Visão Compartilhada na Pedagogia Social

Outro norteador da Pedagogia Social é a Visão de Gestão Compartilhada do conhecimento, da teorização e da sua aplicabilidade.

Freire (1996, p.25) afirma que “não há docência sem discência, as duas se explicam e

seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam não se reduzem à condição de objeto um do outro”.

A Pedagogia Social parte do princípio que tanto educadores como educandos são sujeitos ativos do processo de aprender. Diferenciam-se na qualidade e no acúmulo dos saberes, mas ambos o possuem e colaboram na prática educativa.

Meister (1999) afirma que existem dois níveis de participação, a micro que é circunscrita aos grupos primários, como a família, os vizinhos, amigos e colegas de trabalhos. E a macro participação que se refere aos grupos secundários como as associações, sindicatos e cooperativas; e aos grupos terciários, compostos pela atuação nos partidos políticos e movimentos sociais, de classe e de categoria.

A Pedagogia Social parte do pressuposto que a micro e a macro participação descrita por Meister (1999) pode ser ensinada, orientada, praticada e estimulada.

A macro participação permite a gestão compartilhada das políticas públicas, onde de forma paritária o poder é descentralizado e composto pela parceria entre o poder público e a sociedade civil organizada.

Desta maneira a sociedade civil, passa a ser protagonista nos processos de formulação, implementação, monitoramento, avaliação e controle das políticas públicas. Ensinar cidadania é proporcionar aos educadores e educandos a oportunidade de juntos poderem contribuir nos rumos da nação.

Ressalta Rodrigues (2010, p.12) que “a política é entendida como forma de atividade

ou de práxis humana”, propiciando em seu exercício o desenvolvimento da capacidade de

Acrescenta ainda Rodrigues (2010, p.25) que a aprendizagem política ocorre por meio da “[...] capacidade de não só para diagnosticar e analisar a realidade social, econômica e

política em que vivem, mas também para interagir e negociar de forma democrática com os diferentes atores envolvidos no processo”.

A Pedagogia Social tem como princípio a produção do conhecimento compartilhado, colaborativo, construído pela dialogicidade, ampliação do saber por todos os envolvidos na prática educativa, por meio da democratização da cultura e da integralidade de suas possíveis diversidades.

Em decorrência da aprendizagem autônoma individual e coletiva, crítica frente à realidade vivida e teorizada, a Pedagogia Social preconiza o empoderamento do território local e global, a qual os educandos e educadores convivem, fomentando a participação da comunidade socioeducativa neste processo.

Pécora, Guerra e Marinho (2011, p. 234) distinguem alguns indicadores importantes que favorecem este protagonismo e desta forma de participação crítica e colaborativa: “[...]

fortalecimento da cidadania, proteção social, pacificação, emancipação e formação de redes”, sendo que um dos aspectos que contribuem para sua efetivação consiste na metodologia participativa do planejamento, execução e avaliação das práticas educativas, onde os conhecimentos prévios dos educandos, seus interesses particulares, as inquietações atuais dos educadores e o espaço acolhido na relação de aprendizagem para novos saberes, que foram surgindo ao longo da jornada educativa, são considerados e valorizados, construindo assim uma socialização significativa e a ampliação dos sentidos para aqueles que optaram em vivenciar tal prática.

Portanto a Pedagogia Social deve conter elementos que potencializem práticas educativas que emancipem a dignidade humana, promovendo conforme Otto (2009, p.37) “[...] o funcionamento social da pessoa: a inclusão, a participação, a identidade e a

competência social como membro da sociedade”.

Boff (2003, p. 86) defende que a emancipação e a dignidade humana deve ser desenvolvida na prática educativa por meio do Ethos Mundial, visando promover o cuidado de si, do outro, do território que habita e do planeta Terra. Destacando que o cuidado em sua

origem propicia: “[...] a primeira atitude ética fundamental, capaz de garantir os direitos dos

seres humanos e de todas as criaturas, a convivência em solidariedade, compreensão, compaixão e amor”.

Neste sentido, Boff (2003) aponta que a formação humana circunscrita ao Ethos Mundial esta baseada na responsabilidade e no cuidado com a vida e na construção de uma convivência societária, fomentando uma nova plataforma civilizatória: o bem comum partilhado, a justiça social e econômica, humanização nos consensos mínimos sobre os valores éticos, efetivados na democracia participativa, apregoada no cultivo da paz e não violência, estabelecendo assim, diretrizes mundiais de vivência planetária harmônica.

Boff (2003) defende uma visão compartilhada e cidadã de um ser pessoal e social planetário, onde a Pedagogia Social contribuirá em sua concretização, reflexão e possíveis transformações.

Ressalta Geertz (1989, p. 143) “[...] o ethos de um povo é o tom, o caráter e a

qualidade de sua vida, seu estilo moral e estético e sua disposição, é a atitude subjacente em relação a ele mesmo e ao seu mundo que a vida reflete”.

Estas quatro visões norteadoras da Pedagogia Social, favorecem a formação multidimensional das diversas expressões do ser pessoal e social, de forma integradora, colaborativa e transversal entre elas.

A visão transdisciplinar corrobora para a ampliação da percepção dos múltiplos saberes, a contextualização promove a consciência do caráter histórico social da realidade, a escolha da concepção de Educação incita o engajamento político na gestão do projeto de vida cotidiano e na micro e macro participação e o compartilhamento de si, do conhecimento e da cultura propicia um convívio fraterno e humanitário no interagir da sociedade.

A seguir, abordaremos os quatro domínios específicos que compõem os campos

teóricos e práticas da Pedagogia Social: Epistemológico, Sociopedagógico, Sociocultural e Sociopolítico.

Figura 6. Práticas Educativas do Programa Integração AABB Comunidade

Fonte: FENABB e FBB. Desenho de Educando Disposto na Agenda de 2013 do Programa Integração AABB Comunidade. Elaboração da autora, 2014.