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Sociocultural Sociopolítico

3.1 INTERFACES DAS CORRENTES DA PSICOLOGIA E SUA COLABORAÇÃO NA ABORDAGEM DA PEDAGOGIA SOCIAL

Os estudos da ciência psicológica são de extrema importância para a compreensão do ser humano, pois contribuem para a reflexão das razões do que motivam o comportamento, a atitude, a formação do caráter e o temperamento particular da personalidade do indivíduo, do grupo, da sociedade ou da nação.

Uma postura relevante para facilitar a compreensão dos conhecimentos da Psicologia é ter a consciência que o ser humano está sempre em evolução, desenvolvimento e progresso, e que os autores, em suas explicações para esses fenômenos, não têm consenso entre as abordagens devido à multiplicidade de pressupostos e diretrizes sobre os fundamentos do comportamento humano.

Neste sentido, serão apresentadas algumas teorias da Psicologia e de seu subcampo Social baseados em alguns autores que contribuem para a formação do ser social articuladas com a construção da área da Pedagogia Social.

Para Teles (2006), a Psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e animal procurando compreender o sentido de sua existência. Ela tem como objeto de estudo o interior do ser humano, como ele se relaciona consigo próprio, com seus semelhantes e com o ambiente que habita, e pretende fornecer subsídios para a aprendizagem de como lidar com as experiências da vida e com as atividades conscientes e inconscientes.

Segundo Teles (2006) o estudo científico da Psicologia deve procurar englobar três grandes objetivos: a descrição dos comportamentos, que incluem caracterizar, identificar e explicitar as condições de ocorrência dos fenômenos; a predição que abarca a capacidade de antecipar e prever determinadas tendências e atitudes dos seres humanos e o controle, que abrange a manipulação ou a capacidade de modificação do comportamento.

A origem da Psicologia é muito longínqua, remonta à Grécia antiga, onde os filósofos achavam que dentro de todo ser humano havia uma parte imaterial ao corpo que dava origem aos processos psíquicos, e o cérebro seria o órgão mediador dessa relação.

No sentido epistemológico, em sua origem, a Psicologia progrediu como uma ciência do estudo da alma humana.

Foi a partir do filósofo Descartes (1596-1650) que a Psicologia inaugurou outro grande momento histórico: a separação da mente e do corpo. O dualismo defendido por Descartes29 (2001) compreendia que o corpo era composto de massa, localização no espaço e movimento, e que a mente compunha o raciocínio, o conhecimento e o querer (à vontade). Portanto, existia na interpretação do comportamento humano uma parte material e visível como o corpo e seus movimentos, e uma imaterial, invisível, mas muito atuante: a mente, como gerenciadora da sensação, da percepção, das ideias e da imaginação.

Segundo Telles (2006), a Psicologia se ateve a estudar a mente e as várias formas de compor a consciência por aproximadamente 250 anos, apresentando duas grandes tendências de explicação do comportamento humano no período entre os séculos XVIII e XIX:

O Empirismo Inglês defendido por Locke (1632-1704) é marcado pela compreensão de que o conhecimento é gerado pelas sensações, onde os órgãos dos sentidos recebem os estímulos do mundo externo e os conduzem ao cérebro, resultando na percepção dos objetos e na associação frente a esses. Locke30 (1999) acreditava que a criança nascia como uma tabula rasa cujas experiências e diversas percepções iriam criando o conteúdo da sua vida.

Em contraposição o Racionalismo Alemão defende que a mente tem o poder de gerar ideias, independentemente da estimulação sensorial, pois se baseia na razão. O problema principal não é o que está na mente, mas a sua funcionalidade: a percepção, a recordação, o raciocínio e os desejos.

29 DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Neste sentido, a tendência do Empirismo Inglês preconizava uma influência externo sobre o meio interno e o Racionalismo Alemão defendia o oposto. Destaca-se que neste trecho da história, o interacionismo não era a corrente psicológica mais preponderante.

Schultz (2011) aponta que nos séculos XIX e XX, estas duas tendências se mantiveram presentes, porem com as novas descobertas fundam novas abordagens: o Estruturalismo, preconizado por Titchener31 (1867-1927) que almejava descobrir os aspectos

que compõem a mente por meio da introspeção, sendo sua teoria baseada na lógica do Racionalismo Alemão, dava enfoque no estudo através da razão e partindo dos estímulos internos e por outro lado, estabelece o Funcionalismo, defendido por James32 (1842- 1910), que procurava estudar o funcionamento dos processos mentais (pensamento e sentimento) e comportamentais, e como eles permitem a adaptação, a sobrevivência e o crescimento, tendo ênfase o Empirismo Inglês, partindo da influência dos estímulos externos para o meio interno.

Já nos séculos XX e XXI, a ciência psicológica se desenvolveu em diversas correntes compondo muitos subcampos de estudo. A seguir, apresentaremos as principais correntes psicológicas, suas ideias centrais e forma particular de tratamento:

A Corrente Psicológica Psicanálise foi fundada por Sigmund Freud (1856 – 1939) e defende que existe na constituição humana uma forte influência do inconsciente. Para Freud (1996) o aparelho psíquico é desenvolvido a partir de duas tópicas: a primeira compondo o consciente, o pré-consciente e o inconsciente e a segunda abrangendo as instâncias do id (desejo), do superego (moral e censura) e do ego (equilibração entre o id e o superego). O tratamento psicológico é realizado pela análise dos sonhos e do método de associação livre, visando desenvolver a consciência de como os aspectos inconscientes e a sexualidade infantil interferem na vida.

