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A pesquisa foi realizada com a utilização de três instrumentos de coleta de dados: analise documental, entrevista semi-estruturada e questionário para os docentes.

A análise documental foi realizada por meio do estudo da legislação e normas que regulamentam a educação superior no Brasil e do Manual de Avaliação das Condições de Ensino do INEP; pela análise do Regimento Geral, do organograma, do edital do último processo seletivo realizado, dos folders de marketing disponibilizados, dos documentos de registro do número de alunos matriculados em cada curso e, finalmente, do cadastro de docentes atuando nos cursos oferecidos, sempre referentes às IES pesquisadas. Documentos contendo o histórico das IES também foram analisados. Não foi possível analisar o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) das IES, como proposto no projeto de pesquisa, uma vez que não houve permissão para tal.

A entrevista semi-estruturada, segundo instrumento de coleta de dados adotado, foi utilizada para coletar informações sobre o modelo de gestão adotado pela IES e sobre o aproveitamento da competência dos docentes na gestão da IES (em ambos os casos na perspectiva do gestor). O roteiro de entrevista contou com 21 questões (Apêndice B).

As variáveis e indicadores utilizados na entrevista semi-estruturada e no questionário destinado aos docentes com o objetivo de mensurar a competência dos docentes das IES (Capital Humano) foram extraídos do modelo de mensuração de ativos intangíveis proposto por Sveiby (1998)17. Os mesmos indicadores foram por nós identificados como referência de avaliação da atuação docente no Manual de Avaliação das Condições de Ensino do MEC/INEP. Os referidos indicadores são os seguintes:

a) Nível de escolaridade – a titulação é um indicador válido para avaliar a

competência docente. A classificação dos níveis de titulação utilizada na presente pesquisa foi: especialização incompleta, especialização completa, mestrado incompleto, mestrado completo, doutorado completo e doutorado incompleto. O aumento da média do nível de titulação indica uma acentuada curva de aprendizado na organização.

b) Tempo de experiência profissional – é uma medida de habilidade e experiência

do corpo de profissionais de uma empresa. Quanto maior esse grau, maior a curva de aprendizado, pois habilidades e experiências podem ser transformadas em mais conhecimento para todos.

A questão para medir o tempo de serviço do docente no magistério superior contou com as seguintes alternativas: de 1 mês a 1 ano; de 1 ano e um mês a 3 anos; de 3 anos e um mês a 5 anos; de 5 anos e um mês a 7 anos; e mais que 7 anos.

Para medir a experiência profissional fora do magistério, a questão contava com

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opções fechadas – sim, há pelo menos 5 anos, até a presente data; sim, há mais de 5 anos, até a presente data; sim, mas deixei há menos de 5 anos; sim, mas deixei há mais de 10 anos e não possuo experiência fora da docência –, seguido de um espaço aberto para descrição da atividade profissional desempenhada.

c) Tempo de serviço na IES – o número de anos dedicado à mesma organização

indica “estabilidade de competência”. Sugere, também, satisfação dos profissionais, podendo gerar ambiente mais propício ao aprendizado.

A questão para medir o tempo de serviço na IES contava com as seguintes alternativas: de 1 mês a 1 ano; de 1 a 3 anos; de 3 a 5 anos; de 5 a 7 anos; e mais que 7 anos.

d) Efeito alavancagem – essa fórmula leva em consideração todas as pessoas

engajadas nos projetos da organização. Esse procedimento identifica o grau de poder de captação de receita atribuído aos profissionais da empresa. No caso da presente pesquisa, houve apenas uma especulação do indicador de efeito alavancagem entre os gestores e docentes, uma vez que não se pôde nas IES pesquisadas identificar o grau de captação de receitas dos docentes em relação à IES.

Esse indicador foi utilizado, aqui, para que se pudesse identificar o grau de envolvimento dos docentes nos projetos desenvolvidos pela IES, a fim de se medir o grau de aproveitamento da competência deles nas ações institucionais, especialmente as de ordem estratégica. Outra forma de medir o efeito alavancagem das organizações

educacionais é verificar a produção intelectual dos docentes e as pesquisas patenteadas. Embora estes fatores sejam utilizados pelo Ministério da Educação como indicadores de avaliação da qualidade de ensino oferecido pelas IES, os mesmos não foram considerados na presente pesquisa, pela sua complexidade de mensuração.

