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ESTALEIRO CAPITAL TRABALHADORES CAPACIDADE

6.2 Os “novos” metalúrgicos/operários navais (1965 – 1975)

O período que se inicia com o golpe militar de 1964 trouxe al- terações em todo esse cenário. O regime ditatorial, que durou até 1985 e exacerbou-se na vigência do Ato Institucional nº 5 (de- zembro de 1968 a outubro de 1978), impôs uma dura repressão à atividade sindical livre.

O governo interveio em 67% das confederações, em 42% das federações e em 19% dos sindicatos. Os maiores foram os que mais sofreram. Os militares reforçaram os mecanismos repres- sores contidos na CLT e na Justiça do Trabalho e estimularam o caráter assistencialista dos sindicatos. Para Santana (2001a, p. 151), a ditadura visava à reestruturação da vida sindical e tentou romper com os pilares do sindicalismo combativo. Por isso reto- mou as intervenções já utilizadas nos governos Dutra e Vargas para instaurar à força um clima ilusório de “paz sindical”.

Os operários navais, que tinham acabado de construir o mo- mento mais importante de sua história, resistiram até a década de 1980 a se incorporarem ao Sindimetal-Rio. Faziam duras críticas à diretoria e procuravam estabelecer uma agenda autônoma de lutas. Segundo Francisco Martinho (2001, p. 216-217) no final da década de 1970 pelo menos cinco grandes correntes políticas se apresentavam no movimento sindical da época: 1. os sindicalistas

tradicionais, que tiveram destaque na atuação sindical durante o

regime militar. Esse grupo era composto por, entre outros, Valdir Vicente (Sindimetal-Rio) e Joaquim dos Santos Andrade (Sindica- to dos Metalúrgicos de São Paulo); 2. os sindicalistas independen-

tes, grupo com pouca ou nenhuma participação política anterior,

liderados por Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1980 fundaram o Par- tido dos Trabalhadores (PT); 3. a unidade sindical, composta por militantes do PCB, PCdoB e Movimento Revolucionário 8 de ou-

tubro (MR-8). 189 Eles defendiam a participação política do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)190 e consideravam a proposta dos independentes divisionista; 4. as oposições, que se colocavam contra a legislação sindical em vigor e as direções sin- dicais chamadas de “pelegas” ou atrasadas; 5. a extrema esquer-

da, composta de várias correntes de oposição às diretorias sindi-

cais e à legislação. Desses grupos somente a unidade sindical e os

tradicionais não participaram da fundação da Central Única dos

Trabalhadores em 1983.191

No período anterior aos anos 1980, o Sindimetal-Rio era in- fluenciado principalmente pelos sindicalistas tradicionais e pelo grupo político caracterizado como unidade sindical. Apesar dis- so, existiam diversas correntes ideológicas no Sindicato.

Na ditadura, lideranças comunistas e de esquerda procuraram ocupar as direções sindicais e desenvolver trabalhos nas empre- sas através da atuação nas Comissões de Prevenções de Acidente (CIPAs) e da organização de chapas de oposição. Chegaram in- clusive a angariar vitórias substantivas mas não puderam assumir a direção por proibição da polícia. As lideranças sindicais eram também perseguidas pelos patrões e demitidas se causassem pro- blemas.192 Os comunistas das bases voltaram a criticar a atuação dos dirigentes que frequentavam os espaços do Ministério do Tra- balho e da Justiça do Trabalho, num momento em que a tarefa era “coordenar a luta contra a ditadura” (SANTANA, 2001a, p. 158).

Segundo o Sr. José Ferreira Nobre,193 diretor do Grêmio dos Aposentados Veteranos, Pensionistas Metalúrgicos do Município do Rio de Janeiro e dirigente comunista, o PCB era a maior força política do Sindimetal antes do golpe de 1964 e chegou a eleger o 189. O MR-8 surgiu em 1964 no meio universitário da cidade de Niterói. Foi batizado assim em memória do dia em que Ernesto “Che” Guevara foi capturado. O MR-8 atuou no MDB, no PMDB e desde 2009 compõe o Partido Pátria Livre (PPL).

