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2.1 Transporte aéreo de passageiros com deficiência, idosos e obesos

2.1.2 Pessoas idosas

2.1.2.1 Pessoas idosas no transporte aéreo

De acordo com Wolfe e Suen (2007) e Wolfe (2003) as mudanças provocadas pelo processo de envelhecimento natural impõem desafios aos passageiros idosos no uso do transporte aéreo, por exemplo, modos de acesso/saída inadequados, longas distâncias a serem percorridas nos aeroportos, esperas prolongadas, dificuldade em localizar-se e deslocar-se nos terminais e a bordo da aeronave.

Tais dificuldades também foram mencionadas nos estudos de Chang e Chen (2012c), os quais salientaram que além das mudanças relacionadas aos aspectos físicos e

fisiológicos, as alterações no nível de confiança também podem favorecer os constrangimentos relacionados à mobilidade do idoso.

Na etapa denominada por Chang e Chen (2012c) como pré-viagem, a preparação da viagem, a pessoa idosa pode ter dificuldades com a reserva de serviços. No aeroporto, conforme mostra o Quadro 6, destacam-se as dificuldades relacionadas à localização, orientação e deslocamento.

Quadro 6 – Passageiros idosos: dificuldades nos aeroportos

A

E

R

O

P

O

R

T

O

Dificuldades Referências

Acesso ao terminal Wolfe (2003); Suen e Wolfe

(2006) Embarcar e desembarcar do ônibus ou carros elétricos utilizados

para deslocamento do estacionamento para o terminal, no terminal ou entre terminais

Deslocamento vertical (subir escadas e utilizar esteiras e elevadores)

Dificuldades de orientação/localização

Transpor as direções dos mapas de localização para o ambiente Ler e interpretar mapas de localização

Manusear e carregar bagagens

Longas esperas em filas (permanecer em pé) Wolfe (2003); Suen e Wolfe (2006); Chang e Chen (2012c) Usar as máquinas de auto check-in

Percorrer longas distâncias

Elaborado pela autora.

Com relação à leitura e interpretação dos mapas de localização Wolfe (2003) e Suen e Wolfe (2006) destacaram que os idosos têm maior dificuldade para discernir tons pastel e intensidade de cor e ler os textos com letras pequenas. Além disso, para estes passageiros mapas com muita informação podem tornar-se confusos. A mesma avaliação é válida para mapas que utilizam tela em três dimensões (3D). Na realização de check-in ou compra de produtos por meio de máquinas de autoatendimento os passageiros idosos têm dificuldade para localizar informações apropriadas por meio de telas sensíveis ao toque e inserir cartões nas máquinas, o que se relaciona a destreza manual reduzida (WOLFE, 2003; SUEN E WOLFE, 2006).

Apesar das alterações relacionadas ao envelhecimento, é preciso lembrar que as dificuldades surgem a partir da interação com os fatores contextuais. Logo, os problemas não podem ser atribuídos unicamente ao sujeito, mas sim serem pensados na relação com outros fatores e avaliados a partir da diversidade de passageiros, com características particulares, o que nem sempre é considerado no projeto dos artefatos.

Sobre o deslocamento vertical nos terminais Wolfe (2003); Suen e Wolfe (2006) e Howland et al. (2012) ressaltaram o maior risco de quedas e desequilíbrio envolvendo passageiros idosos, principalmente quando estes carregam bagagem.

De acordo com Howland et al. (2012) a probabilidade de quedas aumenta com o avançar da idade. Em estudo realizado em um aeroporto dos Estados Unidos os autores constataram que os passageiros idosos estão em maior risco para quedas no aeroporto e mais especificamente nas escadas rolantes. Em 43% das quedas registradas a pessoa envolvida tinha 65 anos ou mais. Nas escadas rolantes este número subiu para 53%.

Utilizar as esteiras rolantes também pode ser uma dificuldade devido a necessidade de permanecer em pé e as limitações de equilíbrio (WOLFE, 2003; SUEN E WOLFE, 2006). No Quadro 7 são apresentadas as dificuldades dos passageiros idosos nos momentos de embarque e desembarque. Características das cabines de aeronaves que também interferem negativamente nestes processos são apresentadas no Quadro 8.

