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CAPÍTULO 3. METODOLOGIA DE PESQUISA

3.4 Procedimentos para análise dos dados

A análise das entrevistas foi realizada após a validação das transcrições pelos entrevistados. Este processo iniciou-se com leituras flutuantes e exploratórias de cada transcrição individualmente e registro de notas relacionadas às impressões do pesquisador e aos temas identificados. Posteriormente, as frases dos entrevistados e os temas foram relacionados às questões abordadas no roteiro de entrevistas, o que possibilitou a comparação entre as perspectivas dos participantes e a construção de representações em relação a temática. Para análise dos dados dos questionários, considerando-se as especificidades de cada contexto de coleta de dados e as variações nos procedimentos para coleta, na presença ou não do pesquisador (entrevista ou autoaplicado), estes foram tratados e analisados separadamente por contexto, comparando a coerência entre resultados para posteriormente unificar as representações dos participantes.

A pré-análise iniciou-se com a organização dos dados, a qual consistiu na tabulação destes em uma planilha Excel de acordo com os contextos de coleta. Os dados do Site Web foram exportados diretamente em formato Excel. A partir da tabulação, os dados foram conferidos por um pesquisador diferente daquele que os tabulou, assegurando a confiabilidade dos dados.

Em seguida realizou-se a análise descritiva dos dados de caracterização dos participantes em parceria com a Empresa Junior de Estatística (EJE) da Universidade Federal de São Carlos utilizando o Software “R”. Os dados foram primeiramente analisados para uma descrição da população do estudo, de acordo com cada contexto de coleta: Reatech, Site Web, Competições, Aeroportos e Voos. Posteriormente, ainda considerando cada contexto separadamente, foi realizada a análise descritiva da amostra por grupo: pessoas com deficiência física, pessoas com deficiência auditiva, pessoas com deficiência visual, idosos e obesos. Por fim, efetuou-se a análise global, unificando todos os participantes do estudo, independente do contexto de coleta.

Com relação aos dados referentes às experiências de viagens, a partir da tabulação em formato Excel, iniciou-se a exploração do material seguindo como referência o

Método de Análise do Conteúdo, conforme proposto por Bardin (2011), mais especificamente a modalidade de análise temática.

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas dedicadas à análise das comunicações. Nesta perspectiva, o método é baseado em um conjunto de procedimentos sistemáticos e objetivos para descrição do conteúdo das mensagens, com interesse em compreender o que tais mensagens podem ensinar e quais são os aspectos determinantes da comunicação (BARDIN, 2011).

Nesta perspectiva, os dados brutos foram codificados e, posteriormente foram criadas as categorias para classificação destes. A codificação consiste na transformação sistemática dos dados brutos em temas que permitem uma descrição exata do conteúdo. Cabe salientar que tanto os temas quanto as categorias emergiram a partir da análise do primeiro banco de dados (Reatech), considerando ainda a estrutura do instrumento de pesquisa utilizado (Apêndice 3).

Nas análises dos demais bancos de dados, estes elementos criados foram utilizados como referência para padronização da análise, possibilitando a comparação dos dados. Tal procedimento não impediu a criação de novos temas de acordo com as questões apresentadas pelos participantes dos demais contextos. Ao final das análises de todos os bancos de dados, os temas e categorias foram revisados e validados pelos pesquisadores envolvidos no Projeto Cabine Universal.

As categorias utilizadas para classificação dos temas relacionadas às questões de dificuldades são apresentadas no Quadro 20. No Quadro 21, são apresentadas as categorias utilizadas na questão de estratégias. Tais categorias foram definidas a partir dos códigos criados, tendo como referência também o estudo de Daniels, Rodgers e Wiggins (2005). Abrahão et al (2009) definem “estratégias” como mecanismos cognitivos e processos de regulação que resultam em ações, entretanto neste estudo o termo está sendo utilizado para designar o que os participantes fazem para enfrentamento das restrições à participação.

Quadro 20 – Categorias de classificação das unidades e códigos relacionados às restrições

Categorias Descrição

Infraestrutura

aeroportuária Temas relacionados ao ambiente físico dos aeroportos, como sanitários, balcões de atendimento, pontes de embarque/desembarque, ônibus de transporte no terminal. Operação Temas relacionados aos procedimentos de operação das companhias aéreas e aeroportos. Aeronave Temas relacionados aos aspectos da aeronave, como assentos, toalete, escada, corredor,

entendidos como subcategorias. Aspectos

interpessoais

Temas relacionados às interações do passageiro participante com os demais passageiros e acompanhantes.

Aspectos

pessoais Temas relacionados às dificuldades e sentimentos do indivíduo, como carregar malas, medo de voar. Elaborado pela autora.

Quadro 21 – Categorias de classificação categorias de classificação das estratégias

Categorias Descrição

Pessoais Temas relacionados às alterações no estado fisiológico, escolhas e preferências individuais.

Interpessoais Temas que envolvem interação com demais passageiros, funcionários das companhias aéreas e aeroportos e, acompanhantes.

Estruturais Temas relacionados às mudanças nas condições e estruturas existentes em determinada etapa da viagem, por exemplo, solicitar equipamento adequado para embarque/ desembarque.

Equipamentos

assistivos Temas que abordam estratégias relacionadas aos equipamentos assistivos, como tirar o assento da cadeira de rodas pessoal para não perder. Elaborado pela autora.

De acordo com Minayo (2010) a principal crítica à análise de conteúdo é o foco exclusivo nas falas registradas no material de análise as quais ficam separadas do contexto de ação. No entanto, tal limitação foi superada neste estudo a partir da combinação de diferentes técnicas e procedimentos para coleta e análise dos dados, incluindo a observação em situações reais.

É importante ressaltar que na análise dos dados os participantes foram divididos de acordo com os grupos em estudo: pessoas com deficiência física (cadeirantes), pessoas com deficiência física (não cadeirantes), pessoas com deficiência (nanismo), pessoas com deficiência auditiva, pessoas com deficiência visual, pessoas idosas e pessoas obesas. Além disso, foram criados novos grupos considerando os participantes que pertenciam a mais de um grupo, por exemplo, pessoas com deficiência física e idosas; pessoas com deficiência visual e obesas; pessoas com deficiência múltipla, idosas e obesas.

Com relação à análise das filmagens realizadas a partir das observações sistemáticas na aviação comercial os vídeos foram assistidos pela pesquisadora e descritos em um quadro de análise da atividade segundo a fase do voo. Dentre as variáveis observadas destacaram-se as atividades realizadas, as posturas e movimentos adotados, comunicações, verbalizações, equipamentos utilizados, dificuldades e estratégias observadas. A análise foi complementada com a perspectiva do participante por meio da entrevista de autocronfrontação. Os dados resultantes da restituição pelo passageiro foram incluídos no quadro de análise da atividade em uma coluna independente. Foi realizada análise temática das descrições das filmagens e dos registros das observações como observador total.