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Sociocultural Sociopolítico

3.3 A PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA E SUAS INTERFACES COM A PEDAGOGIA SOCIAL

A Psicologia Social Comunitária segundo Lane (2006, p.67) é um subcampo da Psicologia Social e contribui como uma “[...] atividade de intervenção que visam à educação

e o desenvolvimento da consciência social de grupos de convivência” nos mais variados contextos.

Segundo Lane (2006) o aspecto educativo é promovido por meio da reflexão crítica grupal sobre as necessidades, quem as criou, com quais objetivos, como são encadeadas e quais resultados foram almejados. Este exercício de consciência do pensamento, da ação, da comunicação e da cooperação, permite o ressignificar das histórias individuais e sociais, incentivando a consciência de si mesmo e de sua atuação no mundo.

Bordenave (1994) aponta sobre a importância da participação comunitária e destaca três formas de participar de um grupo social: fazer parte, tomar parte ou ter parte. Fazer parte de um grupo social é participar da convivência deste agrupamento de pessoas de maneira passiva, sem interferir nas regras decisivas do coletivo. Tomar parte é participar de forma ativa das atividades do grupo, sem decidir sobre os processos de convivência das pessoas. Diferentemente das condutas anteriores, ter parte é participar de forma ativa dentro do grupo, contribuindo no planejamento, andamento e melhorias dessa convivência.

O modo como um cidadão participa da convivência social revela o grau de engajamento que ele tem com o desenvolvimento social, político, econômico e cultural da sociedade brasileira. O que importa em um processo de participação não é o quanto se toma parte, mas a maneira como se toma parte.

A democracia representativa demonstra o nível de participação, em que o cidadão delega aos seus representantes, promulgados por uma eleição direta, as atribuições de administrarem seus interesses no gerenciamento da nação. Já a democracia participativa proporciona um monitoramento da gestão das políticas públicas no nível Municipal, Estadual e Federal de forma direta, a partir das decisões colegiadas nos Fóruns, Conferências e Conselhos.

A democracia participativa é caracterizada pela oportunização do exercício da cidadania ativa, onde os cidadãos sentem que, por fazerem parte da nação, têm parte real em sua condução, nos avanços e recuos para a consolidação de suas transformações.

Segundo Meister (1999), existem dois níveis de engajamento político e social: o micro e o macro. A micro participação ocorre através da associação voluntária de duas ou mais pessoas em uma atividade com objetivos comuns nessa convivência.

A macro participação compreende a inter-relação das pessoas nos processos dinâmicos que constituem ou modificam a estrutura da sociedade, sua história, seus meios de produção, de aquisição dos bens materiais e culturais, sua administração e distribuição.

Ammann (1984) define a participação social como sendo o processo mediante o qual as diversas camadas sociais têm parte na produção, na organização e na utilização dos bens de uma sociedade historicamente determinada.

Cada setor da sociedade, embora tenha acesso à participação democrática, exerce esse direito de uma maneira particular. Esses e outros aspectos devem ser considerados na construção de uma sociedade engajada que exige a criação da mentalidade cultural de corresponsabilidade estimulada, apoiada e ensinada pelos sistemas educativos formais, não formais e informais. Já as participações familiares, escolares, profissionais, esportivas, espirituais e comunitárias constituem um meio de aprendizagem e um caminho para a atuação no nível macro.

A aprendizagem da participação social desenvolve-se com a compreensão e apropriação dos interesses do grupo no qual a pessoa está inserida, a partir de atividades organizadas que expressem necessidades e objetivos comuns, e que defendam interesses econômicos, políticos e sociais das pessoas envolvidas.

Acrescenta Ammann (1984) que esta participação social também pode ser compreendida como meio de produção, gestão e usufruto, com acesso universal a todos. Porém, destaca que a participação política é direito de todos, mas, correspondentemente, a participação social não ocorre de forma equitativa. Com efeito, na democracia liberal os cidadãos tomam parte nos rituais eleitorais e escolhem seus representantes, mas, por não

possuírem, nem administrarem os meios de produção material e cultural, sua participação macro-social é fictícia.

