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CAPÍTULO 4. RESTRIÇÕES À PARTICIPAÇÃO NAS VIAGENS AÉREAS E

4.2 Restrições à participação nas viagens aéreas

4.2.2 Restrições à participação no Voo

4.2.2.1 Locomover-se na cabine da aeronave e utilizar o lavatório

A Figura 15 apresenta as contradições e descontinuidades nos sistemas de utilizar o lavatório e a locomoção na cabine. Passageiros com deficiência relataram que evitam utilizar o lavatório a bordo em decorrência da dificuldade para deslocamento na cabine. As restrições identificadas relacionam-se as contradições entre o passageiro, a companhia aérea, as regras, os comissários e o objeto da atividade. Entre os artefatos inclui-se a aeronave, uma vez que os espaços são considerados apertados e a cadeira de rodas de bordo inadequada.

Figura 15 – Restrições à participação no voo: locomover-se na cabine e utilizar o lavatório

Elaborado pela autora. Cadeira de rodas de bordo

Aeronave

Companhia aérea :deve prestar assistência para o

deslocamento na aeronave e condução às

instalações sanitárias, Aeronaves com 100 ou mais

assentos devem dispor de no mínimo uma cadeira de rodas de

bordo. (Resolução ANAC nº280/2013) Locomoção na cabine da aeronave Passageiros precisam de auxílio para locomoção na cabine, especialmente, quando é necessário o uso da cadeira de rodas de bordo. Há passageiros que evitam o uso

do lavatório na cabine devido a dificuldade para locomoção na aeronave. Passageiro com deficiência, idoso e/ou obeso Acompanhantes Outros passageiros Atendentes da companhia aérea

Passageiro com deficiência, idoso e/ou obeso Lavatório da cabine Utilizar o lavatório da aeronave

Companhia aérea deve prestar assistência para condução às instalações

sanitárias. Acompanhantes

Outros passageiros Atendentes da companhia aérea Resolução ANAC

nº280/2013 –não tem recomendações de lavatório para aeronaves

Nas entrevistas preliminares os participantes E6, E7, E11, E13 e E14 destacaram as restrições para ir até o lavatório da cabine, conforme falas a seguir.

Chego a utilizar o banheiro, mas é uma canseira naquela cadeirinha. Você imagina, eu sou um cara relativamente pequeno, faço [a transferência] se você botar a cadeira aqui e o vaso estiver ali eu consigo passar pra cá, mas você imagina, o cara não consegue. As portinhas, o corredor, tudo muito pequeno, muito estreito. Tem cara que tem equilíbrio, você me coloca numa cadeira eu fico aqui, mas quero ver você botar um tetraplégico, ele não vai ficar, ele cai pro lado. O tetraplégico não tem isso daqui [controle de tronco], ele não segura, aquela cadeirinha lá é complicado pra ir no banheiro (E11).

Eu acho que a questão do acesso ao toalete também é bem complicada. Mas eu não bebo nada durante a viagem pra não ter que usar porque é impossível (E6).

A gente já botou na cabeça que em voo curto a gente não vai ao banheiro, é só não beber líquido, a gente já sabe que é difícil ir ao banheiro (E6).

Uma vez fomos para Pernambuco com a equipe de basquete, era a primeira vez que eles voavam de avião, e metade deles passou mal. Ninguém conseguia chegar ao banheiro (E13).

Para ir ao banheiro a aeromoça me acompanha (E14).

O toalete do avião é muito restrito mesmo, e é preciso ter alguém que conduza até a porta (E7).

Quanto ao uso do lavatório da cabine, os passageiros mencionaram que falta acessibilidade, referindo-se principalmente a limitação do espaço que dificulta a assepsia, o apoio de materiais e o acesso com a cadeira de rodas de bordo, além da falta de padronização e de sinalização para pessoas com deficiência visual.

O banheiro é terrível. Precisei usar e ai tudo o guia intérprete tinha que passar pra mim. Só que na hora é tão, o avião fica na turbulência, então assim, essa última viagem que eu fui foi terrível, eu não conseguia achar o lixo, eu não conseguia achar o papel, eu não conseguia achar a descarga, NADA! Eu agora como é que eu faço? Que se dane minha filha, eu vou puxando aqui, fuçando ali. Ai eu consegui me achar. Mas assim, tudo isso porque não tinha identificação melhor. Tudo é visual, tem que ter uma identificação dentro do toalete, porque como? Não é possível! Onde está o sabonete líquido? O papel tá não sei aonde. Ai gente, é constrangedor. Ah não, não é bom não. O guia vidente abre a porta e tenta por a mão e mostrar. Para o banheiro ser acessível no aéreo tem que ter identificação em todos os acessórios possíveis. Tem que ser tudo identificado. Não tem como. Braille, ou em relevo, qualquer coisa. Porque se não, não vai pra frente (E2).

