CAPÍTULO 4. RESTRIÇÕES À PARTICIPAÇÃO NAS VIAGENS AÉREAS E
4.2 Restrições à participação nas viagens aéreas
4.2.3 Restrições à participação no Desembarque
4.2.3.3 Interação com atendentes, comissários e demais passageiros
A interação com atendentes, comissários e outros passageiros é dificultada por tensões entre passageiro e comunidade na atividade. Segundo os participantes os atendentes e comissários de bordo são despreparados para o atendimento às necessidades dos passageiros, o que inclui o desconhecimento de linguagem de sinais e de informações relacionadas ao voo ou aos direitos dos passageiros.
Componente da acessibilidade prejudicado: DESLOCAMENTO
Componente da acessibilidade espacial prejudicado: USO
Falta cadeira de rodas de bordo
Ônibus utilizados para deslocamento até a aeronave não são acessíveis, faltam assentos
Nas vans que fazem o transporte da aeronave até o terminal faltam alças para ajudar a subir
Apoio de braço do assento não é móvel (removível ou escamoteável)
Pouco espaço na entrada do avião, divisória muito estreita entre a porta e as poltronas, impede a passagem da cadeira de rodas até o assento
Quando existentes, equipamentos para auxílio ao desembarque não proporcionam segurança, independência e conforto
Desembarque realizado via cadeira que sobe escadas
Cadeiras de rodas disponibilizadas são inadequadas
Corredor da cabine é estreito
Os degraus das escadas da aeronave são altos
Cadeiras de rodas de bordo não oferecem segurança e conforto no uso
Os degraus das vans e ônibus utilizados no percurso até o terminal são muito altos
Escadas que acoplam na aeronave não são seguras Pontes de desembarque às vezes são muito íngremes
Pessoa com
deficiência física Pessoa obesa
Pessoa obesa e
idosa id Idoso
Pessoa com
nanismo Pessoa idosa cad
Usuário de cadeira
de rodas ob Obeso
Além disso, há tensões entre a companhia aérea e os funcionários, uma vez que estes têm que realizar uma diversidade de atividades e nem sempre estão em número suficiente frente à demanda e; entre a companhia aérea e o operador aeroportuário para atender aos passageiros, conforme evidenciado nas entrevistas preliminares, nas observações em voo e nos resultados da pesquisa com questionário, apresentados nos Quadros 43 e 44.
Uma vez eu viajei com a minha mãe pro Rio e ela estava na cadeira, ai pra desembarcar a gente esperou a cadeira e veio um funcionário pra ajudar. Chegou num determinado momento ele disse: “você fica aqui aguardando que tem outra pessoa pra eu embarcar e o voo já está atrasado”. Ai passou uns 15 minutos e eu pensei o cara não vem mais, não vou ficar aqui esperando por causa da cadeira. Eu imagino que ele tenha até esquecido porque quando ele foi levar o outro alguém já deve ter falado que tem que desembarcar outro. Eu fiquei constrangido porque o que eu vou fazer com essa cadeira? Eu não sabia o que fazer na hora (E6).
E às vezes o funcionário que está ajudando tem que voltar na cabine ajudar outra pessoa e a gente fica no meio de uma confusão, não consegue ver a mala, ficam te pressionando. É um tumulto na hora de pegar as malas e já aconteceu de danificarem minha cadeira de rodas (PF7).
Observo muito a relação da tripulação com o aeroporto, observo os conflitos de equipe. Quem está no avião quer que eu desça logo e quem está no aeroporto não resolve. Ficam um jogando para o outro. No desembarque é comum subir apenas uma pessoa para ajudar e ai cria uma situação de ter que pedir ajuda para outros passageiros. Inexiste a comunicação entre equipes em solo e em voo (PF4).
Quadro 43 – Restrições na interação com atendentes e comissários: contradições e descontinuidades entre funcionários e companhia aérea
Elaborado pela autora.
cad RESTRIÇÕES
Funcionários-Companhia aérea
Faltam funcionários para auxiliar nos aeroportos
Demora para chegada dos funcionários que auxiliem no desembarque (ficar esquecido)
Fatores operacionais Pessoa com deficiência física Pessoa com nanismo Pessoa com
deficiência visual Pessoa idosa Pessoa obesa cad
Usuário de cadeira de rodas
Quadro 44 – Restrições na interação com atendentes e comissários: contradições e descontinuidades entre passageiro e companhia aérea
Elaborado pela autora.
