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Integração à Nação, identificando suas necessidades, interpretando seus anseios, comungando de seus ideais e participando de suas realizações, conforme nossa Missão Constitucional ou por meio de A-

No documento moacyrmaiagitirana (páginas 45-48)

são 48 O fato de ele, como o advogado e o médico, lidar constantemente com seres humanos lhe exige que tenha compreensão mais profunda de atitudes, motivações e comportamento humanos que o ensino de

10. Integração à Nação, identificando suas necessidades, interpretando seus anseios, comungando de seus ideais e participando de suas realizações, conforme nossa Missão Constitucional ou por meio de A-

ções Subsidiárias.

Neste texto, encontram-se os termos “valores” e “ética”, os mesmos que HUNTINGTON (2003, 61) usa, na discussão deste assunto, e aparece também a expressão “missão do exército”, análoga ao que o sociólogo refere como “função militar profissional”. A apresentação neste texto do papel social do Exército, seguido da menção a valores e ética seus, sugere raciocínio análogo ao que já vimos neste autor: “A mentalidade militar, neste sentido, consiste nos valores, atitudes, e perspectivas inerentes ao desempenho da função mi- litar profissional e que se deduzem da natureza dessa função.”

Por outro lado, não se pode pretender chegar a uma lista nominal fechada que expresse de forma objetiva a mentalidade militar, a começar por uma consideração “simples” como a dificuldade apontada já desde Sócrates no estabelecimento objetivo de conceitos. Mesmo aceitando o raciocínio de HUNTINGTON (2003, 62) sobre haver um núcleo base da ética militar moderna que a torna “não-datada e não-localizada”, chegar a uma lista objetiva e fechada de termos que definissem esta ética pode ser difícil, tendo em conta outra observação do próprio HUNTINGTON (2003, 16): “Até certo ponto, o comportamento do oficial para com o Estado é guiado por código explícito expresso em lei (...). Em maior grau, o código do oficial é expresso segundo o costume, tradição, e o espírito permanente da profissão.” Assim, encontraremos este espírito traduzido em diferentes tentativas de expressá-lo em palavras.56

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A situação é análoga à do famoso Bushidō, código de conduta dos Bushi, guerreiros tradicionais japoneses, que originaram o serviço samurai. Influente no período feudal como “código não escrito”, só teve suas idéias sistematizadas no fim do século XIX, por Inazo Nitobe. A este propósito, consultar obras deste próprio autor, ou algumas das excelentes referências de Donn F. Draeger, como Classical Bujutsu ou Classical Budō.

No material técnico usado no Exército para ensino, este frequentemente é dividido e considerado em três áreas, conforme se pode ler no Manual do Instrutor (pág. 3-6):

3-4. ÁREAS DE APRENDIZAGEM

O comportamento do militar pode ser dividido em três áreas, com respectivos níveis de aprendi- zagem, e que são psicomotora, cognitiva e afetiva. A área psicomotora compreende as habilidades moto- ras (destrezas e habilidades) e a área cognitiva abrange as habilidades mentais (conhecimentos); ambas têm como objetivo principal o desempenho individual. A área afetiva trata de atitudes, valores e ideias, diz respeito às ligações, os interesses de cada militar para com chefes, companheiros, subordinados, para com a Nação, o Exército e as demais instituições deste nível, com a história pátria, com as tradições na- cionais e militares e com tudo que se relaciona com o amor à profissão e à carreira, buscando a formação do caráter militar.

OBSERVAÇÃO: O Artigo IV trata dos níveis da área cognitiva, o Artigo V da área psicomoto- ra, e o Artigo VI, da área afetiva.

Assim, no artigo respectivo aos níveis de aprendizagem na “área afetiva”, se expõem no manual os diferentes graus em que o objeto de aprendizagem pode afetar seu sujeito. Este pode estar afeito àquele, segundo o manual, nos níveis de acolhimento, resposta, valorização, organização, até o nível da caracterização. É interessante transcrever aqui as considerações gerais do manual sobre esta área, e particularmente aquelas sobre o último nível de aprendiza- do nela, o da “caracterização”, que é o caso de maior envolvimento do sujeito com um objeto de afeição:

Os objetivos do domínio afetivo enfatizam uma totalidade de sentimento, uma emoção ou um grau de aceitação ou rejeição. Eles variam desde a atenção simples a fenômenos selecionados até qualidades complexas de caráter e de consciência, mais internamente consistentes.

(...)

Caracterização

Neste nível do domínio afetivo o indivíduo tem um sistema de valores controlando seu comporta- mento por um período de tempo suficientemente longo, a ponto de já ter desenvolvido um “estilo de vida” característico. Assim sendo, o comportamento é consistente e previsível, sendo, contudo, passível de mu- dança. Resultados da aprendizagem neste nível cobrem ampla extensão de atividades, mas a ênfase prin- cipal está no fato de que o comportamento é típico ou característico do instruendo. Objetivos instrucionais relativos aos padrões gerais de ajustamento do instruendo (pessoais, sociais e emocionais) estariam apro- priadamente colocados nesta categoria.

