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Capítulo II – MAGISTÉRIO

3. A Instrução Inter Oecumenici

Depois de nos termos debruçado sobre os textos da Constituição SC e LG, olhemos a Instrução Inter Oecumenici (IO) e a Instrução Geral ao Missal Romano (IGMR). Estes dois textos, em conjunto com o Ritual da Dedicação da Igreja e do Altar, constituem o núcleo de um conjunto de leituras teológicas, litúrgicas e pastorais. Estes dois textos dão sobretudo indicações mais práticas e formais, ao mesmo tempo que nos alertam para abusos e desvios sobre o que a SC emanou como objetivo.

A IO é publicada a 26 de setembro de 1964 pela Sagrada Congregação dos Ritos e pelo

Concilium117. Trata-se da primeira instrução para uma correta aplicação da SC. Apresenta uma introdução e cinco capítulos. Na introdução aparece-nos uma clara preocupação sobre o modo da receção do Concílio. Realidade que ainda hoje continuamos a sentir. Por um lado, verifica-se uma tentativa de leitura do Concílio apenas numa perceção do que ele quer dizer – o espírito do Concílio; por outro lado, sentimos a resistência à realidade que o Concílio

116 MOLINERO, Marcelo António Audelino – O espaço celebrativo como ícone da eclesiologia: Para uma

teologia do espaço litúrgico, p. 28-29.

117 IGREJA CATÓLICA, Secretariado Nacional de Liturgia – (44) Instrução «Inter Oecumenici». In

Enquirídio dos documentos da reforma litúrgica (EDREL), Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 1998, p.

apresenta, à vontade e à necessidade de uma simplificação e adequação dos ritos ao nosso tempo para aos fiéis ser dada a graça de aurir frutuosa, ativa e conscientemente dos mistérios que celebram. Assim, podemos ler nos números 1 e 4: “os frutos serão tanto mais quanto os pastores e fiéis beberem do espírito da SC e a puserem em prática” e “Promover a participação ativa dos fiéis, a qual só é possível se feita de forma gradual e progressiva e com uma adequada catequização”.

A instrução é clara, como claro foi o caminho do ML, da MD e da SC ao dizer que é necessário formar e introduzir os fiéis numa real consciência do mistério que celebram – o Mistério Pascal de Cristo. Uma vez mais, a Igreja recorda que o Concílio não é tanto para mudar mas para levar a centrar os fiéis no vértice e fonte que é a liturgia mediados por uma conveniente formação118 que “o esforço pastoral deve ser centrado no fazer viver nos fiéis o Mistério Pascal”119 e ainda “importa que na ação pastoral haja uma estreita ligação da liturgia com a catequese, a instrução religiosa e a pregação”120. O número 19 detém-se sobre a educação litúrgica. É nesta realidade que encontramos maiores dificuldades na reforma litúrgica. Será conveniente pensar o modo como poderá acontecer, uma vez que os fiéis parecem já dispersar provocados por outros interesses para além dos da fé. Não existindo uma adequada formação, como se torna possível a reforma do II Concílio do Vaticano? O capítulo V, que tem como título Construção de igrejas e altares de modo que facilite a

participação ativa dos fiéis, dá-nos algumas indicações e explicitações a ter em conta.

Encontramos como grande preocupação seja na construção, seja no restauro o como tornar a igreja lugar onde as funções sagradas se realizam segundo a sua natureza e conseguir a participação ativa dos fiéis121. No número 91 é dito claramente que o Altar deve “ser separado da parede para celebrar de frente para o povo e para que se possa andar em torno do mesmo”. A respeito desta afirmação, ao lermos a Carta do Consilium sobre o incremento da reforma litúrgica122 encontramos um sentir negativo pela forma abrupta com que muitos

118 Cf. IGREJA CATÓLICA, Secretariado Nacional de Liturgia – (44) Instrução «Inter Oecumenici». In

EDREL, nº 5.

