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A MINHA EQUIPA PARTICIPA ATAQUE + DEFESA

2.3.2. A Interacção nos Contextos de Jogo

Da interacção das três macroestruturas referidas emerge uma característica fundamental do jogo de Futebol, que configura a finalidade para a qual convergem todas as fases do jogo, isto é, a organização colectiva. Neste contexto, há que considerar as facetas “cooperação” “oposição. A primeira constrói-se a partir das acções resultantes da pretendida optimização de comportamentos colectivos (Barreira, 2006); da segunda resulta a natureza invasiva do jogo de Futebol.

No presente estudo, utilizou-se como contextos de interacção o Centro do Jogo (CJ) e a Configuração Espacial de Interacção (CEI) (Castellano Paulis, 2000).

2.3.2.1. Centro do Jogo

Muitos são os investigadores que no jogo de Futebol consideram o factor número ou, mais precisamente, a superioridade numérica, como um dos elementos determinantes para se alcançar a vitória. Contudo, o número de jogadores neste jogo está regulamentado pelas leis do jogo: onze para cada equipa. Por isso, e na impossibilidade de se atingir uma superioridade numérica permanente (excepto em casos excepcionais – expulsões, lesões, etc.), importa às equipas tentarem assegurar uma superioridade relativa em

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cada situação momentânea de jogo, graças a uma judiciosa utilização dos jogadores e do espaço.

Neste estudo, define-se Centro do Jogo como a zona onde a bola se movimenta num determinado instante (Castelo, 1996), isto é, através do contexto de cooperação e de oposição dos jogadores influentes no jogo. Entende-se por este conceito, o(s) jogador(es) que pode(m) participar de modo directo na continuidade da acção em curso (Gréhaigne, 2001), na zona do campo onde se encontra o portador da bola.

Neste contexto, a superioridade numérica refere-se à maioria que é conseguida momentaneamente no Centro do Jogo e nas zonas circundantes. Nestes espaços, de acordo com a generalidade dos autores, é fulcral procurar-se sempre: (1) recusar a inferioridade numérica, (2) evitar a igualdade numérica, (3) criar a superioridade numérica (Castelo, 1994). Aliás, estes três aspectos foram já elevados à categoria de princípios gerais do jogo de futebol, visto as equipas que sistematicamente conseguirem criar superioridade numérica nas sucessivas situações de jogo têm maiores probabilidades de alcançar o objectivo do jogo. Ou seja, a equipa que mais situações de jogo ganhar, maiores probabilidades tem de vencer o jogo (Quina, 2001).

Tendo por base o número, a zona e a possível participação dos jogadores da equipa em fase ofensiva, e o número, a zona, e a possível participação dos jogadores adversários na zona do campo em que se encontra o portador de bola, distinguem-se duas categorias da equipa observada em processo ofensivo: (1) sem pressão; (2) com pressão (Barreira, 2006). O conceito de Pressão encontra-se directamente relacionado com factores táctico – estratégicos inerentes ao contexto de cooperação e oposição dos subsistemas ou níveis de organização «equipa»; «confronto parcial» e «confronto individual», que transformam a cada momento o fluxo acontecimental do jogo (Gréhaigne, 2001), sendo fundamental compreender qual a influência do contexto de interacção no Centro do Jogo no fluxo acontecimental do jogo.

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Na tentativa de se objectivar e operacionalizar este conceito, poder-se-ia utilizar um critério métrico, ou seja, que no instante pretendido fosse identificada uma circunferência de um raio determinado, delimitando-se os elementos dispostos no interior desse circulo como estando no Centro do Jogo, e os restantes como estando fora do mesmo (Barreira, 2006). No entanto, o mesmo autor (2006) alerta para os problemas que podem advir deste método: 1. Num instante do jogo, um jogador apesar de estar mais afastado

(metricamente) do portador da bola do que outro, pode ter uma maior possibilidade de intervenção na situação de jogo do que o segundo, fazendo mais sentido que aquele seja incluído no Centro do Jogo.