Quadro 7 – Passageiros idosos: dificuldades no embarque e desembarque

E M B A R Q U E / D E SE M B A R Q U E Dificuldades Referências

Ler as sinalizações e telas com informações de voos Chang e Chen (2012c) Escutar e compreender os anúncios das companhias aéreas Wolfe (2003); Suen e Wolfe

(2006); Chang e Chen (2012c) Passar pelos procedimentos de segurança Wolfe (2003); Suen e Wolfe

(2006). Subir/descer escadas quando não há ponte de

embarque/desembarque

Inclinação acentuada da ponte embarque/desembarque quando existente

Diferença de iluminação entre as pontes de embarque/desembarque e o terminal.

Falta de mapas de localização no desembarque Encontrar o local para retirada das bagagens Espera pela bagagem

Retirar a bagagem da esteira para colocar no carrinho Elaborado pela autora.

A dificuldade de escutar e compreender os anúncios das companhias aéreas deve-se ao excesso de ruído nos aeroportos. Com relação à dificuldade para passar pelos procedimentos de segurança verifica-se que esta se relaciona a necessidade de esperar em pé, remover e recolocar itens pessoais e colocar a bagagem na esteira. Em relação à ponte de embarque e desembarque, a inexistência desta aumenta a dificuldade dos idosos devido à necessidade de subir ou descer escadas, por outro lado, quando existentes os passageiros avaliam que a inclinação da rampa é muito acentuada podendo aumentar o risco de queda. No aeroporto de destino são maiores as dificuldades de localização e orientação devido a menor familiaridade com o terminal (WOLFE, 2003; SUEN E WOLFE, 2006).

Conforme apresentado no Quadro 8, as dificuldades dos passageiros na aeronave afetam principalmente os deslocamentos na cabine e a acomodação no embarque. Além disso, Chang e Chen (2012c) salientaram a dificuldade de uso dos lavatórios da aeronave considerados pouco amigáveis.

Quadro 8 – Passageiros idosos: dificuldades na aeronave

A E R O N A V E Dificuldades Referências

Espaços da cabine Wolfe (2003); Suen e Wolfe

(2006); Dimensões do corredor

Proximidade dos assentos Localização das saídas

Entender os avisos de segurança

Armazenagem de muletas, andadores e cadeiras de rodas Elaborado pela autora.

Durante o voo, segundo com Chang e Chen (2012c), em decorrência de alterações físicas e fisiológicas que podem acometer as pessoas idosas, estas podem ter a necessidade de utilizar o lavatório com maior frequência, denotando preferência por assentos próximos a este.

Chang e Chen (2012c) apontaram que os itens mais importantes para os passageiros idosos em uma viagem aérea são: serviços especiais para idosos, anúncios de cancelamento/atraso de voos, informações acerca de saídas de emergência, refeições especiais para o idoso, orientação no terminal, informações sobre transporte de e para o aeroporto.

Dentre os itens com os quais os idosos demonstraram satisfação destacaram-se os relacionados, principalmente, às atitudes dos atendentes, guichês exclusivos e prioridade/facilidade de embarque. Por outro lado, os itens que causaram insatisfação são as refeições, informações nos aeroportos e uso do lavatório na cabine (CHANG E CHEN, 2012b).

Para passageiros com limitações da agilidade e destreza manual, o manuseio de documentos e o preenchimento dos formulários pode ser um desafio. Em geral, a maioria dos documentos são impressos com letras pequenas, o que dificulta a leitura. Além disso, nem sempre há cadeiras, canetas e balcões disponíveis para facilitar o preenchimento (SUEN, WOLFE, 2006).

Com relação às preferências dos passageiros idosos no entretenimento a bordo, a pesquisa Passenger Survey Report (DIGECOR INC., 2012) apontou que aqueles com 60 anos ou mais têm uma expressiva preferência por sistemas individualizados de entretenimento

e com telas acopladas ao encosto das poltronas. Passageiros idosos demonstraram menor interesse que outros grupos em relação ao embarque com dispositivos eletrônicos pessoais.

Considerando o ciclo de viagem Suen e Wolfe (2006) destacaram que os passageiros precisam fazer inúmeras transferências entre diferentes veículos desde a chegada ao aeroporto até os deslocamentos no terminal. Além disso, aqueles que utilizam cadeiras de rodas podem precisar transferir-se desta para outros assentos. Tais transferências requerem esforço físico e podem ocasionar quedas e lesões. Outra preocupação frequente é quando a cadeira de rodas é despachada e o passageiro fica afastado desta sem saber o seu estado de funcionamento ao final da viagem.

Wolfe e Suen (2007) concluíram que melhorias tipicamente aplicadas tendo em vista as necessidades de pessoas com deficiência também facilitam o uso do transporte aéreo pelos demais passageiros, incluindo as pessoas idosas.