Lane (2006, p. 69) destaca que por meio da atividade comunitária os indivíduos gradativamente podem “[...] irem se organizando em grupos maiores e mais estruturados

visando uma ação transformadora da história da sociedade”.

Neste sentido, podemos afirmar que é por meio da participação social, do exercício coletivo que podemos conhecer e refletir sobre uma realidade comum e com isto poder transformar as relações sociais apreendidas ao longo de uma existência nos diversos setores de atuação de um indivíduo, seja na família, escola, trabalho, na cultura e na expressão afetiva que permeia todas estas áreas.

Sawaia (1996, p.51) defende que a Psicologia Social Comunitária se concretiza nas dimensões espaço - temporal da cidadania, no estabelecimento de vínculos relacionais dos indivíduos e dos territórios físicos e simbólicos, buscando uma interlocução com a dignidade humana, “[...] um campo de competência na luta contra a exclusão de qualquer espécie”.

Freitas (1996, p.73) corrobora com as ideias de Sawaia (1996), destacando que a Psicologia Social Comunitária privilegia “[...] o trabalho com os grupos, colaborando para a

formação da consciência crítica e para a construção de uma identidade social e individual orientados por preceitos eticamente humanos”.

Assim, a Psicologia Social Comunitária e a Pedagogia Social foram explicitadas por meio da participação pessoal, social e na abrangência do micro e macro impactos na sociedade, na nação e na própria vida.

O pressuposto norteador desta articulação tange a premissa que a Psicologia Social Comunitária e a Pedagogia Social podem favorecer a todos a aprendizagem da participação, do convívio comunitário, da emancipação, da criticidade, da criatividade e da autonomia, a fim de proporcionar uma cidadania ativa e colaborativa nas transformações tão necessárias a superação das desigualdades sociais, políticas, econômicas, sociais, culturais, artísticas e espirituais.

Montero (2004) defende que são a partir das práticas, vivências, oficinas e intervenções da Psicologia Social Comunitária, tanto a pessoa, como a comunidade desenvolve a capacidade de tomar e executar suas próprias decisões, assim, estas devem participar do processo de construção do planejamento, realização, avaliação e redimensionamentos das ações a serem protagonizadas.

Segundo Montero (2004) a Psicologia Social Comunitária apresenta um caráter político, que tem a função de desalienar e simultaneamente produzir uma nova consciência, por meio da reflexão crítica e do engajamento em ações sociais que mobilizem o exercitar coletivo de práticas de superação e de transformação da realidade vivida pelos participantes.

Acrescenta ainda Montero (2004, p.106) que:

“[...] esa participación no busca sólo remediar algún mal, cumplir algún deseo, sino además generar conductas que respondam a uma proyección activa del individuo em su médio ambiente social, asi como uma concepión equilibrada de esse medio y de su lugar em el”.

(MONTERO, 2004, p.106)

A apropriação do sujeito e suas relações com o meio social estão entrelaçadas pelos vínculos afetivos estabelecidos entre ambos, onde por meio da mútua influência as duas instâncias vão se constituindo e se configurando em novas perspectivas.

O empoderamento do sujeito pessoal e suas relações comunitárias são perpassados pelas dimensões da participação ativa numa ação comunitária, na reflexão de como estas impactam e interferem nas mudanças almejadas.

Neste sentido, serão enfocadas as seguintes categorias: fortalecimento dos vínculos afetivos, participação ativa e impacto comunitário, visando identificar como estes se estabeleceram na prática educativa realizada no Programa Integração AABB Comunidade.

Figura 11. Atividades Artística, Cultural, Esportiva e Ambiental

Fonte: FENABB e FBB. Desenho de Educando Disposto na Agenda de 2013 do Programa Integração AABB Comunidade. Elaboração da autora, 2014.