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JORIS GARSTMAN E O ASSASSINATO DE JACOB RABBI (I)

J

acob Rabbi era uma dessas pessoas que muitos governantes

gostam, bajulador e ideal para serviços sujos. Fazia esse papel tanto para os líderes indígenas como para o alto poder dos holande- ses no Brasil. Sua vida está irremediavelmente ligada à história do Rio Grande do Norte, principalmente, pelos massacres de Uruaçu e Cunhaú. O motivo do seu assassinato, não está ainda de todo esclarecido.

Neste artigo e nos próximos que tratam do assassinato de Jacob e do inquérito instalado contra Garstman, vamos apresentar trechos extraídos dos livros de Joan Nieuof, Pierre Moreau, Roulox Baro e de Alfredo Carvalho.

Joan Nieuhof, que viveu mais de 8 anos no Brasil prestando serviços à Companhia das Índias Ocidentais, em seu Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil, escreveu: À meia noite de 5 de abril de 1646, Jacob Rabbi foi traiçoeiramente assassinado com dois

tiros, perto de Potengi, a cerca de três horas do Castelo Potengi por instigação do tenente-coronel Garstman, quando regressava da casa de uma tal Jan Muller (Dirck Muller), onde fora recebido essa noite em companhia daquele oficial. Conforme revelara a amigos seus, havia já tempo que Rabbi suspeitava da traição de Garstman e, justa- mente por esse motivo, estava de partida para o Rio Grande a fim de se refugiar entre os tapuias. O Conselho chocou-se profundamente com essa vilania, porque Jacob Rabbi era casado com uma brasileira (índia) e gozava de grande estima entre os tapuias, sendo, pois, de se recear que o crime fizesse com que tanto os tapuias como os brasi- leiros se revoltassem contra nós. Por causa disso, Garstman foi preso sob custódia, por ordem dos Altos Comissários da Justiça e Finanças aos 24 de abril e foi conduzido ao navio Hollanddia.

Mais adiante diz Nieuhof: Jacob Rabbi, outrora, fora encarre- gado de estar no meio dos tapuias, comissionado pela Companhia, para manter os tapuias em amizade e boas disposições para com este governo; assim como ele já os tinha, por várias vezes, conduzido das montanhas (onde eles habitavam), em nosso auxílio. Ele morava no Rio Grande, no forte Keulen, e era casado com uma brasileira (índia), embora fosse de ascendência alemã. Garstman voltou ao Recife no dia 19 e relatou aos Altos Comissários os seus feitos.

Em outro trecho escreveu Nieuhof: enquanto isso, os tapuias, exasperados pelo assassínio de seu comandante, Jacob Rabbi, aban- donaram-nos. O Conselho fez o que pôde para os acalmar aprisio- nando e desterrando Garstman, o autor do delito e confiscando seus haveres. Contudo não se conseguiu persuadir os tapuias que se reu- nissem a nós como antes.

Embora, no seu livro, Nieuhof cite João Lostau, seu sítio, sua prisão e a casa, do dito Lostau, que foi quartel general dos holan- deses, nesse relato acima não fez nenhuma referência a qualquer

parentesco do mesmo com Garstman. Em nenhum momento do seu relato diz alguma coisa sobre a esposa de Garstman.

Pierre Moreau, que viveu por aqui, apenas dois anos, como secretário de um dos Senhores do Conselho de Estado, escolhido para vir governar o Brasil Holandês, escreveu em História das últi- mas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses: A primeira notícia que lhes foi trazida foi a de que maior parte dos tapuias e brasilia- nos, que sempre tinham sido aliados dos holandeses e combatido a seu serviço, os haviam abandonado e adotado o partido de seus inimigos, por ódio àquilo que Joris Garstman, general da milícia, fizera seis meses antes, mandando matar o alemão Jacob Rabbi; este homem intrépido de tal forma se adaptara a estes selvagens em seus costumes e modo de viver, que se tornara como se fosse um deles, e estes de tal modo a ele se afeiçoaram, que o fizeram um dos seus principais capitães. Segundo os amigos de Garstman, o motivo pelo qual este mandara matar Jacob Rabbi devia ser atribuído ao ressenti- mento pela morte e assassinato do pai de sua mulher, cometido por Jacob Rabbi. Este escolhia os piores tapuias e com eles efetuava diver- sas pilhagens no país: sua morte, pois, diziam só apresentava vanta- gens para o público, e Garstman fizera muito bem em vingar a morte de seu sogro, tirando do mundo um ladrão que cem vezes merecia o suplício; em todo caso, tratava-se apenas de uma formalidade para puni-lo, porque ele devia mesmo ser condenado. Os que conheciam particularmente Garstman e podiam julgar as suas ações sustenta- vam que outros tinham sido os seus motivos: sabendo que Jacob Rabbi reunira, com o fruto de seus roubos, uma rica presa e a escon- dera em lugar que ele bem conhecia, mandara matá-lo para disso tirar proveito; e, com efeito, encontraram-se em seu poder algumas joias, reconhecidas por aqueles que Jacob Rabbi tinha roubado.

No registro de Pierre Moreau, embora haja referência ao sogro de Garstman, não há menção ao nome do velho João Lostau.

Essa informação que João Lostau era sogro de Garstman, tanto é defen- dida por Hélio Galvão, em seu livro História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, como por Olavo Medeiros Filho no livro No Rastro dos Flamengos.

Nos próximos artigos daremos sequência a este assunto.

JORIS GARSTMAN E O ASSASSINATO