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5.2 Judicialização dos conflitos coletivos: altos e baixos

Um levantamento realizado em 2006 pelo Departamento In- tersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) mostra uma queda progressiva da judicialização dos conflitos na JT. Esta queda é visualizada através de um índice formado pela proporção de instrumentos normativos provenientes da Justiça do Trabalho - independentemente de resultarem de arbitragem por parte dos juízes (sentença normativa) ou de acordo entre as partes (homologado em dissídio) - sobre o total de instrumentos registrados no SACC-DIEESE. 160 Esse indicador revelou qual tem sido a via utilizada para a solução do conflito e possibilitou inferir a maior ou menor dificuldade com que se depara o movimento sindical no processo de negociação coletiva de trabalho (DIEESE, 2006, p. 7).

Através dessa taxa o DIEESE demonstrou que se deu uma que- da no nível de recorrência à Justiça do Trabalho nas negociações coletivas a partir da segunda metade da década de 1990. Nos primeiros anos da série, o nível oscilou próximo à marca de 20%, com exceção do ano de 1994, quando atingiu o pico de 28,3% dos instrumentos normativos então registrados. Em 1997 foi iniciada uma trajetória de queda continuada até o ano 2000, quando che- gou ao patamar de 2,3%. Após um aumento para 6,0% em 2001, a taxa de judicialização voltou a declinar nos anos seguintes.

A grande maioria dos instrumentos normativos no período re- sultou das negociações diretas entre trabalhadores e empresários, sem a interferência da JT. Em média 90% das unidades de negociação que compõem o painel entre 1993-2005 resultaram em acordos e convenções coletivas registradas nas Delegacias Re- gionais do Trabalho. Sendo assim, a taxa de judicialização no período da pesquisa foi de aproximadamente 10% (DIEESE, 2006, p. 8-9).

160. O SACC é o Sistema de Acompanhamento de Contratações Coletivas do Dieese que cobre de maneira setorial e regional as negociações coletivas no Brasil.

Gráfico 1

Taxa de judicialização na solução dos conflitos coleti- vos de trabalho Brasil 1993-2005

Fonte: DIEESE, 2006.

Segundo o Departamento, a queda na taxa de judicialização evidencia uma mudança estrutural na solução dos conflitos co- letivos de trabalho no Brasil. Ainda que minoritária, a via judi- cial respondia por um em cada cinco instrumentos normativos em meados dos anos 1990. Essa redução no uso da via judicial ocorreu em paralelo a uma mudança de conduta do judiciário trabalhista, que se tornou mais refratário a prover uma solução de mérito aos conflitos coletivos e muitas ações foram extintas sem julgamento. A recuperação da taxa de judicialização em 2001 não significou uma reversão da tendência revelada após 1997 (DIEE- SE, 2006, p. 10).

Entre 1991 e 1995 foram 202 dissídios coletivos julgados pelo TST. No quinquênio 1996-2000 apenas 71 e entre 2001 e 2005, 39 (tabela 2 e gráfico 2). Como já dito, a “desjudicialização” das relações de classe era defendida por sindicalistas e empregadores no final do século XX, apesar de tal fato não ter caracterizado um abandono da intermediação judicial no conflito trabalhista, seja no âmbito individual ou coletivo.

Consideramos entretanto que o aumento substantivo dos dissí- dios coletivos no início da década de 1990 não pode ser visto como um fenômeno natural. De aumento progressivo desse tipo de ação

de 1941 a 1995. Nossa pesquisa indica que exatamente no final da década de 1980 a CUT adotou uma estratégia de abarrotar os TRTs e o TST com demandas coletivas dos trabalhadores, o que conse- quentemente promoveu um crescimento potente destes números. Por outro lado, esta estratégia sindical gerou reações do TST, que visavam restringir o aumento desses dissídios. Assim, a partir dos anos 1990, advogados e sindicatos deixaram de ajuizar ações coletivas já que além da enorme burocracia exigida (mediante Instrução Normativa n. 4 de 1993) na maioria das vezes elas não eram julgadas por questões de admissibilidade. Os magistra- dos aplicavam o Enunciado 310161 sem maiores questionamentos (ARAUJO et al., 2006, p. 9).

Sayonara Grillo da Silva (2008, p. 475) também apresenta que um dos argumentos principais dos ministros do TST para a defesa do Enunciado era a “moralização da atividade dos sindicatos”. Para o TST as entidades estariam quitando direitos coletivos de forma irregular, o que prejudicava os trabalhadores. Assim, tanto o aumento (1986-1995) quanto a diminuição (1991-2005) dos dissí- dios coletivos devem ser vistos como fenômenos provocados pelos sindicatos e pelo Tribunal Superior do Trabalho, respectivamente.

Até 2012 o número de dissídios coletivos julgados pelo TST continuava em queda, ainda que mantivesse um padrão mais constante desde 2001. Dados da série histórica deste Tribunal (1941-2012) indicam que o número de dissídios coletivos julga- dos oscilou ao longo do tempo e, se continuou em queda, há uma aparente estabilização no atual quinquênio. Entre 2001 e 2005 foram julgados 39 dissídios coletivos. Entre 2006 e 2010, 37. No biênio 2011-2012 já se chegou a 21 dissídios coletivos julgados. Já os julgados pelos TRTs apresentaram uma maior oscilação. Entre 2001 e 2005 foram julgados 3.429 dissídios coletivos. Entre 2006 e 2010, 3.979 e no biênio 2011-2012, 1.650 (gráfico 3 e tabela 3).

161. Como já dito no quarto capítulo, o Enunciado 310 também de 1993 restringiu as ações coletivas através do entendimento de que o sindicato não poderia agir em nome próprio defendendo o interesse de terceiros, sem que existisse uma legislação clara definindo as hipóteses dessa ação.

Gráfico 2

Dissídios coletivos julgados pelos TRTs - 1941-2012

Fonte: www.tst.jus.br Acesso em 05/12/2013

Tabela 2

Dissídios coletivos julgados pelos TRTs - 1941-2012

O que podemos verificar é que a tendência de diminuição brus- ca, visualizada entre 1986 e 2002 não é mais um fenômeno claro. Os dados evidenciam uma certa estabilização dos dissídios cole- tivos, tanto nos TRTs quanto no TST e indicam que tanto patrões quanto empregados continuam utilizando estes instrumentos162, ainda que desde 2004 (com a Reforma do Judiciário) a instauração do dissídios de natureza econômica tenha se tornado dependente da concordância entre as partes envolvidas em um litígio. Fato que consequentemente inibe a sua instauração. Em 2003, o Enunciado 310 e a Instrução Normativa n. 4 foram cancelados.163

Outras pesquisas indicam ainda que diante deste quadro de res- trição, atores sindicais encontraram no MPT uma nova saída, para burlar tal resistência à judicialização dos conflitos coletivos e garan- tir a defesa desse tipo de direito. Veremos algumas delas a seguir.

5.3 Ministério Público do Trabalho e a defesa dos