Para identificar o efeito alavancagem do trabalho dos docentes na gestão da IES, optou-se por duas questões sobre os projetos acadêmicos/pedagógicos e sobre os projetos administrativos em desenvolvimento na IES. Foram relacionadas seis alternativas para que o docente assinalasse como resposta sim ou não: se tem conhecimento de algum projeto em andamento; se participou da construção de algum projeto; se participa do desenvolvimento de algum projeto; se está sendo requisitado para o desenvolvimento de algum projeto.

e) Média etária – uma organização com um grupo de profissiona is mais velhos

provavelmente é mais estável do que uma organização mais jovem no mesmo setor. Uma média de idade que aumenta gradativamente durante um longo período de tempo pode ser um sinal de alerta para verificar o grau de modernização da empresa.

A questão para medir a faixa etária dos docentes contava com cinco faixas de idade: até 20 anos; de 21 a 30 anos; de 31 a 40 anos; de 41 a 50 anos e 51 anos ou mais.

f) Taxa de rotatividade dos docentes – a rotatividade afeta a produção de

Não foi possível adotar nenhum critério técnico para medir a rotatividade dos docentes nas IES pesquisadas, pois muitos cursos estão em fase de implantação e a quantidade de docentes contratados não iria permitir aferir de forma significativa para o objetivo deste trabalho dados relativos a esse quesito. Limitamo-nos, pois, a interrogar os gestores entrevistados sobre o grau de rotatividade dos docentes da IES.

Outros indicadores também foram utilizados na entrevista semi-estruturada para medir o aproveitamento do Capital Humano dos docentes na gestão das IES e sobre o modelo de gestão praticado pelas mesmas IES:

a) A forma de aproveitamento da competência dos docentes em trabalhos não relacionados à sala de aula – como esse indicador foi encontrado na avaliação da

qualidade do ensino oferecido pela IES pelo Ministério da Educação, foi incluído no roteiro de entrevista para verificar se a experiência profissional do docente fora do magistério, muito importante na avaliação realizada pelo poder público, é aproveitada em trabalhos voltados à gestão da IES. A identificação positiva dessa variável sugere que existe aproveitamento do Capital Humano dos docentes na gestão da IES; em caso negativo, sugere baixo aproveitamento do Capital Humano dos docentes na gestão da IES.

b) Utilização do Manual de Avaliação das Condições de Ensino, utilizado pelo INEP para autorização e reconhecimento de cursos, como subsídio na gestão da IES –

a utilização desse indicador pela IES demonstra preocupação em utilizar o Capital Humano dos docentes, uma vez que os indicadores contemplados pelo referido manual

são semelhantes àqueles utilizados por Sveiby (1998) para mensuração de ativos intangíveis.

c) Existência de cultura de planejamento e instrumentos de planejamento utilizados pelos gestores das IES - como o planejamento faz parte da estratégia de uma

organização e esta se relaciona com a capacidade de produção de vantagens competitivas, no sentido de executar atividades distintas das organizações concorrentes ou atividades semelhantes de um modo diferenciado. Este indicador foi incluído na entrevista a fim de se colher dados que pudessem identificar o modelo de gestão praticado pelas IES.

Alguns outros indicadores foram utilizados no questionário para os docentes:

a) Existência de banco de competência dos docentes na IES – se existe interesse

da IES no monitoramento da competência dos docentes, indicando preocupação em aproveitar o Capital Humano dos docentes na sua gestão e em projetos diversos.

b) Participação do docente em algum órgão colegiado: se o docente participa ou

não de órgãos colegiados, normativos e deliberativos;

c) Participação do docente na eleição de algum gestor da IES: se existe

participação efetiva dos docentes na eleição dos gestores acadêmicos da IES.

questionário para os docentes para verificar o modelo de gestão adotado pelas IES foram os seguintes:

a) Existência de planejamento nas ações da IES: se a IES possui uma cultura de

planejamento e quais os instrumentos de planejamento existentes (orçamentário, estratégico, de ações, etc).

