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JAKOBSON: AFASIA POR UM LINGUISTA

Segundo Coudry (1986/88, p. 10), foi Hughlings Jackson o primeiro a investigar as diferenças de produção de sujeitos afásicos em tarefas contextualizadas e descontextualizadas. Conforme explica essa autora, com base em pesquisas de Jackson, quando alguns sujeitos são

“[...] solicitados a repetir a palavra ‘não’ ou nomear um objeto, como ‘tinteiro’, comentam: ‘Não doutor, eu não consigo dizer não’, ou ‘Oh! Eu esqueci como se chama esse tinteiro’”. Coudry (1986/88, p. 10) diz ainda que, para Jackson, um exemplo como esse “mostra que tais sujeitos conseguem apenas usar a palavra em questão em um contexto involuntário [...]”. Desse modo, vê-se como a observação das afasias deveria levar a outros princípios e considerações, e não apenas à localização da lesão.

Porém, apesar dessas reflexões de Jackson, ao que parece, é somente a partir das pesquisas de Jakobson que os estudos linguísticos deixam de ser “coadjuvantes” para adquirir maior importância em avaliações e acompanhamentos nos estudos das patologias. Esse autor destina sua teoria, entre outros aspectos, a analisar o modo que trabalha linguisticamente o afásico e como sua fala flui pelos eixos de similaridade e de contiguidade, isto é, o da metáfora e o da metonímia, respectivamente. Jakobson (1956/2003) não se debruça sobre o tipo de lesão e em qual área do cérebro esta se deu, não debate inúmeras classificações patológicas; pelo contrário, a partir dos estudos de Ferdinand de Saussure, discute dois tipos de afasia e essas duas formas de organização do funcionamento da linguagem: similaridade e contiguidade. Jakobson acredita que é “manipulando esses dois tipos de conexão [...] em seus dois aspectos (posicional e semântico) — por seleção, combinação e hierarquização —, [que] um indivíduo revela seu estilo pessoal, seus gostos e preferências verbais” (JAKOBSON, 1956/2003, p. 56).

Interessante nessa obra de Jakobson (1956/2003) é o fato de que, frente a afasias de emissão (produção) e de recepção (compreensão), esse autor fala de substituição e de associação. Jakobson investiga o funcionamento interno da língua por meio de dois eixos: o paradigmático e o sintagmático de Saussure; os quais se referem, para Jakobson, respectivamente, à similaridade (seleção) e à contiguidade (combinação). Essa primeira instância diz respeito às escolhas feitas pelo sujeito no léxico que conhece da língua e esta última, combinação, corresponde à maneira como este organiza, na fala, as palavras escolhidas. Essas atividades de seleção e combinação, como já propunha Jakobson, podem ser intensificadas pela influência de um contexto verbal, que jogue a favor da produção da fala e ofereça novos elementos e bases de apoio frente às limitações impostas pela afasia.

Além disso, esta pesquisa entende que essa concepção de atividade reflexiva, naturalmente exercida pelo sujeito, parece estar associada à atividade epilinguística, a qual, segundo Coudry (1986/88), é crucial para a (re)estruturação linguística do sujeito na afasia. Sobre esse trabalho interno de seleções e combinações, Jakobson (1956/2003) esclarece que,

conforme as pesquisas de Saussure, o ato de selecionar se refere à procura por termos que estão in absentia dentro de uma série efetiva, enquanto que o ato de combinar ocorre in

praesentia, com os termos então selecionados em uma série virtual (mnemônica) ou física

(sonora).

Isto quer dizer: a seleção (e, correlativamente, a substituição) concerne às entidades associadas no código mas não na mensagem dada, ao passo que, no caso de combinação, as entidades estão associadas em ambos ou somente na mensagem efetiva. [...]. Os constituintes de um contexto têm um estatuto de contigüidade, enquanto num grupo de substituição os signos estão ligados entre si por diferentes graus de similaridade, que oscilam entre a equivalência dos sinônimos e o fundo comum (common core) dos antônimos (JAKOBSON, 1956/2003, p. 40).

