Interdependência positiva

A interdependência social entre os alunos é um elemento basilar para que haja aprendizagem cooperativa, pois somente se os alunos tiverem a consciência de que precisam uns dos outros para ter êxito na aprendizagem e se comprometerem com os objetivos grupais haverá aprendizagem cooperativa, por isso direta ou indiretamente, todos os autores defendem esse princípio.

Os irmãos Johnson e Johnson (1999), alertam, contudo, que a interdependência social pode ser de três tipos: a interdependência negativa, quando as pessoas competem entre si, deste modo uns ganham e outros perdem; a interdependência neutra, quando as pessoas empreendem esforços individuais para atingir um determinado objetivo, portanto os êxitos são particulares; e a interdependência positiva, quando as pessoas cooperam para atingir um objetivo comum, por isso todos ganham.

Assim, para que a interdependência positiva seja estruturada é necessário seguir alguns passos. O primeiro passo é determinar uma tarefa ao grupo, que seja clara e compreensível; o segundo passo é estabelecer a interdependência positiva de objetivos, na qual os alunos entendam que somente poderão alcançar seus objetivos se os demais membros também alcançarem os seus, para isso, os alunos devem ter a convicção a respeito de que:

1. Todos devem obter uma qualificação mínima nas avaliações individuais. 2. Todos devem melhorar seu desempenho em relação a avaliações anteriores.

3. A qualificação geral do grupo (determinada pela soma das qualificações individuais de seus membros) deve superar um critério específico.

4. O grupo deve fazer um produto (ou conjunto de respostas) bem-sucedido. (JOHNSON; JOHNSON, 1999, p. 116-117, tradução nossa).

O terceiro passo consiste em utilizar vários outros tipos de interdependência positiva, de modo complementar: interdependência positiva de festejos ou recompensas, na qual os alunos comemoram ou o professor recompensa os grupos por seus resultados; interdependência positiva de recursos, na qual cada membro do grupo possui apenas uma parte do material ou equipamento necessário para realizar a atividade, desse modo, só podem cumpri-la

integralmente se compartilharem seus recursos; interdependência positiva de papéis, em que são atribuídos papéis/funções para cada membro do grupo, de forma que cada um tenha determinada responsabilidade pelo bom funcionamento grupal; interdependência positiva de identidade, na qual o grupo cria uma identidade coletiva, por intermédio de um nome, um slogan, uma música ou uma bandeira que os represente; interdependência ambiental, em que o grupo estabelece um espaço físico de seu domínio (um lugar na sala de aula, um espaço na horta da escola etc.), criando um sentimento de pertencimento; interdependência positiva de fantasia, na qual o professor utiliza histórias simbólicas nas quais os alunos precisam se unir em busca da sobrevivência; interdependência positiva da tarefa, em que o cumprimento da tarefa de cada membro do grupo se faz necessário, para que os demais cumpram a sua própria tarefa; e, interdependência positiva em relação ao inimigo externo, na qual os grupos concentram esforços para competir e superar os outros grupos. (JOHNSON; JOHNSON, 2006).

A interdependência positiva também está presente na abordagem estrutural de Kagan (2003), desde que haja a responsabilidade individual dos alunos, mediante a qual os alunos possam ter igualdade de participação nas atividades desenvolvidas no grupo, gerando uma interação simultânea, pois só assim se obtém a cooperação de cada membro da equipe com os demais e, consequentemente, a ajuda recíproca.

Na concepção de Slavin (2002), a interdependência positiva ocorre a partir do estabelecimento de objetivos e metas grupais, que levam os alunos a cooperarem entre si, especialmente quando o alcance de metas for atrelado a recompensas, seja através de pontos, certificações ou outros meios que gerem gratificações psicológicas.

Esse autor criou uma das técnicas que deixam muito claro a importância da interdependência positiva, a técnica Trabajo en Equipo, Logro Individual (TELI), significa que se os alunos trabalharem em equipe, terão êxito individual. Neste método, inicialmente o professor dá uma atividade coletiva aos alunos para que eles estudem e discutam coletivamente, depois cada aluno responde a uma atividade individual, na qual, eles não podem se ajudar.

Ao final da atividade o desempenho dos alunos é comparado a seus próprios desempenhos em trabalhos anteriores, e, posteriormente, as equipes são premiadas ou certificadas, com base na evolução de seus membros. Todo o ciclo da

TELI pode durar de três a cinco aulas, pois “a ideia principal da TELI é motivar os alunos para que se animem e se ajudem a dominar as habilidades que o professor apresenta. Se querem que sua equipe ganhe recompensas de equipe, eles devem ajudar seus companheiros a aprender.” (SLAVIN, 2002, p.13, tradução nossa).

Como já se expressou anteriormente, portanto, Slavin (2002) sustenta que a interdependência positiva é o princípio fundante da aprendizagem cooperativa, haja vista que complementa e impulsiona a efetivação dos outros princípios e, consequentemente, a consolidação da aprendizagem.

Em se tratando de Cohen e Lotan (2017), ao estabelecer a necessidade de os alunos trabalharem uns com os outros para resolver determinada atividade, deixam evidente o elemento da interdependência positiva, como exemplificam:

Quando seus alunos trabalham em um produto bem definido e concreto, eles se tornam interdependentes. Além disso quando você é capaz de gerar um sentido de urgência para terminar a tarefa a tempo e quando insiste que eles criem um produto de qualidade e preparem um relatório conciso e profundo, os alunos cada vez mais dependerão uns dos outros para entender e completar a tarefa. (p. 85).

As autoras também revelam o benefício da interdependência positiva nas relações interpessoais, pois quando as pessoas trabalham juntas em busca de metas ou objetivos grupais, criam “impacto sobre os sentimentos de uma pessoa em relação a outra pessoa.” (COHEN; LOTAN, 2017, p.17).

A interdependência positiva, por fim, é o elemento basilar da aprendizagem cooperativa, no entanto, para que se concretize é necessário a utilização dos outros quatro elementos que lhe dão sustentação, como se verá a seguir.