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AS RECOMENDAÇÕES DO CÔNEGO FERNANDES

S

ão muitas as dificuldades que se apresentam para os pes-

quisadores genealógicos. Entre elas podemos citar a forma como os registros da Igreja Católica eram feitos. Em muitos desses registros faltavam informações importantes como, por exemplo, nos casamentos, onde algumas vezes ocultavam os nomes dos pais dos nubentes, a relação de parentesco entre as testemunhas, o grau explícito de consanguinidade, e até o nome completo dos persona- gens que estavam no documento. Tais situações eram corrigidas pelo

padre visitador, que fazia algumas recomendações, após fazer uma vistoria no livro de registros.

Há uma pasta de registros relativos à Freguesia de Angicos, na Cúria, onde dentro se acham misturados, desordenadamente, óbitos, casamentos e batismos. Acredito que foram folhas que se soltaram dos livros respectivos e juntaram em uma pasta para não se perder. Foi nessa pasta que encontrei o registro de casamento de João Felippe da Trindade, um exemplo daquilo do que estou falando acima. Vejamos com foi feito o dito registro.

Aos 8 de janeiro de 1851 as trez óras da tarde, n’esta Matriz, uni e abençoei em Matr.o os C.es meus Freg.es João Felippe da Trindade, e

Fran.ca Ritta da C.ta, br.cos, servatis ex more servandis: e presentes as

testem.as Alexandre Fran.co d’Az.o Costa, e Gonçalo J.e Barbosa: do

que faço este ass.o emq’ ass.o Felis Alves de Sousa Vig.o Collado de

Angicos.

No documento acima, além do excesso de abreviaturas, não constava o nome dos pais dos nubentes. Somente através de outros documentos se descobre o nome completo dos personagens desse registro e outras informações. O nome completo da nubente era Francisca Ritta Xavier da Costa. Ela era filha de Miguel Francisco da Costa Machado e Anna Barbosa da Conceição. Gonçalo José Barbosa, que aparece como testemunha, era tio da noiva por ser irmão de Miguel Francisco da Costa Machado. Alexandre Francisco de Azevedo Costa era cunhado do noivo, pois era casado com Michaela Francisca da Trindade, irmã do noivo. Eram os pais de João Felippe e Michaela, o casal João Miguel da Trindade e Rosa Maria da Conceição.

Outro documento de 1850 é mais um exemplo contendo muitas abreviaturas.

Aos 28 de 9br.o de 1850, pelas 4 óras da tarde, na Fazenda das

em Matr.o de m.a l.ça, pelo R.do Silvr.o Bizrr.a de Men.es os C.es meus

Freg.es Manoel Miz (tinha um til em cima do z) Ferr.a e Prudencia M.a

Teixr.a br.cos servatis ex more servandis: Forão test.as José Miz Ferr.a e

João Gomes Carnr.o: do que faço este acento emq’ ass.o Felis Alz de

Sz.a Vigario Collado de Ang.cos.

Até hoje, não foi possível descobrir o nome dos pais de Prudencia Maria Teixeira. Nos registros posteriores seu nome passa a ser escrito Prudencia Teixeira Martins. Quanto ao nubente Manoel Martins Ferreira, a partir de outros registros, deduzimos que era filho do major José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres (ou da Conceição). Outro detalhe que poderia confundir qualquer pesquisador é que em registros posteriores, onde aparece como pai ou padrinho, o nome dele era escrito Manoel José Martins. O mesmo aconteceu com um irmão dele de nome João Martins Ferreira, pois nos registros posteriores ao casamento, aparece como João Alves Martins. Ambos eram irmãos de José Alves Martins, ascendente dos Alves, de Angicos e dos Fernandes de Santana do Matos. Uma irmã deles de nome Josefa Martins Ferreira foi batizada na Ilha de Manoel Gonçalves.

Em uma das páginas da pasta encontramos um registro de casamento com letra legível e sem abreviaturas, exceto na assinatura de uma das testemunhas:

Aos trinta e hum, digo, aos sete dias do mez de janeiro de mil oitocentos e cincoenta e trez, pelas oito horas da manhã, nesta Matriz do Glorioso São José da Villa de Angicos, tendo precedido Dispensa de affinidade ilícita, as Canonicas Denunicações, sem impedimento, Confissão, Comunhão, e exame de Doutrina Christã, em minha presença, e das Testimunhas João Lins Teixeira de Souza, e Manoel José Martins Ferreira, cazados, moradores na Freguezia da Cidade do Assú, se receberão em matrimônio por palavras de presente, e tiverão as Benções Nupciaes os meos Paroquianos Timotheo e Rita,

crioula, escravos; elle de João Gomes Carneiro; ella, de João Teixeira de Sousa, cazados, e moradores nesta Freguezia, do que para constar mandei lavrar este Termo, que com as ditas Testimunhas assigno. O Vigário Felis Alves de Souza. João Lins Teixeira de Sousa, Manoel José Miz Ferrª.

Na sequência desse registro, há o visto do visitador (ele mes- mos usando de abreviaturas nas suas instruções), nos seguintes termos: Visto em Visita da Freg.ª: Não use de abreviaturas nas escrip- turação dos Assentos; fica pª. exemplificar este ultimo Assento, pelo qual em tudo se deva regular. Vª de Angicos, 12 de 7bro. De 1853, Conego Fernandes, Viz.or.

Na sequência outro registro obedecendo ao modelo deixado pelo Cônego Fernandes, no dia seguinte a sua observação.

Aos treze dias do mez de setembro de mil oitocentos e cinco- enta e trez, e pelas cinco horas da tarde, nesta Matriz de São Jozé de Angicos, tendo precedido Dispensa de sanguinidade, as Canonicas Denunciações, sem impedimento, Confissão, e exame de Doutrina Christã, em presença do Reverendo Francisco Justino Pereira de Brito, de minha licença, e das Testimunhas Francisco das Chagas e Azevêdo, e Souza, e José Theodoro de Souza Pinheiro, casados, moradores nesta mesma Freguezia, se unirão em matrimônio por palavras de presente, e receberão as Benções Nupciaes, os meos Paroquianos Manoel Virgulino Silvano de Azevêdo, e Anna Martins dos Santos, naturaes, e moradores nesta Freguezia, filhos legítimos: elle, de Francisco Lopes Viégas, e de Maria Josefa; e ella, de Antonio Pereira Pinto, já falecido, e de Antonia Martins dos Santos; do que para constar mandei fazer este Termo que com as ditas Testimunhas assigno. O Vigário Felis Alves de Souza. Francisco das Chagas e Azevedo, Joze Theodoro de Souza Pinheiro.

Esses documentos que a cada escrituração modifica a grafia das palavras e subtrai sobrenomes ou os nomes dos pais dos nuben- tes se transformam em árduos obstáculos para o genealogista.

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Neste artigo, preservamos as transcrições na forma como foram escritas.