Ou seja, em suas análises sobre afasia, percebe-se que Jakobson se volta para a língua e para o modo como o sujeito a manipula. Jakobson olha para o lugar que o sujeito ocupa, e pesquisa características da afasia por meio das marcas que a patologia causa na linguagem.

Graças a essa forma de análise de Jakobson, em que eixos de seleção e combinação servem como perspectivas para análise da afasia, vê-se que “afásicos mais vulneráveis a intercorrências [...] colocam o exercício da linguagem imerso em uma espécie de improviso constante, em que o ensaio é ineficaz” (COUDRY, 2012a, p. 48). Assim, constata-se que um afásico ou outro pode apresentar diferentes dificuldades em cada um dos eixos discutidos por Jakobson.

Por exemplo, se pedido a um sujeito afásico que explique o que acaba de ler,

normalmente fará uso de termos diferentes dos que tenha lido, principalmente se o assunto

estiver enraizado em uma situação discursiva; tal como fez BM, quando deveria explicar porque escolheu a palavra “conto”, quais relações fez. Tem-se aí um bom exemplo de como manipula a linguagem e como um afásico seleciona e estrutura seus enunciados. Esse trabalho de seleção, que parece revelar um ancoramento do sujeito na linguagem, mostra um ponto que muito se aproxima do que discute Goffman, em “A representação do Eu na vida cotidiana” (1985, p. 199). Esse autor diz que um ator disciplinado é também alguém dotado de autocontrole. E essa disciplina, na afasia, pode ser entendida como controle, esforço necessário que um afásico deve fazer para selecionar e retomar os recursos da linguagem.

Na afasia, porém, esse controle sobre a língua passa especialmente pela presença do

outro, do que se põe como interlocutor do afásico e oferece possibilidades para que suas

atividades de seleção e combinação tenham sentido e sejam intensificadas. O ator, conforme diz Goffman (1985), estrutura suas falas, seu papel, a partir do texto que lê e das

representações que tem em mente; já o afásico monta sua fala, principalmente, quando uma

contextura verbal, a fala do outro, joga a favor de si, a favor do discurso.

E é sobre a interlocução, como elemento de estruturação da fala na afasia, que Sampaio (2010) mostra que, além do espaço e da ação que se desenrola, outros elementos - linguísticos - contribuem com o desenvolver de seleções e da contiguidade (JAKOBSON, 1956/2003) da fala na afasia. Essa autora afirma que, mesmo na ausência da fala do outro, há muito a se considerar, sobretudo porque se notam processos linguísticos recorrentes em afásicos e não afásicos.

O verbal, o não verbal, as pausas, [...] o silêncio que aparecem nas situações comunicativas dessa comunidade fazem parte do repertório comunicativo do grupo, mas não são exclusivos dele [...]. As hesitações/disfluências comuns estão presentes na fala de todos os falantes. Incluem as pausas silenciosas sinalizadoras de hesitação, as pausas preenchidas (éh, ãh, mm), os prolongamentos finais, as repetições de palavras e os falsos inícios. O interessante é que o recurso ao gesto, à escrita, à entonação/ritmo tem-se se apresentando aos afásicos como uma espécie de

contextura, no sentido de Jakobson (1969), que restabelece o dizer (SAMPAIO,

2010, p. 53).

Essa contextura funciona (quase que de forma sólida, palpável) como sustentação para o contiguidade da fala na afasia, uma vez que o sujeito recorre às pausas ou à repetição de fonemas, sílabas, dele e de seu interlocutor, para encontrar modos de completar um enunciado. Essa contextura verbal, que favorece a (re)estruturação da fala na afasia, traz significantes e significados que dão sustento ao pensamento e, consequentemente, aos enunciados de cada sujeito.