190. O PMDB foi fundado em 1980 e é sucessor do Movimento Democrático Brasileiro, legenda de oposição ao Regime Militar de 1964.

191. As oposições e a extrema esquerda também compuseram o PT na sua fundação.

192. Depoimento dado por João de Deus, militante do PCB no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro à Elina Pessanha e outros em outubro de 1987 apud SANTANA, 2011a, p. 151-154. 193. Seu Nobre atualmente tem 89 anos. Filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1950 e foi eleito para o Sindimetal em 1955. Até o presente é sindicalista atuante, vai ao Sindicato todos os dias e é militante do PCdoB.

presidente do Sindicato vereador do Rio de Janeiro. Na primeira eleição após o golpe, eram também os comunistas que tinham a maior influência, por mais que o candidato à presidência fosse- Valdir Vicente (liderança sindical ligada ao segmento tradicional). O Valdir Vicente era considerado de esquerda mas não era de esquerda, era do MDB. Ele era aliado de todos os partidos, jogava bola para to- dos os lados, de acordo com seus interesses (...) Ele era bastante inteligente para isso. Aliava-se até ao Partido [Comunista]. Não tinha definição política. O Pimentel se dizia do PDT, mas tam- bém tinha seus interesses (José Ferreira Nobre, em 12/08/2013).

Regina Nascimento (2001, p. 258) mostra, através da análise do Jornal Meta, que esta gestão de Valdir Vicente foi marcada por uma postura assistencialista e colaboracionista entre governo e patrões. A gestão realizou campanhas contra o analfabetismo, ligadas aos Ministérios da Educação, do Trabalho e da Previdên- cia; elogiou a estabilidade do regime e medidas como a criação do FGTS e a legislação para o campo; fez referências a encontros entre a diretoria e os empregadores para a realização de entendi- mentos prévios nas campanhas salariais que evitariam conflitos; e o editorial do primeiro jornal na gestão de Valdir propunha uma política sindical “pacífica e ordeira, embora ativa e enérgica” .

Em 1973, uma chapa de oposição, composta por trabalhadores da GE e apoiada por setores da Igreja, ganhou a eleição. Contudo, acabou destituída por denúncias de corrupção. Segundo Sr. Nobre, o governo não deixou a chapa de oposição tomar posse alegando corrupção na diretoria anterior (de Vicente) e indicou um funcio- nário do Ministério como interventor. Nosso entrevistado ressaltou que a chapa tinha os comunistas nos principais cargos, que, segun- do ele seriam os da presidência, da secretaria geral, da secretaria jurídica e da tesouraria. A secretaria jurídica, longe de desempe- nhar um papel burocrático, era peça-chave para a atividade sindi-

cal, devido à importância das relações entre o Sindicato e a Justiça e às lutas dos metalúrgicos pelo cumprimento das leis.

O interventor, em 1975, organizou novas eleições com um período curto para a inscrição de chapas. Foi eleito um grupo he- terogêneo, ligado à antiga gestão sindical e à oposição, liderado por Adalberto de Oliveira. Ele manteve um caráter assistencialista e colaboracionista, como indicam as publicações do Jornal Meta (NASCIMENTO, 2001, p. 259).

Entre 1968 e 1969 e em 1977 os trabalhadores do Estaleiro Caneco (que até 1979 ainda defendiam a volta ao Sindicato dos Operários Navais) realizaram ações de resistência contra a situa- ção de insalubridade, sem reconhecerem o Sindimetal-Rio como representante da categoria. As pautas do Caneco estavam mais relacionadas à recuperação de direitos da “Época dos Operários Navais”. No estaleiro Ishibrás a resistência dos trabalhadores se avolumou a partir de meados dos anos 1970. As reivindicações destes trabalhadores eram contra o domínio opressivo e o disci- plinamento exercido sobre os operários no interior do Estaleiro (PESSANHA, 1994, p. 27).