Durante o desembarque dos passageiros PF4 e PF7, observou-se que os funcionários da companhia aérea auxiliaram os passageiros com as bagagens e na condução da cadeira de rodas. No entanto não houve interação do funcionário com o passageiro, por exemplo, quando um funcionário começa a assistência e outro continua não há comentário algum para orientar o usuário; o mesmo ocorre quando são necessárias manobras com a cadeira de rodas, eles fazem sem qualquer pergunta ao passageiro. A passageira PF5, acompanhante de PF4 chegou a pedir aos funcionários "só não fujam de mim (sic)", pois os funcionários estavam andando a frente conduzindo PF4 e ela tem baixa visão e precisa de ajuda para orientar-se no ambiente.
Com relação aos demais usuários do transporte aéreo, algumas restrições foram apontadas no questionário e são apresentadas no Quadro 45.
cad
DMu
id
RESTRIÇÕES
Passageiro-Companhia aérea
Dificuldade para se comunicar e pedir ajuda pois ninguém compreende/fala de LIBRAS
Qualidade das informações/avisos sonoros no final do voo
Componente da acessibilidade espacial prejudicado: ORIENTAÇÃO
Fatores operacionais
Faltam pessoas qualificadas para atendimento dos passageiros com necessidade de assistência especial (despreparo, atendimento inadequado)
Componente da acessibilidade espacial prejudicado: COMUNICAÇÃO
Falta informações ou elas são incorretas Informações/avisos são apenas sonoros
Pessoa com deficiência física Pessoa com deficiência auditiva Pessoa com
deficiência visual DMu
Pessoa com deficiência múltipla Pessoa obesa cad id Participantes
Quadro 45 – Restrições relacionadas à interação com entre passageiros: contradições e descontinuidades entre o passageiro e comunidade
Elaborado pela autora.
Por outro lado, é importante destacar que há passageiros que inclusive se disponibilizam para auxiliar aqueles que precisam de alguma ajuda. Para o desembarque, PF4 precisou ser transferido do assento para sua cadeira de rodas e a comissária perguntou na cabine se havia algum homem para ajudar. Somente depois da transferência realizada com ajuda de outro passageiro é que chegaram dois funcionários da companhia para prestar assistência.
Os resultados apresentados apontam que durante nas fases de embarque, voo e desembarque os passageiros com deficiência, idosos e/ou obesos vivenciam restrições, as quais são transversais em relação aos diferentes atores sociais envolvidos no transporte aéreo, conforme ilustra a fala de um participante da pesquisa com questionário apresentada a seguir:
Não é toda viagem que é ruim, nem todas foram catastróficas. Quando tem finger [ponte de embarque/desembarque], a cadeira está inteira, não perguntaram se ando um pouquinho, está tudo bem (Participante com deficiência física e usuário de cadeira de rodas).
Com relação a acessibilidade, verifica-se que nas fases analisadas, tanto a acessibilidade atitudinal quanto espacial estão prejudicadas, com destaque para o comprometimento dos componentes de deslocamento e uso desta última.
Ao analisar as restrições encontradas a partir do modelo do sistema de atividades, constatou-se que estas resultam de contradições e descontinuidades que ocorrem nas interações envolvendo todos os componentes do sistema de atividade. Por outro lado, verificou-se que as contradições são fonte de criação na medida em que frente aos conflitos os
cad id
RESTRIÇÕES
Passageiro-Comunidade Fatores atitudinais
Falta cultura, educação e conscientização das pessoas quanto às necessidades das pessoas com deficiência Tumulto para sair da aeronave
Pessoa com deficiência física
Pessoa com
nanismo Pessoa idosa Pessoa obesa cad
Usuário de cadeira de rodas
id Idoso Participantes
sujeitos desenvolvem estratégias para transformação das restrições, buscando realizar o resultado global que confere significado e motiva as ações na viagem: chegar a um determinado destino.