A partir de considerações como essas de Jakobson, e também a partir do acompanhamento de afásicos no CCA, vê-se que em seu tempo, esse autor brilhantemente fez com que a Linguística fosse tomada como disciplina necessária para a análise da afasia. Jakobson (1956/2003, p. 42-43), porém, comenta que afásicos encontram problemas principalmente para iniciar seus enunciados: uma palavra como “chove”, por exemplo, seria pronunciada se aquele que a enuncia puder perceber a chuva, ou quanto mais sua fala estiver relacionada a um contexto verbal ou não verbalizado. E se palavras dependem de outras ou fazem parte de um contexto sintático, a probabilidade de serem afetadas pela patologia seria menor. Além disso, afirma ainda que, na afasia, “[...] as frases são concebidas como seqüências elípticas, a serem completadas a partir de frases anteriormente ditas, quando não imaginadas, [...] ou recebidas por ele [afásico] de um interlocutor real ou imaginário” (JAKOBSON, 1956/2003, p. 42-43).

Nota-se que Jakobson (1956/2003, p. 42-43) expõe observações pontuais de como linguagem e fala são articuladas frente à patologia. Suas pesquisas, sobretudo quando trata de

contextura verbal para a fala na afasia, apontam diretamente para a importância da

interlocução defendida pela ND. É na interlocução que o outro cumpre um de seus papéis, completa a fala do afásico ou dá a ele indícios do que pode e de como deve ser dito. No entanto, esta pesquisa acredita que nem sempre um afásico malogrará o início de seus enunciados. Justamente por se tratar de pessoas, culturas e histórias diferentes, há momentos em que a afasia reduz qualquer produção verbal, e há muitos outros em que o afásico conta toda uma história, tal como se vê nos dados de BM. A análise da afasia que passa pelo afásico e por seu interlocutor, ancorados em atividades enunciativo-discursivas, destaca que há vários tipos de afasia e, principalmente, vários tipos de sujeito.

E sobre o que aparece marcado em negrito na citação a seguir, retoma-se o que Jakobson (1956/2003) afirma sobre o fato de que o afásico tende a se valer de palavras imaginadas por ele ou recebidas de um interlocutor real ou de sua imaginação. Nesse aspecto, compara-se a afirmação de Jakobson ao que narra Pires (1997) em relação à presença de “um outro” (ele) na constituição de seus enunciados:

Quando a família e os amigos me descreveram a passear de alma ausente pelo anoitecer da memória, é que eu soube como era desvairada a nomenclatura que ele atribuía aos objectos questionados ou àqueles que, de longe em longe, pretendia

enunciar (PIRES, 1997, p. 26-27, grifo nosso).

Esse “ele” pode ser analisado como o “eu” físico de Pires, corporal, enxergado pelos outros, o desarranjado pela afasia. Porém, se possível fosse confirmar esse ponto de vista, nesse caso, ocorreria algo semelhante ao que pensava Jakobson (1956/2003). Pois esse “ele”, que Pires analisa em sua linguagem, dono de uma nomenclatura desvairada, seria uma imagem de sua fala. Uma imagem que o ajudava a analisar suas próprias “falhas linguísticas”, em um trabalho de rever, reformular o que pretendia dizer, como se estivesse em atividade epilinguística.

Ocorreria, então, nesse caso, uma dialogia interna, algo constitutivo, já que Pires dialoga com “ele” para construir o que queria dizer. Essa ação de visualizar-se mentalmente, sobretudo em comparação com o papel que o outro exerce na interlocução, promove uma constante inversão de seu polo de observação: de si para o outro, e também o contrário.

Por outro lado, poderia ser entendido que esse “ele” de Pires (1997), como trata Benveniste em “Da subjetividade na linguagem” (1976), “essa terceira pessoa” seria a forma

do paradigma verbal, ou pronominal, que não aponta para nenhuma pessoa no discurso, que remete a algo que está fora da enunciação. Para Benveniste (1976, p. 292) essa forma - “ele” - “tira seu valor do fato de que faz necessariamente parte de um discurso enunciado por “eu”. No entanto, percebe-se, em suas afirmações, que Pires (1997), narrador de suas próprias experiências, transmite valor de pessoa ao pronome “ele”; e este parece se constituir internamente como uma outra existência/experiência no funcionamento da linguagem. Nesse sentido, Coudry (1986/88, p. 52) esclarece que

para Benveniste, existem marcas explícitas da presença da subjetividade da linguagem. As mais evidentes são os pronomes pessoais “eu” e “tu” e em seguida todos os outros dêiticos. [...]. Seria simplista, porém, dizer que a relação de sujeito com a língua se dá apenas nesses poucos índices e que, no que concerne às demais formas, ela deixa de dar-se (COUDRY, 1986/88, p. 52).

