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5 APLICAÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NO BRASIL

5.2 A COMPATIBILIDADE ENTRE A JUSTIÇA RESTAURATIVA E ALGUMAS

5.2.2 Os Juizados Especiais Criminais

Com a Constituição Federal de 1998, que trouxe no seu art. 98, I a previsão da conciliação e da transação penal no julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo e a Lei 9.099/95 que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, alterada pela Lei 10.259/01, ocorreu uma abertura no sistema jurídico nacional com relação ao Princípio da Obrigatoriedade e da Indisponibilidade da Ação Penal Pública, permitindo de algum modo, uma certa acomodação do modelo restaurativo ao Ordenamento Jurídico Penal.

O Instituto da Conciliação encontra-se localizado no art. 72 e seguintes da Lei dos Juizados Criminais, cuja fonte vem desde os tempos mais remotos, onde a igreja católica dominava todos os poderes, inclusive o Judiciário. Aquele que cometesse algum delito somente teria a sua liberdade mediante a sua compra, cujo pagamento era feito através de moedas, gados, armas, etc. Foi adotada também pelo Código de Hamurábi, pelo Pentateuco e pelo Código de Manu na Índia, além de ter sido largamente aceita pelo Direito Germânico. Foi essa a fonte mais primitiva das formas modernas de indenização do Direito Civil e da multa do Direito Penal.

Sendo assim, o magistrado ou um conciliador conduzirá a audiência, mencionando a possibilidade da composição civil, esclarecendo os benefícios que trará para ambas as partes. Caso haja o acordo entre o infrator e a vítima ou o seu representante legal, este será reduzido a termo e homologado pelo magistrado, passando a valer como título executivo judicial, onde no caso do não pagamento, tramitará a execução na vara cível competente.

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BRASIL. Lei nº 12.594/2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE.

Disponível em:HTTP://www.planalto.gov.br/ccvil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12594.htm . Acesso em 25 de junho de 2013.

Conforme visto, a tramitação da conciliação nos Juizados Especiais Criminais possui plena consonância com os fundamentos que embasam a Justiça Restaurativa, visto que a lei trouxe a possibilidade de conciliação direta entre as partes (art. 72 da lei 9.00/95) mediante a presença de um mediador, cuja palavra final é prestada pela vítima ou por seu representante legal, com redução a termo e homologação pelo juiz, onde nos casos de se tratar de ação penal de iniciativa privada ou pública condicionada à representação do ofendido, o acordo acarretará a renúncia ao direito de queixa ou de representação (art. 74 da 9.099/95).421 Apesar da questão da revogabilidade do acordo restaurativo em caso de descumprimento esbarrar com a questão da renúncia ao direito de queixa ou de representação na situação acima mencionada, não existe impedimento para que o caso fosse conduzido por meio do procedimento restaurativo, apenas neste caso seria imprescindível que a vítima fosse alertada dos efeitos de um possível acordo quanto à ação penal, apesar de permanecer o seu direito de buscar a reparação civil. 422

Caso não seja obtida a composição dos danos civis, na mesma ocasião será dada a palavra ao ofendido para que exerça o seu direito de representação verbal nas ações públicas condicionadas à representação, o que deverá ser reduzido a termo (art. 75 da lei 9.099/95), podendo ser exercido este direito noutro momento conforme determinação legal. Havendo a representação ou ainda nos casos das ações públicas e incondicionadas, não sendo o caso de arquivamento o ministério Público poderá propor a aplicação imediata de uma pena restritiva de direitos ou multa, sendo esta outra modalidade de cumprimento da sanção penal visando evitar mais uma vez o cárcere. A proposta terá que ser aceita pelo acusado e pelo seu defensor (art. 75, § 3º da lei dos Juizados Especiais), onde neste caso o juiz aplicará a medida alternativa, não gerando reincidência, mas impedindo a concessão de um novo benefício no prazo de cinco anos. Porém, a transação penal não poderá ser proposta caso o autor seja reincidente; ter sido beneficiado a menos de cinco anos a uma pena restritiva de direitos ou multas nas mesmas condições; não indicarem as circunstâncias judiciais de caráter pessoal ser a medida recomendável.

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BRASIL. Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais.

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PINTO, Renato Sócrates Gomes. Justiça Restaurativa é possível no Brasil? In: Slakmon, C., R. De Vitto e R. Pinto (orgs.). Justiça Restaurativa. Brasília – DF: Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, 2005, p. 30-32.

Outro instituto presente na Lei dos Juizados Especiais é a suspensão condicional do processo para os crimes cuja pena mínima em abstrato não ultrapassar um ano de prisão, abrangidos ou não pela competência dos Juizados (art. 89). Quando o Ministério Público tomar conhecimento da possível infração, ao invés de oferecer denúncia, poderá propor a suspensão do processo num período que varia de dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime e ainda mediante o preenchimento de outros requisitos constantes no art. 77 do Código Penal, que são a não reincidência em crime doloso, a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, além das circunstâncias e motivos do crime indicar ser a medida recomendável.

Caso a proposta de suspensão condicional do processo seja aceita pelo acusado e seu defensor, será o mesmo submetido pelo magistrado a algumas condições durante o cumprimento do período de prova, que é a reparação do dano quando possível, a proibição de frequentar determinados lugares, a proibição de ausentar-se da comarca onde reside sem autorização judicial, o comparecimento pessoal em juízo para informar as suas atividades, além de outras que poderão ser especificadas pelo magistrado, desde que tenha pertinência com o caso apresentado ou que seja compatível com a situação do acusado (art. 89, §1º e § 2º da lei dos Juizados Especiais).

Consiste em uma medida judicial que visa evitar o encarceramento quando for demonstrada no caso concreto a existência de outras medidas mais viáveis e com poder para solucionar a infração cometida, posto ser condicionada a extinção da pena à aceitação pelo possível infrator, onde a sua culpa não foi demonstrada ante a ausência de discussão sobre a infração e nem a aceitação da medida implicará no seu reconhecimento.

Quanto às medidas impostas pelo magistrado, todas possuem cunho restaurativo, como a reparação do dano, por exemplo, que permite à vítima a compensação material pelo crime ocorrido, além do seu descumprimento gerar a revogação do benefício, demonstrando à importância dada à vítima durante o processo judicial. Além disso, a proibição de freqüentar determinados lugares ou ainda o comparecimento obrigatório em juízo para informar sobre as atividades, imprimem no infrator a lembrança constate de estar cumprindo uma pena pelo mal que causou, além da responsabilidade transferida pelo Estado para as suas mãos, mediante uma “carta de crédito”, onde uma vez cumpridas

satisfatoriamente todas as medidas impostas, terá o seu processo arquivado (art. 89, § 5º da Lei dos Juizados Especiais).

O Estatuto do Idoso, através do art. 94 da Lei 10.741/03, prevê também medidas de caráter restaurativo nos crimes praticados contra idosos, por meio da aplicação da Lei 9.099/95 dos Juizados Especiais Criminais, aos crimes cuja pena máxima em abstrato não ultrapasse quatro anos.