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Em pesquisas qualitativas, “[...] a adoção de estratégias e métodos de coleta de dados

tende a ser altamente flexível” (GRAY, 2012, p. 137), podendo o pesquisador combinar

diferentes estratégias, utilizar instrumentos diferenciados de coletas de dados, dentro de uma mesma pesquisa. Visando à triangulação dos dados da pesquisa, foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados: observação participante; diários de aula; entrevista semiestruturada e análise documental.

3.4.1 Observação participante e diários de aula: dispositivos complementários para o estudo

A metodologia referente à pesquisa qualitativa proporciona um contato pessoal do pesquisador com o fenômeno que está pesquisando e ocupa lugar de destaque nas pesquisas educacionais, sendo sua utilização vantajosa no que compete à possibilidade de descobertas de novos aspectos em torno do problema. Porém, ao optar por esse método, o pesquisador

necessita fazer a sua escolha quanto ao nível de participação no trabalho, o que necessariamente não é algo imutável, pois, inicialmente, pode-se optar por um tipo de participação e, depois, alterar, conforme o andamento da pesquisa. Seguindo esta ideia, Lüdke e André (2013, p. 32) salientam:

Decidir qual o grau de envolvimento no trabalho de pesquisa não significa decidir simplesmente que a observação será ou não participante. A escolha é feita geralmente em termos de um continuum que vai desde uma imersão total na realidade até um completo distanciamento.

Portanto, quando o assunto é observação dentro de uma pesquisa, duas situações podem ocorrer: uma delas é o pesquisador iniciar seu trabalho de pesquisa apenas como observador, registrando, mas não se envolvendo. No entanto, com o passar do tempo, pode ser que comece a se envolver com a pesquisa, tornando-se um participante dela. Como também o contrário é possível, ou seja, o pesquisador pode iniciar com um envolvimento maior na fase do estudo e, conforme o mesmo vai ocorrendo, ele se distancia.

Entre as possibilidades de observação, este estudo desenvolveu a observação participante, tendo como referência Lüdke e André (2013), que a definem como uma estratégia que vai além de uma observação direta, mas que pressupõe todo um conjunto de técnicas metodológicas e um envolvimento maior do pesquisador com a situação que está sendo investigada/estudada. Para este estudo, a escolha pela observação participante deu-se também devido ao tempo em que a pesquisadora estaria imersa no ambiente da pesquisa, o que faria com que houvesse um envolvimento na situação a ser estudada e no

desenvolvimento de diferentes estratégias metodológicas. Para Gray (2012, p. 323), “com a

observação participante, o observador se torna membro do grupo que está sendo pesquisado e, portanto, começa a entender sua situação ao vivenciá-la. O pesquisador passa a estar ‘imerso’

no contexto onde acontece a pesquisa de campo [...]”.

Quanto ao período de observação, as três turmas foram observadas no primeiro semestre do período letivo de 2015, nos meses de março, abril, maio, junho e julho. Nesse período, foram realizadas observações de trinta e oito (38) aulas. Nelas, acompanhou-se o cotidiano das turmas e o desenvolvimento dos planejamentos elaborados pelas professoras. Cabe destacar que isso só foi possível mediante a autorização da gestão e das professoras das turmas investigadas, que autorizaram mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B). As trinta e oito aulas observadas foram assim distribuídas:

Quadro 9 - Observações realizadas nas três turmas

Turma 2º ano 1º ano 3º ano

Quantidade de aulas observadas

14 aulas 12 aulas 12 aulas

Período em que ocorreram as observações Março e abril de 2015 Maio e junho de 2015 Junho e julho de 2015 Fonte: A autora (2015).

Para as observações das aulas, levou-se em consideração o interesse em se manter um número aproximado de observações em cada um dos anos que compõem os três primeiros anos do ensino fundamental, o ciclo da alfabetização. Primeiramente, a proposta era iniciar as observações na turma de 1º ano, o que não ocorreu por solicitação da professora da turma. A mesma fez a solicitação de não iniciar em sua turma devido a, na ocasião do início do período das observações, haver uma estagiária de graduação em Pedagogia observando sua turma e também por haver na turma o aluno com síndrome de Asperger, o que, segundo ela, necessitaria de uma preparação inicial para receber outra pessoa observando a turma (tendo em vista que já teria a estagiária de pedagogia realizando observações). Portanto, ela solicitou um tempo para preparar o aluno para a entrada de mais uma pessoa para realizar observações na turma.

Os registros das observações foram realizados em diários de aula na perspectiva de Zabalza (2004), que os considera como importantes documentos para registro de acontecimentos e impressões do que vai acontecendo no período de aula. Na perspectiva do autor (ZABALZA, 2004, p. 14):

Do ponto de vista metodológico, os “diários” fazem parte de enfoques ou linhas de

pesquisa baseados em “documentos pessoais” ou “narrações autobiográficas”. Essa

corrente, de orientação basicamente qualitativa, foi adquirindo um grande relevo na pesquisa educativa dos últimos anos.