b) Participação dos docentes nas ações organizacionais: se a gestão da IES está

voltada para o compartilhamento e participação dos docentes nas ações administrativas e na tomada de decisões.

c) Opinião sobre o tipo de gestão praticado pela IES: se as decisões são tomadas

somente pelos dirigentes; se as decisões são tomadas a partir de discussões amplas que envolvem os docentes; se as decisões são tomadas a partir de uma visão integrada, que leva em consideração os ambientes interno e externo, as dimensões pedagógica e administrativa; se as decisões são tomadas de forma flexível e adaptada às situações instáveis, sempre que necessário.

d) Aproveitamento do Capital Humano do docente para atividades fora de sala de aula: se a IES costuma aproveitar a competência e a experiência profissional dos

docentes em projetos e atividades relacionados à gestão da IES, que não estejam vinculados à área acadêmica.

com 15 questões objetivas (Apêndice A) abordando as variáveis de mensuração do Capital Humano dos docentes descritas anteriormente e outras questões que permitiram identificar, na visão dos docentes, o modelo de gestão adotado pela IES.

Após sua elaboração, os questionários foram aplicados a um grupo de cinco professores para que pudessem ser testados. No pré -teste foi possível identificar que os docentes não sabiam o significado do termo banco de competências do docente. Optou-se, então, por questioná-los sobre a existência de banco de dados das

experiências profissionais dos docentes e de suas produções acadêmicas. Outro item

identificado no pré-teste do questionário foi a escala de intervalos para assinalar o tempo de trabalho na IES e o tempo de atuação no magistério superior como sendo em intervalos muito grandes (de 5 em 5 anos). Foi feito um ajuste para intervalos menores, apresentado-se as seguintes opções: de 1 mês a 1 ano; de 1 ano e um mês a 3 anos; de 3 anos e um mês a 5 anos; de 5 cinco anos e um mês a 7 anos; e mais que 7 anos.

Devido à impossibilidade de reunir os docentes das IES por causa dos horários de trabalho dos mesmos e devido à dificuldade em abordar os docentes previamente selecionados de forma aleatória, optou-se por um estudo de generalizações naturalísticas. Lüdke e André (1986) entendem que os estudos de generalizações naturalísticas dispensam a exigência de uma representatividade. Tendo em vista a baixa taxa de retorno dos instrumentos aplicados e a não evidência de que a população respondente é estatisticamente idêntica à população não respondente, não se reivindica a representatividade dos dados em relação ao número de respostas de cada IES. A análise dos dados baseia-se, então, não na representatividade dos mesmos em

relação à população, mas no que se pode ou não concluir com a amostragem conseguida, conforme a experiência do pesquisador, Desta forma, os dados foram analisados de forma generalística.

As entrevistas com os gestores das IES foram realizadas no período de 10 de julho a 30 de outubro de 2003, com horários previamente agendados. No mesmo período foram aplicados os questionários aos docentes. Reiteradas visitas às IES permitiram que se obtivesse resposta de, aproximadamente, 10% do total de docentes (86) das IES pesquisadas. Distribuídos os questionários entre as três IES pesquisadas, obtivemos um retorno de 20,9% de respondentes da IES A, 11,3% de respondentes da IES B e 8,2% de respondentes da IES C.

4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo registra a análise dos dados obtidos pela aplicação dos instrumentos de coleta de dados apresentados anteriormente. Tal análise se desenvolveu a partir dos conceitos aprofundados no Capítulo 2. Os resultados da análise são apresentados em torno de três eixos: o primeiro traz uma caracterização das três IES pesquisadas no que se refere ao número de alunos, cursos oferecidos, sexo dos docentes, tempo de trabalho na instituição, titulação dos docentes, entre outros; o segundo traz uma análise do modelo de gestão praticado pelas IES; e o terceiro trata da mensuração e do aproveitamento do Capital Humano do corpo docente na gestão das IES pesquisadas.

Os dados resgatados e analisados não serão apresentados de maneira isolada e hierarquizada, segundo a estruturação dos instrumentos de coleta de dados, mas sim de forma a permitir agrupar as informações relativas aos três instrumentos, a fim de elucidar as conclusões a que chegamos no âmbito dos três eixos de análise acima apresentadas.