Sobre o uso, sobre a manipulação das formas dos pronomes pessoais na afasia, Coudry (2002) analisa um dado interessante em relação ao uso de “ele”. No dado de JF, intitulado “Calma que ele fala”, essa autora demonstra como dificuldades motoras e linguísticas, causadas pela afasia, são trabalhadas e absorvidas por esses sujeitos durante acompanhamentos longitudinais e constante intervenção de um interlocutor/investigador ativo. Muitas vezes, diz Coudry, essas dificuldades “se apresentam como se fossem alheias: a subjetividade na linguagem, inicialmente mitigada e obscurecida pela afasia, se apresenta na forma ela/ele/outro [lembrando Saussure, a língua é forma e não substância] para dizer desse sujeito-outro - que acaba de se instalar” (COUDRY, 2002, p. 112).

Tal como se verificam nas descrições de Pires, há uma série de implicações trazidas por esse outro (afásico) que se instala. Para Coudry (2002, p. 112), que acompanhou e analisou o caso de JF, ocorre no sujeito uma cisão corporal, motivada pelos sintomas da hemiparesia, que, como diz essa autora, desarranja as relações proprioceptivas do afásico com “seu corpo-outro”. Descreve Coudry (2002) que, em certa sessão, no CCA,

JF começou a contar a visita de um amigo no discurso direto, nas próprias falas do amigo, abrindo aspas para introduzi-lo. Eu (Coudry) intervim pedindo-lhe que contasse sem dizer o que o outro disse, mas dizendo o que ocorreu. Foi quando ele disse: calma que ele fala! Ele quem, me perguntei em voz alta? Ele ... esse aqui, levantando levemente o braço parético. Eu, dissemos juntos. [...]. É interessante que esse dado tivesse ocorrido em meio à passagem do discurso direto para o indireto, lugar discursivo de encontro de múltiplas vozes que devem ser reconhecidas para serem referidas pela linguagem, no eixo da subjetividade. (COUDRY, 2002, p. 113).

Como explica essa autora, o fato de JF usar “ele” para falar de si, tal como Pires (1997), mostra que, quando JF assume a palavra na interlocução, ele traz à tona um estranhamento que, para a Linguística, é analisado como desdobramentos dessa condição afásica, que se relaciona às características subjetivas da linguagem. JF, quando se posiciona como locutor nos turnos dialógicos, faz “rodar em falso a reversibilidade de papéis no exercício da linguagem (COUDRY, 2002, p. 115), e acaba assumindo a forma ele para falar de si. Análises como essas, de Coudry (2002), demonstram a profundidade que os estudos linguísticos alcançaram nas investigações a respeito da linguagem, da afasia; patologia na qual as formas e sons das palavras independem de seus sentidos, os quais são assumidos à medida que a linguagem é posta em funcionamento.

E, retornando às pesquisas de Jakobson, encontra-se em Pires (1997) um nítido caso para o que Jakobson chama de afásicos de primeiro tipo, com problemas para selecionar o que querem dizer. Segundo esse linguista russo, se mostrado a um sujeito com dificuldade de seleção trechos ou fragmentos de palavras ou frases, nota-se que pode completá-las com facilidade. A linguagem nesses casos reagiria a indícios do que deveria ser dito, como ocorre no caso do sujeito CF. Porém, no decorrer das sessões do CCA, percebe-se que nem sempre isso ocorre. Se oferecido o “prompting”, a produção da primeira sílaba da palavra a um afásico, este poderá completar a palavra, dizer outra que inicie pela mesma sílaba ou apenas não aceitar as tentativas de ajuda de seu interlocutor, pois tenciona dizer outra coisa. É compreensível que, embora o interlocutor desempenhe um papel fundamental na estruturação dos enunciados desses sujeitos, nem todos se beneficiam da fala ou dos suportes que a presença do outro oferece.

