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ÍNDICE DE CONCORDÂNCIA INTER-OBSERVADOR

4.5. A NÁLISE DOS DADOS

A análise sequencial é uma das modalidades de análise qualitativa que se pode aplicar aos dados observacionais (Silva, 2004). Aplicar-se-á, em especifico, a técnica de retardos8 ou de transições (lag method).

4.5.1. Análise Sequencial

O principal objectivo das técnicas sequenciais é a ordenação de condutas no tempo, podendo ajudar a compreender como a conduta se produz momento a momento ou dar uma explicação causal para a sua ordenação (Silva, 2004). Ou seja, crê-se que a análise sequencial9 procura a comprovação de uma estabilidade na sucessão de sequências acima das probabilidades que são outorgadas pelo mero acaso (Anguera, 1992: 192), bem como da emergência de certas condutas em função da ocorrência de outras (Hérnandez Mendo et al., 2000).

Este pensamento pode ser aplicado ao jogo de Futebol, na medida em que, apesar de este tratar de situações de mudança em que o final é aberto e, por conseguinte, a sua dinâmica tornar-se de difícil análise (Garganta, 2001), sabe- se que os seus acontecimentos não são apenas condicionados pelo acaso. Assim, existem comportamentos que se repetem com alguma frequência, que são perceptíveis de forma intuitiva, e que a sequencialidade de ocorrência desses comportamentos é também um aspecto observável no jogo de Futebol. Vários autores defendem que a aplicação da sequencialidade em estudos no âmbito dos JDC e em particular do Futebol, permitem recolher informação indutora de um avanço substancial na análise da acção de jogo nesta modalidade (Silva, 2004).

Como nos estudos de Silva (2004) e de Barreira (2006), das duas abordagens

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Retardo é o número de ordem que ocupa cada conduta registada a partir de cada ocorrência da conduta critério. 9

O termo Sequencial refere-se a “fenómenos, condutas ou comportamentos (eventos) de relativa temporalidade que vão surgindo no decorrer de um jogo de Futebol, como resultado da interacção entre jogadores da mesma equipa (relação de cooperação) e/ou entre jogadores da equipa adversária (relação de oposição)” (Silva, 2004: 82).

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possíveis para a análise sequencial: a modelização e a descrição, será utilizada a segunda. Esta pressupõe que o observador, carecendo de um modelo substantivo para as sequências que observa, tenta, de forma indutiva, descobrir as regularidades existentes nas mesmas (Hernández Mendo & Anguera, 2000). No âmbito da descrição, a técnica de retardosou de transições (lag method) assume-se como a prioritária.

De acordo com Anguera (1983, cit. Silva, 2004:84), a técnica de retardos “… facilita, senão a identificação directa e exacta de padrões de ocorrência entre condutas, uma aproximação a ela..” Este método baseia-se na eleição de uma determinada conduta como Conduta Critério (CC) a partir da qual se contabiliza as vezes ou tempo em que uma determinada Conduta Objecto (CO) segue a CC no lugar de ordem seguinte, o qual supõe o primeiro retardo, e assim sucessivamente até se chegar ao retardo máximo (“max lag”) que nos marca o fim do padrão de conduta para efeitos interpretativos.

É assim possível aceder a um cálculo de tipo probabilístico, onde um determinado evento conductural ou comportamental de uma cadeia ou sequência de eventos conducturais, é dependente tanto do evento inicial (conduta critério) como dos eventos anteriores, procurando-se encontrar assim, uma probabilidade nas transições entre os diferentes acontecimentos do jogo (Castellano Paulis & Hernández Mendo, 2002b), conforme a Figura 4.5..

Procura-se identificar as transições conducturais que resultam da interacção das equipas em jogo, que pode ser realizada em dois sentidos:

- Sentido retrospectivo: analisam-se os retardos negativos (-1,-2,-3…), ou seja, condutas que acontecem até chegar a conduta critério;

Conduta

Critério (CC) Transição 1 Transição 2 Transição 3

Figura 4.6. Análise Sequencial pela técnica de retardos ou de transições (lag

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- Sentido prospectivo: analisam-se os retardos positivos (1,2,3…), ou seja, condutas que surgem a partir da conduta critério.

De salientar que existem condutas ou categorias que apenas podem ser analisadas desde um ponto de vista prospectivo (de início) ou retrospectivo (de final), enquanto outras, devido à sua aplicação no continuum do jogo (de desenvolvimento) permitem uma dupla análise a partir dos dois sentidos (Silva, 2004), como específica para o presente estudo o Quadro 4.12.

No presente estudo foram seguidas duas formas de apreender a forma definitiva de padrão conductural:

a. Série de regras interpretativas de carácter convencional que facilitam a adopção da forma definitiva de padrão;

b. Força de Coesão entre as condutas sequenciais, de acordo com a lógica do jogo de Futebol e o observado aquando da fase de observação e recolha dos dados.

