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Fluxograma 4 – Sujeitos da pesquisa

3 CARACTERIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO CEARÁ

3.2 Matriz curricular da escola profissional

A matriz curricular da escola profissional é constituída por uma formação geral, com as disciplinas da base nacional comum ao Ensino Médio; por uma formação técnica, com as disciplinas próprias de cada curso técnico profissional; e uma formação diversificada, com componentes curriculares voltados para a vida pessoal e profissional dos educandos, pois,

um dos grandes diferenciais da escola de educação profissional é fortalecer o desenvolvimento pessoal e social do aluno, por meio da adoção de conteúdos diversificados presentes na matriz curricular. O objetivo é dar ênfase ao projeto de vida, empreendedorismo e à relação com o mundo do trabalho. (CEARÁ, 2019).

A formação geral do currículo é composta pelas disciplinas de língua portuguesa, língua estrangeira, artes, educação física, história, geografia, filosofia, sociologia, matemática, biologia, física e química, totalizando uma carga horária de 2.620h ao longo dos três anos. (CEARÁ, 2019).

No que respeita à formação profissional, compõe-se por treze eixos tecnológicos, subdivididos em 52 cursos técnicos, de acordo com o cardápio oferecido pelo Ministério da Educação (MEC), com uma carga horária mínima que varia entre 800 e 1.200 horas, além da carga horária destinada ao estágio supervisionado. Os cursos são distribuídos em todo o Estado, conforme os interesses do mercado de trabalho local, apresentados no quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Eixos tecnológicos da educação profissional

Eixo Tecnológico Cursos Técnicos

Ambiente e Saúde Enfermagem, Estética, Massoterapia, Meio Ambiente, Saúde Bucal, Nutrição e Dietética

Controle e Processos Industriais Automação Industrial, Eletromecânica, Eletrotécnica, Manutenção Automotiva, Mecânica

Desenvolvimento Educacional e

Social Secretaria Escolar, Tradução e Interpretação de Libras, Instrução de Libras - Experimental Gestão e Negócios Administração, Comércio, Contabilidade, Finanças, Logística,

Secretariado, Transações Imobiliárias Informação e Comunicação Informática, Rede de Computadores

Infraestrutura Agrimensura, Desenho de Construção Civil, Edificações, Portos Produção Alimentícia Agroindústria

Produção Cultural e Design Design de Interiores, Gestão Cultural - Experimental, Modelagem do Vestuário, Multimídia, Paisagismo, Produção de Áudio e Vídeo, Produção de Moda, Regência

Produção Industrial Biotecnologia, Fabricação Mecânica, Moveis, Têxtil, Petróleo e Gás, Química, Têxtil, Vestuário

Recursos Naturais Agricultura (Floricultura), Agronegócio, Agropecuária, Aquicultura, Fruticultura, Mineração

Segurança Segurança do Trabalho

Turismo, Hospitalidade e Lazer Eventos, Guia de Turismo, Hospedagem, Elaboração própria com base em Ceará (2019).

Quanto à parte diversificada do currículo, sublinha-se os componentes Formação para a Cidadania, Mundo do Trabalho, Projeto de Vida, Empreendedorismo e Diálogos Socioemocionais, delineadas a seguir.

A Formação para a Cidadania faz parte do Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT), no qual cada sala de aula da escola é adotada por um professor, que fica sendo o seu “diretor”, tendo como objetivo desmassificar o ensino, a partir de um atendimento diferenciado para cada aluno.

Os professores diretores de turma (PDT) têm quatro aulas em sua carga horária destinadas exclusivas ao projeto, dentre essas, uma aula é para desenvolver o componente curricular Formação para a Cidadania, que aborda temáticas pessoais e sociais, em “busca estimular os estudantes a se tornarem cidadãos responsáveis, críticos, ativos e intervenientes, permitindo-lhes trabalhar suas vivências no plano pessoal e coletivo”; uma aula para a elaboração, organização e análise do dossiê dos alunos, no qual constam todas as informações sobre cada

aluno da turma; uma aula destinada ao atendimento individualizado aos alunos; e uma aula para atender aos pais e/ou responsáveis. (CEARÁ, 2019).

