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A MINHA EQUIPA PARTICIPA ATAQUE + DEFESA

2.3.1. Macroestruturas indutoras da dinâmica acontecimental do jogo de Futebol

2.3.1.1. Espaço

O espaço de jogo pode ser perspectivado numa dupla dimensão que, de acordo com Tissié (1971), citado por Pino Ortega (1997), corresponde a dois subespaços: as zonas fixas e as zonas variáveis.

As primeiras pressupõem que o terreno onde se desenvolve o jogo de Futebol seja um espaço rectangular com um comprimento variável entre 90 e 120 metros e uma largura entre 45 e 90 metros. Para além das marcações físicas, o campo de jogo é também perspectivado através de linhas e zonas virtuais (imaginárias), que orientam os comportamentos dos jogadores e das equipas. São estas últimas que permitem mapear o campo (conforme a Figura 2.5.), obtendo-se uma configuração com três corredores e três sectores. De acordo

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com Garganta (1997), os corredores de jogo catalogam-se por esquerdo, central e direito, estabelecidos pelas linhas laterais e duas linhas longitudinais que unem as pequenas áreas das balizas. Como sectores de jogo tem-se os defensivo, médio e ofensivo, delimitados por duas linhas transversais que subdividem em partes iguais as duas metades do terreno de jogo. O sector médio é subdividido em dois sectores pela linha visível denominada linha de meio-campo, nos sectores médio-defensivo e médio-ofensivo (idem, 1997).

Figura 2.5. – Espacialização do terreno de jogo: corredores e sectores (Adaptado Quina, 2001)

Existe, deste modo, uma dimensão física caracterizada por um espaço formal, estável e estandardizado (Garganta & Pinto, 1994; Garganta, 1997; Pino Ortega, 1997), que é delimitado pelo regulamento de jogo. Por outro lado, é neste espaço que outros subespaços se criam e transformam, à medida que a comunicação e a contra-comunicação evoluem (Velásquez, 2005), o que reflecte a natureza do Futebol, enquanto jogo de invasão.

Falar-se de espaço de jogo impõe, desde logo, um vínculo à interacção (Castellano Paulis, 2000), pelo que um comportamento positivo parece também orientar-se em função do comportamento do adversário, sendo este um parâmetro relevante da acção (idem, 2000). Parece ser nesta dimensão de espaço - subespaço de zona variável - que assenta a dinâmica do jogo de Futebol. Como refere Comucci (1983: 49) “… todas as sagacidades técnicas e

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tácticas são focalizadas neste elemento – o espaço”. Assim, esta dimensão permite e ajuda os jogadores a responder aos imperativos do jogo fazendo com que respeitem nas diferentes fases (ataque e defesa) os respectivos princípios de jogo (Garganta, 2002), e por outro lado, a estabelecer uma correlação e/ou coerência entre a denominada lógica interna do jogo e a lógica didáctica de intervenção no treino (Teodorescu, 1984).

Toda a acção de jogo deve possibilitar a concretização dos objectivos, que na equipa em posse de bola passam pela criação, ocupação e exploração dos espaços livres, enquanto que na equipa sem posse de bola, passam por tentar restringir e vigiar os espaços vitais do jogo (Guia et al., 2004). Compreende-se aqui que na estrutura do jogo existem zonas significativas ou espaços vitais, que são permanentemente alteradas no que concerne à sua relevância para o fluxo acontecimental do jogo – o espaço configuracional. Assim, se num instante um determinado espaço é considerado vital, isto é, significativo para a concretização do objectivo do jogo ou, pelo menos, de uma etapa que possa conduzir a tal concretização, no instante seguinte, derivado da(s) acção(ões) do(s) jogador(es), essa mesma zona pode tornar-se menos significativa. Por conseguinte, cada jogador encontra-se confrontado por espaços dinâmicos funcionalmente ligados entre si, que assumem diferentes configurações em função da evolução e desenvolvimento do jogo (Castelo, 1996). Deste modo, as equipas devem criar linhas de força que permitam fazer o jogo evoluir no sentido mais favorável para a concretização dos próprios objectivos, evitando em simultâneo que o adversário se aproxime da concretização dos seus.

Em suma, as equipas e respectivos jogadores tendem a utilizar o espaço de jogo (físico, configuracional e informacional) de forma a assegurar que as disposições básicas dos jogadores dentro da equipa estabeleçam linhas de força unitárias e homogéneas, que constituem o Quadro referencial da rede de comunicação da equipa, ou de intercepção das ligações do adversário (Castelo, 1996), objectivando sempre que o espaço possa ser utilizado e, simultaneamente, controlado (Comucci, 1983).

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2.3.1.2. Tempo

O factor tempo parece funcionar como agente limitador, impondo fortes constrangimentos à utilização do espaço e realização de tarefas, e sobretudo à sua interacção, na medida em que os jogadores não podem parar para pensar, devendo tomar decisões fortemente pressionados (Thomas & Thomas, 1994).

De acordo com Bacconi & Marella (1995), dada a premente necessidade de reagir/responder a estímulos em função da pressão temporal imposta pelo jogo, requer-se que o jogador consiga interpretar as situações no mais curto espaço de tempo possível, sem contudo descurar a qualidade das suas acções. Quanto mais tempo tiverem os jogadores para percepcionar, analisar e executar as suas acções táctico-técnicas, menor será o risco de cometerem erros, decidindo-se assim pela solução mais apropriada ao contexto táctico (Castelo, 1994).

Desta forma, o desenvolvimento das acções de jogo compreende uma temporalidade que permite configurar aspectos relacionados com a forma de jogar das equipas (Miller, 1996), estando indiscutivelmente associado à quantidade e à qualidade desse mesmo fenómeno.

2.3.1.3. Tarefa

A dimensão tarefa representa a acção ou acções desempenhadas pelos jogadores nas diferentes fases do jogo, em função dos constrangimentos de espaço e tempo que se lhes deparam (Garganta,1997). Segundo Castelo (1996), a concretização dos objectivos pré-estabelecidos consubstanciam a necessidade do estabelecimento de um estatuto e de uma função táctica específica, as quais definem o sentido e os limites da participação de cada jogador na resolução das variadíssimas situações que o jogo em si encerra. Assim, segundo Garganta (1997), a actividade dos jogadores organiza-se em função de escolhas tácticas e de formas de execução, que giram em torno de quatro factores fundamentais: (1) portador da bola; (2) companheiro do

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portador da bola; (3) adversário do portador da bola; (4) adversário do jogador atacante colega do portador da bola.

Como refere Castelo (1994), logo que a bola entra em movimento, efectuam-se com uma certa liberdade, de sector para sector e de corredor para corredor, movimentos compensatórios, em que a ocupação é a cada instante adaptada consoante as situações momentâneas de jogo, onde se procuram assegurar as respostas tácticas especificas – imediatas e prementes, à consecução dos objectivos da equipa.