Em “Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia” (JAKOBSON, 1956/2003), encontram-se ainda considerações do autor sobre o fato de que problemas para escolher a palavra desejada surgem quando se solicita a um sujeito que fale o nome de um objeto. Para esse autor, um afásico, normalmente, não pronunciará o nome que designa esse objeto, mas o nomeará por meio de seu uso, por exemplo: Não dirá “Isso é um lápis”, mas, sim, “Para escrever”, ou fará gestos que o exemplifiquem, fato realmente muito comum nesses sujeitos. Pires (1997) relata situações assaz curiosas sobre as barreiras que enfrentava para encontrar o nome e até mesmo para entender o uso de seus objetos mais pessoais, ele diz:

[...] ao ver o meu Outro eu a pentear-se com uma escova de dentes num quarto de hospital (conforme me contaram depois), pergunto-me quantas vezes lhe aconteceu aquilo e logo de instante vejo uma enfermeira a aparecer-lhe por trás e a trocar-lhe a

escova pelo pente [...]. E ele a obedecer-lhe sem a menor resistência [...] (PIRES, 1997, p. 19, grifo nosso).

Destaca-se a necessidade que descreve Pires (1997) de entender as situações das quais participava, constrangido por estar em um espaço e estar rodeado por coisas e pessoas que eram, então, semanticamente novas para ele. E, além de observações feitas a respeito de problemas de seleção, Jakobson destaca um segundo aspecto da linguagem, o da contiguidade, que se refere ao trabalho de combinação dos elementos selecionados pelo sujeito em uma série efetiva, a qual consiste na atividade de elaboração enunciativa, mnemônica. Diz Jakobson que a “afasia na qual é afetada a função do contexto verbal tende a reduzir o discurso a pueris enunciados de frases, e até mesmo a frases de uma só palavra. Apenas algumas frases mais longas, estereotipadas, “feitas”, conseguem sobreviver.” (JAKOBSON, 1956/2003, p. 51). E é nesse trabalho em que o sujeito tenta dar contiguidade à fala, às palavras selecionadas, que melhor se notam os efeitos da afasia.

Jakobson (1956/2003, p. 56), como visto até aqui, acreditava que a organização da fala poderia ser analisada a partir desses dois eixos, por seleção e por contiguidade; além disso, estes, segundo esse autor, podiam/podem ser esclarecidos e ter seus usos ampliados por meio de duas respostas provenientes de um teste psicológico. Nesse teste, crianças eram postas frente a um nome e lhes era pedido que dissessem as primeiras reações, sensações sobre o que viam. Assim, dois fatos linguísticos opostos ocorriam: 1) uma resposta era dada como substituto ou como complemento do nome apresentado; 2) o nome mostrado e a resposta das crianças formavam uma construção própria, quase sempre uma oração (um enunciado).

Uma das respostas dadas ao estímulo choupana foi queimou; outra, é uma pobre

casinha. As duas reações são predicativas; mas a primeira cria um contexto

puramente narrativo, ao passo que na segunda há uma dupla conexão com o sujeito

choupana: de um lado, uma contigüidade posicional (vale dizer, sintática); de outro,

uma similaridade semântica (JAKOBSON, 1956/2003, p. 56).

Segundo esses exemplos, evidenciam-se as transições por similaridade semântica, pela metáfora, ocorridas nas respostas das crianças, nas quais se nota o deslizamento de sentido de “choupana” para “uma pobre casinha” e também uma contiguidade posicional, já que houve a organização sintática de uma série de elementos. Dessa forma, Jakobson (1956/2003) apresenta como a linguagem é manipulável, detentora de sentidos que, se impulsionados pela fala do outro, percorrem caminhos que podem revelar ao investigador as dificuldades linguísticas e a organização da fala na afasia. Além disso, nota-se aí, nesse teste de Jakobson, como a Linguística influenciava a Neurolinguística, já que essa proposta de Jakobson se

mostra muito parecida daquela assumida por Luria (1987, p. 85). Este que confessa a influência de Jakobson em suas pesquisas e analisa como uma palavra como truba se transforma a partir do contexto em que a enunciam.

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