Os Diálogos Socioemocionais são elementos curriculares desenvolvidos pelo Instituto Ayrton Senna5 que têm como objetivo proporcionar estudos e vivências

destinadas ao desenvolvimento de competências e habilidades sociais e emocionais nos jovens (ANEXO A). As competências socioemocionais são inseridas dentro do PPDT e agrupadas em cinco dimensões pertinentes ao desenvolvimento humano: amabilidade, autogestão, resiliência emocional, engajamento com o outro e abertura ao novo. (CEARÁ, 2019).

Para essas cinco competências socioemocionais são definidas 17 habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos ao longo do Ensino Médio, conforme a subdivisão, expressa no quadro 2:

Quadro 2 – Matriz de competências socioemocionais

Competências Habilidades 1. Amabilidade ▪ Empatia ▪ Respeito ▪ Confiança 2. Autogestão ▪ Determinação ▪ Foco ▪ Organização ▪ Persistência ▪ Responsabilidade 3. Resiliência emocional ▪ Tolerância ao estresse ▪ Autoconfiança

▪ Tolerância à frustração 4. Engajamento com os outros ▪ Iniciativa social ▪ Assertividade

▪ Entusiasmo

5. Abertura ao novo ▪ Curiosidade para aprender ▪ Imaginação criativa ▪ Interesse artístico

Fonte: Elaboração própria, com base em orientações do Instituto Ayrton Senna.

Dessa forma, incluir competências sociais no currículo escolar constitui importante estratégia pedagógica, em razão de que

a escola é um espaço privilegiado, onde há um conjunto de interações sociais que se pretendem educativas. Logo, a qualidade das interações sociais presentes na educação escolar constitui um componente importante 5 O Instituto Ayrton Senna é uma organização sem fins lucrativos que tem o “objetivo de dar a crianças e jovens brasileiros oportunidades de desenvolver seus potenciais por meio da educação de qualidade”, com foco na educação integral, tendo em conta o desenvolvimento pleno do educando. Disponível em: <https://www.institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/instituto.html#nossa- historia>. Acesso em: 30 jun. 2019.

na consecução de seus objetivos e no aperfeiçoamento do processo educacional. (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2014, p. 54).

Quanto ao Mundo do Trabalho (ANEXO B), esse componente curricular funciona em parceria com o Instituto Aliança6, por intermédio do Programa

Com.Dominio Digital, “voltado para a formação integral e integrada de jovens e sua inserção no mundo do trabalho.” O componente abrange um conjunto de publicações, com material estruturado que envolve três áreas: Desenvolvimento Pessoal e Social, Contexto das Relações do Trabalho e Tecnologia da Informação e Comunicação. (CEARÁ, 2019).

Em se tratando de Projeto de Vida (ANEXO C), essa unidade curricular estimula os alunos a refletirem acerca de dimensões relevantes de suas vidas e a elaborarem projetos de evolução pessoal, familiar, social e educacional/profissional, cujo “objetivo é oferecer uma formação profissional para além da questão meramente técnica, visando ao desenvolvimento das potencialidades humanas e da capacidade de interferir criticamente na vida social e profissional.” (CEARÁ, 2019).

Outro componente curricular importante é o Empreendedorismo, que intenciona expandir a visão empreendedora nos jovens, a partir dos temas trabalhados “Crescendo e Empreendendo; Iniciando um Pequeno Grande Negócio; e Como Elaborar Plano de Negócios.” (CEARÁ, 2019).

A proposta curricular do empreendedorismo, assim sendo, é desenvolvida por meio do material educacional “Despertar” (ANEXO D), do Programa Nacional de Educação Empreendedora (PNEE)7, cuja intenção ao final do curso é que

os alunos estejam mais conhecedores de suas próprias capacidades, desenvolvendo atitudes empreendedoras, tanto na vida pessoal quanto profissional. O objetivo e que eles deem continuidade aos seus projetos ou trabalhem de forma autônoma, buscando novos horizontes, que não sejam, necessariamente, direcionados a uma atividade empresarial, mas, acima de tudo, que possam empreender na profissão que escolherem e na vida diária. (GUTIERREZ, 2016, p. 12).

6 O Instituto Aliança é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), com “atuação focada nas políticas públicas para a juventude, fortalecendo as parcerias intersetoriais, participando em fóruns, redes e conselhos e, principalmente, atuando diretamente nos sistemas públicos de ensino”. Disponível em: <http://www.institutoalianca.org.br/nossa_historia.html>. Acesso em: 30 jun 2019.