A Corrente Psicológica denominada Behaviorismo tem como fundador Frederic Skinner (1904 – 1990). Skinner (1974) defende que o ser humano é formado por meio da aprendizagem do estímulo e resposta e tende a ser mantido pelo reforço externo e interno. A partir disso institui-se um padrão de comportamento, uma forma de modelagem da ação, incluindo reforçar o que é bom e reduzir recompensas aos comportamentos inadequados. O

31 TITCHENER, Edward Bradford. Manuel de Psychologie. Paris: Félix Alcan, 1932.

tratamento é realizado pela terapia de análise do controle do comportamento desejável e do indesejável.

A Corrente Psicológica que abrange o movimento humanístico e as teorias de autorrealização, apresentam diversos autores, tais como: Carl Rogers33 (1902-1987) instituiu a teoria do Tornar-se Pessoa; Abraham Maslow34 (1908-1970) desenvolveu o conceito da Pirâmide da Motivação, Fritz Perls35 (1890-1970) fundou a teoria da Gestalt e Wilhelm Reich36 (1897-1957) estudou sobre as Couraças Sexuais, dentre outros colaboradores.

Estes valorizam o potencial de crescer do ser, seu processo de libertar-se, seu vir a ser, desenvolvendo a responsabilidade por suas escolhas criando a autorrealização sintonizada com seu mundo íntimo. Os vários tratamentos ocorrem através da experimentação e vivências, dando ênfase no sentir e pensar, para poder decidir, libertando-se de defesas e tornando-se quem realmente se deseja ser.

A Corrente Psicológica Transcendental engloba várias tendências: Transpessoal, Parapsicologia e Psicobiofísica, tendo vários fundadores de distintas teorias, como: Carl Jung37 (1875-1961) fundou a teoria Psicanalítica; Stanislav Grof38 (1931-) estudou sobre a Respiração Holotrópica; Fritjof Capra39 (1939- ) desenvolveu uma visão holística do Ponto de Mutação; Ken Wilber40 (1949- ) refletiu sobre a Psicologia Integral e a Espiritualidade; dentre outros colaboradores.

Em geral, estas teorias acreditam no desenvolvimento do ser integral e suas várias dimensões, sua ligação com o cosmo, com a natureza e o espírito, indo além de sua consciência e entrando em contato com outras esferas. Os tratamentos psicológicos que abrangem as tendências destas correntes são realizados de diversas formas, incluindo: relaxamento, uso de drogas, experiências na mata, vivências míticas, uso de ervas, danças e cultos.

33 ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1961.

34 MASLOW, Abraham. Motivation and Personality. Nova York: Harper e Row Editoriais, 1967.

35 PERLS, Fritz. A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. 36 REICH, Wilhelm. A Revolução Sexual. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

37 JUNG, Carl. Símbolos da Transformação. Petrópolis: Editora Vozes, 2011. 38 GROF, Stanislav. A Tempestuosa Busca do Ser. São Paulo: Cultrix, 1994. 39 FRITJOF, Capra. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1985.

A seguir, apresentamos um quadro ilustrativo dos principais objetos de estudos da ciência da Psicologia desde sua origem até o século XXI.

Figura 9. Origem e Evolução Histórica da Psicologia Até o Século XXI

(Fonte: GRACIANI, Juliana Santos. Cadernos de Educação a Distância: Introdução a Psicologia. São Paulo: Faculdade Messiânica, 2012, p. 89).

Como se pode observar no quadro esquemático, os diversos autores vão dando ênfases diferentes a construção do ser humano tanto do ponto de vista pessoal, como social, mas sempre tendo como prioridade um dos aspectos preponderantes: a alma, a mente, a consciência, o inconsciente e a transcendência.

Nos séculos XVI-XVII o foco de estudo da Psicologia abrangia as nuances da alma, nos séculos XVIII-XIX ampliou seus estudos para a mente e nos séculos XIX – XX as maiores fontes de pesquisas envolviam a consciência, a introspecção e as percepções e nos séculos XX – XXI, suas indagações tangem ao papel do inconsciente, as contradições, aos aspectos ocultos e a transcendência do ser humano.

Neste sentido, a Psicologia promove uma visão de ser humano multidimensional, corroborando com a Pedagogia Social que também parte deste mesmo pressuposto. A Pedagogia Social abrange uma visão integral, holística, interdisciplinar, multidimensional do

Psicologia na

História

Preocupação com a Alma Preocupação com a Mente Preocupação com a Consciência Preocupação com a Transcendência Preocupação com o Inconsciente

ser social e pessoal, constituído a partir de diversas interações que vão sendo estabelecidas ao longo de sua existência.

3.2 CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS DOS PAPÉIS NA PSICOLOGIA SOCIAL E