2. Na observação das situações de jogo, o instrumento utilizado para concretizar a imagem das mesmas permite aumentar ou diminuir o campo de visão e, por conseguinte, faz variar a distância com que percepcionamos a situação de jogo, o que pode induzir erros de análise.

Desta forma, sugere-se a capacidade de intervenção e a função dos jogadores na situação momentâneo do jogo, como critérios definidores de Centro do

Jogo, uma vez que o contexto de interacção é modificado quando o Centro do Jogo também se altera. Cria-se de imediato uma nova situação de

confrontação, tanto no Centro do Jogo como em todo o espaço mais afastado da bola, visando sempre a estabilidade da própria organização colectiva e a desorganização da estrutura adversária.

2.3.2.2. Configuração Espacial de Interacção

Castellano Paulis (2000) alerta para a importância da interacção da equipa observada com a adversária para a investigação do jogo de Futebol. De acordo com Silva (2004), só nestas condições é possível oferecer o mesmo nível de informação relativamente à contextualização da interacção com a equipa adversária (Silva, 2004). Neste sentido, Castellano Paulis (2000) define contextos de interacção como sendo a configuração espacial momentânea

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gerada pelas duas equipas no confronto. Na base deste conceito encontram-se o de espaço de jogo efectivo (E.J.E.) e de Configuração espacial da equipa (C.E.E.), que são fundamentais para o seu entendimento (idem, 2000). São noções dadas pela disposição espaço-temporal das equipas em relação à bola, conferindo-lhe um carácter estruturante e contextualizado do jogo, pelo que as equipas devem dispor-se em função da sua posição e também do momento do jogo, ou das possibilidades estratégicas que a posse ou não da bola permite (Silva, 2004).

O contexto de interacção é definido pelo conceito de Configuração espacial de

interacção (C.E.I.), que recorrendo à técnica de Análise Sequencial, permitirá:

1) conhecer a dinâmica que ditas configurações sofrem no decorrer do confronto; 2) transcrever os contextos de interacção que emanam do confronto entre as equipas; 3) perceber como estes estados surgem, se sucedem, se transformam e evoluem ao longo do jogo (Castellano Paulis, 2000).

É na clarificação da noção de Configuração espacial de interacção das equipas (C.E.I.), que surge o de espaço de jogo efectivo (E.J.E.) (conforme a Figura 2.6.), que é considerado como a superfície que abarca a disposição de todos os jogadores de uma equipa, tendo em conta aqueles que se encontram nas partes mais exteriores do seu conjunto, não incluindo o guarda-redes. Para melhor delimitar a ampla superfície da Configuração espacial para ser utilizada no âmbito da observação surgiu a necessidade de decompor o espaço de jogo

efectivo da equipa, que compõe a sua Configuração espacial, em diferentes

partes ou zonas: E.J.E. Atrasado (AT); E.J.E. Médio (M); E.J.E. Adiantado (AD); E.J.E. Exterior (E) e E.J.E. vazio (V).

Manuel Ramos 37 Figura 2.7. – Representação do espaço de jogo efectivo e das cinco partes ou zonas que o

compõe, num determinado instante (Adaptado Silva, 2004)

O espaço de jogo efectivo é um espaço em constante alteração uma vez aos jogadores, em função do jogo, são requeridas constantes adaptações e readaptações. De acordo com Silva (2004), é importante salientar que:

1. Estas zonas não guardam qualquer relação directa com os sistemas de jogo;

2. Não levam em conta o número de jogadores que possam encontrar- se em cada uma delas;

3. Apesar de muitas vezes a zona atrasada, média, adiantada e externa coincidir em determinados momentos do jogo com os conceitos de zona defensiva, zona de médios, zona de avançados e zona de extremos respectivamente, estes conceitos não são equivalentes.

Castellano Paulis (2000) eleva o conceito de interacção ao parâmetro mais relevante da acção de jogo em Futebol. Bruggemann & Albrecht (2000) referem que o bom comportamento de uma equipa parece orientar-se no comportamento do adversário, pelo que a observação e a previsão das intenções contrárias facilitam tanto o jogo de ataque como o de defesa.

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