7 O Programa Nacional de Educação Empreendedora (PNEE) foi desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), “com o objetivo de ampliar, promover e disseminar a educação empreendedora por meio da inclusão de conteúdos de empreendedorismo nos currículos dos diferentes níveis da educação: básica, profissional e superior”. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/Programas/programa- nacional-da-educacao-empreendedora-pnee,2c7cd24a8321c510VgnVCM1000004c00210aRCRD>. Acesso em: 04 abr 2019.

Além disso, faz parte da proposta das escolas profissionais o estágio curricular, que visa a desenvolver a prática laboral dos cursos técnicos, além de incentivar a inserção dos egressos da educação profissional no mercado de trabalho. Para tal, os estágios ocorrem na terceira série, com uma carga horária de 600 horas para os cursos do eixo da saúde e 400 horas para os cursos dos demais eixos.

Desse modo, a proposta curricular deve potencializar as relações dinâmicas e dialéticas entre as disciplinas e os conhecimentos, haja vista que

O currículo integrado organiza o conhecimento e desenvolve o processo de ensino-aprendizagem de forma que os conceitos sejam apreendidos como sistema de relações de uma totalidade concreta que se pretende explicar/compreender. (BRASIL, 2007,p. 42).

No que se refere a avaliação da aprendizagem escolar, os Referenciais para a Educação Profissional da SEDUC (CEARÁ, 2019b, p. 32) estabelecem três tipos de avaliação para serem praticadas nas EEEPs: diagnóstica, “a fim de se perceber quais os conhecimentos prévios que os estudantes detém e que são necessários para dar prosseguimento à sequência de estudos’; formativa, como “uma prática cotidiana”; e a somativa, para “certificar, reconhecer socialmente um aprendizado.”

O referido documento destaca como objetivos do processo de avaliação da aprendizagem nas EEEPs:

✓ diagnosticar dificuldades de aprendizagem, tendo em vista a recuperação do estudante e o replanejamento das atividades escolares, durante o processo;

✓ possibilitar ao estudante uma autoavaliação sobre o desenvolvimento de suas competências, de modo a interessá-lo em seu próprio progresso e aperfeiçoamento;

✓ servir ao professor como elemento de reflexão contínua sobre a sua prática educativa;

✓ verificar se o aluno alcançou o nível de aprendizagem esperado para cursar a série seguinte, ou para a conclusão do curso com sucesso. (CEARÁ, 2019b, p. 33).

Com relação a verificação do rendimento escolar, que diz respeito a formalização dos resultados escolares ao final de bimestres e do ano letivo, os referenciais das EEEPs preveem que cada escola irá definir em seu Projeto Político Pedagógico e no Regimento Escolar.

Os modelos de verificação escolar, portanto, devem ser delineados por intermédio de instrumentos avaliativos diversificados, conforme as características especificas das propostas pedagógicas da base nacional comum, da parte diversificada e dos cursos técnicos.

Por esse ângulo, faz-se mister um trabalho pedagógico consistente nas escolas de educação profissional do Ensino Médio, que vise a formar o jovem em sua totalidade, pois

Do ponto de vista organizacional, essa relação deve integrar em um mesmo currículo a formação plena do educando, possibilitando construções intelectuais elevadas; a apropriação de conceitos necessários para a intervenção consciente na realidade e a compreensão do processo histórico de construção do conhecimento. (BRASIL, 2007, p. 47).

A recuperação da aprendizagem, por sua vez, para os alunos com deficiências de aprendizagem, deve ocorrer durante o ano letivo, de forma a “propiciar aos estudantes, no seu horário normal de aulas, nos diferentes componentes curriculares, estudos de recuperação paralela, visando consolidar conhecimentos ou possibilitar uma nova condição de aprendizagem.” (CEARÁ, 2019b, p. 33).

Somente assim, o Ensino Médio passará a “constituir-se em direito social e subjetivo e, portanto, vinculado a todas as esferas e dimensões da vida” (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005, p. 76), possibilitando uma educação mais significativa, que torne o cidadão apto a obter sucesso em sua trajetória pessoal e profissional.

A caracterização específica da EEEP Maria Giselda Teixeira, no que lhe concerne, será aferida na seção 5.2 que trata do campo de pesquisa, assim como na seção 6.1.1 que trata da análise dos documentos de gestão da escola, por julgar ser um modo de otimizar as informações recolhidas sobre a instituição escolar investigada.