No processo de ensino-aprendizagem na EsPCEx-AMAN, o que interessa direta- mente a este estudo, claro, é a incorporação nos alunos disto que o Exército refere como “atri- butos da área afetiva”. Estes atributos são considerados tão importantes que, no esteio das medidas para modernização do ensino no EB, ao longo da segunda metade da década de 1990, o desenvolvimento de alguns deles passava a figurar como objetivo expressamente pro- posto em PlaDis57, da mesma forma como estes documentos tradicionalmente preveem o de-

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senvolvimento de objetivos na área cognitiva. Isto significa que, além de se prever, na disci- plina respectiva, o desenvolvimento de determinadas competências/conteúdos cognitivos, passava a ser possível prever também o desenvolvimento de alguns atributos da área afetiva, conforme a natureza e as possibilidades de cada disciplina, como se verá em exemplos a se- rem apresentados mais adiante.

Evidência ainda maior da valorização dos atributos da área afetiva pode se deduzir do sistema de avaliação a que são submetidos os militares de carreira até o posto de coronel. A partir de uma lista destes atributos administrada pela Diretoria de Avaliação e Promoções (DAProm)58, os referidos militares são avaliados por seus chefes e comandantes duas vezes por ano, em cada um destes atributos, numa escala numérica de valores de 0 a 10. Gera-se um resultado que é incluído, ao lado de outros cômputos, na chamada “(Ficha de) valorização do mérito”, que por sua vez determina as chamadas promoções por merecimento. A julgar por minha própria quantificação de mérito (já que à dos outros oficiais não tenho acesso, por ser de conteúdo reservado), o peso deste aspecto afetivo é bem maior que o do aspecto cognitivo. No meu caso, na última ficha de quantificação a que tive acesso (atualizada até 30-09-2008), 81,99 pontos, de um total de 127,08, são relativos a atributos da área afetiva, contra apenas 21,69 relativos à área cognitiva (notas em cursos de formação e de aperfeiçoamento, pontos por cursos feitos), ou seja, o valor da avaliação no aspecto afetivo é cerca de 4 vezes o da área cognitiva.

Atualmente, é a seguinte a lista dos atributos em que ocorre esta avaliação, divididos em 2 grupos, um associado à ideia de “relacionamento”, outro, à de “trabalho”:

TABELA 1

RELACIONAMENTO TRABALHO

- APRESENTAÇÃO - CRIATIVIDADE

- CONDUTA CIVIL - DECISÃO

- DESPRENDIMENTO - DEDICAÇÃO

- DISCIPLINA - INICIATIVA

- DISCRIÇÃO - OBJETIVIDADE

- EQUILÍBRIO EMOCIONAL - ORGANIZAÇÃO - ESPÍRITO DE GRUPO - PERSEVERANÇA

- FLEXIBILIDADE - RESPONSABILIDADE

- LIDERANÇA - RESISTÊNCIA

- TATO - ZELO

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Um esquema geral da estrutura organizacional do EB, na qual se insere a DAProm, pode ser encontrado em http://www.exercito.gov.br/01inst/Conheca/estrorgeb.htm.

À primeira vista, chama atenção a quase inexistência de elementos nominais co- muns entre as duas listas de expressões de valores; estes, da “valorização do mérito”, e os constantes na página institucional do EB, no campo sobre “Missão e Visão do Futuro”. Só o termo “liderança” coincide nas duas listas.

Um exercício hermenêutico poderia levar à “tradução” de alguns componentes de uma lista nos termos da outra, mas aqui ficaremos apenas com a confirmação de que, na práti- ca, nem dentro do próprio âmbito interno do Exército se pode esperar encontrar uma lista consagrada que seja expressão objetiva de uma ética militar universal básica. Parece que, voltando à última consideração referida em Huntington, ela é muito mais fruto de uma tradi- ção que escapou à escrita do que um “código explícito expresso em lei” ou outra forma de uniformização objetiva.

A profusão de termos e conceitos neste assunto levou o então Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP) – agora renomeado Departamento de Educação e Cultura do Exérci- to59 (DECEx) – a estabelecer, em 12 de maio de 1998, portaria60 cujo objetivo era “unificar em um documento as várias definições referentes aos atributos, valores e requisitos da área afetiva, possibilitando a sua correta utilização.” Não se trata de lista exaustiva, de todos os atributos da área afetiva (AAA) que possam ser concebidos e usados, mas é bastante abran- gente, e os conceitos apresentados são seguidos de breves propostas de explicação deles. Lá eles não têm numeração, mas aqui optamos por transcrevê-los acrescentando-lhes à frente um número ordinal, que usaremos em referências futuras, mencionando esta “lista de AAA do DEP”.61

ATRIBUTOS, VALORES E REQUISITOS DA ÁREA AFETIVA

a. Os seguintes valores devem ter sido desenvolvidos no indivíduo desde a infância e reforçados ao longo da vida militar. Devem servir, também, para uma ação imediata do docente que identifique sua ausência, visando às providências que possibilitem o afastamento do instruendo, pelos meios regulamentares, disci- plinares e/ou judiciais, em especial na formação do militar de carreira.62

1) HONESTIDADE: conduta que se caracteriza pelo respeito ao direito alheio, especialmente no que se

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