119 IGREJA CATÓLICA, Secretariado Nacional de Liturgia – (44) Instrução «Inter Oecumenici». In EDREL, nº 6.

120 IGREJA CATÓLICA, Secretariado Nacional de Liturgia – (44) Instrução «Inter Oecumenici». In EDREL, nº 7.

121 Cf. IGREJA CATÓLICA, Secretariado Nacional de Liturgia – (44) Instrução «Inter Oecumenici». In

EDREL, nº 90.

122 IGREJA CATÓLICA, Secretariado Nacional de Liturgia – (45) Carta do Consilium sobre o incremento da reforma litúrgica. In EDREL, p. 449-453.

tomam liberdade sem um conveniente estudo de adequação para a colocação de um Altar que possibilite a celebração versus populum, ainda que a intenção esteja correta. Podemos ler na carta: “A construção do Altar voltado para o povo é desejável nas novas igrejas. Noutros casos, poder-se-á chegar aí gradualmente, através de adaptações estudadas com seriedade, no respeito por todos os valores”123. Julgamos não exagerar ao dizer que ainda hoje sentimos alguma desta dificuldade. Intuímos que esta situação acontece por vezes mais pelas questões de sensibilidade pessoal do que a partir da preocupação pastoral pela participação ativa dos fiéis. A 25 de janeiro de 1966 (seis meses depois), uma nova Carta do

Consilium sobre alguns problemas da reforma litúrgica124 onde no número 6 que é dedicado ao Altar face ao povo e tabernáculo sente-se uma certa desordem quanto ao modo de proceder na adequação litúrgica, chegando mesmo a verificar-se uma certa contradição no texto: “É certo que o Altar voltado para o povo torna mais verdadeira e autêntica a celebração da eucaristia e facilita a participação. Mas, também aqui, é preciso que a prudência guie a reforma”. Logo a seguir vemos escrito “Em primeiro lugar, para uma liturgia ser viva e participada não é preciso que o Altar esteja voltado para o povo” dizendo mais à frente que os meios técnicos (microfones) “ajudam de maneira suficiente à participação”. Como vemos, há uma instabilidade no modo de proceder e nas soluções realizadas no lugar dado ao Altar. Neste número são referidas duas realidades que são de grande atualidade no que à adequação litúrgica diz respeito, bem como ao que proporciona uma melhor participação dos mistérios: “é preciso ter em conta a situação arquitetural e

artística”.

Retomando a Instrução IO no número 91, observamos uma concretização sobre como deve ser o lugar do Altar “dê-se-lhe um lugar que na verdade seja espontaneamente o centro da atenção dos fiéis”. No que aos materiais diz respeito remetem para as normas emanadas que no fundo têm a ver sobretudo com a qualidade, dignidade e autenticidade dos mesmos. Termina fazendo uma referência à largueza em torno do Altar – que seja capaz para se celebrarem os ritos.

O número 93 possibilita a existência de outros altares; contudo, estes deverão estar em capelas laterais distintas da parte principal da igreja. Esta preocupação não se sente hoje do

123 IGREJA CATÓLICA, Secretariado Nacional de Liturgia – (45) Carta do Consilium sobre o incremento da reforma litúrgica. In EDREL, nº 6.

124 IGREJA CATÓLICA, Secretariado Nacional de Liturgia – (47) Carta do Consilium sobre alguns problemas da reforma litúrgica. In EDREL, p. 468-471.

mesmo modo. Apenas se verifica a existência de outro Altar num contexto de capela do Santíssimo ou numa capela que se destina à missa para menor quantidade de pessoas, distinguindo-se no entanto do espaço principal. Tudo isto é relevante para sublinhar a existência de um só Altar, porque um só é Cristo.

Os números 92 (sobre a cadeira daquele que preside), 96 (sobre o ambão), 97 (coro e órgão) e 98 (disposição dos fiéis) levam-nos para o desafio que é a articulação destes pólos litúrgicos com o Altar, de modo a permitirem a visibilidade e favorecendo a participação ativa dos fiéis.