Salienta-se que estes padrões encontram-se distinguidos na apresentação dos resultados, correspondendo ao padrão comportamental sublinhado.

(a) Para definir qual o retardo máximo ou “max-lag” do padrão de conduta Anguera (2003); citado por Silva (2004: 102) introduziram uma série de regras interpretativas de carácter convencional que facilitam a adopção da forma definitiva de padrão:

1. Um padrão de conduta termina de forma natural quando não há mais retardos excitatórios. Neste estudo, o padrão conductural nunca excederá o retardo 5, tanto retrospectiva como prospectivamente, pois este foi convencionado como o retardo máximo;

2. Um padrão de conduta em que há dois retardos consecutivos vazios (sem condutas excitatórias) termina em consequência destes;

3. Quando num padrão de conduta há dois retardos consecutivos com várias condutas excitatórias, o primeiro deles denomina-se “max-lag”, e considera-se o ultimo retardo interpretativo do padrão de conduta.

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(b) Em virtude da forte relação excitatória entre condutas sequentes, e tendo por base a lógica de acontecimento das mesmas em função da lógica interna do jogo de Futebol e também do que foi observado ao longo do processo de recolha e registo dos dados, os comportamentos com maior valor de Z foram relacionados, atribuindo-se-lhe carácter de padrão de jogo, no caso desta investigação, ofensivo, conforme o exemplo das Figuras 4.5. e 4.6..

Figura 4.7. - Condutas Objecto activadas a partir da Conduta Critério Desenvolvimento da

Posse de Bola por Cruzamento Positivo.

Figura 4.8. - Padrão de jogo DPczp encontrado através da forma (b) acima referida

O produto final inerente à utilização da técnica de análise sequencial consiste num padrão de conduta, que corresponde a um extracto muito condensado da informação obtida, sendo muito útil para um conhecimento objectivo do comportamento estudado e para a análise da sua evolução (Hérnandez Mendo et al., 2000).

4.5.2. Processamento dos dados

As sequencias recolhidas das sessões de observação foram introduzidas no programa SDIS-GSEQ para Windows (versão 4.1.2.) de Bakeman & Quera (1996; actualizado em http://www.ub.e/comporta/sg.htm), resultando daí um ficheiro SDS. Através da função do programa check syntax only foram verificados possíveis erros no processo de digitalização dos dados. Utilizando- se a função compile SDS file, foi criado um ficheiro MDS, a partir do qual se

DPczp DPdu Frf DPr

DPse

DPgra Fgl

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realizou a análise sequencial, pela técnica de retardos ou de transições (lag

method), utilizando para tal as condutas critério que se afiguravam necessárias

e significativas para o estudo, conforme o Quadro 4.12..

Utilizou-se, quer em termos retrospectivos como prospectivos, o lapso 5 de Transição visto a consistência da sequência se ver muito reduzida a partir do mesmo (Castellano Paulis, 2000; cit. Silva, 2004). Ou seja, a determinação da excitatoriedade das transições entre as diferentes condutas consideradas como critério e objecto teve lugar considerando o padrão sequencial até ao limite 5, ou seja, pedindo-se retardos de -5 a +5.

Foram seguidos alguns preceitos para o processo de determinação da excitatoriedade e da relação entre as condutas critério e as condutas objecto:

ƒ As cadeias de retardo serão tão longas quanto maior for a existência de continuidade excitatória entre as condutas critério e objecto, nunca excedendo os cinco retardos, quer retrospectiva como prospectivamente (idem, 2004);

ƒ Só foram considerados as transições cujo valor de Z fosse igual ou superior a 1,96, pois este é o que representa uma maior probabilidade de Transição que o esperado pelo mero conceito da sorte ou acaso, existindo assim uma dependência excitatória ou positiva. Se o valor Z é menor que 1,96, a dependência torna-se inibitória ou negativa (Bakeman & Gottman, 1989: 173);

ƒ Quando num retardo existem duas ou mais condutas excitadas, considera-se como primária aquela cuja diferença entre a probabilidade condicional e incondicional for maior. A partir deste carácter de primariedade pode-se ordenar os diferentes padrões de conduta obtidos, em ordem da maior para a menor força de coesão entre os diferentes retardos (Anguera, 2003).

Manuel Ramos 92 Quadro 4.12. Sentidos retrospectivo, prospectivo e retrospectivo-prospectivo utilizadas para

realizar a análise sequencial de retardos, tendo como condutas critério o catálogo de condutas que fazem parte das três fases do desenvolvimento da fase ofensiva (Inicio; Desenvolvimento e Final), e os critérios estruturais (espaço) e interaccionais (CJ e CEI).