pela defesa da reforma agrária. Abaixo se cita alguns trechos da matéria jornalística:

La Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC) y La Vía Campesina han creado la red de Institutos Agroecológicos Latinoamericanos (IALA) en América Latina como alternativa productiva sostenible para la agricultura familiar campesina. Luchando por una vida digna en el campo de una manera integral y por la Soberania Alimentaria de los Pueblos. El espíritu del IALA es concebir la Educación como un espacio de autoeducación, en el cual se reflexione críticamente a partir de las propias experiencias y formas de vida. Como parte de la conformación de la red IALA, conscientes de que mediante la instrucción científica se puede avanzar en el desarrollo político y económico de nuestros pueblos, se está llevando a cabo el proceso de construcción del IALA Guaraní en Paraguay. A pesar de la falta de infraestructura, actualmente estudian en él casi 75 jóvenes integrantes de organizaciones campesinas indígenas de Paraguay, Chile, Bolivia, Ecuador y Brasil. […] Este proyecto refleja las premisas de la Educación Popular y los retos de la reforma agraria, donde la comunicación e interacción entre todas las personas participantes es vital para conseguir la libertad humana, donde prima la democracia en la escuela focalizada en el alumnado a través de una pedagogía práctica, donde existe una interrelación entre docente y discente, que aprenden y enseñan mutuamente, donde la filosofía educativa pretenda ponerse en el lugar de los oprimidos, donde el diálogo sea la base metodológica, y donde es de vital importancia el respeto entre las persona. (ISF, 2013, não paginado)

Em outra reportagem realizada por meios de comunicação alternativos nominada “Nace el IALA Guaraní, una experiencia formativa de la Vía Campesina en la región sudamerica”79 aponta que este instituto, criado em território guarani, tem como espírito “[...] conceber la educación como un espacio de auto-educación, en el cual se reflexione críticamente a partir de las propias experiencias y formas de vidas en contraposición con una educación burguesa y los valores que enseña”.

78 ISF Navarra. Reto 4. Formación en Ingeniería Agroecológica para personas campesinas e indígenas en Paraguay. In: Ingeniería sin Fronteras. 17 de novembro de 2011. Disponível em: <http://www.cumpletureto.org/?p=627>. Acesso em: 03.03.2013

79 INGENIERIA SIN FRONTERA. Nace el IALA Guaraní, uma experiência formativa de la Via Campesina en la región sudamerica. In: _____. [2010]. Disponível em: <http://admin.isf.es/UserFiles/File/federal/iala_viacampesina%282%29.pdf>. Acesso em 01.03.2013