No desenvolvimento da pesquisa, os diários tiveram papel fundamental enquanto instrumentos para registros dos acontecimentos ocorridos em aula e das reflexões da pesquisadora para posterior utilização nesta tese. Nesse sentido, o diário se tornou um espaço descritivo, narrativo e reflexivo de acontecimentos que envolveram o contexto educativo e escolar. Dessa maneira, sua presença, neste estudo, foi de suma importância, possibilitando para a pesquisadora o movimento de busca de informações e fatos que ocorreram durante todo o período de desenvolvimento da pesquisa, e que se encontram registrados nos diários.

3.4.2 Entrevista semiestruturada

Com o intuito de se obterem dados para a pesquisa, foi desenvolvida a entrevista semiestruturada com as professoras alfabetizadoras, a partir de um roteiro que buscou contemplar assuntos como: alfabetização, letramento, formação, planejamento, práticas pedagógicas, recursos utilizados para alfabetizar e ambiente alfabetizador.

Quadro 10 - Roteiro para a entrevista desenvolvida com as professoras Entrevista semiestruturada

Qual a tua formação?

Há quanto tempo tu trabalhas como alfabetizadora?

O que tu levas em consideração quando tu planejas as aulas? O que é mais importante na hora de construir o planejamento, de pensar nas atividades?

Como tu caracterizas tua metodologia de ensino? Quais textos tu utilizas no dia a dia em sala de aula?

Como tu trabalhas o desenvolvimento da leitura, a formação de leitores? Quais situações tu promoves, específicas para a leitura?

Como é trabalhada a produção textual? Com quais recursos e estratégias?

Quais são as maiores dificuldades que tu encontras, e observas quanto ao processo de alfabetização de teus alunos?

Existe algum planejamento integrado entre as professoras que trabalham com o ciclo da alfabetização? Como é a troca de experiências? Há um trabalho integrado entre vocês?

O que tu consideras importante na organização de uma sala de aula? E na constituição do ambiente alfabetizador?

Como tu defines teus alunos?

Como tu entendes o brincar na faixa etária de teus alunos? Quais ações tu desenvolves que contemplam o brincar?

Fonte: a autora (2015).

Com efeito, o uso de entrevista semiestruturada dá ao pesquisador a possibilidade de aprofundar a pesquisa, detalhando as possíveis questões que serão realizadas. Esse tipo de entrevista, por não seguir uma sequência de perguntas rígidas e fechadas, fazendo uso do roteiro apenas como apoio, permite uma maior flexibilidade no seu desenvolvimento. Da mesma forma, possibilita aprofundar as visões e opiniões por meio das quais for desejável que os respondentes aprofundem suas respostas (GRAY, 2012). Neste sentido, a ordem das

perguntas também pode ser modificada, conforme a direção que a entrevista tomar e as alterações necessárias podem ser feitas no desenrolar da entrevista. Além disso, esse tipo de entrevista possibilita ao pesquisador adicionar questões que não estavam previstas para a entrevista, sem tirar o foco do objetivo principal, de forma a favorecer a pesquisa.

As entrevistas com as três professoras foram realizadas em dias separados, no espaço da sala de aula e da sala de professores, em ambiente isolado da turma, em que foi possível haver uma conversa sem que houvesse interrupções. Na ocasião, abordou-se sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que se encontra nos Apêndices desta tese e também se destacou a importância da colaboração para a pesquisa, através das respostas fornecidas, como também foi conversado sobre a possibilidade de as professoras não responderem à todas as questões solicitadas. As entrevistas desenvolvidas foram gravadas com o consentimento das professoras. Sendo assim, a gravação forneceu a possibilidade de prestar atenção à forma como os participantes organizavam suas ideias, bem como as hesitações e pausas eventualmente presentes no ato da degravação, realizada pela pesquisadora. De fato, esses dados que surgiram durante a conversa são valiosos e carregados de significação. Muitas vezes, foi possível pensar nos tempos utilizados pelos participantes para responder/enunciar/expressar/elaborar as respostas às perguntas feitas durante as entrevistas. Talvez se possa dizer que o escopo de uma entrevista se vê revestido de sentido desde as respostas mais amplas até os detalhes sutis de um silêncio às vezes prolongado.

3.4.3 Análise documental

Para agregar mais informações para a pesquisa, além da observação participante e da entrevista semiestruturada, foi realizada a análise dos Planos de Estudo das três turmas que serviram de base para o estudo. Nesses documentos, foram identificados como foco de análise: currículo, proposta pedagógica para turmas em processo de alfabetização, e o que estava previsto para o trabalho com a leitura e a escrita, como por exemplo, o compromisso de cada turma com a formação dos alunos. Sobre a análise documental, Lüdke e André (2013, p. 44-45) afirmam que:

Embora pouco explorada não só na área da educação como em outras áreas de ação social, a análise documental pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema.

A análise dos planos de estudo serviu para se obterem dados sobre a proposta pedagógica da escola no que compete ao processo de alfabetização, sendo possível, assim, cruzar estas informações constantes nos documentos com o problema de pesquisa. Nesse sentido, a análise documental assumiu um caráter importante na medida em que se podem cruzar informações entre aquilo que inspira a instituição do ponto de vista pedagógico e curricular com a forma como tais aspirações se projetam no cotidiano docente.