Na estruturação dos toaletes em geral o para pessoas com deficiência visual o importante é que siga as normas da ABNT [9050/2015] pois os locais já são padronizados. A organização e padronização deixam a pessoa a vontade, isso traz independência e satisfação (E7).

E dentro da aeronave também é muito pequeno esse banheiro para você fazer toda a assepsia (E6).

Os banheiros são tão pequenos, e tem alguns casos de pessoas com deficiência que precisa entrar no banheiro acompanhado de outra pessoa. Se você tem uma pessoa que precisa viajar acompanhado de alguém pra fazer uma assepsia, ele garante o desconto na passagem porque ele sabe que tem a necessidade de um acompanhante, garante que o acompanhante vá, mas não garante que ele entre no banheiro junto. Tem que ficar com a porta aberta. Eu já vi pessoas tendo que fazer uma assepsia durante o voo com a porta aberta (E6).

E não é só pra pessoa com deficiência não, porque eu tenho um amigo que diz que tudo mundo sabe o que que o obeso vai fazer, se o número um ou o número dois, se for o número dois ele tem que entrar de ré porque não dá pra virar ali dentro (E6). O banheiro é outra situação interna da aeronave. Se for uma pessoa andante muito alta já não entra no banheiro, obeso então nem se fala. Então, será que não dá pra abrir mão de mais algum espaço dentro da cabine, para tentar ampliar esse banheiro? O que teria que acontecer, pela norma, é que a cadeira de bordo entrasse no banheiro, que fosse possível fazer a transferência para o vaso, mesmo que precisasse tirar a cadeira e trazê-la depois, mas nem isso acontece. Veja bem, isso não é o ideal, pois o ideal seria um banheiro padrão, acessível, que eu possa usar sozinho com a minha cadeira (E13).

Passageiros com deficiência física, usuários ou não de cadeira de rodas, e passageiros com nanismo apontaram que nem todas as aeronaves utilizadas no transporte aéreo doméstico têm cadeira de rodas de bordo, o que indica descontinuidades entre o passageiro, a companhia aérea, atendentes e a regulamentação no país. Além disso, passageiros com deficiência física e usuários de cadeira de rodas, passageiros com nanismo e passageiros com deficiência física-idosos-obesos salientaram a necessidade de serem carregados manualmente para os deslocamentos na cabine, situação geradora de constrangimentos.

Nesta perspectiva, constata-se que as restrições para acesso e uso do lavatório da cabine resultam no não atendimento de três componentes da acessibilidade espacial: orientação, conforme evidenciado nas falas de E2 e E7; deslocamento e uso, estes últimos também foram evidenciados nas respostas ao questionário, conforme apresentado no Quadro 33.

Quadro 33 – Restrições para locomover-se na cabine e utilizar o lavatório: contradições e descontinuidades entre passageiro-artefatos

Elaborado pela autora.

No acompanhamento da viagem de PF7, a passageira ressaltou a restrição do espaço no lavatório da cabine que impossibilita acessá-lo utilizando a cadeira de rodas de bordo.

Eu particularmente vou ao banheiro em uma perna só, me apoiando aqui e ali; mas uma pessoa para[plégica] ou tetraplégica não tem essa movimentação. Inclusive às vezes a gente tem que pegar no colo e levar, então é bem dificultoso. Mesmo em voos internacionais o espaço do banheiro não ajuda muito, mesmo sendo um pouco maiores. Mas é possível entrar com a cadeira on board no banheiro, transferir para o vaso, então um comissário retira a cadeira e fecha a porta. Quando o passageiro bate na porta, o comissário abre-a e coloca a cadeira no banheiro para transferência. Acesso ao banheiro é uma dificuldade por conta do espaço muito restrito no banheiro e corredor. Especialmente quando é necessário ir com a cadeira de rodas. Nestes casos, às vezes o pessoal utiliza fralda, coletor ou coleta [urina] no assento. cad DMu ob id id id-ob RESTRIÇÕES Passageiro-Artefatos

Porta do lavatório é estreita e impede entrar com a cadeira de rodas de bordo

Entrar e sair do lavatório

Acessibilidade e espaços inadequados no lavatório Falta privacidade para uso do lavatório

Distância entre o vaso e a cadeira que fica na porta é grande para transferência

Cadeira de rodas de bordo é inadequada (é muito pequena, não tem apoios)

Dificuldade para o fechamento da trava da porta do lavatório Faltam barras de apoio nos lavatórios

Componente da acessibilidade espacial prejudicado: USO Espaços restritos na cabine

Corredor da cabine é estreito Deslocamento dentro da aeronave Entrar e sair do assento

Deslocamento entre o assento e o lavatório

Componente da acessibilidade espacial prejudicado: DESLOCAMENTO

Pessoa com

deficiência física DMu

Pessoa com

deficiência múltipla Pessoa obesa

Pessoa obesa e

idosa id Idoso

Pessoa com nanismo

Pessoa com

deficiência visual Pessoa idosa cad

Usuário de

cadeira de rodas ob Obeso